KevinOlho ao redor, confuso. O papel de parede do quarto, outrora floral, agora está desbotado e rasgado em alguns pontos. As cortinas pendem frouxas na cor de um laranja-escuro encardido. O carpete é de um vermelho-escuro, mas a sujeira e as marcas de queimadura o transformaram em algo quase indistinguível. No canto, uma televisão antiga, aquelas quadradas de tubo, que provavelmente só exibe chuviscos, repousa sobre um suporte improvisado. Um motel barato, perdido na beira da estrada, onde o silêncio é quebrado apenas pelo som da chuva batendo nas telhas e o zumbido de um velho ar-condicionado que parece mais exalar poeira que refrescar o ambiente.— Onde estou? — murmuro, ainda atordoado, a cabeça pulsando.Aquela dor de cabeça latejante me dava a sensação de que minha mente ainda estava presa em algum sonho bizarro, mas a visão do quarto detonado me lembrava que não, aquilo era a realidade. O cheiro de mofo e o toque áspero do carpete velho sob os meus pés nus diziam mais do que e
KevinRespirei fundo e deslizei o dedo na tela, aceitando a ligação.— Finalmente. Onde você está, Kevin? — A voz fria e impassível de meu pai é como um gelo em minha coluna.— Me espere na empresa, daqui a duas horas chego para a reunião.Silêncio. Um daqueles silêncios que meu pai usava para me fazer sentir como uma criança. Quando ele finalmente falou, a voz era cortante.— Cansei de esperar, você fará o que for necessário para essa família, Kevin. E ponto final. O casamento será em um ano, goste ou não. Se não escolher sua noiva, será Ashley.Fechei os olhos, sentindo o peso daquela sentença. Era como se ele estivesse jogando um par de algemas invisíveis em mim, prendendo-me a um futuro que eu não queria. Eu não amava Ashley, ela está fora de questão, ou me caso com Hanna, ou morro solteiro.— Escuta, pai… — Falei, buscando uma calma. — Eu não sou você. Não sou seu fantoche, nem sou a extensão de seus sonhos frustrados. Sou eu. E, pela última vez, eu não vou me casar com Ashley.D
AshleyEstou em um café no lado sul da cidade, onde sei que ninguém da alta sociedade se arriscaria a aparecer, só para me encontrar com o pior dos meus funcionários, Wesley. Ele já teve duas chances de acabar com a Tal da Hanna e falhou nas duas tentativas. Minha paciência já está no limite.— Olá, deseja pedir alguma coisa? — Uma mulher me pergunta, mas sinceramente, não beberia nem água nesta espelunca.— Não, estou esperando alguém, pode se retirar. — A mulher me olha irritada, mas nem ligo, até a presença dela me incomoda. — Cadê aquele incompetente? — Pergunta a mim mesma, até que Wesley passa pela porta todo simpático cumprimentando as atendentes, mas a simpatia acaba assim que me vê, o que vejo no reflexo de seus olhos me enche de orgulho. Ele está assustado, mal senta e eu já disparo: — Não acredito que aquela golpista venceu de novo. Será que ela é um gato? Porque parece ter sete vidas. Ela que me aguarde... acabarei com cada uma delas. — digo, lançando um olhar fulminante
Dylan — Amor, você está pensativo desde que vimos Kevin e aquela mulher saírem do hospital. O que te incomodou tanto?Olho para minha esposa. Lembro-me de como ela era linda, mas agora está muito diferente, seu corpo mudou, inchado pela gravidez, e me pego temendo o que ainda pode vir. Tento não deixar que isso me afete, mas é impossível não imaginar o estrago após essa criança sair... pois sua beleza era a única coisa que me atraia.— Não é nada, mas me conta, você conhece a mulher que estava com ele? — Infelizmente, sim — Alicia suspira, sentando-se no sofá do nosso quarto e pegando uma garrafa de água na geladeira. — Estudei na mesma turma que ela. Hanna era bolsista; os pais dela trabalhavam para a família dos Smith e dos Headley. Mesmo assim, ela se achava no direito de ficar com o capitão do time da escola.— Do jeito que está falando, você também era afim do capitão? — Pergunto imaginando Hanna ao lado de Alicia, e com certeza Hanna ganharia por sua beleza exuberante. Nem a g
DylanSaio em direção à casa da Hanna. Após investigar um pouco, descobri finalmente o endereço dela. Estaciono à distância e fiquei observando, enquanto decidia se me revelaria de imediato ou se me divertiria um pouco antes disso. Optei pela diversão e comecei a provocar: primeiro enviei uma mensagem dizendo que eu já sei que a "pirralha" é minha filha. E também para que se afaste de Kevin, não quero ele perto delas.Fiquei imaginando ela lendo aquelas palavras. Será que você ficou assustado? Confusa? Esse pensamento me diverte, mas minha satisfação dura um pouco. Logo vejo Kevin estacionando o carro em frente à casa. Instantaneamente, meu humor azeda.— Mas que diabos ele está fazendo? E... ele está de pijama? — murmuro, irritado e incrédulo no que via, de dentro do meu carro.A simples ideia de imaginá-los juntos me consome, e decido agir novamente. Digito outra mensagem para Hanna, espero o caos acontecer.Após um tempo, observo Kevin sair furioso, e sorrio em vitória.Ganhei a no
Hanna— Desde quando você defende tanto o Kevin? — Digo, encarando minha irmã.— Desde que eu sei o quanto vocês se amam, ouviu no plural, SE AMAM. — Ela respondeu com sinceridade. — Mas, mudando de assunto, já faz mais de um mês que você está de molho desde que teve alta. Vai fazer o coquetel da Bella Vitta?— Vou. Dei uma olhada no cardápio e vi que tem canapés e sinceramente, você e o Luigi são um desastre com os canapés.Hazel fez uma careta, mostrando a língua como uma criança.— Então bora se arrumar, sua chata, senão vamos nos atrasar. Ligarei para July.— Está bem. Tomarei um banho rápido. Depois, você faz aquela trança embutida para mim?— Claro. E Hanna.— O quê?— Precisamos de um quadro novo, esse realmente é melancólico. Ele é lindo, mas precisamos de alegria nesta casa.Vou para o meu quarto rindo dela. Enquanto a água quente escorria, um frio na barriga se instalou. Será a primeira vez que volto para a cozinha depois do que aconteceu. Confesso que dá medo, mas preciso e
KevinEstava tocado no sofá, zapeando pelos canais sem realmente prestar atenção em nada. A saudade da Hanna e da Kat me sufocava. Como pude ser tão machista e idiota? Ela nunca vai me perdoar.Enquanto travo essa batalha interna, meu celular começa a tocar. Olho no identificador e é Davis. Suspiro antes de atender.— Fala, comigo.— “Fala”? É assim que um CEO atende o telefone agora?— Ah, como se você fosse o presidente da República. Fala logo, cara.— Você vai a um coquetel comigo. Já está mofando nesse apartamento há semanas.— Nem pensar. Me deixa aqui na minha paz. — Digo já querendo desligar.— Hum... OK. Então, comerei tudo o que sua amada preparar e ainda vou te mandar fotos. Quem sabe mando uma foto com ela junto.Me endireito no sofá, com o coração disparando.— Hanna, vai servir o buffet?— Sim, meu querido amigo idiota.— Que horas e onde eu pego o convite?Ele dá uma gargalhada que ecoa do outro lado da linha.— Relaxa. Te encontro no evento e entrego o convite lá. Já pe
Hanna— Está tudo bem? Você está vermelha? — Hazel pergunta preocupada, me olhando do outro lado da pequena cozinha reservada a nós.— Preciso de um ar, se importam de ficar sozinhos por alguns segundos? Preciso respirar um pouco. Acho que minha pressão, não sei.— Claro, quer que eu vá junto? — Luigi pergunta preocupado, o encaro séria e nego com a cabeça e digo:— Não obrigada.— Qualquer coisa me liga. — Hazel diz, voltando a atenção ao prato que decorava.Continuo chateada com como Luigi agiu com Kevin, sei que foi para me proteger, mas ele passou do limite.Estou caminhando, tentando organizar meus pensamentos, quando uma mulher grávida surge no meu campo de visão. Na verdade, eu nem estava prestando atenção nas pessoas ao meu redor; meu foco estava perdido, entre o aperto no peito e a leve dor de cabeça que começava a pulsar. Cada passo parecia pesar mais do que o anterior, e a última coisa que eu queria era ter que lidar com os convidados.Já estava prestes a chamar um dos meni