Kevin— Por que caralho, você está de pijama no parque a essa hora? — Davis pergunta assim que senta ao meu lado no banco.— Cara, eu estou na merda. — Falo olhando para nossas iniciais na árvore. — O que aconteceu? Você ficou feliz porque Hanna voltou para sua vida e tem a Kat, sua filha. — Ela não é minha filha. — Falo com a voz tão baixa que ele quase não conseguia ouvir.Davis me olha, franzindo a testa como se eu tivesse acabado de falar algo absurdo.— E daí? A menina te ama, e a Hanna também. Sendo do seu sangue ou não. Ele fala como se fosse a coisa mais simples do mundo, mas para mim...— Eu também amo as duas — confesso, quase como um desabafo.— Então, para que esse drama todo? — Ele me olha com uma incredulidade misturada com um toque de impaciência. — Nunca ouviu aquele ditado: “Pai é o que cria!”— Cara, ela mentiu para mim. Teve várias oportunidades para revelar a verdade, mas não… — Solto um suspiro frustrado. — Em que mais ela mentiu? Já que entende de ditados, con
Kevin— O quê? Agora?— Não, depois que o babaca voltar para a vida dela. Porra, Kevin, tá difícil, viu? O que aconteceu com você, mano?— O amor Davis… Isso que aconteceu comigo! — Digo enquanto deixo meu amigo rindo e corro para o carro, como um adolescente idiota, mas antes de chegar ao carro, lembro das nossas iniciais e corro de volta até a árvore, tiro uma foto das nossas iniciais e volto correndo para o carro, com o som da rosada do meu amigo.— Boa sorte! — Ele grita enquanto caminha para o seu carro.Davis estava certo. Preciso me redimir e ter minhas meninas de volta.Enquanto dirijo, um medo sufocante de ser rejeitado me consumia. “Devo desistir? Nunca. Hanna era minha vida, minha razão, e nada mudaria isso.” — Dou um sorriso nervoso enquanto os pensamentos se conflitam, entre o medo e a verdade.Já estava no meio do caminho quando o céu desabou em uma tempestade inesperada, daquelas que aparentemente despejam chuva de dias em questão de minutos. Não havia escolha, foi pre
HazelEnquanto ouço a discussão entre Kevin e Hanna, meu coração se aperta. Ela errou em esconder a verdade dele, mas também entendi o seu lado. Como ela poderia chegar para ele e dizer: “Então, Kevin, a Kat não é sua filha. Ela foi fruto de um estupro. E o 'doador' do esperma? Ah, é o seu pior inimigo. Doador, sim... porque pai ele nunca foi, nem será.”Suspiro, sentindo um nó na garganta. Pego o celular e ligo para Jason.— Amor... pode vir dormir em casa hoje? — Minha voz sai mais embargada do que gostaria.— Claro, o que aconteceu? Está chorando? — Ele pergunta, preocupado.— Vem para cá que explico tudo. Mas resumindo... estou com pena da Hanna.— Da Hanna? — Ele pausa por um momento, e, de repente, ouço vozes abafadas do outro lado. — Calma aí, porra, estou tentando entender!— Quem está com você? — questionando, tentando não me afetar.— É o Luigi, amor... ele estava aqui chorando as pitangas para mim... me salva, amor! — Mesmo com toda essa tensão, não consigo conter uma risad
HannaLuigi me pega no colo e eu abraço meu amigo pelo pescoço, apoiando a cabeça em seu peito, como uma criança buscando conforto. Já no quarto, ele me coloca na cama, tira meus sapatos, senta-se encostado na cabeceira, e eu deito minha cabeça em seu colo, deixando as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.— Não precisa dizer nada se não quiser… Mas, se quiser, estou aqui. Não vou embora até você estar bem.Uma chuva forte começou lá fora; raios cortavam o céu e trovões assustadores ecoavam na madrugada. Eu não queria conversar, nem sabia o que estava sentindo… era uma bagunça na mente e no meu coração.Kevin não me deixou explicar. Ele acha que o enganei, mas a verdade é que fui apenas covarde, por não contar a ele minha verdadeira história. E ele… ele só foi um babaca, ciumento, egoísta, hipócrita e outras coisas que nem consigo me lembrar as palavras… ou talvez era isso que ele precisava para acabar com essa merda de conto de fadas que inventei na minha cabeça. Talvez ele só precisav
Kevin— Ela não quer falar com você. — Luigi diz com os braços cruzados em frente à porta.— Ela não quer, ou você está decidindo por ela?— E tem diferença?— Com toda certeza, tem, saia da frente e deixa eu falar com a minha mulher.— Ela deixou de ser sua namorada, no momento que virou as costas e foi embora.— Eu precisava de um tempo para processar, eu amo a Hanna mais que tudo neste mundo e vou entrar para falar com ela, você querendo ou não.— Vou te contar como a encontrei quando Hazel me ligou desesperada. Hanna estava ajoelhada no chão, chorando há horas. Ela soluçava tão alto que não sei como Kat não acordou. Seus olhos estão vermelhos, fundos, a voz rouca e baixa. E tudo isso foi por sua causa. Ela está sofrendo por sua causa. Você não sabe o que ela passou no passado e nem deixou se explicar. Agora, ela não quer falar, está frágil demais. Então, suma da vida dela. Ela estava bem sem você. Você só trouxe sofrimento para ela.Permaneci sem fala, olhando para o homem à minha
KevinOlho ao redor, confuso. O papel de parede do quarto, outrora floral, agora está desbotado e rasgado em alguns pontos. As cortinas pendem frouxas na cor de um laranja-escuro encardido. O carpete é de um vermelho-escuro, mas a sujeira e as marcas de queimadura o transformaram em algo quase indistinguível. No canto, uma televisão antiga, aquelas quadradas de tubo, que provavelmente só exibe chuviscos, repousa sobre um suporte improvisado. Um motel barato, perdido na beira da estrada, onde o silêncio é quebrado apenas pelo som da chuva batendo nas telhas e o zumbido de um velho ar-condicionado que parece mais exalar poeira que refrescar o ambiente.— Onde estou? — murmuro, ainda atordoado, a cabeça pulsando.Aquela dor de cabeça latejante me dava a sensação de que minha mente ainda estava presa em algum sonho bizarro, mas a visão do quarto detonado me lembrava que não, aquilo era a realidade. O cheiro de mofo e o toque áspero do carpete velho sob os meus pés nus diziam mais do que e
KevinRespirei fundo e deslizei o dedo na tela, aceitando a ligação.— Finalmente. Onde você está, Kevin? — A voz fria e impassível de meu pai é como um gelo em minha coluna.— Me espere na empresa, daqui a duas horas chego para a reunião.Silêncio. Um daqueles silêncios que meu pai usava para me fazer sentir como uma criança. Quando ele finalmente falou, a voz era cortante.— Cansei de esperar, você fará o que for necessário para essa família, Kevin. E ponto final. O casamento será em um ano, goste ou não. Se não escolher sua noiva, será Ashley.Fechei os olhos, sentindo o peso daquela sentença. Era como se ele estivesse jogando um par de algemas invisíveis em mim, prendendo-me a um futuro que eu não queria. Eu não amava Ashley, ela está fora de questão, ou me caso com Hanna, ou morro solteiro.— Escuta, pai… — Falei, buscando uma calma. — Eu não sou você. Não sou seu fantoche, nem sou a extensão de seus sonhos frustrados. Sou eu. E, pela última vez, eu não vou me casar com Ashley.D
AshleyEstou em um café no lado sul da cidade, onde sei que ninguém da alta sociedade se arriscaria a aparecer, só para me encontrar com o pior dos meus funcionários, Wesley. Ele já teve duas chances de acabar com a Tal da Hanna e falhou nas duas tentativas. Minha paciência já está no limite.— Olá, deseja pedir alguma coisa? — Uma mulher me pergunta, mas sinceramente, não beberia nem água nesta espelunca.— Não, estou esperando alguém, pode se retirar. — A mulher me olha irritada, mas nem ligo, até a presença dela me incomoda. — Cadê aquele incompetente? — Pergunta a mim mesma, até que Wesley passa pela porta todo simpático cumprimentando as atendentes, mas a simpatia acaba assim que me vê, o que vejo no reflexo de seus olhos me enche de orgulho. Ele está assustado, mal senta e eu já disparo: — Não acredito que aquela golpista venceu de novo. Será que ela é um gato? Porque parece ter sete vidas. Ela que me aguarde... acabarei com cada uma delas. — digo, lançando um olhar fulminante