Pedido a lua

           David acordou com a mesma expressão de tristeza que nos outros dias, verificou suas marcas de mordidas e viu que já estavam curadas.

            — Mais um dia nesse inferno — murmurou, suspirando profundamente. 

  Naquele dia era o aniversário de David, ele completava 25 anos. 

            — Queria que você viesse e me tirasse daqui, esse é meu desejo de aniversário. 

            Ele falou isso olhando pela janela, onde a lua ainda brilhava. David sentia uma conexão inexplicável com a pessoa que o visitava em seus sonhos, embora não soubesse quem ele era. 

 — Não sei por que venho sonhando com você e nem quem é, mas sinto que preciso de você. 

 David observou a lua, desejando que a pessoa que gentilmente tocou seu ombro em seus sonhos viesse resgatá-lo daquele pesadelo. 

Ele continuou olhando pela janela até o nascer do sol, refletindo sobre como passou os últimos 15 anos sendo torturado e mantido prisioneiro por alguém que afirmava ser seu tio. 

David ouviu a porta de seu quarto sendo aberta e logo viu a pessoa que não desejava encontrar.  

“Foi só pensar no diabo” pensou David, enquanto seus olhos se estreitaram com hostilidade. 

— O que você quer? — perguntou em um tom áspero. 

— Minha nossa, que hostilidade logo de manhã — respondeu à visita indesejada, enquanto David revirava os olhos e voltava a encarar a janela. 

— Bem, como hoje é seu aniversário, vou lhe dar uma folga. Não permitirei visitas para você hoje. Além disso, se quiser dar um passeio no jardim, vou permitir. Você precisa de um pouco de vitamina D nesse corpo. No entanto, Carlos vai te acompanhar para que você não corra perigo. 

 Carlos era o fiel cão de guarda de Pietro, e onde um estava, o outro também estaria. Até onde David sabia, Carlos era um bruxo que o mantinha sob algum tipo de encantamento. David não entendia completamente o motivo, mas tinha consciência de que sua tia também o mantinha sob encantamento. No entanto, os encantamentos dela eram para proteção, enquanto os de Carlos serviam para subjugar David e permitir que ele fosse abusado sem resistência. 

David sabia que havia muito mais sobre seu passado que não havia sido revelado a ele. Lembrava-se apenas de que sua mãe morreu em um acidente de carro, e ele foi o único sobrevivente. No entanto, David sempre teve a sensação de que havia algo faltando nessa história e de que um dia descobriria a verdade. 

 David aproveitou a folga e decidiu dar um passeio pelo imenso jardim que circundava a enorme casa. Esta propriedade estava aparentemente localizada em uma área afastada da cidade, talvez para evitar chamar a atenção dos vizinhos devido à atividade incomum no local. 

 Enquanto David caminhava pelo jardim da frente, observando as rosas cuidadosamente cultivadas, sentiu um arrepio que percorreu sua espinha e arrepiou seus braços. Ele esfregou os braços e olhou ao redor, confuso. A única coisa que conseguiu distinguir foi a figura de alguém passando em frente ao portão, montado em uma moto preta, vestindo uma jaqueta de couro e olhando diretamente em sua direção. 

 Carlos, ao perceber que o estranho diminuiu a velocidade da moto e parecia fixar os olhos no quintal, apressou-se em se aproximar de David, puxando-o pelo braço. 

— Vamos, precisamos entrar. Você não pode mais ficar aqui. 

O corpo de David parecia resistir, como se estivesse sendo atraído por um ímã em direção à pessoa do lado de fora do portão. Infelizmente, ele não conseguiu resistir e foi subjugado por Carlos mais uma vez, que o levou para dentro e não permitiu que ele saísse novamente. 

David subiu até seu quarto e olhou pela janela, mas não havia mais ninguém em frente à casa. 

— Afinal, quem é você? E por que meu corpo reagiu daquela forma? — David se sentiu incomodado com esse pensamento, mas continuou por um tempo ali, observando a rua pela janela. 

              *************

Felipe chegou ao escritório de seu pai, que era o braço direito do líder da alcateia e o responsável quando o líder não estava. 

 — Bom dia, pai. O senhor precisava me ver? — cumprimentou ele. 

Seu pai, com uma expressão preocupada, respondeu: 

— Bom dia, meu filho. Sim, preciso que investigue algo para mim. 

A preocupação no rosto de seu pai deixou Felipe um pouco apreensivo. 

 — Claro, do que se trata, pai? 

 Seu pai se levantou e foi até a janela antes de falar: 

— Você sabe que estamos em paz com os vampiros desta região há algum tempo, e que em alguns casos até trabalhamos em parceria para manter a ordem por aqui. No entanto, tenho ouvido alguns boatos de que, há cerca de um ano, a movimentação de vampiros que não pertencem ao clã do Barão Santiago tem aumentado consideravelmente. 

Felipe franziu a testa enquanto ouvia o relatório de seu pai. 

— Sempre que tentamos seguir alguma pista, algo ou alguém interfere, deixando as pessoas encarregadas das investigações confusas, sem saber o que fazer. — Terminou de falar, preocupado com a situação. 

— Eu soube que Santiago está indo atrás de pistas por conta própria e não comunicou aos lobos sobre o incidente. Receio que ele possa querer esconder algo. Acredito que ele saiba mais sobre esse incidente do que demonstra e tem medo de que essas informações possam acabar com a paz — explicou o pai de Felipe, com uma expressão séria. 

— Mas o que o senhor acha que pode ser? Será que estão planejando algum ataque aos lobos ou estão querendo expandir seu território? — Felipe indagou, preocupado. 

— Não, por mais que Santiago esteja escondendo algo, não acredito que ele seja capaz disso. Desde que ele se tornou o Barão desta área, as coisas melhoraram entre os vampiros e nós. Ele propôs acordos e manteve seu clã longe dos humanos — esclareceu o pai de Felipe. 

— E quanto ao sangue? Como eles fazem? — Felipe questionou. 

— O trato foi usar sangue de animais e o sangue de humanos que queiram fazer isso de boa vontade. Inclusive, existem alguns que vivem na mansão do Barão. Eles não são torturados e podem ir e vir quando quiserem. Alguns trabalham para ele como vigias durante o dia e, em troca de proteção ou outras coisas, permitem ser mordidos. — Seu pai detalhou. 

— Mas, o que pode ser? — Felipe estava cada vez mais intrigado com a situação. 

— Algum segredo que envolve os vampiros, por isso preciso que dê uma olhada na área onde eles são mais vistos por nossos homens. Inclusive, pedi ajuda a uma bruxa conhecida minha, e ela me disse que naquela área ela pode sentir uma grande magia de ocultação. Mas essa magia vem do clã Twinke, e ela não conseguiria quebrá-la — explicou o pai de Felipe. 

— Espera, clã Twinke? Não são um clã de bruxos que podem subjugar vampiros e lobos? Caramba, isso está ficando interessante. Deve ser realmente algo importante para usarem alguém assim. — Felipe comentou, intrigado. 

— Sim, pode ser alguém que foi expulso do clã, porque normalmente eles não ajudam nem lobos, nem vampiros — ponderou seu pai. 

Depois de ouvir todos os detalhes, Felipe pegou sua moto e partiu em busca de informações. Enquanto se aproximava do bairro afastado, sentiu seu coração acelerar, como se estivesse nervoso ou ansioso por algo. No entanto, percebeu que não era uma reação natural. 

— Será que é o efeito da magia? — questionou-se enquanto se aproximava de uma mansão no fim da rua. Seu coração disparou ainda mais quando chegou em frente à propriedade. 

Decidindo diminuir a velocidade, Felipe notou duas pessoas no jardim. Uma delas parecia ser jovem e estava vestida com um tipo de robe. Mesmo sem conseguir ver seu rosto claramente, sentiu que estava sendo observado. A outra pessoa parecia mais velha e tinha uma aura sinistra mesmo à distância. 

Felipe observou enquanto o jovem era arrastado contra sua vontade para longe do jardim. Por algum motivo, ele se sentiu inquieto e desconfortável. O que era aquele sentimento? Por que aquela cena mexeu tanto com ele? Parecia como se seu corpo estivesse pedindo para que ele invadisse o local e fizesse aquele homem soltar o jovem. Mas por quê? Ele nem mesmo sabia quem eram aquelas pessoas. 

— Que loucura. Eu nem sei quem são — murmurou Felipe para si. 

Após todo esse tumulto emocional, ele decidiu que precisava se afastar daquele lugar o mais rápido possível. 

— Preciso me afastar desse lugar e desse sentimento — concluiu enquanto acelerava sua moto para deixar a área para trás. 

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