“Mia Bennett”Enquanto o motorista de James se aproxima da Nexus, aproveito o pouco tempo que me resta para pegar o pequeno espelho na minha bolsa e conferir a leve maquiagem que arrisquei fazer enquanto me arrumava. Pela primeira vez em semanas, não me pareço com um panda. A noite passada foi a primeira vez, em muito tempo, que consegui dormir sem que meus pensamentos me arrastassem para um buraco sem fim. E as olheiras que me acompanhavam desde a morte da minha mãe finalmente deram uma trégua.É como se, ao resolver parte dos meus problemas, minha mente tivesse desligado para que eu conseguisse descansar. Claro, ainda há muito que não consigo controlar; minha vida está longe de ser perfeita agora, mas pelo menos hoje pareço um pouco mais com a garota que costumava ser.Guardo o espelho assim que o carro entra na garagem da Nexus. Olho rapidamente para James, que está com o semblante tranquilo desde que o encontrei mais cedo, como se o hoje fosse apenas mais um para ele. E, de certa
Fecho os olhos e respiro fundo, tentando acalmar as batidas descompassadas do meu coração. A pressão que sinto no peito me faz pensar que talvez eu devesse ter pedido um desfibrilador como parte do kit de boas-vindas.— Vamos lá, Mia. Você consegue — murmuro, finalmente começando a me afastar da zona de perigo.Sem saber exatamente para onde ir, decido procurar Gabriel novamente. Ao me aproximar da sala, o encontro está mexendo em alguns papéis. Ele sorri ao me ver.— Por que essa cara? — ele pergunta, levantando a sobrancelha como se pudesse sentir minha tensão de longe. — Já quer desistir?— Não. Quero fugir! — respondo, soltando o ar em um suspiro pesado enquanto me aproximo dele. — Esse homem deveria vir com um manual de instruções ou, sei lá, um aviso do tipo “perigo, não se aproxime”.— Bem-vinda ao mundo do Sr. Hayes — ele diz, rindo. — Mas você sobreviveu, e isso já é um bom começo.— Sobrevivi? — arqueio uma sobrancelha, apontando para mim mesma. — Olha para mim, Gabriel. Est
Minhas mãos tremem levemente enquanto me levanto da cadeira. O tablet está tão apertado entre meus dedos que começo a sentir dor. Bato na porta, tentando não parecer tão assustada ao entrar. — Sente-se — ele aponta para a cadeira à frente de sua mesa. Obedeço, me sentindo pequeno sob seu olhar. Por um momento, ele permanece em silêncio, o que só aumenta meu nervosismo. — Srta. Bennett — finalmente ele começa a falar. — Nos papéis que preencheu para a sua admissão, você disse que fala francês fluentemente. — Sim, senhor. — Obviamente, não é uma pergunta, mas respondo. — Aprendi por… motivos pessoais. Sinto meu rosto esquentar quando ele levanta a sobrancelha, desconfiado. Mas o motivo real é vergonhoso demais para ser dito em voz alta. Como explicar que aprendi francês por conta de uma paixão adolescente, apenas porque ele comentou que amava o idioma? — Então vamos testar suas habilidades — ele diz, sério. — Temos um cliente importante, Jean-Pierre Dubois, CEO da Dubois Technologi
Trinta minutos. Foi o tempo que tive para respirar antes que Ethan me chamasse para sua sala novamente.Ao entrar, ele está ao telefone, os olhos fixos em mim enquanto gesticula para que eu me sente. Faço o que ele pede, tentando ignorar o frio na barriga. Quando desliga o telefone, se ajeita na cadeira e me encara, sem pressa.— Precisamos revisar isso — Ethan diz, apontando para a pilha de papéis em cima da mesa. — Agora.— Agora? — murmuro, ciente de que Gabriel estará ocupado demais para me ajudar.— Algum problema, Srta. Bennett?— Nenhum, Sr. Hayes. Mas… ainda não sei fazer isso sozinha.— Óbvio — ele resmunga, se inclinando para frente. A paciência em sua voz está por um fio, mas ele começa a explicar os documentos. — Esses são os contratos da Sutton & Co. Quero que você revise cada parágrafo, marcando qualquer inconsistência ou erro.— Certo… — respondo, pegando uma caneta.Tento me concentrar, mas sua presença é sufocante. Cada página que passo aumenta minha insegurança, porq
“Ethan Hayes”Sinto meu maxilar travar ainda mais ao ver Miranda parada com a mão na cintura, me dando aquele olhar analítico que tanto detesto. Ainda sinto a tensão da conversa com Mia, e agora Miranda acha que é o momento ideal para testar minha paciência?Meu humor, que já estava ruim, piora significativamente.— Olhe ao redor e me diga o que acha, Srta. Pierce — digo, vendo o olhar de Mia se alargar.— Sr. Hayes, eu… preciso ir ao banheiro — minha assistente diz, aproveitando a oportunidade para sair. Esperta.Miranda segue seus passos com os olhos, virando-se para mim assim que a porta se fecha. Ignorando meu mau-humor evidente, um sorriso surge em seus lábios.— Você parece estressado — ela comenta, jogando seus cabelos para os ombros. — Precisa de ajuda para relaxar, querido? Sabe que sempre estou à…— Afinal, o que você quer? — corto secamente, sem paciência para seus joguinhos de sedução.— Nossa, não vai nem me dar um oi antes de querer descarregar sua raiva em mim? — Mirand
“Mia Bennett”Após toda aquela tensão na sala de Ethan, incluindo o teste ridículo em que ele fingiu que ia me beijar apenas para provar que essa aproximação não daria certo, saí de lá pensando em desistir.No entanto, algo dentro de mim exige que eu não dê o braço a torcer e faça o que ele quer. E daí que Ethan quer me ver longe daqui? Se ele quer fingir que nada aconteceu, também consigo fazer o mesmo.Pode ser que haja um dedo de masoquismo nisso, pois, apesar do incômodo de sua indiferença, uma parte de mim está ansiosa para vê-lo se cansar e me aceitar aqui.— Hoje ele está estressado... — Gabriel sussurra, balançando a cabeça quando Ethan volta para sua sala.Forço um sorriso, voltando minha atenção para minha mesa. Se Gabriel soubesse o motivo do estresse de Ethan, certamente se surpreenderia. Mas isso é um segredo que guardarei comigo.Finalmente, as horas passam sem maiores emoções. Ethan finalmente me deixou quieta, ocupado demais com seu próprio trabalho para me incomodar.
Para minha surpresa, meu segundo dia de trabalho foi muito mais tranquilo que o primeiro. Ethan ficou ocupado com compromissos externos, o que finalmente permitiu que eu trabalhasse em paz.Sem a presença intimidadora do CEO me pressionando, consegui me concentrar melhor e até concluir algumas tarefas sozinha. Me senti aliviada, mas sei que essa trégua foi temporária. Afinal, esse foi apenas o segundo dia.Quando o relógio finalmente marca 17h, finalizo minhas tarefas, aproveitando a calmaria do dia.— Até amanhã, Mia! — Gabriel acena da mesa do outro lado da sala. Retribuo com um sorriso antes de pegar minha bolsa e seguir para o elevador.É quase estranho terminar o expediente sem sentir o peso de um furacão chamado Ethan Hayes, e satisfatório saber que terei o fim de semana longe dele. Pelo menos como assistente, pois, como pessoa, infelizmente o encontrarei novamente no evento de amanhã.Meu estômago se contorce sempre que me lembro disso.— Srta. Bennett — Ivan, o motorista de Ja
Sem pensar duas vezes, me aproximo da entrada do corredor, me escondendo atrás de um enorme vaso de planta enquanto os observo de longe. Eles param em frente a uma joalheria e continuam conversando. A mulher esbelta, de cabelos curtos e escuros, ri de algo que Ethan diz, e isso faz com que ele relaxe ainda mais. Sinto um frio na barriga e nem mesmo sei por quê. Talvez seja porque a única vez que o vi assim, tão à vontade, tenha sido naquela noite. — Quem exatamente estamos espionando? — Vitória sussurra, me fazendo dar um pulo, assustada. Com a mão no peito, me viro para encará-la, encontrando a morena com um sorriso debochado no rosto, claramente se divertindo com a situação. Pisco algumas vezes, finalmente me dando conta do quanto a situação é ridícula. Sinto meu rosto arder de vergonha. Rapidamente, forço uma expressão de naturalidade, como se, há poucos minutos, não estivesse agindo como uma adolescente intrometida, espionando o chefe como se fosse algo perfeitamente normal