KevinDesligo o interfone e, com a raiva queimando em minhas veias, ligo para meu pai imediatamente. Quando ele atende, mal consigo controlar o tom da minha voz.— Que diabos você estava pensando ao me mandar para esse fim de mundo, justamente quando a família Caspian decide tirar férias no hotel preferido deles? E “coincidência” ou não é o mesmo da negociação! — Disparo, sem rodeios.Há um breve silêncio do outro lado da linha antes que ele responda, e sei que é o tempo que ele precisa para inventar uma desculpa.— Não sei do que você está falando, Kevin. — A voz dele é calma, quase despreocupada, como se estivesse completamente alheio à situação.Essa indiferença só aumenta minha fúria. Como ele pode fingir que não sabia de nada? Ele sempre sabe de tudo. Nada passa despercebido por ele, especialmente quando se trata dos malditos Caspian.— Não se faça de idiota, pai. Ashley e os pais dela estão aqui, no mesmo hotel em que estou hospedado! Você sabia disso, claro que sabia! — Eu pra
KevinQuando volto ao hotel, minha cabeça está um pouco mais fria. Caminhar pelas ruas da cidade ajudou a organizar parte dos meus pensamentos, mas o peso das situações ainda pressiona meu peito. Entro pela porta principal, tentando ser o mais discreto possível, mas sou rapidamente surpreendido por uma cena que me faz parar no lugar.A família Caspian está reunida no saguão, como se estivessem esperando alguém, e esse alguém com toda certeza sou eu. Uma mesa está posta para o café da tarde, coberta com louças finas e doces que parecem ter sido preparados especialmente para a ocasião. Não esperava ter ficado tanto tempo fora, mas a luz suave da tarde, passando pelas janelas, prova que as horas voaram.“Merda! Não tem como passar despercebido”, — penso, ainda tentando ser discreto.— Kevin, quanto tempo. — O pai de Ashley foi o primeiro a me ver.Sem saída, sou obrigado a parar para fazer uma social.— Boa tarde a todos. Com licença, tenho um compromisso agora. — Falo enquanto caminho e
KevinAshley parece uma criança mimada que acaba de ser contrariada. O rosto, que estava com semblante triste, agora é uma máscara dura e fria. Ela para de andar e volta alguns passos na minha direção, como se tentasse me intimidar, mas permaneço firme, encarando-a de igual. Por dentro, sinto um misto de cansaço, chateação e tédio. Já passei tempo demais lidando com essas jogadas de poder e manipulação. Agora estou mais que decidido a não ceder.— Você acha que pode simplesmente me descartar, como um objeto que usou e não tem mais serventia? — Ela cospe as palavras com um misto de raiva e dor. — Meu pai e o seu têm tudo planejado. Se você não se casar comigo, sabe o que acontecerá com seu império Stewarth, não sabe?“Sinceramente, não faço ideia a que ela se refere, e para dizer a verdade, estou pouco me lixando” — penso enquanto a olho com frustração e tédio.Seus olhos brilham com uma mistura de raiva e desespero enquanto ela busca uma forma de me atingir. Mas essas ameaças não me a
KevinNão fiz a reunião, não vi mais a família Caspian, nem me encontrei com meu pai. Algumas horas depois da discussão com Ashley, decidi ir embora pelas portas dos fundos. Chamei um carro por aplicativo e comprei uma passagem de volta para minha cidade. Estava tão exausto que dormi a viagem inteira.Quando cheguei, fui direto para um hotel fora da nossa rede. Não queria correr o risco de meu pai me rastrear. Sabia que ele tentaria, mas, felizmente, eu tinha contratado uma empresa de segurança que impede qualquer tentativa de localização, a menos que eu autorize ou em casos extremos de desaparecimento, ou algo do tipo. A empresa é do Davis, mas sei que ele é ético e não ousaria olhar em seu sistema, minha localização.Os dias passaram num borrão. Trabalhei nos meus projetos, fiz algumas ligações para Violet, que me auxiliou de longe. Dois dias se passaram e eu sequer percebi. Não saí do hotel uma única vez. Então, recebo uma ligação do Davis.— Cara, em que buraco você se enfiou? Seu
HannaÀs oito em ponto, Luigi estaciona em frente à minha casa.— Puta que pariu, dois anos sem te ver e você está ainda mais linda do que eu lembrava — ele diz, assim que me vê no portão.— Para de ser besta, Lu! Você também está um gato, andou malhando? — Respondo, meio sem jeito. Ele sempre me enche de elogios.— Andei, sim. Mudei meus hábitos alimentares, e deu nisso.— Gostoso pra caralho — brinco, rindo.— E onde está a minha segunda garota preferida? — ele pergunta enquanto me abraça. — Quer me matar com esse cheiro maravilhoso! — Dou risada do exagero dele.— Kat e Hazel foram ao shopping, então terá que se contentar só comigo.Eu e Luigi ficamos de vez em quando, mas nunca rotulamos nada. Sempre foi mais amizade do que romance.— Mas me conta... o que te deixou tão para baixo?Conto tudo o que aconteceu, e vejo Luigi apertar o volante com força, visivelmente irritado.— Ah, como eu queria encontrar esse babaca e arrebentar a cara dele.— Esquece isso, Lu. Nem vale a pena. Hoj
KevinEstou no bar, e duas garotas se aproximam, tentando atrair minha atenção. Eu as recuso sem nem pensar. A única mulher que quero, que preciso, é Hanna. As outras parecem insignificantes agora.Davis chega logo em seguida. Nos cumprimentamos, e ele já vem com piada.— Porra, sou seu amigo, mas parece que sou o último a saber das novidades — ele diz, rindo.Antes que eu pudesse perguntar do que ele estava falando, meus olhos a encontram. Hanna. Do outro lado do bar. Meu corpo inteiro reage. Ela está com um bombado... Desta vez, não é uma miragem. Não estou bêbado. É ela. Levantei num salto, o banco quase caiu no processo. Assustei Davis, que resmungou, mas eu já estava andando e não prestei atenção.Estava puto, como minha Hanna estava com outro homem? Cheguei nela cobrando, exigindo respostas, como se ela tivesse obrigação de me dar satisfações. O ciúme queimava como ácido nas minhas veias.Discutimos, e ela mencionou uma "noiva" duas vezes. Que porra de noiva ela está falando? De
HannaQuando Kevin me pegou no colo, o choque me deixou sem reação. Meu corpo congelou entre o impulso de gritar e a vontade de socá-lo. “Quem ele pensa que é para me tratar como um objeto, me jogando sobre o ombro como se eu fosse um saco de batata, e ainda por cima na frente de todo mundo?” A humilhação e a raiva pulsavam nas minhas veias enquanto as pessoas olhavam, mas o pior foi quando ele me colocou no chão. Tentei escapar, mas ele me segurou com ainda mais força, como se soubesse que eu lutaria para fugir.As palavras de ódio já estavam saindo da minha boca, pronta para xingá-lo de todas as formas possíveis, mas ele me calou do jeito mais inesperado: com um beijo. E que beijo! Um beijo arrebatador, feroz, como se todo o desejo que ele reprimia explodisse de uma vez.Eu não posso admitir, nem para ele, nem para mim mesma, mas ansiava por esse beijo. O calor, a intensidade... tudo me fez fraquejar, mesmo que por um segundo. Mas a realidade logo voltou, com a fúria que me dominav
HannaAssim que chegamos ao hotel, fomos direto para o quarto dele. Kevin, sempre o cavalheiro, abriu a porta, permitindo que eu entrasse primeiro. Ao cruzar o limiar, percebo de imediato que aquele não é apenas um quarto comum de hotel. Tudo ali tem o toque de quem o habita há um tempo. O ambiente é impregnado com sua rotina, com vestígios de sua vida cotidiana.— Por que está morando em um hotel? — A pergunta escapou antes mesmo que eu pudesse pensar melhor.Kevin coçou a cabeça e soltou um sorriso constrangido, como se estivesse se preparando para uma confissão que preferia evitar.— Quer beber alguma coisa? — Ele desviou da minha pergunta, caminhando até o frigobar.— Uma água, por favor. Já bebi drinks demais por hoje — respondi, enquanto me dirigia à varanda, tentando acalmar os pensamentos que começavam a se acumular.Kevin voltou com a água e se sentou ao meu lado, numa pequena mesa de ferro branco. O ar na varanda parecia ter ficado mais denso, como se algo estivesse prestes