“Mia Bennett” Não quero piscar nem desviar o olhar de Ethan, que parece ainda mais lindo hoje. Ele sempre fica impressionante em seus ternos impecáveis, mas há algo diferente nele agora. Talvez seja a luz destacando perfeitamente seu maxilar definido ou a maneira como seus olhos verdes parecem mais intensos do que nunca. Ou talvez seja simplesmente o fato de ele estar aqui, no altar, mostrando sua vulnerabilidade sem se importar com as pessoas ao nosso redor. Algo que jamais imaginei quando estivemos aqui pela primeira vez. — Agora vamos aos votos do noivo — anuncia o celebrante. Ethan respira profundamente, ajeitando a postura enquanto enxuga a última lágrima. Ele hesita por um instante, mas logo limpa a garganta e começa seus votos. — Mia, minha Mia — sua voz soa surpreendentemente firme, mas percebo um leve tremor. — Antes de você, eu tinha certezas. Regras. Limites claros que nunca seriam cruzados. Então, você entrou no meu carro naquela noite chuvosa, e cada certeza q
“Ethan Hayes” Observo Mia do outro lado do salão, dançando animadamente com Lauren e Vitória. Mia Bennett agora é Mia Hayes, minha esposa. O pensamento ainda parece surreal. — Pare de encará-la como um adolescente apaixonado. Isso é estranho vindo de você — a voz de Alec me tira do transe. Viro-me e encontro meu amigo estendendo um copo de whisky. James está ao seu lado, com um sorriso divertido nos lábios. — Pelo menos, espera até a lua de mel para esse olhar de cadelinha — James provoca, pegando um dos copos que Alec oferece. — Vão à merda — retruco, pegando o whisky e tomando um longo gole. A música muda e vejo Lauren se afastar para pegar meu sobrinho do colo da minha mãe. Vitória se senta ao lado de Theo, que automaticamente repousa a mão em sua barriga. — Quem diria… — James comenta, seguindo meu olhar até Mia, que agora se senta à mesa dos meus pais. — Há cinco anos, eu estava pronto para arrancar sua cabeça quando descobri sobre vocês dois. Alec solta uma r
“Mia Hayes” Cinco anos depois… O aroma de peru assado e torta de abóbora preenche cada canto da casa. Sorrio enquanto adiciono a última colher de açúcar no molho de cranberry, ouvindo as risadas das crianças ecoando da sala de estar. Nossa casa. Às vezes, ainda me pego pensando nisso. Quando descobri que estava grávida de Elliot, há quase quatro anos, Ethan insistiu que precisávamos de um “lar de verdade”. Duas semanas depois, estávamos assinando os papéis desta casa. Grande o suficiente para uma família em expansão, mas ainda em Chicago, perto o suficiente para manter tudo funcionando. — Elliot, não corra pela casa! — grito pela terceira vez em menos de quinze minutos, enquanto equilibro Maya no quadril. Meu filho de três anos, a cópia perfeita do pai, me ignora e continua correndo atrás de Benjamin. Aos quase seis anos, meu irmão virou o herói do meu filho. Os dois passam pela porta da cozinha, quase derrubando Lauren no processo. Minha cunhada briga com o filho, que também
Algum tempo depois, finalmente nos reunimos ao redor da mesa. A casa está cheia, as vozes se misturam, as crianças riem… A cena aquece meu coração. A mesa para doze pessoas está impecavelmente arrumada, apesar de Amber já ter derrubado seu copo de suco uma vez. Maya, em sua cadeirinha, brinca com o purê de batatas, enquanto Elliot tenta convencer Ethan de que já comeu vegetais suficientes. — Está tudo delicioso, querida — comenta Catherine, sorrindo. — Concordo — meu pai acrescenta, servindo-se de mais peru. — Mia sempre teve talento culinário. Puxou a mãe. Falar da minha mãe traz um momento de silêncio respeitoso à mesa. Apesar de nunca tê-la conhecido, Abraham ergue discretamente sua taça em uma homenagem silenciosa que não passa despercebida. Entre conversas sobre trabalho, histórias das crianças e planos para o Natal, a noite segue em um ritmo leve e agradável. Quando o silêncio se instala por um instante, observo minha família. Benjamin ajuda Amber a cortar o per
Pang! Um estrondo seco ecoa pela casa, seguido pelo som inconfundível de vidro se estilhaçando. Meu corpo se encolhe instintivamente debaixo das cobertas. Não preciso olhar para o relógio ou descer as escadas para saber o que está acontecendo. Eu sei. David, meu padrasto, está bêbado de novo. — Sarah, meu amor! Você não podia ter me abandonado! — ouço-o gritar lá embaixo, seguido pelo som de mais alguma coisa se estilhaçando. Fecho os olhos e respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que ameaçam cair. Mas é inútil. Desde que minha mãe faleceu, os dias têm sido assim. A dor já era suficiente, mas a reação de David só torna tudo ainda pior. Exatamente como tem sido nas últimas semanas, os passos cambaleantes no corredor me fazem congelar. Logo, o som de seu punho batendo contra a porta ecoa pelo quarto. — Ela está morta por sua causa! — ele grita, seguido por mais um soco contra a porta. — Você matou sua mãe! — Outro soco. — Se você não fosse tão desobediente, Sarah estaria vi
Três semanas se passaram desde aquela noite. Não me lembro de muita coisa após o toque da campainha. Apenas dos vizinhos, do falatório ao meu redor, das sirenes… Quando realmente despertei, após algumas horas ou dias, já estava no hospital. Sobrevivi, mas com cicatrizes que não aparecem apenas no espelho. Tive alta antes de David. Voltei para casa, tentando acreditar que ele pagaria pelo que me fez. Mas não foi o que aconteceu. Ele voltou duas semanas depois, como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse quase tirado minha vida. Naquela mesma noite, o som de uma garrafa sendo aberta me trouxe de volta à realidade. David e álcool nunca foram uma boa combinação. Não esperei para ver o que aconteceria novamente. Peguei o pouco que tinha, uma mochila e minha coragem, e saí pela porta sem olhar para trás. A única pessoa que pode me ajudar agora é alguém que eu mal conhecia: James Bennett, meu pai biológico. Um homem que mal conheço, mas que parece ser minha última chance de rec
Alguns minutos depois, paramos em frente a um hotel que me deixa boquiaberta. É imenso e elegante, o tipo de lugar que só vi em filmes.— Você não perguntou, mas me chamo Ethan — ele se apresenta, me encarando com uma intensidade que me faz estremecer.— Mia — respondo, mesmo já tendo dito meu nome antes. O bar é sofisticado, com iluminação baixa que cria um ambiente íntimo. Ele escolhe uma mesa no canto, estrategicamente isolada das demais. — O de sempre, Sr. Hayes? — o garçom pergunta, me dando um olhar discreto.— Sim. Um Moscow Mule para a senhorita — Ethan decide, sem hesitar. Seus dedos roçam levemente os meus ao passar o cardápio. O toque é breve, mas suficiente para fazer meu coração acelerar.— Você me conhece há poucos minutos, como acha que sabe o meu gosto? — provoco, erguendo uma sobrancelha.— Te conheci há pouco, mas percebi o suficiente para saber que precisa de algo forte — ele responde, abrindo um sorriso confiante.A bebida chega, e tomo um gole generoso para deix
Após uma semana desde aquela noite, encaro meu reflexo no espelho do banheiro da cafeteria onde passei a última hora tentando criar coragem. As olheiras continuam sob meus olhos, relembrando as últimas noites em claro, pensando em qualquer alternativa que pudesse me ajudar a restabelecer minha vida sem envolver James Bennett.Mas como fazer isso em uma cidade desconhecida, sem ter onde morar, sem experiência profissional e com apenas dezoito anos? — Você pode fazer isso, Mia — murmuro para mim mesma, ajeitando pela décima vez a alça do meu vestido.Quinze minutos depois, estou novamente diante do imponente prédio espelhado. Hoje é tudo ou nada. Ou encontro James e tento recomeçar, ou terei que engolir meu medo e voltar para Portland.— Bom dia. Preciso falar com James Bennett — digo assim que paro na recepção. A recepcionista, diferente da semana passada, me olha de cima a baixo com uma sobrancelha erguida.— O Sr. Bennett não recebe ninguém sem hora marcada.— Eu… não sabia. Estive