Emily narrando…
Após uma conversa com a tia Laura, resolvi que seria melhor ficar em meu quarto, pois não estava preparada psicologicamente para encontrar o Gabriel. Sei que não irei conseguir ignorá-lo por muito tempo, pois irei morar na mesma casa que ele, mas mesmo assim não irei descer para o jantar. E tem mais, preciso saber do conteúdo do envelope e entender por que tia Laura ficou tão nervosa ao vê-lo em minhas mãos. Pego o envelope e abro, e o que estava escrito me desestabilizou totalmente: Contrato de casamento Gabriel e Emily. Minhas mãos ainda tremem enquanto seguro o contrato. Meu coração parece uma bomba-relógio prestes a explodir, e meu peito aperta com a mistura de raiva, confusão e indignação. Tento respirar fundo, mas cada tentativa falha, deixando-me mais sufocada. Não consigo simplesmente ficar aqui. Preciso de respostas. Preciso saber o que está acontecendo, e somente tia Laura e tio Daniel podem explicar. Levanto-me, decidido a descer e confrontá-los, mesmo que minha mente esteja um caos. Empurro a porta do quarto com força demais, fazendo-a ranger alto, mas não me importo. O corredor está vazio e silencioso, exceto pelo som distante de uma conversa abafada no andar de baixo. Desço as escadas devagar, minhas mãos ainda apertam o envelope como se ele fosse minha única âncora no meio dessa tempestade. Quando chego ao último degrau, percebo que a casa está mergulhada em uma quietude estranha. As luzes estão baixas e não há sinal de tia Laura ou tio Daniel. Estou prestes a chamar por eles quando ouço um som vindo da sala de estar. Passos, seguidos de vozes... e risos baixos. Meu coração acelera e, movida pela curiosidade, sigo o som. Paro à porta da sala, mas o que vejo me paralisa completamente. Gabriel está lá, com uma mulher. Ela está nos braços dele, e os dois estão... aos beijos. Fico congelada, incapaz de desviar o olhar. Meu estômago revira e o ar parece ser arrancado dos meus pulmões. Assim que eles se afastam, vejo o rosto dela mais claramente. É bonita, com cabelos escuros e um olhar feroz, mas sua expressão muda rapidamente para algo mais sério. Eles começam a falar e, mesmo a distância, consigo ouvir meu nome. — Você sabe que isso não vai funcionar, Gabriel,— diz a mulher, a voz baixa, mas carregada de irritação. — Ela não é nada para você. Isso é só uma obrigação, um contrato. E você está preso a isso porque eles decidiram por você! Você vai deixar eles decidirem sua vida? — Não é tão simples assim, — Gabriel responde, sua voz um pouco mais alta, mas tensa. — Eu não pedi por isso, e você sabe. Mas agora ela está aqui e a qualquer momento vai saber em que estamos envolvidos, e eu não vou fugir da responsabilidade. Sinto meu coração afundar ainda mais. Responsabilidade. É isso que eu sou para ele? Uma obrigação? Uma carga que ele precisa carregar devido a um contrato? — Responsabilidade? — a mulher repete, rindo amargamente. — Você realmente acha que isso vai dar certo? Não tem como você salvar todo mundo, Gabriel. E sabe o que é pior? Você nem a conhece. Por que você simplesmente não diz a verdade a ela e acaba logo com isso? Sua responsabilidade é comigo, você não pode me deixar assim, namoramos há anos e não posso ser dispensada por conta de um papel assinado quando você tinha apenas seis anos. Gabriel suspira e passa a mão pelos cabelos, claramente frustrado. — Eu vou contar, mas no momento certo. Ela já perdeu tudo, e eu não vou ser mais um motivo para machucá-la. Cada palavra deles corta como uma faca. Sinto uma mistura de humilhação e raiva crescendo dentro de mim. Como ousam falar de mim como se eu fosse uma criança indefesa, incapaz de lidar com a verdade? Eu já perdi tanto, e agora eles ainda acham que têm o direito de decidir o que eu devo ou não saber? Sem esperar para escutar mais nada, volto para meu quarto, me jogo na cama e fico pensando nas palavras que escutei e nas palavras escritas naquele papel. Decidi ligar para Emanuelle, minha melhor amiga, preciso de uma pessoa que possa me ajudar a enxergar as coisas claramente. — Oi, gata, como foi sua chegada a Nova Iorque? — Manu, foi bom até certa parte, descobri algo que me deixou desestabilizada, preciso conversar e tentar encontrar uma luz. — Nossa Emily, o que aconteceu está me deixando nervosa. — Descobri que meus pais, tia Laura e tio Daniel, fizeram um contrato de casamento entre mim e o Gabriel, quando ainda éramos crianças. A Manu fica um tempo em silêncio do outro lado da linha. — Manu, você me ouviu? — Caramba, estou tentando processar essa informação, mas tipo, o cara é gato? Se for, se j**a, gata. — Nem sei, só vi uma vez hoje e mesmo assim estava escuro e ele estava se agarrando à namorada na sala da casa, mas estava muito escuro. — Arrasta-a pelos cabelos e manda-a embora, o cara é teu, amiga, isso é oficial se está em contrato. — Manu, o negócio é sério, não posso simplesmente chegar e mandar a garota que é namorada dele ir embora, o que vou alegar? — Amiga, se ele for gato, quando essa garota aparecer alegando ser namorada dele, você simplesmente vira para ela e diz: — Sempre fui noiva dele, e aí? Ele é meu e ponto. — Ei, sua maluca, não é tão fácil assim, mas, mudando de assunto, quando você vai fazer sua mudança e vir para Nova Iorque? — Amiga, estou apenas esperando a confirmação do aluguel do apartamento. — Quando você chegar, vou morar com você, não vou ficar aqui por muito tempo, dividiremos as dispensas. Me dispenso da Manu e mais uma vez vou ler o conteúdo daquele contrato. Como meus pais me esconderam isso? Agora entendo o porquê de minha mãe marcar tão em cima em questão de namorados, ela nunca aceitou que eu pudesse namorar alguém. A pressão era tanta que nunca dei meu primeiro beijo, que ironia, enquanto ele estava namorando alguém aqui em Nova Iorque.Gabriel Narrando...Mais uma vez, meus pais foram para o interior visitar seus amigos de faculdade. Mas uma vez, meu pai perguntou se não vou com eles. Não entendo o porquê dessa insistência, não gosto de lugares pacatos, gosto de curtição, balada, pegar sem me apegar, embora agora esteja namorando a Melina, ela é igual a mim, gosta de curtir e acredito que somos compatíveis.— Gabriel, tem certeza de que não quer ir conosco? — pergunta minha mãe mais uma vez.— Mãe, pela última vez, não vou, não vejo o porquê de ir para um lugar onde não é para mim.— Não tem curiosidade de saber como a Emily ficou depois de adulta?As palavras dela me fizeram pensar um pouco. Ela é a filha do casal que eles sempre visitaram, éramos muito próximos quando crianças, mas acredito que hoje somos bem diferentes.— Não, mamãe, apesar de que ela pode estar namorando ou algo do tipo.— Duvido muito.Depois que meus pais saíram, o silêncio tomou conta da casa. Normalmente, eu aproveitaria a ausência deles pa
Gabriel Narrando...No dia seguinte, acordo atordoado, mesmo com a Melina em meus braços, fiquei a noite inteira pensando nas palavras da minha mãe e nas insinuações sobre a Emily. Tento me levantar, mas os braços da Melina me prendem.Meu celular toca sem parar e acaba acordando a Melina.— Atende logo isso, que saco. Ninguém pode dormir em paz.— Melina, bom dia para você também. Meus pais estão ligando, deve ter acontecido algo.Levanto-me da cama já atendendo o celular, deixando uma Melina irritada para trás.— Pai, bom dia, aconteceu algo? Era para vocês já terem chegado?— Então, filho, aconteceu um acidente com a Sofia e o Lucas e eles não resistiram. Nós vamos ficar uns dias aqui para organizar tudo com a Emily, até ela poder ir conosco para Nova Iorque.Minha mente deu um giro de 360º, como assim a Emily em morar aqui?— Pai, a Emily, como ela está? Precisa que eu vá?— Ela está muito abalada, mas sua mãe está com ela. Dando o apoio de que precisa. E não, não precisa vir, já
Gabriel Narrando...Os dias passam em um borrão. Meus pais finalmente chegam, e com eles, Emily. Eu ainda não a vi. Meu pai, no entanto, faz questão de me ligar para conversar assim que chegar.Estamos sentados no escritório dele. Ele fecha a porta e suspira antes de começar.— Gabriel, preciso falar algo importante, e quero que me escute com atenção. — Seu tom sério já me deixa tenso.— Tudo bem, pai. O que aconteceu?— No passado, o Lucas e eu fizemos um acordo quando vocês eram duas crianças que não se largavam. Na verdade, um contrato... — Ele hesita, procurando as palavras certas. — Para um casamento entre você e Emily.Minha mente parece travar. Por um momento, penso que não ouvi direito.— O quê? Pai, você está falando sério? — Meu tom sobe, e a incredulidade é clara.– Sim. É uma forma de garantir o futuro dela, já que perdeu os pais. Você sabe que nós estamos em dificuldades financeiras. É a melhor decisão para todos. Pois as terras da fazenda são muito lucrativas.— E a Meli
Emily Narrando... — Tia, por que fizeram isso? Por que decidiram sobre nossa vida? — Perdão, filha, na época pensava que era o certo a se fazer. Vocês eram tão ligados, tão próximos que imaginávamos que seriam inseparáveis. Quando recebemos a notícia do pai do Daniel e tivemos que vir embora, foi de partir o coração ver vocês chorando abraçados um ao outro. — Tia, éramos duas crianças, naquele momento era o fim do mundo, qualquer coisa. Não entendíamos nada, só sentíamos. E o que eu sentia naquele dia... era como se alguém tivesse arrancado parte de mim. Minha tia me olhava com um peso nos olhos que eu nunca tinha notado antes. Era como se ela também carregasse a culpa de uma decisão que talvez nem tivesse sido dela. Ela suspirou fundo e tocou-me a mão, como se procurasse as palavras certas para justificar o que era impossível justificar. — Eu sei, Emily. Sei que parece cruel agora, e talvez tenha sido. Mas na época, tudo aconteceu tão rápido. Meu sogro teve um infarto e o
Gabriel Narrando... Após a Melina discutir com a Emily, fui levar a Melina em casa. — Dorme aqui, Gabriel — pede a Melina. — Não posso, tenho que ir para casa, o clima lá não está bom e não sei como está depois do que você fez com a Emily. — Agora a culpa é minha, Gabriel? Eles decidem sua vida por meio de um maldito contrato e eu sou culpada de colocar aquela garota no lugar dela. — Melina, você não entende, a Emily está passando por muita coisa nos últimos dias. Ela perdeu os pais, teve que se mudar para uma cidade que ela não conhece ninguém e ao chegar descobrir que está prometida em casamento a um cara que está namorando outra. — Esta com piedade? Gabriel, ela é uma oportunista, está se fazendo de vítima para ficar com você. — Vai dizer que ela se aproveitou da morte dos pais dela também, Melina? Não viaja, nós somos o que a Emily tem mais próximo de uma família. Fica em casa e pensa em todos os absurdos que você falou e quando estiver mais tranquila, conversamos. Saio da
Gabriel Narrando... As palavras dela ficaram ecoando na minha mente, como um sonoro tapa na cara que eu não esperava, mas talvez merecesse. Ninguém nunca me rejeitou, não assim. Emily foi delicada, mas firme. Suas palavras, mesmo envoltas em doçura, carregaram um peso que me prendeu ao chão, obrigando-me a encarar a verdade de que eu tanto fugia. — Gabriel, eu não posso me envolver com você se você não tiver certeza do que realmente sente — ela havia dito, com aqueles olhos tão serenos e, ao mesmo tempo, tão penetrantes. Aquilo mexeu comigo. Nunca precisei provar nada a ninguém, principalmente quando se tratava de sentimento. Mas com Emily... era diferente. Eu não sabia exatamente o que sentia, mas sabia que não era superficial, muito menos passageiro. E também não era o mesmo que eu sentia por Melina, como ela mesma mencionou. “Por que, então, eu não consigo explicar o que é isso?” — perguntei-me pela centésima vez enquanto caminhava até ela. Saio de lá com o coração em pedaços
Melina narrando... Depois que essa garota chegou, minha vida antes perfeita agora está desmoronando. Eu estava namorando o garoto mais cobiçado da cidade, tinha ao seu lado a vida que sempre desejei: glamour, atenção, sempre éramos vistos como o casal perfeito. Entretanto, tudo desmoronou quando a Emily chegou. Eu não vou deixar o caminho livre para ela. Mais uma vez, estou com o Gabriel e essa garota chega, toda frágil, toda cheia de histórias que fazem ele olhar para ela de um jeito que nunca olhou para mim. Estou estressada e hoje, simplesmente, não aguentei. Descontei tudo de uma vez. — Já chega dessa conversa, Gabriel! — gritei, quando ele tentou me interromper. — Essa garota não é o que você pensa! Ela está se fazendo de vítima, e você está caindo feito um idiota. — Melina, para com isso. Você está exagerando — ele respondeu, cruzando os braços com aquele olhar desapontado que só fazia o meu sangue ferver mais. — Exagerando? Desde quando eu preciso de concorrência? Ela é um
Emily Narrando… Tudo em minha vida está acontecendo de forma diferente. Após a morte dos meus pais tudo virou de ponta cabeça, tive que me mudar e morar com as pessoas que eles achavam que era o melhor para mim, mas foi aí que descobri o que eles e esse casal que chamo carinhosamente de tios fizeram para minha vida. Me prometeram em casamento para o filho deles, esse que por muitos anos foi meu amor em segredo, mas a decepção de encontrá-lo nos braços de outra me fez pensar se é isso que quero na minha vida. Agora, ele está aqui, no apartamento da minha melhor amiga dormindo no sofá e meus pensamentos estão confusos não sei o que fazer ele me pediu para lhe dar uma chance. Eu acordo com o som suave de talheres vindo da cozinha. O aroma de café fresco e algo doce me faz sorrir, mesmo que por reflexo. Após uma noite cheia de pensamentos conturbados, esse pequeno gesto traz um pouco de paz. Levanto-me, tomo um banho rápido, tentando organizar minha mente. Depois de me arrumar,