Mais um dia com meus amigos, ao lado de nossa casa à beira-mar, onde sempre nos reunimos para admirar o pôr do sol, quando vejo um sorriso compartilhado entre Daniel e sua esposa. Conhecendo os dois desde a faculdade, sabia que algo muito inusitado viria deles:
— Vamos, o que estão aprontando agora? Será que não amadureceram depois que se tornaram pais? — Falo já curioso com o que vem por aí.
— Vocês já pensaram em como seria incrível manter nossas famílias unidas para sempre? — Laura perguntou de repente, com aquele brilho travesso no olhar que eu já conhecia bem. Sabia que algo estava vindo.
Sofia, ao meu lado, levantou uma sobrancelha, segurando a xícara de café com as duas mãos. O sorriso dela era um misto de curiosidade e cautela. Eu a conheço o suficiente para saber que ela estava prestes a dizer algo espirituoso.
— Do jeito que nos conhecemos desde a faculdade, isso parece até um destino predestinado — disse Sofia, com aquele tom leve que me fazia rir.
Inclinei-me para frente, apoiando o queixo nas mãos, enquanto olhava para Laura. Eu sabia que ela não diria algo assim sem ter algo em mente.
— Mas o que você está sugerindo, Laura? — perguntei, tentando esconder minha curiosidade sob um tom brincalhão.
Ela trocou um olhar significativo com Daniel antes de responder. Aquele tipo de silêncio — carregado de cumplicidade — sempre me intrigava. Era como se eles tivessem desenvolvido uma linguagem secreta que nós nunca entenderíamos.
— Estava pensando... e se fizéssemos um pacto? Prometemos nossos filhos em casamento desde a infância? — As palavras saíram com tanta naturalidade que levaram alguns segundos para que eu processasse o que ela havia dito.
Por um momento, o som das ondas foi a única coisa que ouvi. Meus olhos se voltaram para Sofia, que parecia tão surpresa quanto eu. Depois, para Daniel, que sorriu com um ar divertido, claramente já preparado para defender a ideia, argumentos não lhe faltariam, já que é um ótimo advogado.
— Imagine só — ele disse, girando o garfo na mão como se estivesse contando uma história — daqui a algumas décadas, nossos filhos, Emily e Gabriel, casados e felizes, seguindo nossos passos. Seria como um conto de fadas moderno!
Sofia soltou uma risada nervosa e cruzou os braços. Eu podia sentir a tensão no jeito como ela se mexia. Ela nunca gostou dessas ideias malucas.
— Isso é... bem incomum, não acham? Prometer nossos filhos em casamento? E se eles quiserem seguir caminhos separados no futuro? E se eles se apaixonarem por outras pessoas?
Apertei os lábios, tentando não rir da expressão dela. Havia lógica em suas palavras, mas algo na ideia parecia... intrigante. Como se fosse uma história que valesse a pena contar.
— Mas quem sabe? — falei, quebrando o silêncio que se seguira. — O mundo é cheio de histórias surpreendentes. Quem somos nós para dizer o que é impossível?
Sofia me lançou um olhar, algo entre exasperação e diversão. Sabia que minha mente já estava vagando pelas possibilidades. Ela suspirou, olhando para Laura e Daniel, que esperavam pacientemente.
— Bem — ela finalmente disse, com um sorriso tímido —, se a ligação dos nossos filhos for tão incrível quanto nossa amizade, talvez isso realmente possa funcionar.
Laura bateu palmas animadamente, enquanto Daniel ergueu sua taça em um brinde improvisado. E assim, entre risos e uma promessa que parecia mais uma brincadeira, selamos algo que eu sabia que nos acompanharia pelo resto da vida.
Algo inusitado e sei que a Sofia continua meio que incrédula com essa possibilidade, mas o Daniel já tinha cuidado de tudo e redigiu até um contrato de casamento entre nossos filhos, selando uma amizade que jamais será abalada.
Depois daquela tarde, fiquei pensativo. O que parecia começar como uma brincadeira ganhou um peso que nenhum de nós havia previsto. Caminhei até a beira da praia, deixando meus pés afundarem na areia úmida, enquanto o som das ondas se misturava aos meus pensamentos.
“E se isso realmente der certo?”, pensei. A ideia de Emily e Gabriel seguindo nossos passos era quase poética, mas sabia que a vida não seguia roteiros perfeitos. Tudo podia mudar. E se mudasse, seríamos nós os culpados por tentar moldar o destino deles? Por outro lado, havia algo incrível na possibilidade de transformar a nossa amizade em uma ligação eterna.
Olhei para o horizonte, onde o sol começava a mergulhar no oceano, tingindo o céu com tons alaranjados. Um pacto feito em um dia como aquele, cercado de risos e esperanças, não podia ser de todo ruim. Talvez, assim como o mar e a areia, nossas famílias estivessem destinadas a se entrelaçar para sempre. Mas e se a Sofia estivesse certa? E se as crianças no futuro se interessassem por outras pessoas?
Ao longe, eles estão brincando e fico a observar, vejo o cuidado e o carinho que o Gabriel tem com a Emily, sei que são apenas duas crianças, mas se eles estiverem realmente predestinados um ao outro?
— Lucas, será que o que fizemos foi o correto? — Fala Sofia, sentando-se ao meu lado.
— Sofi, olha para eles, veja como o Gabriel cuida da nossa menina, não poderia pedir ninguém melhor para ela.
— Eu sei, Lucas, mas eles são apenas duas crianças e tanta coisa pode mudar ainda, eles têm que aprender com os erros deles e não ficarem ligados por um destino que estamos traçando sem o consentimento deles.
— Entendo sua preocupação, e te faço uma promessa: se um dia no futuro nossa menina der indícios de que não quer seguir o destino que traçamos, anulo o contrato.
— Lucas, mas promessas, não sei se será uma boa ideia, mas vamos dar tempo ao tempo, e o futuro dirá o que realmente será feito.
Sofia Narrando...Alguns meses se passaram e estávamos todos reunidos quando chegou uma notícia que mudaria nossas vidas para sempre. O pai do Daniel tinha sofrido um enfarto e precisava dele para dirigir a empresa da família enquanto se recuperava.Foi um choque para todos nós. Daniel sempre esteve envolvido nos negócios da família, mas nunca esperávamos que ele precisasse assumir tão cedo. No entanto, sabíamos que ele era capaz e que faria o melhor para sua família e para a empresa.Nós todos oferecemos nosso apoio a Daniel e à Laura durante esse período difícil. Sabíamos que eles teriam muitos desafios pela frente. Mas também sabíamos que ele era forte e determinado. Com o nosso apoio e o amor de sua família, tínhamos certeza de que ele superaria essa fase desafiadora.Um mês depois, estávamos nos despedindo dos nossos queridos amigos. Porém, presenciei a separação dessas duas crianças que me partiu o coração.O Gabriel se abraçou com a Emily e não queria mais soltar.— Não, mamãe,
Sofia Narrando Hoje é aniversário de 18 anos da Emily, e nós fizemos uma grande festa, tudo do jeito que ela gosta. Reunimos todos os seus amigos e mandei um convite para o Laura e Daniel, visando que o Gabriel pudesse vir, mas nossos amigos vieram e mais uma vez o Gabriel não pode vir. A desculpa da vez foi que ele estava se preparando para assumir a empresa. — Quero acabar com esse acordo — falo de uma vez. — De jeito nenhum — fala Daniel, mesmo vendo o olhar da Laura vacilar. — Tem algo que precisamos saber? — Pergunta o Lucas entrando na conversa. — O Gabriel, está namorando — fala o Daniel baixando seu olhar como se estivesse envergonhado. — Mas garanto que é apenas um passatempo. — Então meu amigo, o melhor que temos a fazer é acabarmos de uma vez por todas esse acordo e rasgarmos aquele contrato e minha filha, vai poder viver, pois fiz a burrice de privar a vida da Emily, guardando-a para seu filho que na verdade nunca se importou de fato com ela. Quero a quebra de con
Sofia Narrando No dia seguinte à festa de aniversário da Emily, nossos amigos iriam voltar para a cidade. Mas o destino tem seus próprios métodos de resolver as coisas.O dia amanheceu muito chuvoso, impedindo que eles pudessem viajar. Junto com o Lucas vou até onde eles estão hospedados para acabar com esse contrato de uma vez por todas.A chuva forte, a pista escorregadia eram cenários de que a vida da minha filha foi sempre na escuridão, mesmo diante de tantas cores ela não viveu da forma correta e com essa certeza em mente começo uma conversa com meu marido tentando de todas as formas fazer ele aceitar o fim do contrato.— Lucas, a Emily tem que começar a viver, eles não educaram o Gabriel para este casamento. Sem falar que toda essa história foi feita por eles. Não aguento mais, Minha filha precisa viver, conhecer alguém e se apaixonar, ela precisa viver.— Pare de falar besteiras, esse acordo não será desfeito, não sei se você lembra, mas assinamos um contrato onde entregamos
Emily Narrando… Estou em meu quarto quando o telefone toca sem parar. Desço as escadas, e vou atender. A voz do outro lado da linha me dá uma notícia que mudaria toda minha vida. Algo que por mais que tente lutar contra não tem nada que possa fazer. Meus pais sofrerem um acidente deixando-me sozinha, meu coração se aperta com a notícia não tenho mais ninguém, não irei escutar mais a voz da minha mãe em meus momentos de incerteza, não receberei o abraço do meu pai depois das minhas conquistas. Estou sozinha, sinto o chão sumir sob meus pés. Tudo à minha volta parece embaçado, como se uma névoa densa tivesse envolvido o ambiente e apagado qualquer sinal de vida ao meu redor. A voz do outro lado da linha continua falando, mas as palavras parecem ecoar em uma bolha distante. É como se cada sílaba golpeasse meu peito, tornando a dor mais profunda. De alguma forma, meus joelhos encontram o chão. Não sei quanto tempo fico ali, imóvel, agarrando o telefone como se ele fosse a única cois
Emily narrando…Depois de uma pequena conversa com a tia Laura, durante a viagem acabei adormecendo durante o caminho até chegar onde seria meu novo lar.Acordo depois de um tempo, o tio Daniel já tinha estacionado em frente a uma bela casa com jardins amplos.— Emily, essa será sua nova casa, espero que você esteja gostando. — confirmo e baixo o olhar, a palavra “nova casa”, mexeu um pouco comigo, me fez lembrar que meus pais não estão ao meu lado.Tia Laura parecendo perceber meu desconforto se aproxima, e me abraça.— Querida, imagine que veio passar umas férias aqui, sei que não será fácil, mas seus pais estarão sempre ao seu lado.— Perdão, titia, não quero parecer mal agradecida é que a falta deles ainda é muito forte, não sei como fazer para amenizar a dor que insiste em queimar dentro de mim.— Não, peça perdão, sei o quanto pode ser doloroso. Quando minha Mãe faleceu, seus pais ficaram ao meu lado todo momento,
Emily narrando…Após uma conversa com a tia Laura, resolvi que seria melhor ficar em meu quarto, pois não estava preparada psicologicamente para encontrar o Gabriel.Sei que não irei conseguir ignorá-lo por muito tempo, pois irei morar na mesma casa que ele, mas mesmo assim não irei descer para o jantar. E tem mais, preciso saber do conteúdo do envelope e entender por que tia Laura ficou tão nervosa ao vê-lo em minhas mãos.Pego o envelope e abro, e o que estava escrito me desestabilizou totalmente:Contrato de casamento Gabriel e Emily. Minhas mãos ainda tremem enquanto seguro o contrato. Meu coração parece uma bomba-relógio prestes a explodir, e meu peito aperta com a mistura de raiva, confusão e indignação. Tento respirar fundo, mas cada tentativa falha, deixando-me mais sufocada. Não consigo simplesmente ficar aqui. Preciso de respostas. Preciso saber o que está acontecendo, e somente tia Laura e tio Daniel podem explicar.Levanto-me, decidido a descer e confrontá-los, mesmo que
Gabriel Narrando...Mais uma vez, meus pais foram para o interior visitar seus amigos de faculdade. Mas uma vez, meu pai perguntou se não vou com eles. Não entendo o porquê dessa insistência, não gosto de lugares pacatos, gosto de curtição, balada, pegar sem me apegar, embora agora esteja namorando a Melina, ela é igual a mim, gosta de curtir e acredito que somos compatíveis.— Gabriel, tem certeza de que não quer ir conosco? — pergunta minha mãe mais uma vez.— Mãe, pela última vez, não vou, não vejo o porquê de ir para um lugar onde não é para mim.— Não tem curiosidade de saber como a Emily ficou depois de adulta?As palavras dela me fizeram pensar um pouco. Ela é a filha do casal que eles sempre visitaram, éramos muito próximos quando crianças, mas acredito que hoje somos bem diferentes.— Não, mamãe, apesar de que ela pode estar namorando ou algo do tipo.— Duvido muito.Depois que meus pais saíram, o silêncio tomou conta da casa. Normalmente, eu aproveitaria a ausência deles pa
Gabriel Narrando...No dia seguinte, acordo atordoado, mesmo com a Melina em meus braços, fiquei a noite inteira pensando nas palavras da minha mãe e nas insinuações sobre a Emily. Tento me levantar, mas os braços da Melina me prendem.Meu celular toca sem parar e acaba acordando a Melina.— Atende logo isso, que saco. Ninguém pode dormir em paz.— Melina, bom dia para você também. Meus pais estão ligando, deve ter acontecido algo.Levanto-me da cama já atendendo o celular, deixando uma Melina irritada para trás.— Pai, bom dia, aconteceu algo? Era para vocês já terem chegado?— Então, filho, aconteceu um acidente com a Sofia e o Lucas e eles não resistiram. Nós vamos ficar uns dias aqui para organizar tudo com a Emily, até ela poder ir conosco para Nova Iorque.Minha mente deu um giro de 360º, como assim a Emily em morar aqui?— Pai, a Emily, como ela está? Precisa que eu vá?— Ela está muito abalada, mas sua mãe está com ela. Dando o apoio de que precisa. E não, não precisa vir, já