HannaLuigi me pega no colo e eu abraço meu amigo pelo pescoço, apoiando a cabeça em seu peito, como uma criança buscando conforto. Já no quarto, ele me coloca na cama, tira meus sapatos, senta-se encostado na cabeceira, e eu deito minha cabeça em seu colo, deixando as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.— Não precisa dizer nada se não quiser… Mas, se quiser, estou aqui. Não vou embora até você estar bem.Uma chuva forte começou lá fora; raios cortavam o céu e trovões assustadores ecoavam na madrugada. Eu não queria conversar, nem sabia o que estava sentindo… era uma bagunça na mente e no meu coração.Kevin não me deixou explicar. Ele acha que o enganei, mas a verdade é que fui apenas covarde, por não contar a ele minha verdadeira história. E ele… ele só foi um babaca, ciumento, egoísta, hipócrita e outras coisas que nem consigo me lembrar as palavras… ou talvez era isso que ele precisava para acabar com essa merda de conto de fadas que inventei na minha cabeça. Talvez ele só precisav
Kevin— Ela não quer falar com você. — Luigi diz com os braços cruzados em frente à porta.— Ela não quer, ou você está decidindo por ela?— E tem diferença?— Com toda certeza, tem, saia da frente e deixa eu falar com a minha mulher.— Ela deixou de ser sua namorada, no momento que virou as costas e foi embora.— Eu precisava de um tempo para processar, eu amo a Hanna mais que tudo neste mundo e vou entrar para falar com ela, você querendo ou não.— Vou te contar como a encontrei quando Hazel me ligou desesperada. Hanna estava ajoelhada no chão, chorando há horas. Ela soluçava tão alto que não sei como Kat não acordou. Seus olhos estão vermelhos, fundos, a voz rouca e baixa. E tudo isso foi por sua causa. Ela está sofrendo por sua causa. Você não sabe o que ela passou no passado e nem deixou se explicar. Agora, ela não quer falar, está frágil demais. Então, suma da vida dela. Ela estava bem sem você. Você só trouxe sofrimento para ela.Permaneci sem fala, olhando para o homem à minha
KevinOlho ao redor, confuso. O papel de parede do quarto, outrora floral, agora está desbotado e rasgado em alguns pontos. As cortinas pendem frouxas na cor de um laranja-escuro encardido. O carpete é de um vermelho-escuro, mas a sujeira e as marcas de queimadura o transformaram em algo quase indistinguível. No canto, uma televisão antiga, aquelas quadradas de tubo, que provavelmente só exibe chuviscos, repousa sobre um suporte improvisado. Um motel barato, perdido na beira da estrada, onde o silêncio é quebrado apenas pelo som da chuva batendo nas telhas e o zumbido de um velho ar-condicionado que parece mais exalar poeira que refrescar o ambiente.— Onde estou? — murmuro, ainda atordoado, a cabeça pulsando.Aquela dor de cabeça latejante me dava a sensação de que minha mente ainda estava presa em algum sonho bizarro, mas a visão do quarto detonado me lembrava que não, aquilo era a realidade. O cheiro de mofo e o toque áspero do carpete velho sob os meus pés nus diziam mais do que e
KevinRespirei fundo e deslizei o dedo na tela, aceitando a ligação.— Finalmente. Onde você está, Kevin? — A voz fria e impassível de meu pai é como um gelo em minha coluna.— Me espere na empresa, daqui a duas horas chego para a reunião.Silêncio. Um daqueles silêncios que meu pai usava para me fazer sentir como uma criança. Quando ele finalmente falou, a voz era cortante.— Cansei de esperar, você fará o que for necessário para essa família, Kevin. E ponto final. O casamento será em um ano, goste ou não. Se não escolher sua noiva, será Ashley.Fechei os olhos, sentindo o peso daquela sentença. Era como se ele estivesse jogando um par de algemas invisíveis em mim, prendendo-me a um futuro que eu não queria. Eu não amava Ashley, ela está fora de questão, ou me caso com Hanna, ou morro solteiro.— Escuta, pai… — Falei, buscando uma calma. — Eu não sou você. Não sou seu fantoche, nem sou a extensão de seus sonhos frustrados. Sou eu. E, pela última vez, eu não vou me casar com Ashley.D
AshleyEstou em um café no lado sul da cidade, onde sei que ninguém da alta sociedade se arriscaria a aparecer, só para me encontrar com o pior dos meus funcionários, Wesley. Ele já teve duas chances de acabar com a Tal da Hanna e falhou nas duas tentativas. Minha paciência já está no limite.— Olá, deseja pedir alguma coisa? — Uma mulher me pergunta, mas sinceramente, não beberia nem água nesta espelunca.— Não, estou esperando alguém, pode se retirar. — A mulher me olha irritada, mas nem ligo, até a presença dela me incomoda. — Cadê aquele incompetente? — Pergunta a mim mesma, até que Wesley passa pela porta todo simpático cumprimentando as atendentes, mas a simpatia acaba assim que me vê, o que vejo no reflexo de seus olhos me enche de orgulho. Ele está assustado, mal senta e eu já disparo: — Não acredito que aquela golpista venceu de novo. Será que ela é um gato? Porque parece ter sete vidas. Ela que me aguarde... acabarei com cada uma delas. — digo, lançando um olhar fulminante
Dylan — Amor, você está pensativo desde que vimos Kevin e aquela mulher saírem do hospital. O que te incomodou tanto?Olho para minha esposa. Lembro-me de como ela era linda, mas agora está muito diferente, seu corpo mudou, inchado pela gravidez, e me pego temendo o que ainda pode vir. Tento não deixar que isso me afete, mas é impossível não imaginar o estrago após essa criança sair... pois sua beleza era a única coisa que me atraia.— Não é nada, mas me conta, você conhece a mulher que estava com ele? — Infelizmente, sim — Alicia suspira, sentando-se no sofá do nosso quarto e pegando uma garrafa de água na geladeira. — Estudei na mesma turma que ela. Hanna era bolsista; os pais dela trabalhavam para a família dos Smith e dos Headley. Mesmo assim, ela se achava no direito de ficar com o capitão do time da escola.— Do jeito que está falando, você também era afim do capitão? — Pergunto imaginando Hanna ao lado de Alicia, e com certeza Hanna ganharia por sua beleza exuberante. Nem a g
DylanSaio em direção à casa da Hanna. Após investigar um pouco, descobri finalmente o endereço dela. Estaciono à distância e fiquei observando, enquanto decidia se me revelaria de imediato ou se me divertiria um pouco antes disso. Optei pela diversão e comecei a provocar: primeiro enviei uma mensagem dizendo que eu já sei que a "pirralha" é minha filha. E também para que se afaste de Kevin, não quero ele perto delas.Fiquei imaginando ela lendo aquelas palavras. Será que você ficou assustado? Confusa? Esse pensamento me diverte, mas minha satisfação dura um pouco. Logo vejo Kevin estacionando o carro em frente à casa. Instantaneamente, meu humor azeda.— Mas que diabos ele está fazendo? E... ele está de pijama? — murmuro, irritado e incrédulo no que via, de dentro do meu carro.A simples ideia de imaginá-los juntos me consome, e decido agir novamente. Digito outra mensagem para Hanna, espero o caos acontecer.Após um tempo, observo Kevin sair furioso, e sorrio em vitória.Ganhei a no
Hanna— Desde quando você defende tanto o Kevin? — Digo, encarando minha irmã.— Desde que eu sei o quanto vocês se amam, ouviu no plural, SE AMAM. — Ela respondeu com sinceridade. — Mas, mudando de assunto, já faz mais de um mês que você está de molho desde que teve alta. Vai fazer o coquetel da Bella Vitta?— Vou. Dei uma olhada no cardápio e vi que tem canapés e sinceramente, você e o Luigi são um desastre com os canapés.Hazel fez uma careta, mostrando a língua como uma criança.— Então bora se arrumar, sua chata, senão vamos nos atrasar. Ligarei para July.— Está bem. Tomarei um banho rápido. Depois, você faz aquela trança embutida para mim?— Claro. E Hanna.— O quê?— Precisamos de um quadro novo, esse realmente é melancólico. Ele é lindo, mas precisamos de alegria nesta casa.Vou para o meu quarto rindo dela. Enquanto a água quente escorria, um frio na barriga se instalou. Será a primeira vez que volto para a cozinha depois do que aconteceu. Confesso que dá medo, mas preciso e