Despertar

Um longo suspiro ecoou pelo quarto de David. Já haviam se passado alguns dias do seu aniversário e desde que ele viu aquele estranho no portão. Desde então, seu coração estava inquieto, e ele notou que algo estranho estava acontecendo com seu corpo.

Às vezes, David sentia uma pressão intensa em sua cabeça, em outros momentos, ele tinha arrepios seguidos de calor insuportável. Ele não conseguia controlar esses sintomas, e isso levou Pietro a cancelar os compromissos de David.

Em uma noite, David estava com uma febre intensa, e Carlos tentava usar magia para estabilizar sua condição. No entanto, Carlos sabia que todos esses anos de supressão dos poderes de David poderiam resultar em complicações. Além disso, Carlos estava preocupado porque estava sentindo uma aura de lobo vindo de David.

Depois de algum tempo, Carlos estava exausto, mas conseguiu estabilizar um pouco a situação. David estava semi-inconsciente, mas conseguiu ouvir parte da conversa.

— Eu disse que isso poderia acontecer um dia, Pietro. Um Twinke desperta seus poderes aos 13 anos, mas David já tem 25 e tem reprimido seu despertar muito antes disso — disse Carlos, preocupado.

— Por que você acha que está comigo todos esses anos? — Pietro bufou com raiva — Achei que fosse um bruxo poderoso, Carlos.

Carlos, irritado com o comentário de Pietro, sorriu com desdém e respondeu: — Sim, sou poderoso. Todos esses anos vocês estiveram escondidos graças à minha magia que sempre os ocultou, mas você sabe muito bem que há mais coisas sobre o passado desse garoto que você desconhece. Como posso fazer algo se não sei contra o que estou lutando?

O bruxo parecia prestes a continuar, mas Pietro o interrompeu com firmeza.

— Chega de “mas” — disse Pietro — Aquela pessoa está vindo hoje. Se você não consegue controlá-lo com sua magia, então deixe-o sedado. Assim, ele poderá se alimentar e ir embora. Só não podemos ter problemas enquanto ele estiver aqui.

Pietro deu suas ordens, virou as costas e saiu da sala, batendo a porta com força. Carlos suspirou, olhando para David, que estava todo suado e deitado na cama.

“Problemas são o que, com certeza, teremos”, pensou Carlos Seu corpo não aguenta mais ser suprimido, seja lá o que ele, seja”

David sentiu seu coração acelerar ao ouvir toda aquela conversa. Ele desejava poder se levantar dali e estrangular seu “querido” tio e Carlos, mas sabia que não conseguiria fazer muita coisa naquela situação. Se fosse verdade, como Carlos disse, que ele era uma espécie de bruxo sem seus poderes, então era como ser um pássaro sem asas. Essa constatação amargurou seu coração.

Após algum tempo, David abriu lentamente os olhos e viu Carlos se aproximando com uma seringa em suas mãos. A pergunta saiu de seus lábios como um sussurro. 

— O que você vai fazer?

— Eu preciso fazer isso — respondeu Carlos. — Não podemos arriscar que você tenha um ataque no meio da visita do chefe.

Em questão de instantes, David sentiu todo seu corpo relaxar, e seus olhos não puderam mais se manter abertos.

Após alguns minutos, o vampiro que estava sendo aguardado chegou e foi conduzido ao quarto. Ele expressou sua irritação ao ver David.

— Por que ele está assim? Você sabe que gosto de dar ordens a ele. Como posso fazer isso com ele apagado?

— Me desculpe, Senhor, mas ele estava um pouco agitado hoje, então achamos melhor mantê-lo assim para não causar problemas ao Senhor — explicou Pietro rapidamente, em meio ao olhar gélido dirigido a ele.

O vampiro se aproximou de David e acariciou seu rosto, que estava um pouco vermelho e suado devido à febre que retornara.

— Resolvam isso o mais rápido possível. Não gosto de ver meu garoto assim. Podem ir. Quero ficar sozinho com ele.

Pietro e Carlos concordaram com a cabeça e saíram imediatamente, deixando um silêncio no quarto, um moribundo na cama e um vampiro cheio de desejo. 

— Meu garoto, se eles soubessem o que eu sei sobre seu passado, eles ficariam muito surpresos. Afinal, eu também sou parte dele. — Ele sorria enquanto segurava a mão de David e acariciava seu rosto.

Não se sabe quanto tempo se passou, mas David começou a despertar antes da hora. Seu corpo estava muito quente, e com a febre, seu corpo expulsou a droga.

David abriu os olhos devagar e sentia seu pescoço arder e um pouco molhado. Imaginou que havia sido mordido por alguém. Mesmo com os olhos pesados e meio abertos, ele pôde ver alguém próximo ao seu peito que o acariciava e dava alguns beijos. David começou a sentir muita raiva e repulsa daquele homem e do que ele estava fazendo com ele. Afinal, uma coisa era ele estar sob efeito de feitiços e hipnose e não conseguir fazer nada ou impedi-los, mas naquele momento ele podia sentir suas veias queimando e uma força emergir do fundo de sua alma.

Um gemido de dor foi solto pelo vampiro, que teve seu pulso torcido e sua garganta agarrada por David. Tudo aconteceu muito rápido, e em questão de segundos, ele já havia se levantado e pressionado o vampiro contra a parede.

David estava se sentindo extremamente forte como nunca se sentiu antes. Ele podia sentir que poderia quebrar o pescoço daquele vampiro com apenas uma mão, se quisesse. O vampiro à sua frente estava assustado com a força que ele tinha e tentou chamar seu nome algumas vezes em vão, até que conseguiu pronunciar algumas palavras.

— Seus… seus olhos.

David não entendeu o que ele estava tentando dizer com isso, mas, mesmo assim, olhou em direção ao espelho e viu que a cor de seus olhos havia mudado; estavam vermelhos.

— Como? O que está acontecendo comigo? Eu sou um monstro?

— Não… não, você não é. — Tentou acalmar David.

— Então o que eu sou?

David estava atordoado, olhando para o espelho, e se sentiu ainda mais assustado quando ouviu a resposta.

— Tríbrido… você é um tríbrido e…

Antes daquele vampiro terminar a frase, ele foi arremessado contra o guarda-roupa e caiu no chão.

— Não… eu preciso saber o que eu sou.

A confusão e o medo dominavam seus pensamentos enquanto tentava compreender a verdade sobre sua natureza.

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