Capítulo 4

Depois do desentendimento que tive com o Fernando, senti uma vontade imens de chorar, mas me contive. A vontade de pegar minhas coisas e voltar para São Paulo era imensa, mas fazendo isso só desencadearia uma crise maior em meu relacionamento, e eu queria evitar isso a todo custo.

Dentro de mim eu sentia uma angústia e sabia que teria problemas muito maiores em breve, eu queria muito fugir ou evitar isso, mas sabia que era inevitável, eu teria que enfrentar o que quer que fosse.

***

Os dias estavam passando e eu sentia que meu casamento estremecia a cada dia que passava, não sabia o que podieria fazer para salvá-lo, sentia que estava apenas deixando isso acontecer.

- Carol, você é minha amiga, converse comigo. Você está se fechando mais a cada dia que passa. - Ana diz quando estou sentada na varanda desenhando um croqui.

Era sábado de manhã e a noite seria oferecido um jantar aqui na fazenda pelo desempenho nos negócios da transportadora.

Dou um longo suspiro me sentindo emocionalmente exausta.

- Os negócios estão indo tão bem aqui na fazenda, em contrapartida, meu casamento está indo pelo ralo. Eu não sei o que fazer, Ana. Juro por Deus que não sei, eu amo o Fernando, mas estamos nos afastando mais a cada dia. - falo colocando uma mão no rosto e sentindo vontade de chorar.

- O Fernando é louco por você, Carol. Ele é apaixonado demais por você, Carol, talvez você não esteja enxergando isso agora, mas sabe que é verdade.

- Aquela mulher, a Júlia... ela está em todo o lugar, como uma sombra. Se fazendo de amiga do Fernando, de boa moça. Mas Ana, ela está ali, esperando que meu casamento chegue ao fim, nem sei se ela teria decência esperar que acabe, eu não quero que a gente chegue a esse ponto. - falo.

- Lute pelo seu casamento, Carol. Não dê espaço para dúvidas.

****

- Você está linda. - Fernando diz quando estou terminando de passar meu batom vermelho para combinar com o vestido também vermelho que estou vestindo.

O vestido era ombro a ombro justo, e acentuava bem minhas curvas.

- Obrigada. - falo me virando para ele e vejo que seus cabelos estão bagunçados e ele ainda está abotoando sua camisa. - Vem cá. - fal pegando sua mão e guiando ele para que se sente na cama, enquanto pego um pente para pentear seus cabelos.

Eu tinha apenas 1,60 de altura, já o Fernando tinha mais de 1,80, então fazer essa tarefa com ele de pé, seria quase impossível.

Passo o pente pelos seus cabelos e o Fernando passa um braço ao redor da minha cintura, me puxando para si e acaricia minha bunda por cima do vestido.

- Eu preciso me concentrar, meu amor. - falo quando sua mão entra dentro do meu vestido, mas não me afasto do seu toque.

Sinto minha pele pegar fogo em cada lugar que as mãos do Fernando me toca e ofego.

Seus dedos bricam com a renda da minha calcinha e esqueço completamente do que estou fazendo.

- Nós temos um jantar e convidados para receber em alguns minutos. - falo tentando controlar minha voz e minha respiração.

- Você está tão gostosa nesse vestido que não consigo raciocinar. - Ele diz e me puxa para cima dele, me beijando.

O cheiro do perfume dele se mistura com o meu e somos interrompidos por uma batida na porta.

- Espero que estejam vestidos, pois as pessoas já estam chegando. - Ouço a voz da Ana e dou uma risada saindo de cima do Fernando.

- Já estamos indo! - grito em resposta.

- Queria poder cancelar esse jantar e ficar aqui com você. - Ele diz se levantando e me abraçando.

- Eu também queria. - Falo dando um beijo carinhoso em seus lábios. - Você não me falou como vai ser esse jantar, foi tudo de última hora, não sei o que esperar, meu bem.

- Alguns outros fazendeiros da região estarão aqui. Eventualmente acontece um evento como esse nas outras fazendas da região. Como a fazenda voltou a ter uma administração familiar, é nossa vez de ofertar o jantar. - Ele diz e termino de ajeitar seus cabelos.

Por sorte o batom que eu estava usando era matte e não deixou vestígios do nosso beijo em sua boca, o batom continuava intacto em mim.

- Prontinho, você está lindo. - falo quando termino de arrumar seus cabelos e ele termina de se vestir.

Pego uma echarpe e coloco sobre meus ombros, pois hoje o clima está mais gelado. Passo a mão no meu vestido tentanto tirar qualquer amasso que possa ter ficado.

- Vamos, linda? - Fernando me chama e assinto. - Eu amo você. - ele fala olhando nos meus olhos e meu coração se aquece.

- Também te amo. - Falo e saímos de dentro do quarto.

Caminhamos até a escada e enquanto descemos, consigo visualizar a Júlia lá embaixo, está virada de costas para nós, conversando com outra pessoa.

- Eu não sabia que a Júlia viria.

- Ela trabalha conosco, Carol. A recuperação da empresa também se deve a ela. - ele diz e não respondo nada.

Eu imaginei que ela viria mesmo, mas vê-lá aqui, me deixa irritada.

- Fernando, como vai, cara? Há quanto tempo não nos vemos, e você está casado, hein? Quem diria. - Um homem, de uns 35 anos que está com uma mulher, que pela aliança, é a sua esposa.

- Miguel, é bom ver vocês novamente. Como vai, Cíntia? - ele cumprimenta a mulher que parece ser muito pouco tempo mais jovem que seu marido. - Carol, esse é meu amigo Miguel, e sua esposa Cíntia.

- Tudo bem? - Pergunto e Cíntia e eu nos cumprimentamos.

- Soube que você tem uma confecção de roupas em São Paulo. Que vestido maravilhoso está vestindo. - Ela sorri e noto que é muito simpática.

- Ah, muito obrigada. Seu vestido também está muito bonito. - Falo elogiando seu longo vestido creme. - E sim, tenho uma confecção de roupas em São Paulo. - Falo e ela sorri.

Instantaneamente gosto da Cíntia, sua energia parece ser muito boa e sinto que podemos nos tornar amigas.

- Eu adoraria que mostrasse alguns modelos depois, eu amo moda. - Ela diz sorridente.

- Sim, claro. - Falo e Ana e Felipe chegam.

- Cíntia, como está querida? - Ana cumprimenta.

- Estou bem, Ana. E você? Vai passar uma temporada por aqui? - Ela pergunta.

- Sim, vamos passar um tempo por aqui, você sabe. O Felipe e o Fernando querem estar a frente de tudo.

- Cíntia, é bom ver você. - Felipe cumprimenta ela e os homens entram em sua própria conversa sobre negócios, gados, terras.

- Ah, que bom. É sempre bom ter amigos por perto.

- Como vai Cíntia? - Júlia diz juntando-se a nós.

Seu vestido preto é bem justo, e acentua bem as curvas do seu corpo. Seu cabelo curto está impecável, sem nenhum fio fora do lugar.

- Bem e você, Júlia? - Percebo pelo seu tom de voz que a Cíntia só cumprimenta a Júlia por pura educação.

Júlia ignora o cumprimento da Cintia e seus olhos pousam em mim.

- Oi, Ana. - Ela volta sua atenção para ela.

- Oi Júlia.

- Carol, será que podemos conversar? - Ela pergunta e vejo que o Fernando se afastou com o seu irmão e com o marido da Cíntia, eles agora conversam com outras pessoas.

- Claro. - Falo sem vontade nenhuma de conversar com ela.

Guio ela para dentro do escritório e fecho a porta atrás de mim. Ela fica em silêncio por um momento, dando uma olhada no lugar, imagino que já tenha vindo aqui outras vezes.

- Carol, você deve saber que tive um relacionamento com o Nando, há alguns anos atrás. - Ela fala e tento soar desinteressada, mas o assunto, realmente me deixa em dúvida de tantas coisas. - Não quero que ache que somos rivais, pois parece que estamos sempre em um clima amistoso... - ela diz e interrompo-a.

- Júlia, não estou gostando do rumo que está conversa está indo, mas, eu não acho que somos rivais. Você é ex namorada do Fernando, eu sou a esposa dele, existe um abismo aí. - Falo e meu tom de voz sai mais grosseiro do que deveria.

- Noiva, Carol. Nós ficamos noivos. - ela diz e sinto mágoa em suas palavras.

Essa informação me pega de surpresa e não sei o que falar.

-Como assim, noiva?

- O Fernando nunca te contou nada sobre mim, Carol? - Ela diz e nego com a cabeça.

- Eu realmente não imaginei que ele fosse ficar com o brinquedinho novo e virgem que ele encontrou em São Paulo, mas olha só, não é que vocês estão casados? - ela diz e minha cabeça começa a doer.

- Eu sei sobre a história de vocês, como vocês se conheceram, que você era virgem na época. Que ele foi o seu primeiro homem... - ela diz e sinto-me nauseada.

- Júlia...

- Nós estávamos noivos, Carol. Estávamos noivos quando ele conheceu você. Ele foi pra São Paulo e eu fiquei aqui, afinal, já estava terminando a faculdade. Eu estava tão concentrada em meu TCC e cedi quando ele disse que queria ter algumas outras experiências antes do nosso casamento, e eu o amava tanto, não achei que isso acabaria com o nosso casamento, mas ele conheceu você. A doce e virgem, Carol. - Suas palavras saem de maneira fria e sinto que estou sufocando com a avalanche de informações

- Onde você quer chegar, Júlia?

- Eu realmente não gosto de você, Carol. Eu fui apaixonada pelo Fernando, e o que sentia era recíproco, não foi atoa que nós ficamos noivos. Mas aí ele conheceu você e tudo mudou. Na época ele falou que o carro seria um presente de formatura, mas sei que foi um prêmio de consolação por ter posto um fim em nosso noivado e uma aliança em seu dedo. Ele se sentia culpado, e por isso me deu o cargo na transportadora. Pra mim é difícil ter que ver você andando pra cima e para baixo com ele, é como se estivesse vivendo a minha vida.

- Não consigo ouvir mais nenhuma palavra do que está dizendo, chega. - falo e quando me viro para sair, ela pega em meu braço.

- Não aguenta ouvir? Então segura essa bomba. Estou esperando um filho do seu marido, querida. - Ela diz e sinto minha cabeça rodar, sinto que estou prestes a cair a qualquer momento.

- Aqui está o exame. - Ela me entrega um papel de um beta hcg com seu nome e um resultado positivo.

- Mentira sua. - Falo incapaz de acreditar.

- Carol, por favor, até parece que eu preciso inventar alguma coisa. Você passou praticamente um mês trancafiada dentro de um quarto trabalhando e dormindo, o que acha que seu marido estava fazendo? - Ela fala com um sorriso cinico no rosto.

- Você é nojenta. - Falo abrindo a porta e saindo de dentro do escritório.

Minha visão está turva e só enxergo a porta de saída do casarão, ouço a voz da Ana ou da Cíntia me chamarem, mas não volto para trás. Saio pela porta e vou até a fonte, o carro da fazenda está estacionado lá ao lado. Entro dentro do carro e saio sem olhar para trás. Eu nunca mais olharei para trás. Meu casamento chegou ao fim, e só Deus para me ajudar com a dor que eu estava sentindo nesse momento. Eu não lutei pelo meu casamento, eu apenas deixei com que isso acontecesse, também tenho minha parcela de culpa.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo