Emily narrando…
Depois de uma pequena conversa com a tia Laura, durante a viagem acabei adormecendo durante o caminho até chegar onde seria meu novo lar. Acordo depois de um tempo, o tio Daniel já tinha estacionado em frente a uma bela casa com jardins amplos. — Emily, essa será sua nova casa, espero que você esteja gostando. — confirmo e baixo o olhar, a palavra “nova casa”, mexeu um pouco comigo, me fez lembrar que meus pais não estão ao meu lado. Tia Laura parecendo perceber meu desconforto se aproxima, e me abraça. — Querida, imagine que veio passar umas férias aqui, sei que não será fácil, mas seus pais estarão sempre ao seu lado. — Perdão, titia, não quero parecer mal agradecida é que a falta deles ainda é muito forte, não sei como fazer para amenizar a dor que insiste em queimar dentro de mim. — Não, peça perdão, sei o quanto pode ser doloroso. Quando minha Mãe faleceu, seus pais ficaram ao meu lado todo momento, e eu quero que saiba que terá em mim todo apoio que precisar. — Sei disso Tia, é que ainda dói muito a falta deles, tem um vazio enorme em meu peito. Sinto o abraço da tia Laura se prolongar, como se ela quisesse de alguma forma carregar um pouco da minha dor. Inspiro fundo, o aroma floral do perfume dela me trazendo uma sensação momentânea de segurança. Solto o ar devagar, tentando dissipar o peso que parece ter se aninhado no meu peito desde que tudo aconteceu. — Vamos entrar, Emily,— ela diz baixinho, a voz firme mas acolhedora. Sinto uma ponta de culpa ao ver o esforço dela para me confortar, e tento retribuir com um sorriso, mesmo que pequeno e hesitante. Quando cruzamos a porta da frente, sou recebida por uma sala iluminada, com móveis de madeira clara e cortinas que dançam suavemente com o vento que entra pelas janelas abertas. Tudo é organizado, impecável, como se a casa fosse um retrato emoldurado de tranquilidade. Mas para mim, é apenas um lugar desconhecido, um palco que ainda não reconheço como meu. Tio Daniel aparece com duas malas — as únicas coisas que tenho agora, além das lembranças. — Deixei suas coisas no quarto, está pronto para você,— ele anuncia com um sorriso que parece sincero, mas um pouco nervoso, como se temesse dizer a coisa errada. — Obrigada, tio, — murmuro, tentando não deixar a emoção transparecer. Subo as escadas com passos cautelosos, quase como se estivesse invadindo um território alheio. Cada degrau parece uma barreira que preciso superar. Ao chegar no quarto, vejo uma cama com colcha de flores miúdas, uma escrivaninha junto à janela e uma estante vazia, esperando por livros e objetos que ainda não tenho. Fecho a porta atrás de mim e encaro o espaço. É bonito, aconchegante até, mas é estranho. O vazio que sinto no peito parece preencher o ambiente. Caminho até a cama e deixo meu corpo cair sobre o colchão macio. Olho para o teto, perdido nos meus próprios pensamentos. Minha mente me leva de volta ao último dia com meus pais. A risada da minha mãe, o jeito que meu pai mexia nos meus cabelos como se fosse a coisa mais natural do mundo. A dor cresce, uma pressão no meu peito que me faz querer gritar, mas ao invés disso, fecho os olhos e deixo as lágrimas escaparem. Elas escorrem quentes pelo meu rosto, uma atrás da outra, sem que eu tenha forças para impedi-las. Depois de um tempo — não sei quanto — ouço uma batida leve na porta. — Emily, posso entrar? — É a voz da tia Laura. Enxugo rapidamente o rosto com as mangas da blusa e respondo: — Pode, tia. Ela entra com uma bandeja. — Preparei um chá de camomila pra você. Sei que ajuda a acalmar, e achei que seria bom depois da viagem. Aceito a xícara, sentindo o calor nas mãos, e dou um gole. Não é apenas o chá que me aquece, mas o gesto dela. A tia Laura senta-se ao meu lado, e por um momento ficamos em silêncio. É um silêncio confortável, como se ela soubesse que eu preciso de espaço, mas também de companhia. — Você é muito corajosa, sabe? — ela diz de repente, e meu olhar se volta para ela, confuso. — Perder alguém que a gente ama nunca é fácil, mas estar aqui, enfrentando isso… é preciso coragem. Mais do que você imagina. Aquelas palavras ficam ecoando na minha mente. Corajosa. Nunca me senti assim. Na verdade, sinto-me fraca, perdida. Mas talvez, apenas talvez, ela esteja certa. Talvez, no meio de toda essa dor, exista uma força que eu ainda não consigo enxergar. — Obrigada, tia,— sussurro, e pela primeira vez desde que cheguei, sinto uma pontinha de alívio. É pequena, quase imperceptível, mas está lá. E isso me dá esperança de que, de alguma forma, um dia essa dor será mais fácil de carregar. — Porque não arrumamos suas coisas? — Ela fala tentando me animar. Confirmo com a cabeça e começo a desfazer minhas malas, quando termino a primeira mala um envelope me chama atenção, pois não tinha ideia de que ele estava ali, pois estava por dentro da parte interna da mala. Quando pego vejo a tia Laura mudar de posição. — Filha, depois você vê o conteúdo desse envelope, você vai ficar triste e daqui a pouco o Gabriel está chegando do trabalho, você não vai querer que ele te veja triste depois de tantos anos, ou quer? Não sei porque mas a escutar o nome do Gabriel me deixou um pouco desconfortável. — Tia, ele não lembra mais de mim, pois todos esses anos ele não foi uma vez sequer me visitar então acho melhor não descer neste primeiro momento. — Não filha em todos esses anos ele não foi pois sempre estava muito ocupado se preparando para assumir a empresa no lugar do Daniel. — Tia, ele me esqueceu, eu sei disso, talvez tenha arrumado novos amigos, uma namorada e não iria lembrar de uma garota insignificante que ficou no passado.Emily narrando…Após uma conversa com a tia Laura, resolvi que seria melhor ficar em meu quarto, pois não estava preparada psicologicamente para encontrar o Gabriel.Sei que não irei conseguir ignorá-lo por muito tempo, pois irei morar na mesma casa que ele, mas mesmo assim não irei descer para o jantar. E tem mais, preciso saber do conteúdo do envelope e entender por que tia Laura ficou tão nervosa ao vê-lo em minhas mãos.Pego o envelope e abro, e o que estava escrito me desestabilizou totalmente:Contrato de casamento Gabriel e Emily. Minhas mãos ainda tremem enquanto seguro o contrato. Meu coração parece uma bomba-relógio prestes a explodir, e meu peito aperta com a mistura de raiva, confusão e indignação. Tento respirar fundo, mas cada tentativa falha, deixando-me mais sufocada. Não consigo simplesmente ficar aqui. Preciso de respostas. Preciso saber o que está acontecendo, e somente tia Laura e tio Daniel podem explicar.Levanto-me, decidido a descer e confrontá-los, mesmo que
Gabriel Narrando...Mais uma vez, meus pais foram para o interior visitar seus amigos de faculdade. Mas uma vez, meu pai perguntou se não vou com eles. Não entendo o porquê dessa insistência, não gosto de lugares pacatos, gosto de curtição, balada, pegar sem me apegar, embora agora esteja namorando a Melina, ela é igual a mim, gosta de curtir e acredito que somos compatíveis.— Gabriel, tem certeza de que não quer ir conosco? — pergunta minha mãe mais uma vez.— Mãe, pela última vez, não vou, não vejo o porquê de ir para um lugar onde não é para mim.— Não tem curiosidade de saber como a Emily ficou depois de adulta?As palavras dela me fizeram pensar um pouco. Ela é a filha do casal que eles sempre visitaram, éramos muito próximos quando crianças, mas acredito que hoje somos bem diferentes.— Não, mamãe, apesar de que ela pode estar namorando ou algo do tipo.— Duvido muito.Depois que meus pais saíram, o silêncio tomou conta da casa. Normalmente, eu aproveitaria a ausência deles pa
Gabriel Narrando...No dia seguinte, acordo atordoado, mesmo com a Melina em meus braços, fiquei a noite inteira pensando nas palavras da minha mãe e nas insinuações sobre a Emily. Tento me levantar, mas os braços da Melina me prendem.Meu celular toca sem parar e acaba acordando a Melina.— Atende logo isso, que saco. Ninguém pode dormir em paz.— Melina, bom dia para você também. Meus pais estão ligando, deve ter acontecido algo.Levanto-me da cama já atendendo o celular, deixando uma Melina irritada para trás.— Pai, bom dia, aconteceu algo? Era para vocês já terem chegado?— Então, filho, aconteceu um acidente com a Sofia e o Lucas e eles não resistiram. Nós vamos ficar uns dias aqui para organizar tudo com a Emily, até ela poder ir conosco para Nova Iorque.Minha mente deu um giro de 360º, como assim a Emily em morar aqui?— Pai, a Emily, como ela está? Precisa que eu vá?— Ela está muito abalada, mas sua mãe está com ela. Dando o apoio de que precisa. E não, não precisa vir, já
Gabriel Narrando...Os dias passam em um borrão. Meus pais finalmente chegam, e com eles, Emily. Eu ainda não a vi. Meu pai, no entanto, faz questão de me ligar para conversar assim que chegar.Estamos sentados no escritório dele. Ele fecha a porta e suspira antes de começar.— Gabriel, preciso falar algo importante, e quero que me escute com atenção. — Seu tom sério já me deixa tenso.— Tudo bem, pai. O que aconteceu?— No passado, o Lucas e eu fizemos um acordo quando vocês eram duas crianças que não se largavam. Na verdade, um contrato... — Ele hesita, procurando as palavras certas. — Para um casamento entre você e Emily.Minha mente parece travar. Por um momento, penso que não ouvi direito.— O quê? Pai, você está falando sério? — Meu tom sobe, e a incredulidade é clara.– Sim. É uma forma de garantir o futuro dela, já que perdeu os pais. Você sabe que nós estamos em dificuldades financeiras. É a melhor decisão para todos. Pois as terras da fazenda são muito lucrativas.— E a Meli
Emily Narrando... — Tia, por que fizeram isso? Por que decidiram sobre nossa vida? — Perdão, filha, na época pensava que era o certo a se fazer. Vocês eram tão ligados, tão próximos que imaginávamos que seriam inseparáveis. Quando recebemos a notícia do pai do Daniel e tivemos que vir embora, foi de partir o coração ver vocês chorando abraçados um ao outro. — Tia, éramos duas crianças, naquele momento era o fim do mundo, qualquer coisa. Não entendíamos nada, só sentíamos. E o que eu sentia naquele dia... era como se alguém tivesse arrancado parte de mim. Minha tia me olhava com um peso nos olhos que eu nunca tinha notado antes. Era como se ela também carregasse a culpa de uma decisão que talvez nem tivesse sido dela. Ela suspirou fundo e tocou-me a mão, como se procurasse as palavras certas para justificar o que era impossível justificar. — Eu sei, Emily. Sei que parece cruel agora, e talvez tenha sido. Mas na época, tudo aconteceu tão rápido. Meu sogro teve um infarto e o
Gabriel Narrando... Após a Melina discutir com a Emily, fui levar a Melina em casa. — Dorme aqui, Gabriel — pede a Melina. — Não posso, tenho que ir para casa, o clima lá não está bom e não sei como está depois do que você fez com a Emily. — Agora a culpa é minha, Gabriel? Eles decidem sua vida por meio de um maldito contrato e eu sou culpada de colocar aquela garota no lugar dela. — Melina, você não entende, a Emily está passando por muita coisa nos últimos dias. Ela perdeu os pais, teve que se mudar para uma cidade que ela não conhece ninguém e ao chegar descobrir que está prometida em casamento a um cara que está namorando outra. — Esta com piedade? Gabriel, ela é uma oportunista, está se fazendo de vítima para ficar com você. — Vai dizer que ela se aproveitou da morte dos pais dela também, Melina? Não viaja, nós somos o que a Emily tem mais próximo de uma família. Fica em casa e pensa em todos os absurdos que você falou e quando estiver mais tranquila, conversamos. Saio da
Gabriel Narrando... As palavras dela ficaram ecoando na minha mente, como um sonoro tapa na cara que eu não esperava, mas talvez merecesse. Ninguém nunca me rejeitou, não assim. Emily foi delicada, mas firme. Suas palavras, mesmo envoltas em doçura, carregaram um peso que me prendeu ao chão, obrigando-me a encarar a verdade de que eu tanto fugia. — Gabriel, eu não posso me envolver com você se você não tiver certeza do que realmente sente — ela havia dito, com aqueles olhos tão serenos e, ao mesmo tempo, tão penetrantes. Aquilo mexeu comigo. Nunca precisei provar nada a ninguém, principalmente quando se tratava de sentimento. Mas com Emily... era diferente. Eu não sabia exatamente o que sentia, mas sabia que não era superficial, muito menos passageiro. E também não era o mesmo que eu sentia por Melina, como ela mesma mencionou. “Por que, então, eu não consigo explicar o que é isso?” — perguntei-me pela centésima vez enquanto caminhava até ela. Saio de lá com o coração em pedaços
Melina narrando... Depois que essa garota chegou, minha vida antes perfeita agora está desmoronando. Eu estava namorando o garoto mais cobiçado da cidade, tinha ao seu lado a vida que sempre desejei: glamour, atenção, sempre éramos vistos como o casal perfeito. Entretanto, tudo desmoronou quando a Emily chegou. Eu não vou deixar o caminho livre para ela. Mais uma vez, estou com o Gabriel e essa garota chega, toda frágil, toda cheia de histórias que fazem ele olhar para ela de um jeito que nunca olhou para mim. Estou estressada e hoje, simplesmente, não aguentei. Descontei tudo de uma vez. — Já chega dessa conversa, Gabriel! — gritei, quando ele tentou me interromper. — Essa garota não é o que você pensa! Ela está se fazendo de vítima, e você está caindo feito um idiota. — Melina, para com isso. Você está exagerando — ele respondeu, cruzando os braços com aquele olhar desapontado que só fazia o meu sangue ferver mais. — Exagerando? Desde quando eu preciso de concorrência? Ela é um