“Mia Bennett”Após toda aquela tensão na sala de Ethan, incluindo o teste ridículo em que ele fingiu que ia me beijar apenas para provar que essa aproximação não daria certo, saí de lá pensando em desistir.No entanto, algo dentro de mim exige que eu não dê o braço a torcer e faça o que ele quer. E daí que Ethan quer me ver longe daqui? Se ele quer fingir que nada aconteceu, também consigo fazer o mesmo.Pode ser que haja um dedo de masoquismo nisso, pois, apesar do incômodo de sua indiferença, uma parte de mim está ansiosa para vê-lo se cansar e me aceitar aqui.— Hoje ele está estressado... — Gabriel sussurra, balançando a cabeça quando Ethan volta para sua sala.Forço um sorriso, voltando minha atenção para minha mesa. Se Gabriel soubesse o motivo do estresse de Ethan, certamente se surpreenderia. Mas isso é um segredo que guardarei comigo.Finalmente, as horas passam sem maiores emoções. Ethan finalmente me deixou quieta, ocupado demais com seu próprio trabalho para me incomodar.
Para minha surpresa, meu segundo dia de trabalho foi muito mais tranquilo que o primeiro. Ethan ficou ocupado com compromissos externos, o que finalmente permitiu que eu trabalhasse em paz.Sem a presença intimidadora do CEO me pressionando, consegui me concentrar melhor e até concluir algumas tarefas sozinha. Me senti aliviada, mas sei que essa trégua foi temporária. Afinal, esse foi apenas o segundo dia.Quando o relógio finalmente marca 17h, finalizo minhas tarefas, aproveitando a calmaria do dia.— Até amanhã, Mia! — Gabriel acena da mesa do outro lado da sala. Retribuo com um sorriso antes de pegar minha bolsa e seguir para o elevador.É quase estranho terminar o expediente sem sentir o peso de um furacão chamado Ethan Hayes, e satisfatório saber que terei o fim de semana longe dele. Pelo menos como assistente, pois, como pessoa, infelizmente o encontrarei novamente no evento de amanhã.Meu estômago se contorce sempre que me lembro disso.— Srta. Bennett — Ivan, o motorista de Ja
Sem pensar duas vezes, me aproximo da entrada do corredor, me escondendo atrás de um enorme vaso de planta enquanto os observo de longe. Eles param em frente a uma joalheria e continuam conversando. A mulher esbelta, de cabelos curtos e escuros, ri de algo que Ethan diz, e isso faz com que ele relaxe ainda mais. Sinto um frio na barriga e nem mesmo sei por quê. Talvez seja porque a única vez que o vi assim, tão à vontade, tenha sido naquela noite. — Quem exatamente estamos espionando? — Vitória sussurra, me fazendo dar um pulo, assustada. Com a mão no peito, me viro para encará-la, encontrando a morena com um sorriso debochado no rosto, claramente se divertindo com a situação. Pisco algumas vezes, finalmente me dando conta do quanto a situação é ridícula. Sinto meu rosto arder de vergonha. Rapidamente, forço uma expressão de naturalidade, como se, há poucos minutos, não estivesse agindo como uma adolescente intrometida, espionando o chefe como se fosse algo perfeitamente normal
“Ethan Hayes”Os sorrisos ao meu redor são tão naturais quanto o botox espalhado pelos rostos da maioria dos homens que me rodeiam. Mais um evento beneficente, mais uma noite fingindo que estou realmente interessado em cada palavra vazia que é pronunciada.A hipocrisia me sufoca, mas é preciso.Afinal, não só nas salas de reunião que os negócios acontecem. Aqui, conexões são feitas, contratos são fechados e alianças são construídas, por mais irritante que seja fingir interesse em conversas que não levam a lugar algum.Ouço um grupo de investidores reclamar sobre o mercado financeiro como se isso fosse novidade. Entre um gole de bebida e outro, mantenho meu mau-humor sob controle, mesmo quando James tenta me puxar para essas conversas que ele insiste em chamar de diplomáticas.— Ethan, você está muito quieto. Não vai nos agraciar com algum comentário ácido? — James provoca ao meu lado, claramente notando minha impaciência.— E arriscar estragar a noite de alguém? Prefiro me conter — re
“Mia Bennett”Para o meu alívio, os olhares sobre a filha desconhecida de James Bennett duraram pouco, e ninguém mais parece prestar atenção em mim. Aos poucos, o nervosismo que sentia dá lugar a algo mais leve, quase confortável.— Não é tão ruim quanto imaginei — digo a Gabriel e Vitória, olhando ao redor.— Viu? Falei que você se acostumaria — Gabriel responde, dando um gole em seu champanhe. O truque é entender que ninguém realmente se importa com você aqui, a menos que você seja mais rico ou importante do que eles.Solto uma risada baixa, relaxando um pouco mais. Mesmo em meio a todo o luxo e formalidade, os dois conseguem me fazer sentir normal. Ou quase isso.Quase. Porque cada vez que olho ao redor e o vejo, meu coração insiste em me lembrar que estou longe de qualquer normalidade.Ethan está a alguns metros de distância, em meio a uma conversa com um grupo de homens, mas ainda assim, seu olhar permanece no meu por um instante longo demais. Meu rosto esquenta imediatamente.Te
Pang!Um estrondo seco ecoa pela casa, seguido pelo som inconfundível de vidro se estilhaçando.Meu corpo se encolhe instintivamente debaixo das cobertas. Não preciso olhar para o relógio ou descer as escadas para saber o que está acontecendo. Eu sei.David, meu padrasto, está bêbado de novo.— Sarah, meu amor! Você não podia ter me abandonado! — ouço-o gritar lá embaixo, seguido pelo som de mais alguma coisa se estilhaçando.Fecho os olhos e respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que ameaçam cair. Mas é inútil. Desde que minha mãe faleceu, os dias têm sido assim. A dor já era suficiente, mas a reação de David só torna tudo ainda pior.Exatamente como tem sido nas últimas semanas, os passos cambaleantes no corredor me fazem congelar. Logo, o som de seu punho batendo contra a porta ecoa pelo quarto.— Ela está morta por sua causa! — ele grita, seguido por mais um soco contra a porta. — Você matou sua mãe! — Outro soco. — Se você não fosse tão dependente, ela estaria viva!Pressi
Três semanas se passaram desde aquela noite. Não me lembro de muita coisa após o toque da campainha. Apenas dos vizinhos, do falatório ao meu redor, das sirenes… Quando realmente despertei, após algumas horas ou dias, já estava no hospital. Sobrevivi, mas com cicatrizes que não aparecem apenas no espelho. Tive alta antes de David. Voltei para casa, tentando acreditar que ele pagaria pelo que me fez. Mas não foi o que aconteceu. Ele voltou duas semanas depois, como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse quase tirado minha vida. Naquela mesma noite, o som de uma garrafa sendo aberta me trouxe de volta à realidade. David e álcool nunca foram uma boa combinação. Não esperei para ver o que aconteceria novamente. Peguei o pouco que tinha, uma mochila e minha coragem, e saí pela porta sem olhar para trás. A única pessoa que pode me ajudar agora é alguém que eu mal conhecia: James Bennett, meu pai biológico. Um homem que mal conheço, mas que parece ser minha última chance de rec
Alguns minutos depois, paramos em frente a um hotel que me deixa boquiaberta. É imenso e elegante, o tipo de lugar que só vi em filmes.— Você não perguntou, mas me chamo Ethan — ele se apresenta, me encarando com uma intensidade que me faz estremecer.— Mia — respondo, mesmo já tendo dito meu nome antes. O bar é sofisticado, com iluminação baixa que cria um ambiente íntimo. Ele escolhe uma mesa no canto, estrategicamente isolada das demais. — O de sempre, Sr. Hayes? — o garçom pergunta, me dando um olhar discreto.— Sim. Um Moscow Mule para a senhorita — Ethan decide, sem hesitar. Seus dedos roçam levemente os meus ao passar o cardápio. O toque é breve, mas suficiente para fazer meu coração acelerar.— Você me conhece há poucos minutos, como acha que sabe o meu gosto? — provoco, erguendo uma sobrancelha.— Te conheci há pouco, mas percebi o suficiente para saber que precisa de algo forte — ele responde, abrindo um sorriso confiante.A bebida chega, e tomo um gole generoso para deix