David olhou pela janela em direção ao jardim. Já era noite, e podia-se ver bastante movimento de vampiros do lado de fora. O medo e o nervosismo não deixaram de incomodar o seu coração. David se lembrou da conversa que teve com Santiago mais cedo, quando tinha garantido que ele não era um prisioneiro naquela casa e que queria ajudá-lo. No entanto, será que podia confiar naquele vampiro? Durante todos aqueles anos, ele foi trancado e usado por vampiros, então não seria tão fácil confiar nele.
Ele decidiu não contar tudo para Santiago, principalmente o último episódio. Afinal, nem ele mesmo sabia o que tinha acontecido direito naquele dia, mas se lembrava claramente de que aquele monstro o havia chamado de tríbrido. O que isso significava, ele teria que buscar por respostas.
Santiago havia garantido que ele poderia sair do quarto a hora que quisesse e que poderia passear no jardim também, mas disse que não seria seguro para ele sair daquela casa sozinho, já que não sabia quem poderia estar atrás dele.
David decidiu procurar a cozinha, pois estava com fome. Havia passado três dias, desacordado e precisava se alimentar. A casa parecia ser enorme, seu quarto era o penúltimo do corredor com vários quartos. Ele seguiu o corredor até encontrar as escadas. No andar de baixo, ouviu vozes e algumas gargalhadas, o que, pelo menos, parecia ser diferente do lugar de onde tinha vindo.
No final da escada, havia uma grande sala com vários sofás, onde alguns humanos e vampiros conversavam e riam, pareciam se dar muito bem, e as garotas e garotos humanos não demonstravam medo.
David parou no pé da escada, e todos fizeram silêncio, virando seus olhares para ele. A situação era embaraçosa; alguns olhavam curiosos para David, enquanto outros sorriam timidamente, especialmente algumas garotas. Alguns vampiros levantaram o nariz, como se estivessem sentindo o aroma de algo delicioso vindo de David.
David pigarreou e, timidamente, perguntou onde ficava a cozinha. Uma vampira se aproximou com um copo na mão, que parecia conter sangue, e apontou para o corredor à direita, dizendo:
— É por ali, gatinho — respondeu enquanto o observava de cima a baixo.
Ele seguiu o corredor, lançando olhares ocasionais para trás para se certificar de que nenhum vampiro o estava seguindo. Ele ouvia conversas vindas de uma das portas e decidiu abri-la.
David congelou quando abriu a porta e se deparou com vários vampiros fazendo a sua refeição. Alguns tinham copos cheios de sangue, enquanto outros se alimentavam diretamente da fonte. David fechou a porta rapidamente e deu dois passos para trás, trombando em alguém.
Ele se virou assustado para ver com quem tinha esbarrado, pensando que poderia ser algum vampiro que quisesse arrumar confusão. David deparou-se com um homem alto, de braços fortes, vestido todo de preto, com um boné e um coldre na lateral. Após uma análise rápida, deduziu que se tratava de um segurança.
O homem à sua frente continuava a olhá-lo com um sorriso de canto de boca, claramente achando graça da situação.
— Desculpe, não tive a intenção — murmurou David.
O homem alargou ainda mais o sorriso e estendeu a mão em sua direção.
— David, não é? Prazer, sou Henrique, chefe da segurança durante o dia.
David demorou alguns segundos, mas finalmente estendeu a mão para Henrique.
— Prazer. Como você sabe o meu nome?
— Sou o chefe da segurança, esqueceu? E eu vi quando você chegou — respondeu Henrique com um sorriso.
Naquele momento, David estava se sentindo um pouco estúpido por ter feito aquela pergunta, mas ele não estava acostumado com toda essa interação. Antes, as únicas pessoas com quem trocava algumas palavras eram aquelas que lhe traziam comida e arrumavam seu quarto.
— Bom, o que você está procurando, David? Posso ajudar com alguma coisa? — perguntou Henrique.
— Claro, é… a cozinha. Eu queria comer alguma coisa — respondeu David.
— Certo, me acompanhe, eu estava indo para lá — disse Henrique.
Henrique levou David até a porta certa e explicou que havia dois lugares para refeição no local: um para os vampiros e outro para os humanos, porque algumas pessoas não conseguiam comer com alguém bebendo sangue ao seu lado.
— Bem, acho que não tem muita coisa aqui, então que tal eu fazer um espaguete para nós dois? — perguntou Henrique com um sorriso.
Era estranho ouvir alguém perguntar o que ele queria comer, mas David balançou a cabeça concordando com Henrique, que colocou um avental e se dirigiu ao fogão. David ficou observando Henrique se movimentando pela cozinha, preparando seu prato, e começou a ficar menos nervoso do que estava. Decidiu fazer algumas perguntas a Henrique.
— Henrique — chamou a atenção dele.
— Sim? — respondeu Henrique, virando-se imediatamente e com um sorriso que deixou David meio sem graça.
— Posso te fazer algumas perguntas?
— Claro, fique à vontade — concordou Henrique.
— Naquela sala, agora há pouco, vi um vampiro se alimentando de uma garota. Vocês permitem isso aqui?
Henrique suspirou, colocou o espaguete em dois pratos e se sentou à mesa com David, olhando-o nos olhos.
— Sim, vampiros podem se alimentar de humanos aqui, mas somente daqueles que concordam em serem mordidos. A maioria dessas pessoas que estão aqui foi salva por Santiago, ou escapou de algum cafetão, ou quase foram mortas, seja por lobos, humanos ou até mesmo por vampiros. Então, se o humano que está aqui não concordar em ser mordido, ninguém chegará perto dele ou dela para mordê-lo. Essas são as regras da casa.
David ouviu em silêncio enquanto comia. Aquele macarrão estava delicioso, não se sabia se era porque estava morrendo de fome ou porque Henrique realmente sabia cozinhar.
Henrique aproveitou a curiosidade de David e continuou falando entre uma colherada e outra.
— Aqui ninguém é forçado a nada, David. Os humanos que estão aqui estão porque querem estar. Alguns decidem ficar depois de se recuperar e optam por servir aos vampiros como agradecimento. Outros decidem que querem se tornar vampiros, e alguns, depois de se recuperarem, decidem voltar para suas vidas. Alguns conhecem o amor aqui, casam-se e vão embora, ou ficam.
David ficou pensativo e continuou seu interrogatório, já que Henrique estava cooperando tão bem.
— Então, elas servem ao Santiago também?
Henrique o olhou sem entender o motivo da pergunta, mas respondeu mesmo assim:
— Sim, às vezes. Santiago também se alimenta de sangue de animais, mas se um vampiro fica muito tempo sem sangue humano, pode ficar muito fraco. Então, algumas vezes ele pega do freezer ou alguém acaba insistindo em servi-lo pessoalmente, tanto para alimentá-lo quanto para outras coisas, se era isso que você realmente queria saber.
David ficou sem graça depois de perceber que Henrique estava lendo tão bem suas intenções.
— Mas é muito raro isso acontecer. Santiago não costuma se envolver com ninguém. Ele não é nenhum padre, então às vezes ele também precisa de diversão. — Henrique disse sorrindo, e viu que pela primeira vez, David respondeu ao seu sorriso.
No dia da chegada de David…
— Entre — respondeu assim que ouviu a batida na porta.
— Você mandou me chamar, Santiago?
— Sim, a pessoa que trouxemos hoje. Quero que faça uma busca para ver se encontramos as pessoas que estavam com ele. E quando ele acordar, quero que se aproxime dele. Acredito que será mais fácil para um humano fazer isso do que um vampiro. Preciso que mostre a ele que não faremos nada daquilo que ele sofreu antes. Talvez assim ele possa soltar alguma informação que nos ajude a entender quem ele é ou quem são as pessoas que estavam com ele.
— Não se preocupe, vou ganhar a confiança dele — respondeu Henrique, o subordinado de Santiago.
Já haviam se passado pelo menos uma semana desde que David havia acordado. Ele sentiu algumas dores de cabeça, mas nada preocupante. A força e o poder que ele sentiu antes não voltaram. Ele tinha feito amizade com Henrique e algumas outras pessoas na casa. Quanto aos vampiros, ele os cumprimentava e, às vezes, trocava algumas palavras, mas nada muito próximo.Naquela noite, David tinha dado um passeio pelo jardim e estava voltando para o seu quarto quando foi abordado por Santiago, que aproximou dele e o chamou.— David.David se virou e encarou o homem que se aproximava. Santiago vestia jeans e uma camiseta branca casual. Sua camiseta revelava sua clavícula bem delineada e seus músculos bem definidos. David engoliu em seco, pois tinha que admitir que Santiago era um homem muito bonito e atraente.— Você pode vir ao meu escritório? — Santiago convidou.Santiago fez um gesto com a mão, indicando o caminho do escritório, e David o acompanhou até a sala onde uma mulher o agua
Felipe saiu do escritório de seu pai com desgosto. Ele havia relatado tudo o que tinha observado na mansão de Santiago e também o que foi reportado por outros vigias, no entanto, seu pai estava evitando confrontar Santiago. Durante os dias em que vigiava a casa de Santiago, Felipe percebeu a presença de um estranho no local. Esse indivíduo ocasionalmente passeava pelo jardim ou tomava sol na sacada. Felipe não podia se aproximar muito, pois poderia ser detectado por algum vampiro. Apesar da excelente visão dos lobos, ele ainda não conseguia ver claramente o rosto daquele homem. O sol já estava se pondo, e naquele dia era a vez de Virgínia assumir o posto de vigia durante a noite. Felipe decidiu que também daria uma olhada à noite. Ele se encontrou com sua irmã e mais um amigo, e juntos se dirigiram à casa de Santiago. Eles se posicionaram em uma árvore que tinha vista para a janela onde o homem misterioso costumava aparecer. A mata estava a uma distância segura, evitando serem notad
No dia seguinte, o pai de Felipe o chamou até o escritório. Com seriedade, Felipe repassou tudo o que havia testemunhado ao pai e, com determinação, insistiu que tinham que pressionar Santiago para revelar a identidade do fugitivo da mansão na cidade. Rômulo, olhou fixamente para o filho, e trouxe uma notícia que trazia uma centelha de esperança. Com voz firme, ele anunciou: — Conversei com Mário, e ele vai voltar em breve. Enquanto ele não retorna, autorizou que fossemos confrontar Santiago. Melhor esperar pela noite e então vamos agir. Vou ligar para ele marcando essa visita. Agora que sabemos da presença dessa pessoa na casa, ele não poderá mais escondê-la. Felipe sentiu um frisson de excitação com a decisão do pai. Finalmente, teria a chance de encarar de perto o homem que o atormentava tanto. No entanto, Rômulo o advertiu com olhos sérios para não agir de forma imprudente ou impulsiva durante a visita à casa de Santiago.*******************
Após a ligação que Santiago recebeu, ele explicou toda a situação a David, incluindo detalhes sobre o tratado de paz que existia entre as diferentes raças sobrenaturais. Como o incidente ocorreu na área dos lobos, era protocolo informá-los, mas Santiago decidiu agir por conta própria. Santiago deixou a decisão de entrar em contato com o clã dos lobos nas mãos de David, uma vez que ele pertencia ao mesmo clã da lua crescente. David afirmou que analisaria todos os pontos apresentados por Santiago antes de tomar uma decisão final. Após sair do quarto de Santiago, deixando-o com Penélope, David foi para seu próprio quarto e começou a ponderar sobre todas as informações fornecidas por Santiago. Ele se concentrou especialmente na incerteza de até onde membros do clã dos lobos poderiam estar envolvidos na situação, mas também reconheceu seu direito de ter contato com as outras duas raças às quais pertencia. No quarto de Santiago, Penélope obser
David abriu os olhos, desorientado, tentando discernir o seu entorno. Ao erguer a cabeça, deparou-se com Santiago beijando sua barriga, suas mãos se aventurando na direção do cós de sua calça. A lembrança de tudo caiu sobre David, e ele prontamente soltou a cabeça de Santiago, que mantinha em suas mãos. Esse movimento brusco fez Santiago direcionar seu olhar na direção de David. Os olhos que Santiago encontrou não exibiam mais o azul profundo, e aquele olhar não mais transpirava desejo. Agora, era um olhar de surpresa e inquietação. David pôde sentir claramente a tensão e o desejo mútuo que haviam se transformado em um desconforto palpável.A ereção dura de Santiago pressionava contra sua perna, ele também podia sentir que ficou do mesmo jeito, mas aquilo tudo saiu de paixão para constrangimento. David desviou seu olhar para o pescoço de Santiago e, em seguida, tocou seus próprios lábios.Santiago notou os olhos de David repletos de lágrimas, e retirou suas mãos da barriga
Depois de se apresentar a todos, David se acomodou em uma poltrona próxima a Santiago, posicionada de frente para os demais. — Então, o que o senhor gostaria de saber? — indagou David. — Em primeiro lugar, quero pedir desculpas por toda essa pressão que estamos fazendo. Sei que não deve ser fácil para você ter que ficar respondendo perguntas, depois de tudo o que passou. Só quero chegar ao fundo disso e descobrir quem são as pessoas por trás desse absurdo. David ocasionalmente lançava olhares na direção de Felipe e toda vez que o fazia, seus olhos encontravam os daquele homem, que o observava atentamente. — Tudo bem, o que eu souber e puder responder, eu farei, mas algumas coisas eu desconheço, inclusive sobre meu passado. David respondeu demonstrando sua disposição para responder às perguntas, na esperança de que eles pudessem também compartilhar alguma informação. — Qual o motivo de te manterem preso naquele lug
David permitiu que ele entrasse e foi direto em suas palavras. Ele ainda estava constrangido e sem jeito de ficar a sós com Santiago, além de que tinha medo que o que aconteceu antes, acontecesse de novo.— Sobre o que quer conversar? — perguntou David, fechando a porta em seguida.— Já que você disse que quer aprender a se controlar e controlar suas habilidades, uma das coisas que você precisa controlar é sua sede, mesmo que você se alimente com comida normal, precisa alimentar seu lado vampiro também, para não perder o controle. — David sabia ao que Santiago estava se referindo.— Então, vou ter que começar a beber sangue?— Sim, talvez não tanto quanto os vampiros normais, mas algumas vezes terá que beber. — Santiago foi firme ao dizer isso.David suspirou e demonstrou não gostar muito daquela informação.— Por que não tentamos? Vou buscar um pouco de sangue e você vê de qual vai gostar mais, até aprender a usar suas presas, é melhor beber assim. — David não fez uma cara muito boa,
A velocidade tornou-se cada vez mais intensa, os saltos e escaladas mais precisos. Felipe havia começado seu treinamento ainda antes do amanhecer, pois precisava extravasar toda a raiva e frustração que consumia seu corpo; não havia dormido bem naquela noite. Durante a noite, Felipe foi assombrado por vários pesadelos nos quais via David sendo atacado por vampiros e lobos, enquanto ele se encontrava impotente para socorrê-lo.Em um desses pesadelos, viu David estendendo a mão com um sorriso, apenas para Santiago surgir por trás dele e cravar os dentes em seu pescoço. Felipe assistia ao sangue escorrendo e ouvia os apelos desesperados de David, mas estava acorrentado, incapaz de ajudar. A noite inteira foi um tormento infindável para Felipe, que finalmente decidiu que era melhor se levantar e abandonar aqueles pesadelos.Felipe estava tentando compreender por que estava tão obcecado com David, porque pensava constantemente na segurança dele e, mais do que nunca, porque ansiava tanto po