"Nunca sinta culpa por começar de novo".
Era o que Nicolle deveria ter pensado ao invés de se culpar tanto.Nicolle estava completamente desolada naquele momento, sua mãe havia morrido um mês antes do aniversário de 31 anos. Ela ansiava desesperadamente pela ajuda do tio Stewart, era a única pessoa em quem poderia confiar cegamente, mas desde o aniversário de sua mãe no ano anterior, Charles havia simplesmente sumido do mapa.Nicolle pensou, por uma fração de segundo, que apesar de o pai ter a abandonado e ele nunca sequer ter a visto durante seus quinze anos, achou… esperou… que ele pudesse a acolher nesse momento, ela realmente achou que ele pudesse oferecer um lar para ela em meio aquele caos, mas não foi exatamente isso que encontrou ao bater na porta da casa de seu pai.— Quem é você? — Perguntou Robert meio bêbado. — Se for uma daquelas garotas de programa baratas que batem na minha porta querendo me extorquir dinheiro, sugiro que dê o fora, não estou interessado.A garota de apenas quinze anos estava assustada, nunca tinha imaginado que seria recepcionada dessa forma pelo seu próprio pai, mas não podia o julgar completamente, ela nem sequer tinha se apresentado. Talvez se ela se apresentasse, a reação do pai poderia ser diferente.— Oi… pai… — Deu um sorriso dolorido. Seu corpo estava coberto de hematomas, as marcas das mãos do ex namorado estavam visíveis em seu pescoço ainda, mesmo fazendo uma semana desde o ocorrido. Sua boca estava cortada e seu peito estava destroçado. — A mamãe… a mamãe morreu há uma semana… E eu não tenho mais ninguém.— Ah, entendi. — Riu com escárnio enquanto olhava a garota assustada a sua frente. — Então você é a filha daquela escória chamada Charlotte, bem que vi uma certa familiaridade. Ela morreu? Ah, que pena, eu realmente queria sentir muito, mas sinto uma felicidade ensurdecedora agora que fiquei sabendo. — Disse em tom de deboche, e a olhando de cima a baixo sorriu ladino. — Está toda machucada, deve ter apanhado de algum macho por aí. Tal mãe, tal filha. Sua mãe era uma vadiazinha e você… o que quer de mim?— E-eu. — Os olhos de Nicolle começaram a arder, ela esperava de tudo, menos aquela reação tão negativa do pai. — Eu achei que por ser meu pai… achei que pudesse me ajudar.— Eu não sou seu pai, garota, sua mãe me traiu e quis aplicar um golpe da barriga em mim, pensando que eu assumiria vocês quando ela foi largada por outro. — Deu um gole longo na sua garrafa de cerveja e voltou a olhar a filha, mas dessa vez com um sorriso carregado de malícia. — Posso não te assumir como filha, mas se você se deitar comigo, posso pensar em te assumir como minha amante, apesar de estar machucada, você tem um rostinho bastante angelical e um corpo bem modelado para a sua idade. — Robert segurou o pulso de Nicolle a puxando para dentro da casa enquanto a mesma estava petrificada com o que acabara de ouvir.Por instinto, Nicolle pegou a garrafa de cerveja que estava na mão do pai e jogou na cabeça do homem. Ela estava assustada, não sabia o que fazer, mas não queria ficar nem mais um único segundo na frente daquele monstro.O sangue escorreu por um pequeno corte que abriu na testa de Robert, com o impacto ele soltou o pulso já dolorido de Nicolle, e ela apenas correu. Correu como se sua vida dependesse disso, e dependia.Robert estava furioso, não lembraria do rosto de Nicolle por estar extremamente bêbado, mas ainda assim ele lembraria pelos flashes de memória o que mais ou menos tinha acontecido e isso não seria bom.Nicolle correu até cansar e cair de joelhos, não queria incomodar os avós, eles eram senhores de idade, e por mais que ela os amasse, não queria ser um fardo para aqueles idosos, por isso achou que morar com o pai após a morte de sua mãe era a melhor opção, mas havia errado completamente em sua escolha.Ela só podia depender deles, nem mesmo Charles, o melhor amigo de sua mãe e seu tio de consideração, havia sumido um mês após o aniversário da sua mãe no ano passado, nunca mais conseguiu contato com o mesmo, então estava praticamente sozinho.Ela ficou um tempo naquela posição até resolver ir para a casa de seus avós, bateu na porta e quando viu os senhores de idade com os olhos cheio de lágrimas e com um sorriso fraco, não pode mais segurar.Aquela foi a única vez que chorou até ficar sem lágrimas, dormiu abraçado com um travesseiro sentindo a dor esmagadora do luto. Ela já não tinha mais ninguém, sua melhor amiga havia ido embora há alguns meses e nem sequer atendia suas ligações.Ela até tentou ligar para a amiga no dia da morte de sua mãe, mas ela apenas disse de forma ríspida que Nicolle nunca mais deveria a procurar, ela não queria mais nenhum contato com a garota. Nicolle apenas aceitou, mesmo que fosse doloroso, aceitou o que a amiga pediu e não tocou no assunto da morte da mãe.Alguns meses após a morte da mãe, ainda era dolorido, mas já era menos insuportável, ela estava trabalhando em lojas de meio período e estudando, evitava dar trabalho aos avós, mas sentia que ainda faltava uma parte dela, além da mãe lógico.UM ANO DEPOISDe um lado estava Nicolle Miller ponderando se a ideia de mandar mensagem ou até mesmo ligar para aquele número era certo naquele momento. Mas estava desesperada, seu peito doía e as lágrimas escorriam pelas suas bochechas, então apenas discou aquele número esperando ansiosamente para ouvir aquela voz que tanto sentia saudade.Do outro lado estava Ryan White, que acabava de sair do banheiro depois de um longo dia jogando basquete com os amigos quando escutou o celular vibrar em cima da mesa incessantemente, franziu o cenho quando viu que era o celular de Victoria, talvez estivesse esquecido ali quando foi buscar o trabalho, devolveria no dia seguinte se lembrasse.Por ser um número desconhecido, apenas optou por ignorar a ligação e se jogar na cama. Mas a curiosidade falou mais alto, fazendo com que o mesmo desbloqueasse o celular e atendesse aquele desconhecido que ligava já pela quinta vez.— Vic, me escuta, só cinco minutos, por favor. — A voz chorosa do outro lado fez com que Ryan ficasse em silêncio para que a pessoa pudesse continuar falando. — Eu sei que muita coisa aconteceu no ano passado, mas por favor, acredita em mim, não foi minha culpa. Eu só preciso que me escute. — O soluço doloroso em meio ao choro fez o coração de Ryan apertar e sentir pena de quem quer que fosse a pessoa do outro lado. — Eu só preciso explicar tudo, poderia parar de me ignorar, por gentileza?— Hum, boa noite. — A voz grossa, mas calma de Ryan fez com que Nicolle parasse de chorar pela confusão. — A Victoria esqueceu o celular comigo, mas irei devolver assim que ver ela. — Ryan fez uma pausa consideravelmente longa. — Se quiser posso passar o recado para ela, precisa apenas que me diga seu nome.— Não! Esquece, por favor, não diga que liguei e se possível apague os registros dessa chamada, por favor. — Implorou ainda chorosa.— Você tem certeza? — Pelo silêncio do outro lado, Ryan entendeu a resposta. — Tudo bem, irei fazer como pediu, mas ainda acho que você deveria conversar diretamente com ela… talvez vocês estejam precisando conversar mesmo.— Muito… muito obrigada. — Suspirou antes de desligar o telefone sem esperar uma resposta.Ryan encarava a tela do celular com as sobrancelhas franzidas, quem quer que fosse aquela pessoa do outro lado, não parecia ser uma situação fácil entre ela e Victoria. Havia algo ali que começava a incomodar, deixando seu peito pesado e aflito."Não me compare com aquele lixo! Eu não sou assim!''Ryan fechou os olhos e deitou-se jogando o celular na poltrona ao lado da cama, no fim não importava, era um assunto entre Victoria e a tal garota da ligação, não devia se meter nas coisas da amiga. O certo a se fazer no momento era dormir e esquecer aquela ligação.Victoria olhava para o celular algumas vezes tentando disfarçar a ansiedade, a verdade era que ela ansiava pela ligação da sua antiga amiga, ela realmente esperava que Nicolle ligasse para ela novamente. No fundo, Victoria só queria poder ouvir a voz da melhor amiga por alguns segundos antes de desligar o telefone em sua cara, sabia que não era o certo, mas não estava totalmente preparada para falar com ela ainda. Um suspiro pesado escapou de seus lábios, o que não passou despercebido para Ryan. Ele a encarou por alguns instantes antes de tomar coragem e perguntar o que tanto o deixava preocupado. — Você está suspirando a manhã toda e não para de olhar o telefone, aconteceu algo na sua família? — Queria perguntar se havia acontecido algo relacionado a garota da ligação, mas não podia contar que tinha atendido a ligação dela e depois apagado a ligação porque ela havia pedido. — Não, não exatamente. — Riu nasalado e olhou para Ryan franzindo o cenho. — Na verdade, tem algo que me inc
3 semanas depois: — Vai mesmo ficar deitada o dia todo como se estivesse aguardando a morte de braços abertos? — Ethan tentou puxar as cobertas das quais Victoria tentava se esconder a todo custo. — Anda Victoria, vamos sair para comer! Pare de agir como uma criança birrenta. Se não levantar, eu vou te arrastar nem que seja pelos cabelos, garota, escuta o que estou dizendo e não me obrigue a usar a força bruta contra você. — Você está jogada desse jeito desde ontem e até agora não saiu para comer. — Reclamei e ponderei na possibilidade de lhe contar sobre as várias vezes que fiquei em ligação com Nicolle nas últimas semanas apenas para deixá-la mais alerta, mas não era hora. — Ethan foi até o meu dormitório, preocupado com você, dizendo que a madame não havia comido ainda. Você não come direito desde semana passada, quando trocou de número. Vamos em uma lanchonete aproveitar nossa sexta-feira livre. Finalmente temos um tempo livre. — Não estou com fome no momento. — Disse com a voz
No dia seguinte, Ryan jogava em seu celular e ouvia música, completamente entediado. Novamente o nome de Nicolle apareceu nas notificações de mensagens perguntando se podia ligar para ele, fazendo o coração do moreno dar uma leve saltada. O mesmo pigarreou e esperou alguns segundos passarem antes de enfim criar coragem para atender, não queria parecer muito desesperado e nem parecer pouco interessado. — White? — Nicolle chamou pelo seu sobrenome após não receber uma resposta imediata. — Eu atrapalhei você? Peço desculpas. — Huh? Não, claro que não. Eu estava jogando. — Pigarreou dando um leve suspiro. — Aconteceu alguma coisa? — Na verdade, não. Eu te liguei para poder te agradecer de forma sincera. — Em seu quarto de hotel, Nicolle respirou fundo. — Obrigado por fazer esse favor para mim, eu nunca teria pensado na ideia de aparecer do nada na frente dela. — Riu sem graça ao lembrar da forma como apareceu na lanchonete. — Acho que, na verdade, eu não teria essa coragem, foi você qu
— Nicolle nos chamou para sair. — Comentei com Ethan enquanto respondia algumas mensagens aleatórias e ignorava as da senhora White. — Eu acho que é uma boa para nos distrair um pouco. — Sério? Nicolle mal nos conhece e já nos chamou para sair? — Ethan estava visivelmente surpreso e na defensiva. — Eu acho que não vou poder, eu até queria, mas não dá. Tenho prova essa semana e meus pais sabem, dificilmente eles vão deixar eu sair do colégio. — Eu sei, mas e se eu falar com eles? Seus pais me amam! — Sorri tentando o convencer, porém, falhei terrivelmente. — Desculpa Ryan, mas esse ano está difícil para mim. Logo vem as provas finais e eu não me sinto preparado. — Suspirei derrotado e Ethan me olhou dando um sorriso fraco e cansado. — E acho que a Victoria também não vai, visto que ela está na mesma sala que eu e além de ter tirado notas ruins nas últimas provas, ainda tem essas por vir. O segundo ano está difícil, logo vem o terceiro e aí vem as provas para admissão na faculdade.
— E então? O que achou do filme? — Perguntou Nicolle enquanto colocava os refrigerantes à nossa frente. — Gostei, mas confesso que esperava um terror um pouco mais pesado. Esse filme não fez nem cócegas, o único susto que levei foi no começo que a música veio repentinamente depois de um completo silêncio na sala de cinema. Mas foi legalzinho o frio na barriga que o suspense deu. — Nicolle riu e concordou sentando-se logo à minha frente. — Ainda são seis horas, já vimos um filme, estamos comendo agora… hum… tem algo em mente? Podemos fazer mais algumas coisas antes de dar o horário de voltar para a escola. — A observei e corri os olhos pela praça de alimentação tentando pensar em alguma coisa que pudéssemos fazer e que não levasse muito do nosso tempo. — E se fossemos jogar? Ali tem um espaço somente com jogos, acho que seria legal distrair um pouco. — Perguntei apontando para o espaço de jogos que tinha no andar de baixo. — Claro, vamos! — Respondeu empolgada já começando a se leva
— Ah — Nicolle ficou sem graça pela resposta direta e ríspida de Victoria, mas deu um sorriso tentando entender o lado da mesma, ela ainda não conseguia confiar na sua amiga como confiava antes. — Certo, você tem razão. Não adianta fazer rodeios. Acho melhor irmos direto ao ponto e depois dessa conversa eu não irei mais incomodá-la. Se a partir de hoje você quiser me odiar, estará no seu direito e eu vou me afastar, mas ao menos preciso contar tudo. Victoria observou a amiga ficar tensa e sentiu medo pelas palavras que a mesma havia dito. Dificilmente Nicolle ficava tão séria e tensa com algo. Ela levava basicamente tudo na esportiva e sempre com um sorriso, ver aquela expressão em seu rosto era algo novo e amedrontador, só então se deu conta de que algo teria realmente acontecido na época em que a julgou. — Hum... na época em que toda aquela confusão com o Petter aconteceu, eu não gostava dele, nunca gostei, na verdade. — Nicolle suspirou e Victoria mordeu o interior da bochecha te
— Como eu disse, não foi exatamente um beijo, não teve língua nem nada, muito menos malícia. — Ryan ficava cada vez mais vermelho contando sobre o que tinha acontecido enquanto Ethan ria da situação em que o amigo estava. — Foi um selinho demorado e isso só aconteceu porque aquele ex namorado da Nicolle apareceu e a deixou desesperada, não faço ideia do que aconteceu entre eles, mas a Nicolle parecia ter bastante medo daquele tal Alec. — Certo, acredito em você. Foi apenas um selinho, mas e aí? Sentiu alguma coisa? — Ryan deu de ombros fazendo Ethan o encarar seriamente. — E deveria sentir alguma coisa? — Ao ver o olhar que o amigo direcionava para ele, foi impossível não revirar os olhos. — Ah, corta essa Ethan. Nem vem com a história de amor à primeira vista, isso é impossível, eu a conheço há pouco tempo. — Ethan ficou sério e encarou o Ryan. Ao perceber o olhar do mais novo, encolheu os ombros e encarou as mãos. — A boca dela é macia e a sua cintura é bem modelada, mas o que tem
— Poderia me dizer o porquê de estarmos no seu quarto esperando o tal "momento certo"? — Victoria perguntou assim que se sentou. — Você não está exagerando um pouco demais? — Não é exagero, estamos aqui, pois precisamos saber o porquê daquela gracinha ter nos escondido uma crush, ou melhor, uma possível namorada. — Ryan estava magoado pelo fato de ter sido esquecido. Por que Ethan havia escondido um suposto namoro? A amizade de anos não significava nada? Victoria estava se divertindo com a situação toda e Nicolle apenas observava o garoto caminhar de um lado para o outro a mais de dez minutos. Os três se encontravam no quarto de Ryan (as meninas haviam entrado escondidas, aproveitaram que nunca entravam no quarto de Ryan por ele ser filho da senhora White). Victoria e Nicolle estavam sentadas uma ao lado do outro na cama perfeitamente arrumada e com um cheiro inebriante de coco. A tensão criada pelo próprio Ryan era tão pesada que uma tesoura a cortaria sem dificuldade. Céus como aq