No dia seguinte, Ryan jogava em seu celular e ouvia música, completamente entediado. Novamente o nome de Nicolle apareceu nas notificações de mensagens perguntando se podia ligar para ele, fazendo o coração do moreno dar uma leve saltada. O mesmo pigarreou e esperou alguns segundos passarem antes de enfim criar coragem para atender, não queria parecer muito desesperado e nem parecer pouco interessado.
— White? — Nicolle chamou pelo seu sobrenome após não receber uma resposta imediata. — Eu atrapalhei você? Peço desculpas.
— Huh? Não, claro que não. Eu estava jogando. — Pigarreou dando um leve suspiro. — Aconteceu alguma coisa?
— Na verdade, não. Eu te liguei para poder te agradecer de forma sincera. — Em seu quarto de hotel, Nicolle respirou fundo. — Obrigado por fazer esse favor para mim, eu nunca teria pensado na ideia de aparecer do nada na frente dela. — Riu sem graça ao lembrar da forma como apareceu na lanchonete. — Acho que, na verdade, eu não teria essa coragem, foi você quem me deu esse empurrãozinho que me faltava. — Ryan sentiu as bochechas esquentarem ao ouvir aquilo e não conseguiu evitar o sorriso bobo de aparecer, mesmo não tendo ninguém o encarando ainda se sentia tímido ao ponto de desviar os grandes olhos de jabuticabas para encarar a parede. — Acho que estou perdoada, ou ao menos no caminho para ser perdoada e isso é graças a você, preciso agradecer novamente.
— Não se preocupe. — Ryan riu tímido e franziu o cenho ao perceber que nunca havia ficado daquela forma com outra garota, engoliu em seco tentando se acalmar e pigarreou fingindo que nada estava acontecendo. — O importante é que deu certo, acho que agora a Victoria será mais aberta com relação ao que aconteceu e irá te ouvir. Tentem conversar da melhor forma possível, vocês merecem.
— Vai ser um pouco difícil contar tudo o que preciso para ela… — Nicolle pensou por um momento em tudo que teria que contar e, na verdade, não se sentia 100% segura. — Ainda quero retribuir de alguma forma. Como posso fazer isso?
— Só não quero que a Victoria seja magoada novamente, não sei se ela aguentaria outro baque. — Ryan suspirou e se sentou na cama. — Sei que foi um mal-entendido e que vocês já devem ter se resolvido de certa forma e que ainda tem algumas conversas que precisam colocar em dia, mas mesmo assim. Ela é uma pessoa maravilhosa e não merece sofrer.
— Agradeço por cuidarem dela nesses últimos meses. — Nicolle sorriu olhando para o teto. — Eu estava ponderando comemorar nossa reconciliação indo a um parque ou algo assim. O que você acha?
— Me parece uma boa oportunidade de interagirmos melhor. — Ryan novamente ficou vermelho pensando em um encontro a sós com a menina de cabelo roxo. — Quem iria para o parque?
— Nós quatro. Ainda não conheço você direito e não conheço o seu outro amigo. Acho que seria uma boa forma de nos conhecermos e deixar a Victoria menos desconfortável, acredito que se eu forçar a barra agora, ela iria se afastar mais ainda.
— Mas o Ethan está ocupado estudando e acho que a Victoria também deve estar. Ela não tirou uma nota tão alta na última prova e os pais dela encheram o saco durante uma semana sobre isso, foi um porre para ela.
— Sério? — Nicolle se sentiu um pouco triste, mas tentou não transparecer. — Poxa, vamos falar com eles para confirmar. Caso eles não consigam ir, nós podemos ir só nós dois. Claro, apenas se quiser.
— Claro, por que não? — Ryan pigarreou afastando os outros pensamentos. — Será domingo e eu não tenho nada para fazer de qualquer forma
— Vou conversar com a Victoria, mas não sou tão íntima do outro menino. Você poderia falar com ele?
— Claro, falo sim. Mais tarde eu aviso.
Nicolle sorria animadamente em seu quarto e mandava mensagem para sua melhor amiga. Seu coração estava pulando de excitação por poder voltar a falar com a mesma. Sentia que aquela era a chance perfeita para voltarem a se aproximar, mas para que tudo desse certo, Nicolle teria que matar um sentimento que havia alimentado durante anos.
Não era fácil simplesmente esquecer um sentimento, mas sabia que se contasse o que realmente sentia, provavelmente perderia o amigo e isso era a última coisa que ele queria.
Nicolle suspirou pesadamente enquanto encarava o teto, abraçada com um retrato de sua mãe, a menina sorria melancolicamente. Havia prometido a mãe que tentaria se manter sozinha, e estava lutando por isso. Estava desesperadamente tentando sobreviver.
Ela cumpriria cada uma das promessas feitas a sua mãe, nem que ela tivesse que se esgotar por completo, E uma das promessas estava quase completa.
— Nicolle nos chamou para sair. — Comentei com Ethan enquanto respondia algumas mensagens aleatórias e ignorava as da senhora White. — Eu acho que é uma boa para nos distrair um pouco. — Sério? Nicolle mal nos conhece e já nos chamou para sair? — Ethan estava visivelmente surpreso e na defensiva. — Eu acho que não vou poder, eu até queria, mas não dá. Tenho prova essa semana e meus pais sabem, dificilmente eles vão deixar eu sair do colégio. — Eu sei, mas e se eu falar com eles? Seus pais me amam! — Sorri tentando o convencer, porém, falhei terrivelmente. — Desculpa Ryan, mas esse ano está difícil para mim. Logo vem as provas finais e eu não me sinto preparado. — Suspirei derrotado e Ethan me olhou dando um sorriso fraco e cansado. — E acho que a Victoria também não vai, visto que ela está na mesma sala que eu e além de ter tirado notas ruins nas últimas provas, ainda tem essas por vir. O segundo ano está difícil, logo vem o terceiro e aí vem as provas para admissão na faculdade.
— E então? O que achou do filme? — Perguntou Nicolle enquanto colocava os refrigerantes à nossa frente. — Gostei, mas confesso que esperava um terror um pouco mais pesado. Esse filme não fez nem cócegas, o único susto que levei foi no começo que a música veio repentinamente depois de um completo silêncio na sala de cinema. Mas foi legalzinho o frio na barriga que o suspense deu. — Nicolle riu e concordou sentando-se logo à minha frente. — Ainda são seis horas, já vimos um filme, estamos comendo agora… hum… tem algo em mente? Podemos fazer mais algumas coisas antes de dar o horário de voltar para a escola. — A observei e corri os olhos pela praça de alimentação tentando pensar em alguma coisa que pudéssemos fazer e que não levasse muito do nosso tempo. — E se fossemos jogar? Ali tem um espaço somente com jogos, acho que seria legal distrair um pouco. — Perguntei apontando para o espaço de jogos que tinha no andar de baixo. — Claro, vamos! — Respondeu empolgada já começando a se leva
— Ah — Nicolle ficou sem graça pela resposta direta e ríspida de Victoria, mas deu um sorriso tentando entender o lado da mesma, ela ainda não conseguia confiar na sua amiga como confiava antes. — Certo, você tem razão. Não adianta fazer rodeios. Acho melhor irmos direto ao ponto e depois dessa conversa eu não irei mais incomodá-la. Se a partir de hoje você quiser me odiar, estará no seu direito e eu vou me afastar, mas ao menos preciso contar tudo. Victoria observou a amiga ficar tensa e sentiu medo pelas palavras que a mesma havia dito. Dificilmente Nicolle ficava tão séria e tensa com algo. Ela levava basicamente tudo na esportiva e sempre com um sorriso, ver aquela expressão em seu rosto era algo novo e amedrontador, só então se deu conta de que algo teria realmente acontecido na época em que a julgou. — Hum... na época em que toda aquela confusão com o Petter aconteceu, eu não gostava dele, nunca gostei, na verdade. — Nicolle suspirou e Victoria mordeu o interior da bochecha te
— Como eu disse, não foi exatamente um beijo, não teve língua nem nada, muito menos malícia. — Ryan ficava cada vez mais vermelho contando sobre o que tinha acontecido enquanto Ethan ria da situação em que o amigo estava. — Foi um selinho demorado e isso só aconteceu porque aquele ex namorado da Nicolle apareceu e a deixou desesperada, não faço ideia do que aconteceu entre eles, mas a Nicolle parecia ter bastante medo daquele tal Alec. — Certo, acredito em você. Foi apenas um selinho, mas e aí? Sentiu alguma coisa? — Ryan deu de ombros fazendo Ethan o encarar seriamente. — E deveria sentir alguma coisa? — Ao ver o olhar que o amigo direcionava para ele, foi impossível não revirar os olhos. — Ah, corta essa Ethan. Nem vem com a história de amor à primeira vista, isso é impossível, eu a conheço há pouco tempo. — Ethan ficou sério e encarou o Ryan. Ao perceber o olhar do mais novo, encolheu os ombros e encarou as mãos. — A boca dela é macia e a sua cintura é bem modelada, mas o que tem
— Poderia me dizer o porquê de estarmos no seu quarto esperando o tal "momento certo"? — Victoria perguntou assim que se sentou. — Você não está exagerando um pouco demais? — Não é exagero, estamos aqui, pois precisamos saber o porquê daquela gracinha ter nos escondido uma crush, ou melhor, uma possível namorada. — Ryan estava magoado pelo fato de ter sido esquecido. Por que Ethan havia escondido um suposto namoro? A amizade de anos não significava nada? Victoria estava se divertindo com a situação toda e Nicolle apenas observava o garoto caminhar de um lado para o outro a mais de dez minutos. Os três se encontravam no quarto de Ryan (as meninas haviam entrado escondidas, aproveitaram que nunca entravam no quarto de Ryan por ele ser filho da senhora White). Victoria e Nicolle estavam sentadas uma ao lado do outro na cama perfeitamente arrumada e com um cheiro inebriante de coco. A tensão criada pelo próprio Ryan era tão pesada que uma tesoura a cortaria sem dificuldade. Céus como aq
No quarto, assim que Nicolle saiu, Victoria se levantou e empurrou Ethan, fazendo-o se desequilibrar. O show havia passado dos limites. Victoria estava muito irritada, e pela primeira vez fechou seu punho e desferiu um soco no rosto de Ethan. — QUAL É A PORRA DO SEU PROBLEMA, ETHAN?! — Victoria odiava se irritar. Odiava violência, mas não iria deixar Nicolle ser tratada daquela forma, não iria deixar alguém magoar sua melhor amiga, não deixaria que mais nada acontecesse com ela. Sabia muito bem que Nicolle tinha provavelmente corrido o mais longe possível para poder chorar sem que ninguém visse, tinha medo de que ela pudesse ter até mesmo pensado em outra coisa. Victoria não esperou uma resposta do mais alto. Apenas saiu do quarto batendo a porta com força. — Qual o seu problema, Ethan? — Ryan repetiu a frase da amiga e encarou o mais alto. — Por quê? O que a Nicolle te fez?! Ela só me disse que você e sua namorada estavam brigando. Eu fiquei confuso e eu fui ver o que estava aconte
— Ainda não quer falar sobre o que aconteceu? Se quiser, posso te ouvir sem problemas. — Nicolle apenas balançou a cabeça em negação, suspirando pela milésima vez naquela noite. Comentar sobre aquilo no momento era totalmente inútil e inapropriado, mal havia o perdoado sobre suas babaquices do passado e iria logo despejar seus sentimentos de ódio e frustração justo no cara que tinha feito coisas piores a ela? Não, não era apropriado. Não eram mais um casal, muito menos amigos que contavam sobre os segredos alheios, não havia necessidade de falar sobre aquilo com ele. — Acho que foi um momento de sentimentalismo e raiva direcionadas a pessoa errada. Não precisamos comentar sobre isso. — A garota de cabelos roxos desbotados tentou mudar de assunto. — Huh... Já são seis e quinze da tarde, estamos quinze minutos atrasados para o lanche e sinceramente estou com fome e com medo que eu leve uma repreensão por estar fora do colégio em dia de semana sem pedir permissão. Será que devemos volta
Era um pouco mais das cinco e dez da manhã quando Nicolle e Alec se levantaram e se revezaram para tomar banho. Nicolle agradeceu aos deuses pela mãe de Alec ter um pacote de calcinhas fechado e um uniforme a mais. Aquilo era coisa de rico? Ter uniformes a mais e pacotes de calcinhas guardadas para qualquer situação? Não sabia ao certo, mas estava agradecido por tal coisa, apesar de ser extremamente estranho o fato de Alec ter um uniforme menor que servia perfeitamente no corpo de Nicolle. Às seis e meia eles desceram a escada e foram direto para a sala de jantar tomar o café da manhã que a senhora Clark havia preparado. Quando deu sete e dez, Nicolle se prontificou a ajudar a colocar as malas de Alec no porta-malas do carro. A mãe dele iria levá-los de carro para ajudar seu filho a achar o quarto e conversar com o diretor. As sete e quarenta e cinco já estavam no estacionamento do colégio e foi quando se separaram. — Ei, se precisar de mim, é só gritar meu nome, estarei sempre por