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Capítulo 5: Destino Traçado

Emily Narrando…

Estou em meu quarto quando o telefone toca sem parar. Desço as escadas, e vou atender. A voz do outro lado da linha me dá uma notícia que mudaria toda minha vida. Algo que por mais que tente lutar contra não tem nada que possa fazer.

Meus pais sofrerem um acidente deixando-me sozinha, meu coração se aperta com a notícia não tenho mais ninguém, não irei escutar mais a voz da minha mãe em meus momentos de incerteza, não receberei o abraço do meu pai depois das minhas conquistas.

Estou sozinha, sinto o chão sumir sob meus pés. Tudo à minha volta parece embaçado, como se uma névoa densa tivesse envolvido o ambiente e apagado qualquer sinal de vida ao meu redor. A voz do outro lado da linha continua falando, mas as palavras parecem ecoar em uma bolha distante. É como se cada sílaba golpeasse meu peito, tornando a dor mais profunda.

De alguma forma, meus joelhos encontram o chão. Não sei quanto tempo fico ali, imóvel, agarrando o telefone como se ele fosse a única coisa que me mantivesse presa à realidade. Quando a ligação finalmente se encerra, o silêncio volta a reinar. Mas é um silêncio pesado, sufocante, carregado da ausência de quem eu mais amava.

Meus pensamentos se atropelam enquanto luto para entender o que tudo isso significa. Não há mais as risadas dos meus pais preenchendo a casa, nem os conselhos sábios que sempre me guiavam quando eu me perdia. A solidão se espalha por mim como uma sombra, gelada e cruel.

Dias se passam em um turbilhão de visitas, abraços de pessoas que eu mal conhecia, e vozes dizendo como meus pais eram maravilhosos, como vão fazer falta. Laura e Daniel surgem em meio à multidão, um farol de calma e compreensão em meio ao caos. Eles são amigos de longa data dos meus pais, quase uma segunda família, mas nunca imaginei que seriam mais do que visitas ocasionais em festas e jantares.

Em uma tarde chuvosa, eles me chamam para uma conversa. Laura, com seus olhos suaves e uma voz que sempre me tranquilizou, explica a decisão que já estava tomada. Eles querem me levar para Nova Iorque, onde moram e têm uma estrutura que pode me oferecer estabilidade. Daniel, sempre com uma expressão segura e protetora, completa dizendo que não permitirá que eu enfrente tudo isso sozinha.

As palavras são ditas com gentileza, mas o impacto delas é devastador. Nova Iorque. Tudo o que conheço e amo ficará para trás. A casa em que cresci, os amigos de toda uma vida, as lembranças de cada riso compartilhado. Uma nova onda de solidão me atinge, e sinto meu coração se apertar. Não tenho outra opção. O que era minha casa agora é só uma lembrança, e tudo que me resta é seguir em frente, por mais que cada passo parece afundar em um terreno incerto.

Respiro fundo e olho para Laura e Daniel. No olhar deles, vejo a promessa de cuidado e amor, mas também a realidade de um futuro incerto. Nova Iorque, a cidade que nunca dorme, será meu novo lar. E, com isso, começa uma nova parte da minha vida – uma parte que nunca imaginei viver.

— Querida, como você está? — Pergunta mais uma vez a Laura preocupada com o meu silêncio.

— Estou tentando ficar bem, confesso que não sei como ainda, mas sei que vou conseguir.

Ela me abraça e sinto um pouco de paz. Quase como se sentia com minha mãe.

— Assim que chegarmos em casa, te colocarei na faculdade…

— Não precisa, tia, tenho 2 faculdades concluídas. Uma de Designer e outra de Arte e desenho, fiz as duas em paralelo junto enquanto concluía o ensino médio. Claro que meus pais tiveram que assinar alguns documentos para que isso fosse possível, mas tenho ambas concluídas.

— Desculpa filha, não sabia…

— Não se desculpe, tia Laura, não tinha como a senhora saber, sempre fui boa em desenhos até que o Reitor de Harvard, visitou o colégio onde eu estudava, e foi selecionado 20 alunos entre eles, eu. Ele achou meus desenhos promissores e enviou uma petição aos meus pais para que pudesse estudar mesmo que a distância. E foi assim que consegui.

— Cada momento que passo com você me surpreendo, você é uma pequena gênio.

Laura sorriu para mim com um olhar de admiração, mas também de tristeza. Ela não dizia, mas eu conseguia sentir a culpa nas palavras dela, como se achasse que deveria ter estado mais presente na minha vida antes de tudo isso acontecer. Eu me senti culpada por fazer com que ela se sentisse assim. Afinal, ninguém poderia ter previsto que as coisas terminariam dessa forma.

— Não sou uma gênia, tia Laura. Só… mergulhei nos estudos porque sempre fui meio solitária. Meus pais estavam ocupados, viajando ou trabalhando, e desenhar era a única coisa que me fazia sentir que eu podia criar meu próprio mundo — confessei, minha voz mais baixa do que eu pretendia. Não queria que ela pensasse que meus pais foram ausentes, porque não foram. Eles só tinham outras prioridades, e eu me acostumei com isso.

Laura segurou minha mão, apertando-a levemente. — Sabe, Emily, mesmo que eles estivessem ocupados, isso não significa que não te amavam. Pelo contrário, acho que eles viram o quanto você era independente e confiaram que você poderia seguir seu caminho sem eles precisarem interferir.

Aquelas palavras atingiram algo profundo em mim. Por mais que eu soubesse que meus pais me amavam, sempre houve uma parte de mim que questionava se eu era suficiente para eles. Ou talvez fosse eu mesma que nunca soube como me conectar com eles de verdade.

— Talvez — respondi simplesmente, desviando o olhar para a janela. A chuva que caía do lado de fora parecia um reflexo do que eu sentia por dentro: um turbilhão, incessante e incontrolável.

Daniel entrou na sala carregando uma bandeja com chá e biscoitos. Ele sempre foi o tipo de homem prático, sem muitas palavras, mas seus gestos diziam tudo. Ele colocou a bandeja sobre a mesa e me lançou um sorriso gentil.

— Chá de camomila, para acalmar os nervos. E, claro, biscoitos de chocolate, porque sei que você gosta — ele disse, apontando para os biscoitos com um gesto quase tímido.

— Obrigada, tio Daniel — murmurei, pegando uma xícara.

Ele e Laura se entreolharam antes de se sentarem no sofá à minha frente. O silêncio na sala era confortável, quase reconfortante, mas havia algo no ar, algo que Laura parecia querer dizer, mas hesitava.

— Emily… — ela começou, e imediatamente percebi a hesitação em sua voz. — Sei que está tudo acontecendo rápido demais, e você já tem tantas responsabilidades. Mas quero que saiba que, para nós, você não é um peso. Nunca será. Se precisar de mais tempo, se não quiser ir para Nova Iorque, podemos fazer qualquer coisa para te ajudar.

— Não, tia, eu preciso ir — interrompi antes que ela pudesse continuar. — Preciso de um novo começo, longe daqui. Ficar aqui, nessa casa, com todas as lembranças… não sei se posso lidar com isso agora.

As palavras saíram mais rápidas do que eu esperava, mas eram verdadeiras. Por mais doloroso que fosse deixar tudo para trás, era ainda mais insuportável ficar cercada por memórias que só reforçavam o vazio.

Laura assentiu, visivelmente aliviada. — Tudo bem. Vamos organizar as coisas com calma. Você não precisa decidir tudo agora.

Olhei para ela, e depois para Daniel, que me observava em silêncio. Pela primeira vez em dias, senti que não estava completamente sozinha. Talvez nunca fosse como antes, mas talvez, só talvez, eu pudesse encontrar uma nova forma de viver, mesmo com o peso da ausência dos meus pais.

Pela primeira vez, permiti-me imaginar como seria começar do zero. Nova Iorque, uma cidade que sempre me pareceu tão distante, agora seria minha realidade. Lá, eu teria a chance de me reconstruir, pedaço por pedaço. E, quem sabe, descobrir uma versão de mim que não estivesse tão quebrada.

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