Quatro anos depois
Meu dia estava sendo cheio e eu não via a hora de ir para casa para deitar e descansar um pouco. Desde que cheguei de Portugal, estava tudo sendo uma loucura, tive que alugar um carro, resolver pendências no ateliê e dessa vez tive que trazer o Pedro, pois a babá dele estava de férias e eu não confiava em outra pessoa para cuidar do meu filho.Já se passava das 16:00 da tarde quando fui montar um manequim na loja, aproveitei que essa hora o movimento era reduzido e fui fazer isso enquanto esperava minha mãe voltar do parquinho com o Pedro.- Mari, tem certeza que não quer passar aqui em outro momento? Eu tenho algumas coisas para fazer mais tarde. - A voz que ouço me deixa petrificada no lugar, tento sair mas acabo me atrapalhando com algumas roupas da arará e caio no chão.- Moça, você está bem? - Minha ex cunhada vai até mim, mas quando me vê ela abre a boca levemente, parecendo surpresa.- Oi, Mari, como vai? - Falo e me levanto do chão.Ela me abraça e me cumprimenta com um beijinho.- Não sabia que estava aqui, Carol. - Ela fala e olho para o Fernando.Ele parece estar mais forte, mais maduro e por Deus, ele está definitivamente mais bonito, seus cabelos estão maiores e suas feições parecem cansadas.- Oi, Carol. Como você está? - Meu ex marido me cumprimenta e me lembro que há qualquer momento minha mãe chegará com o Pedro.Essa possibilidade me deixa nervosa.- Fernando. - Falo apenas isso, pois é a única coisa que consigo, pois logo em seguida ouço o grito estrondoso do meu filho entrando pela porta do ateliê.- Mamãe!!! - Pedro corre em minha direção e se j**a em meus braços.Não consigo olhar para a Marina, tampouco para o meu ex marido.O Pedro era uma cópia fiel do pai, eu sabia que no momento em que o Fernando colocasse os olhos nele, ele saberia. Eu só não imaginava que isso aconteceria por um descuido meu.Minha mãe entra logo atrás do Pedro e ela fica boquiaberta com a presença da Mari e do Fernando.- Quantos anos ele tem, Carolina? - ouço a voz do Fernando soar atrás de mim e estremeço.Meu filho se revira em meus braços e olha para o Fernando.- Mamãe, ele está falando comigo? Eu tenho três anos. - Pedro fala e minha mãe me olha assustada.- Mãe, leve o Pedro lá pra dentro. - Falo nervosa.- Você não seria capaz de fazer isso. - Seu tom de voz sai rude.Minha mãe se atrapalha ao passar por eles e me viro para que o Fernando não fique olhando muito para o Pedro, mas sei que o estrago já está feito.- Mãe, rápido. - Falo e ela estende os braços para pegar o Pedro, mas ele não quer sair do meu colo.- Quero ficar com você, mamãe.- Carol? - Mari chama e ignoro-a.- Meu amor, a vovó vai dar frutinha e suco pra você ficar bem forte, tá bom? Eu já tô indo pra lá ficar com você. - Falo e ele assente, aceitando ir para os braços da minha mãe.Minha mãe entra rapidamente para a parte interna do ateliê e sinto-me jogada aos leões.- Quer nos falar alguma coisa, Carol? - A voz da minha cunhada soa bem alta.- Mari, por favor... - começo mas o Fernando se altera.- Fale, Carolina! - Ele eleva o tom de voz.- É isso mesmo, Fernando. Ele é seu filho. - Falo em um fio de voz.- Você não tinha o direto de fazer isso, Carolina, você não tinha!! - Ele diz.- Podemos conversar em outro momento, agora não. - Quase suplico, mas os olhos do Fernando estão marejados, ele parece que vai desabar a qualquer momento.- Pra você sair do país e esconder o menino, como em todos esse anos? - Ele grita e olho em volta da loja, por sorte não tem ninguém, apenas algumas funcionárias. - Como você teve coragem de fazer isso comigo, de fazer isso com uma criança?- Você não foi o melhor marido do mundo, Fernando. Quando descobri sua traição, eu sofri um acidente, sai tão alterada daquele lugar, que sofri um acidente. E não sou apegada a bens materias, mas não fiz questão de nada no divórcio...- Carol, por favor, você escondeu um filho. Você não nos deu a chance de ver crescer e amar essa criança, você entende a gravidade disso? - É a vez da Mari falar.- Você entrou com um divórcio litigioso, não me deu a chance de conversar, de explicar nada, saiu do país e ninguém teve mais notícias suas. Eu vou ser implacável com você agora, não me sentirei culpado por isso, e nem tente sair de São Paulo, a justiça vai atrás de você. Eu vou atrás de você, você está com meu filho. - Ele diz e se vira e sai com a Marina.Nesse momento sinto meu mundo desmoronar, a vida que criei para mim e para o meu filho, acaba de ir pelo ralo.Quando eu descobri que a Júlia estava grávida, eu peguei meu carro e sai da fazenda sem olhar para trás, sentia-me destruída, traída. Sentia-me culpada pela traição. A Ana foi a São Paulo juntamente com o Felipe dizer que o Fernando havia expulsado a Júlia da fazenda, e tinha reincindido o contrato de trabalho dela na transportadora, por que tudo não se passou de uma mentira, dias depois, com mais calma, eu olhei as câmeras de segurança da transportadora e da fazenda e descobri que a Júlia realmente havia mentido, isso me deixou aliviada, mas eu resolvi que não teria mais nenhum tipo de contato com o Fernando, por isso optei pelo litígio para dissolver o casamento.Eu sempre soube que o Fernando não rejeitaria minha gravidez, ele sempre adorou crianças e quando estávamos casados, tínhamos planos de ter filhos. Quando eu descobri a gravidez, já estava divorciada. Eu pensava que todo o enjoo e mal estar que vinha sentindo forá por conto do drama do divórcio.Fui passar um tempo na cidade dos meus pais, pois o término do meu relacionamento havia me deixado devastada e minha mãe sugeriu que eu fizesse um teste de gravidez.- Fica calma, filha. Vai dar tudo certo, você vai ter que encontrar uma maneira de resolver isso. - Minha mãe diz quando já estamos em meu apartamento.O Pedro já estava dormindo, e eu fiquei na minha sala com minha mãe. Já tinha chorado tanto.- Que besteira que eu fiz mãe? Por Deus, eu deveria ter dado a oportunidade ao meu filho de crescer com um pai presente, eu fui péssima. - choramingo.- Carol, você sabe que eu sempre fui contra você esconder o Pedro do Fernando, mas você quis que assim fosse... filha, você tem uma chance de fazer tudo novo agora. É a chance de você dar ao Pedro a oportunidade de ter um pai presente.No dia seguinte bem cedinho, eu estava na empresa da família do meu ex marido, seria difícil encarar todas as pessoas que fizeram parte da minha vida um dia, eles me odiariam pelo que fiz, assim como tenho certeza, a Marina estava me odiando.- Olá, Maria. O Fernando já chegou? - Pergunto assim que chego no andar onde o Fernando cuidava da administração. Pra mim não tinha sido difícil entrar no prédio da empresa, afinal, eu fui esposa dele, portanto, ainda tinha acesso a empresa com meu sobrenome, já que continuei com o nome do Fernando, mesmo após o divórcio. A funcionária de longos anos do Fernando pareceu surpresa ao me ver ali. - Carol, faz tempo que não vejo você, como estão as coisas? - Ela pergunta e sorrio forçadamente. A Maria não era uma pessoa ruim, eu sempre simpatizei com ela, mas naquele momento eu estava tão nervosa, não consegueria ser simpática com ninguém. - Estou bem. Que horas o Fernando chega? - Voltoa perguntar.- Ele já deve estar chegando, quer tomar alguma
- Como foi filha? - Minha mãe pergunta assim que chego no meu apartamento. Eu queria me enfiar debaixo de minhas cobertas e chorar o dia inteiro, mas não poderia fazer isso, era difícil, mas eu tinha que resolver meus problemas como adulta. - Não foi bom, mas não foi tão ruim. - Respondo. - Onde está o Pedro?- Está na sala assistindo. - Ela diz e assinto. - Aí mãe, eu não sei o que fazer. O Fernando quer conhecer ele. - Carol, ele ainda é pequeno, vai ser melhor fazer isso agora do que em outro momento.- Eu sei, vou aos poucos conversando com ele. Preciso que me ajude com isso mãe. - Eu estou aqui pra ajudar você, Carol. - Mamãe chegou? - Ouço a voz do meu pequeno e vou até ele na sala.Ele se joga em meus braços quando me vê e parece que fiquei longe durante uma eternidade.- Cheguei, meu amor. - Falo e me sento com ele no sofá.- Mamãe, a vovó colocou patulha canina pa eu sistir. - Ele conta. - Que legal, Pedro. Você gosta desse desenho? - Pergunto e aninho ele em meu colo
Fernando- Você é o meu papai? - ouvir aquele serzinho me perguntando aquilo, me deixava em euforia, e ao mesmo tempo, fazia meu coração se estraçalhar. Saber que a mulher com quem passei cinco anos compartilhando uma vida junto, havia sido capaz de esconder uma coisa dessa de mim, acabava comigo. Eu sempre fui apaixonado pela Carol, desde o momento em que coloquei meus olhos nela, eu quis que ela fosse minha. E foi o que aconteceu, namoramos durante um tempo, mas ela era uma garota diferente das outras que eu havia me envolvido. Ela era recata, sexo seria apenas após o casamento. Ela fez questão de deixar claro quando a pedi em namoro, que se eu não tivesse intenção de casar com ela, que nem começassemos a namorar, pois ela só iria se entregar a um homem após o casamento. Esse pedido poderia ter me afastado dela, e ter voltado atrás com o pedido do namoro, mas a partir daquele momento, eu me apaixonei ainda mais por aquela garota. Eu soube que ela seria minha esposa, ela era uma me
CarolA cada dia que passava, o Pedro estava mais apegado ao Fernando, ele sempre falava do pai. Isso me deixou de certa forma, aliviada. Eu havia ficado apreensiva do Pedro não aceitar muito bem essa ideia, afinal, sempre foi apenas nós dois.Na segunda feira de manhã, eu havia chegado cedo ao ateliê. Não sabia como estava o andamento dos vestidos da Soraya, mas sabia que estava na hora de tomar as redeas da situação, ou a cliente jogaria o nome do meu ateliê na lama. Assim que cheguei, entretanto, ouvi o barulho de uma máquina costurando e fiquei atenta, era muito cedo. Entro dentro da confecção e encontro a Aline debruçada sobre a máquina, costurando alguma coisa. Vejo que tem algumas latas de energetico e alguns copos de café de uma cafeteria aqui da paulista, em cima de uma mesa. - Aline? - Chamo ao ver que ela sequer nota minha presença.Ela se assusta com minha presença e quando levanta o olhar noto que tem olheiras enormes em seu rosto.- Você passou a noite aqui? O que acon
- Você quer tomar café? Ainda não comi nada hoje. - Chamo o Fernando que está junto com o Pedro sentados na poltrona do meu escritório enquanto desenham alguma coisa. Minha mãe viajou me deixando desnorteada, não sei como vou fazer esses dias sem ter nenhuma babá aqui, mas vou ter que dar um jeito.- Você quer deixar o Pedro comigo, Carol? Tenho algumas coisas para fazer na empresa, mas minha mãe está lá. - Fernando pergunta enquanto caminhamos a uma cafeteria. - Não, vou dar um jeito. Meu filho sempre está em primeiro lugar na minha vida, o trabalho vem depois.- Mamãe, quero ir com o papai. - Meu filho diz no colo do Fernando.- Minha mãe está louca para conhece-ló, Carol. - Ele diz e suspiro. Agora que o Fernando tinha conhecimento da paternidade, eu sabia que em breve sua família teria que conhecer o Pedro, só não imaginava que fosse tão rápido. Não conseguia nem imaginar como a Irene passaria a me odiar por eu ter lhes privado de conhecer o Pedro. Depois de tomarmos café, vo
- Você gosta dele. - Henrique fala quando o Fernando vai embora do meu apartamento. Henrique fica anallisando minhas reações e me medindo. - Eu não desgosto, ele é o pai do meu filho. - Sei disso, Carol. eu só não quero ficar no meio de nada, se você tiver sentimentos por ele, eu não vou ficar no meio disso. - Henrique fala e solto meu cabelo do coque, tentando disfarçar meu nervosismo.- Henrique, eu gosto do que temos, apenas não estrague isso com achismos. - Falo me sentando na poltrona da sala. O Henrique e eu iniciamos um relacionamento há um ano, ele só foi conhecer o Pedro há pouco menos de seis meses, eu não queria que meu filho associasse o Henrique a uma figura paterna, então eles só se viam pouquissimas vezes, não queria confundir a cabeça do meu filho. - Eu vou voltar para o hotel. - ele diz vindo até mim e me abraçando. - Não vai ficar para jantar comigo? - Pergunto quando ele me beija. - Amanhã nos vemos, você deve estar cansada. E nosso almoço foi bem proveitoso.
O voo de São Paulo a Belo Horizonte, era considerado um voo rápido, em média variava de 1 hora a 50 minutos, mas para mim, mais pareceu uma eternidade. O que me deixou mais aflita foi chegar a BH e saber que teria que demorar mais um pouco até encontrar o meu filho, pois ainda demoraria mais algum tempo para chegar a fazenda, pois tinha uma estrada de chão pela frente que deveria ser feita de carro, não pensei muito e assim que sai do avião, chamei um taxi e passei o endereço da fazenda.- Está indo na fazenda a passeio? - O taxista pergunta me olhando pelo espelho do carro.Eu estava nervosa, apreensiva, era a primeira vez que voltaria a fazenda depois da noite em que a Júlia me entorpeceu com mentiras, a noite decisiva para o meu divórcio, quando resolvi que nunca mais voltaria para aquele lugar. Eu não estava com paciência para responder desconhecidos curiosos. - Sim. - Me limito a responder. - A fazenda Belmonte é muito conhecida na região, diria até que no país. Eles produzem o
Chorar nos braços do meu ex marido, não é algo que estava no mesmo planos. Mas eu estava tão agoniada, estressada e emotiva. Voltar para essa fazenda, com certeza era algo que mexia demais com meu emociomal.- Desculpe, eu estou estressada, sei que não temos controle sobre o que acontece com crianças, e meu filho ainda vai levar muitos tombos, mas queria poder evitar todos. - Falo me levantando e mantendo uma distância aceitavel entre nós, eu não me reconhecia quando estava em sua presença. - Está tudo bem, Carol... - Ele começa mas a porta se abre e a Irene entra. - Aqui está sua bolsa, querida, não quer tomar um banho? Imagino que a viagem foi cansativa, A Ana me contou do estresse que teve na guarita. - Ela fala indo para perto de mim. - O que aconteceu na guarita? - Fernando pergunta. - Impediram a Carol de entrar, parece que os seguranças se negaram a ligar para nós. - Sua mãe explica. - Não queria causar nenhum transtorno, não sabia da guarita e meu celular estava descarrega