Alguns minutos depois, paramos em frente a um hotel que me deixa boquiaberta. É imenso e elegante, o tipo de lugar que só vi em filmes.
— Você não perguntou, mas me chamo Ethan — ele se apresenta, me encarando com uma intensidade que me faz estremecer. — Mia — respondo, mesmo já tendo dito meu nome antes. O bar é sofisticado, com iluminação baixa que cria um ambiente íntimo. Ele escolhe uma mesa no canto, estrategicamente isolada das demais. — O de sempre, Sr. Hayes? — o garçom pergunta, me dando um olhar discreto. — Sim. Um Moscow Mule para a senhorita — Ethan decide, sem hesitar. Seus dedos roçam levemente os meus ao passar o cardápio. O toque é breve, mas suficiente para fazer meu coração acelerar. — Você me conhece há poucos minutos, como acha que sabe o meu gosto? — provoco, erguendo uma sobrancelha. — Te conheci há pouco, mas percebi o suficiente para saber que precisa de algo forte — ele responde, abrindo um sorriso confiante. A bebida chega, e tomo um gole generoso para deixar a vergonha de lado. O álcool me aquece por dentro, mas não tanto quanto seu olhar. É como se cada vez que nossos olhos se encontram, uma eletricidade me atingisse. — Então, Mia — ele sussurra meu nome como se o saboreasse. — O que a trouxe para esta cidade? — Estou procurando… alguém — respondo, sem querer revelar mais do que devo. Quando ele abre um sorriso, percebo que ele interpretou minha resposta de outra maneira. — E se esse alguém não quiser ser encontrado? — ele pergunta, se inclinando perigosamente na minha direção. Nossos rostos ficam próximos o suficiente para que eu sinta seu hálito misturado ao perfume dele. Minha respiração falha por um instante. — Então, vou insistir. Não desisto fácil — murmuro. — Persistente — ele comenta, com a voz rouca. — Gosto disso em você. Ele se afasta com um sorriso malicioso, enquanto seus olhos verdes me estudam com algo que parece... verdadeiro. Diferente da irritação inicial, agora há uma gentileza incomum em seu olhar. O contraste me intriga. — Mais uma rodada? — ele pergunta, já sinalizando o garçom. — Só se você beber comigo — retruco, deixando o álcool falar por mim. Após o terceiro drink, sua mão encontra a minha sobre a mesa. O toque é proposital, quase um desafio. Seus dedos traçam linhas imaginárias na minha pele, provocando arrepios que descem pela minha espinha. — Está ficando tarde — ele diz, com a voz rouca. — Posso pedir seu Uber agora, se quiser. Engulo em seco, sentindo meu coração disparar. Sei que deveria dizer sim, pegar o Uber e ir embora. Mas, quando abro a boca, outras palavras escapam: — Ou, se quiser, posso ficar um pouco mais. Estou adorando a companhia — sussurro, mordendo o lábio propositalmente. Seus olhos escurecem levemente, e sinto sua mão apertar a minha. — Tenho um quarto reservado aqui — ele diz, direto como sempre. — Quer subir ou prefere continuar aqui? — Me surpreenda — respondo, me surpreendendo com as próprias palavras. Ethan se levanta e estende a mão para mim. Quando a seguro, um arrepio percorre meu corpo. Pouco depois, o elevador para no último andar. Ethan coloca a mão nas minhas costas, me guiando pelo corredor. A suíte é luxuosa, mas mal presto atenção. Seus olhos são meu único foco. — Tem certeza? — ele pergunta, com o olhar fixo no meu. Respondo puxando-o pela gravata. É tudo o que ele precisa. Seus lábios encontram os meus em um beijo intenso e urgente, e meu corpo inteiro responde instantaneamente. Suas mãos descem para minha cintura e minhas costas encontram a parede. — Você é diferente — ele murmura entre beijos, percorrendo seus lábios pelo meu pescoço. — Não é como as outras. Meus dedos desabotoam sua camisa social, revelando um físico que confirma tudo o que seu terno sugeria. Músculos definidos, pele clara marcada por uma tatuagem em seu abdômen. — E o que me torna diferente? — Provoco, mordendo seu lábio inferior. — Você não correu quando teve a chance. — Ele ri, baixo, quase num gemido. — A maioria já teria fugido. Sem me dar a chance de responder, Ethan me segura pelas coxas, me puxando para o seu colo. Entrelaço minhas pernas ao redor de sua cintura, deixando que ele me leve até a cama enquanto continuamos nos beijando intensamente. Delicadamente, me deita sobre a cama, afastando-se o suficiente para me encarar de cima. Seu olhar percorre meu corpo, como se eu fosse algo precioso e perigoso ao mesmo tempo. Então, ele se deita sobre mim, unindo nossas bocas novamente. Aos poucos, minhas roupas param no chão, enquanto suas mãos exploram cada centímetro da minha pele, como se estivesse mapeando um território desconhecido. — Hoje — ele sussurra no meu ouvido — você é só minha. Não é um pedido. É um decreto. Amanhã, posso me arrepender. Posso me odiar por isso. Mas, agora, tudo o que quero é esquecer todo o caos da minha vida. Mesmo que só por esta noite, eu quero ser dele. […] Acordo e, por um momento, ainda sonolenta, não reconheço onde estou. Então, as memórias da noite anterior voltam como flashes: os beijos, os toques, o modo como Ethan me olhava, como se eu fosse única… Me viro na cama, esperando encontrá-lo, mas o outro lado já está vazio e frio. Enrolo o lençol ao redor do corpo e olho em volta. O quarto está vazio, exceto por minhas roupas jogadas no chão e uma única coisa chama minha atenção: um envelope branco na mesinha de cabeceira. Franzo o cenho enquanto o pego, abrindo-o com cuidado. Meu coração para por um instante ao ver o conteúdo: dinheiro. Não há bilhete, número de telefone, nada. Apenas… dinheiro. Levo alguns segundos para processar. O significado me atinge como um soco no estômago. — Uma noite e… um pagamento? — murmuro, sentindo o rosto arder de indignação. — Nem mesmo um “obrigado” ou um “adeus”? Coloco o envelope sobre a mesa e ando de um lado para o outro, tentando conter o nó que se forma em minha garganta. A sensação de ter sido usada me corrói. Não esperava que ele fosse me tratar como alguém especial, mas isso? Isso é demais. Meus olhos lacrimejam, mas limpo rapidamente as lágrimas, me recusando a chorar por alguém como ele. — Ethan Hayes, espero nunca mais te ver — sussurro, sentindo o gosto amargo da decepção em minhas palavras.Após uma semana desde aquela noite, encaro meu reflexo no espelho do banheiro da cafeteria onde passei a última hora tentando criar coragem. As olheiras continuam sob meus olhos, relembrando as últimas noites em claro, pensando em qualquer alternativa que pudesse me ajudar a restabelecer minha vida sem envolver James Bennett.Mas como fazer isso em uma cidade desconhecida, sem ter onde morar, sem experiência profissional e com apenas dezoito anos? — Você pode fazer isso, Mia — murmuro para mim mesma, ajeitando pela décima vez a alça do meu vestido.Quinze minutos depois, estou novamente diante do imponente prédio espelhado. Hoje é tudo ou nada. Ou encontro James e tento recomeçar, ou terei que engolir meu medo e voltar para Portland.— Bom dia. Preciso falar com James Bennett — digo assim que paro na recepção. A recepcionista, diferente da semana passada, me olha de cima a baixo com uma sobrancelha erguida.— O Sr. Bennett não recebe ninguém sem hora marcada.— Eu… não sabia. Estive
O gosto amargo na boca é o menor dos meus problemas. Minhas mãos tremem enquanto tento me recompor, evitando olhar para eles. A palavra “tio” continua ecoando na minha mente, me fazendo ofegar.— Mia, você está bem? — James pergunta, num tom preocupado. — Quer um copo d'água?Assinto levemente, finalmente virando para encará-los. No entanto, Ethan se mexe primeiro. Sem dizer nada, ele caminha até o frigobar no canto da sala.— Aqui. — murmura, me entregando uma garrafa de água.— Obrigada. — murmuro enquanto minhas mãos trêmulas seguram a garrafa. Dou um pequeno gole, tentando engolir o nó na garganta. James observa em silêncio enquanto Ethan se afasta, se sentando em sua cadeira de couro.— Mia… — James finalmente fala, olhando para mim. — Está melhor? Quer se sentar?— Estou bem, obrigada. — minto, mesmo sabendo que minha aparência me entrega. — Só… devo ter comido algo que me fez mal.— Certo. Agora posso saber o que aconteceu, Ethan? — James pergunta, mudando o foco da conversa.
Ethan respira fundo, ainda com o olhar fixo em mim, talvez decidindo se vale a pena continuar a provocação. Então, ele balança a cabeça e se afasta, caminhando até a janela. Com as mãos nos bolsos, ele encara a vista da cidade, ignorando completamente minha presença.Após alguns minutos de silêncio insuportável, decido abrir a boca. O desconforto de sua presença já é suficiente; o silêncio só piora.— Pensei que sua sala fosse em outro andar — murmuro, apertando nervosamente a barra do meu vestido. Ethan solta um riso seco, balançando a cabeça.— Aparentemente, James resolveu que seria uma boa ideia me pedir para esperá-lo aqui — ele responde, ainda de costas para mim. — Espero que você não tenha falado sobre o que aconteceu entre nós, porque não estou com a mínima paciência para aguentar um possível problema.Um possível problema. É isso que ele me vê, claro. Ou não teria deixado aquele dinheiro como se quisesse evitar qualquer dor de cabeça futura.Engulo em seco, sentindo minha gar
“Ethan Hayes” Eu não suporto confusão. Detesto desordem. Gosto das coisas claras, resolvidas, longe de problemas emocionais ou dramas desnecessários. Mas é exatamente isso que Mia acabou de trazer para minha vida: confusão. Eu não deveria estar surpreso. Desde o momento em que ela entrou no meu carro, com aquela cara de quem estava completamente perdida, percebi que algo poderia dar errado. E, claro, deu. Primeiro, foi a noite no hotel. Uma noite que deveria ter sido esquecida, como tantas outras. Depois, a revelação de quem ela era: filha do meu melhor amigo. Totalmente proibida para mim. E agora, como se o universo quisesse brincar comigo, meu sócio quer transformá-la na minha nova assistente. Perfeito. O som da porta se abrindo interrompe meus pensamentos. O eco inconfundível de saltos pelo chão de mármore anuncia sua chegada. Miranda Pierce. Advogada da Nexus. E... minha ex. Porque, claro, minha vida não tinha confusão suficiente. — Ethan — ela diz, aproximando-se com a c
“Mia Bennett”Bato continuamente com a caneta em cima da mesa enquanto leio pela terceira vez o parágrafo nos formulários da minha admissão. Não que eu tenha algum problema com interpretação de texto; muito pelo contrário, tudo que está escrito é bem fácil de entender. Mas minha mente insiste em vagar para outro lugar. Para ele.A decisão de aceitar ser a assistente de Ethan ainda parece surreal, como um daqueles sonhos ruins dos quais você acorda suando frio. Ou, no meu caso, não acorda. — Quem em sã consciência se colocaria de bom grado nessa posição? — resmungo.“Isso foi ideia sua, Mia”, minha mente responde, mas eu me recuso a aceitar que seja culpa exclusivamente minha. James também insistiu nisso.Respiro fundo e forço a atenção de volta ao papel, mas tudo o que consigo enxergar é a expressão impaciente de Ethan, considerando minha presença uma afronta pessoal.— Chega — resmungo, assinando a última página com um pouco mais de força do que deveria. Empurro os papéis para long
“Mia Bennett”Enquanto o motorista de James se aproxima da Nexus, aproveito o pouco tempo que me resta para pegar o pequeno espelho na minha bolsa e conferir a leve maquiagem que arrisquei fazer enquanto me arrumava. Pela primeira vez em semanas, não me pareço com um panda. A noite passada foi a primeira vez, em muito tempo, que consegui dormir sem que meus pensamentos me arrastassem para um buraco sem fim. E as olheiras que me acompanhavam desde a morte da minha mãe finalmente deram uma trégua.É como se, ao resolver parte dos meus problemas, minha mente tivesse desligado para que eu conseguisse descansar. Claro, ainda há muito que não consigo controlar; minha vida está longe de ser perfeita agora, mas pelo menos hoje pareço um pouco mais com a garota que costumava ser.Guardo o espelho assim que o carro entra na garagem da Nexus. Olho rapidamente para James, que está com o semblante tranquilo desde que o encontrei mais cedo, como se o hoje fosse apenas mais um para ele. E, de certa
Fecho os olhos e respiro fundo, tentando acalmar as batidas descompassadas do meu coração. A pressão que sinto no peito me faz pensar que talvez eu devesse ter pedido um desfibrilador como parte do kit de boas-vindas.— Vamos lá, Mia. Você consegue — murmuro, finalmente começando a me afastar da zona de perigo.Sem saber exatamente para onde ir, decido procurar Gabriel novamente. Ao me aproximar da sala, o encontro está mexendo em alguns papéis. Ele sorri ao me ver.— Por que essa cara? — ele pergunta, levantando a sobrancelha como se pudesse sentir minha tensão de longe. — Já quer desistir?— Não. Quero fugir! — respondo, soltando o ar em um suspiro pesado enquanto me aproximo dele. — Esse homem deveria vir com um manual de instruções ou, sei lá, um aviso do tipo “perigo, não se aproxime”.— Bem-vinda ao mundo do Sr. Hayes — ele diz, rindo. — Mas você sobreviveu, e isso já é um bom começo.— Sobrevivi? — arqueio uma sobrancelha, apontando para mim mesma. — Olha para mim, Gabriel. Est
Minhas mãos tremem levemente enquanto me levanto da cadeira. O tablet está tão apertado entre meus dedos que começo a sentir dor. Bato na porta, tentando não parecer tão assustada ao entrar. — Sente-se — ele aponta para a cadeira à frente de sua mesa. Obedeço, me sentindo pequeno sob seu olhar. Por um momento, ele permanece em silêncio, o que só aumenta meu nervosismo. — Srta. Bennett — finalmente ele começa a falar. — Nos papéis que preencheu para a sua admissão, você disse que fala francês fluentemente. — Sim, senhor. — Obviamente, não é uma pergunta, mas respondo. — Aprendi por… motivos pessoais. Sinto meu rosto esquentar quando ele levanta a sobrancelha, desconfiado. Mas o motivo real é vergonhoso demais para ser dito em voz alta. Como explicar que aprendi francês por conta de uma paixão adolescente, apenas porque ele comentou que amava o idioma? — Então vamos testar suas habilidades — ele diz, sério. — Temos um cliente importante, Jean-Pierre Dubois, CEO da Dubois Technologi