Como começar algo do qual nem ao menos sei como falar, o pior tomando conta e a abstração de uma felicidade se afastando cada vez mais em busca de um local seguro para se esconder de tudo, de tanta sujeira.
Foi assim, que vim parar aqui sentada olhando para o mar e a infinitude na qual se encontra o horizonte quando o meu coração se parte cada vez mais ao sentir os grãos de areia ao invés de sentir sua mão contra a minha.
Cansada da forma como todos sempre esperam que participe de tudo e esteja de alguma forma tentando falar ou participar de algum grupo quando a dor é muito maior. Os meus amigos esperam a superação devido a tantas conquistas, mas nenhuma delas garantiu que você ficasse, nenhuma das minhas palavras te convenceu a estar aqui.
Ergo o corpo da areia sentindo os grãos se desfazendo e por puro egoísmo desejo que você esteja se sentindo assim, não quero ser a única a sentir falta de algo tão perfeito.
Esse é o nosso defeito sermos perfeitos demais para o outro, incapazes de lidar com defeitos gritantes segurando cada uma das dores dentro da garganta apenas para manter a desconfiança no lugar de construir algo sólido entre nós.
Agora de costas para o mar que tanto me lembra as suas íris sinto as lágrimas caindo, a garganta fechada pois até o seu olhar e como um fantasma a cada passo. Estou com fome, desejo, sede, mas aquele capaz de alimentar cada um dos desejos da minha alma está longe demais em suas fantasias incapaz de proporcionar a visão da realidade a si mesmo.
Como alguém se perde dentro das suas convicções até ficar cego para a realidade?
É assim que a verdade morre?
Ele retirou de mim mesma a vontade e o desejo de correr pela vida em uma maneira não tão frágil de perceber o quanto desejava estar ali entre seus braços. No meio de um infortúnio nossos destinos se cruzaram para enfim estarmos nesta cama no meio do outono sob um teto de vidro admirando as estrelas após fazermos amor como dois desesperados. A cabana feita toda em madeira nobre deixando tudo um pouco mais singelo, sendo ofuscado apenas pela lareira com tantas texturas diversas das rochas que a cercam formando uma proteção para as cinzas que tentam fugir de seu caminho natural.
Foi assim que viemos parar aqui? Fugindo do nosso destino natural das intempéries pelo caminho mais longo.
Frustrada acabo puxando um pouco mais o cobertor de modo a ficar mais protegida mesmo que a única proteção necessária seja em meu coração
Iniciei desejando ter forças para superar tudo mas esse homem de barba cheia que agora me encara com olhos famintos prestes a devorar me mais uma vez é o único capaz de destruir tudo pelo qual lutei. Desde a mínima sanidade com a qual iniciei este relato até o futuro do qual não tenho nenhuma ganância para que chegue tão rápido.
— Pensando demais garota. — A voz grave e rouca misturada ao cheiro forte do álcool me embriaga
Seus dedos traçam as linhas que mais detesto na minha própria face, essas marcas de expressão que indicam que o tempo não falha nem retarda as consequências. Fecho os olhos cruelmente afetada, se sairmos daqui para voltar a um estado doloroso por si só ainda manterei a cabeça erguida diante de tudo, principalmente dele…
— É um mal comum. — Respondo abrindo os olhos e encontrando o castanho se misturando a um verde que se esconde.
Ele é uma floresta escondida entre as estações do metrô, entre cada avenida, o azul forte se tornando claro em momentos tão quentes como esse.
— Deixe para pensar nas consequências depois.— Seus dedos passam a enrolar os cachos que caem pelas minhas costas.
Logo o afago passa por sobre os ombros indo na direção dos meus seios cobertos pela manta quente.
— Não estava pensando nelas. — Digo de modo sincero.
— E no que pensava? — Sussurrou se aproximando mais — Meu doce anjo .
A boca quente e macia bem delineado caiu em cima da minha clavícula em um movimento sútil porém avido queimando cada uma das minhas células.
— Na praia… em como a areia entre os meus dedos e capaz de acalmar o maremoto das minhas crenças e dúvidas. — Suspiro deixando as palavras preencherem o silêncio enquanto agarro seus fios pela nuca buscando uma âncora na realidade — E na frustração causada por nossos erros.
Termino de falar entregando pela primeira vez depois de meses a verdade crua, sobre tudo o que se passa pela minha mente. Nossos olhares se encontram travando uma disputa, sou vencida ao ser virada de costas para a cama abrindo as pernas para acolhê-lo entre elas sem conseguir fechar os tornozelos ao redor dos quadris largos, o peso roubando a capacidade da minha respiração enquanto excita-me. Suspiro entregue, sentindo a mão firme de calos marcados aberta contra a minha bochecha descendo para apertar meu pescoço, fecho os olhos entregue enquanto nossas respirações se encontram.
— Somos tão hipocritas, tão doentes e estranhos. — sua declaração me pega de surpresa— E ainda assim, estamos aqui, presos entre o choro doloroso dessa constatação e o prazer doloroso causado pelos nossos sentimentos.
Abro os olhos precisando encontrá-lo.
— Nosso amor é tão falho assim? —questiono
— Nós somos falhos anjo, porque espera que um sentimento possa ser perfeito?
Porque a realidade é que desde o momento em que encontrei os seus olhos naquela cama de hospital sinto como se o mundo fosse apenas dele, comandado por ele em meio ao caos que transformou a minha vida. A simplicidade que tinha durante qualquer momento do dia agora é uma guerra fria entre os sentimentos dos quais luto para ficar livre, pois ele é destrutivo como a maresia é contra o ferro. Uma droga infiltrada dentro da minha corrente sanguínea causando uma abstinência. Seus dedos fortes vêm contra o meu maxilar apertando com força atraindo toda a atenção para si, seu corpo forte se impõe rapidamente por cima das minhas pernas esticadas na areia, o frio do mar de Okhotsk não congela os meus ossos pois seu olhar intenso queima por dentro cada uma das minhas entranhas.
— Yurich.. — Murmuro sem forças.
— Por mais que imagine ser capaz, Lyana, não existe a possibilidade de você se livrar de mim do mesmo jeito que caí nesse precipício que é te amar você está acorrentada ao inferno de ser minha.
Suspiro enfeitiçada pelo homem que prende até mesmo meus sonhos, somos doentes, somos amantes, somos apaixonados, mas somos loucos o suficiente para viver um amor no meio da máfia.
LyanaPor mais estranho que seja não consigo desgrudar os olhos do homem deitado na cama a minha frente, seus batimentos ritmados deveriam ser algo positivo mas a realidade é que ver a forma como o corpo de porte forte se perde no meio dos lençóis brancos do leito causa uma pontada de dor dentro do meu peito. Suspiro mais uma vez criando coragem para dizer-lhe algumas palavras de alguma forma preciso saber que está bem, saber que irá sobreviver. Cassandra bipa uma mensagem de emergência no meu celular, saio apressada para a emergência do hospital encontrando a dupla de emergencistas que trazem um senhor idoso sob a maca apressadamente, coloco o estetoscopio prontamente, fazendo uma rápida ausculta identificando a batida fora do ritmo por algum sopro ventricular. Aceno para a enfermeira. —Bipe o Doutor Michaels para o centro cirurgico. — Passo a ordem. Deixando os internos para trás correndo apressada para o centro cirurgico, paciente de idade avançada desacordado, batimento cardiaco
YurichIgnoro os olhares cínicos enquanto Dobriev tenta apaziguar a minha demanda em saber quem é a pessoa que estava aqui dentro desse quarto comigo, como a sua voz suave foi capaz de clamar pelo demônio que carrego comigo. A dor dos machucados começa a embaralhar os meus pensamentos, mas não o suficiente para ignorar a entrada que causa um completo silêncio dentro do quarto. Observo a enfermeira ao meu lado finalizando o que disse ser uma medicação saindo de perto, os médicos sussurram entre si, vejo uma mulher de baixa estatura usando um uniforme azul de mangas curtas, a blusa grande demais para ela e as calças frouxas dando a aparência de que suas pernas são ainda menores. As bochechas grandes e os traços diferentes entregando sua nacionalidade, ela definitivamente não é russa, os olhos escuros analisando cada uma das máquinas monitorando as batidas do meu coração até nossos olhares se prenderem. A mistura de inocência com fogo nas írises escuras é surpreendente, como se não soub
LyanaBato a porta da sala de descanso encostando as costas com firmeza, buscando respirar fundo, aquele olhar de um azul acinzentado mexendo com cada uma das minhas estruturas e obrigando a manter a fachada profissional. De alguma maneira entorpecente desde o momento em que esse homem entrou aqui dentro sangrando como um animal, pude sentir as mudanças que ocorreriam. Talvez seja apenas bobagem da neta de uma brasileira cheia de superstições ou algum ser divino tentando alertar para ficar longe dele. Suas palavras ácidas tentando penetrar cada camada da minha pele, nem ao menos consegui prestar atenção ao que os colegas estavam discutindo apesar de ter a noção, para alguém que sofreu graves lesões não esperávamos que acordasse tão cedo muito menos com tal animo e força. Os múrmuros das enfermeiras ao redor do hospital não disfarçaram as suas desconfianças em relação a ele, pelo que entendi Yurich Romanov é um homem de muito poder e acima de tudo: perigoso. Solto o ar e inspiro nova
YurichUma criança sem amor, um homem sem moral e uma vida baseada na carnificina é nisso amigo diabólico no qual estou sempre sendo moldado, quando algo de bom ou bonito aparece tenho um gosto perverso em tocar. Ao contrário de Midas não se torna reluzente como ouro mas se distorce em cinzas amontoadas aos meus pés, destruir qualquer bondade é fácil, quebrar a beleza é tão natural quanto o amanhecer. Seus olhos tão inocentes clamam pela perversidade que carrego comigo, então, por qual motivo negaria? Analiso cada traço do belo rosto os fios escuros caindo de maneira tão perfeita, uma princesa sendo envenenada pela crença da proteção aos bondosos de coração. Minha pequena ninfa suspira entre os lençóis vermelhos. Inspiro o perfume delicado completamente obcecado a visão de um paraíso inalcançável para um demônio mas ao alcance das minhas mãos, não deixaria que escapasse. Depois de ter saído daquele quarto fui rápido em organizar tudo para sair o mais rápido possível do hospital, um
LyanaSinto o toque quente contra a pele como uma caricia lenta, fazendo o meu corpo corresponder a voz firme e possessiva é tão tentadora quanto a escuridão na qual estou aproveitando para descansar. Suspiro lutando contra as pálpebras pesadas quando o calor se esvai deixando apenas o lugar vazio, a maciez do que reconheço ser um tecido. Mas são as dores espalhadas pelo corpo que atraem toda a minha atenção, aos poucos vou recobrando a consciência da noite infeliz sentindo o pânico voltando com tudo. Ergo o corpo de uma vez sendo tomada por uma tontura, vou buscando estabilizar a respiração é quando finalmente percebo estar em um quarto altamente luxuoso. A cama enorme coberta por tecidos sedosos sendo iluminado por um feixe de luz entre pesadas cortinas, confiro minhas roupas no lugar antes de levantar, fechando os olhos e agradecendo mentalmente por ter algum sinal de que não fui abusada. Quero muito acreditar que nada daquilo foi real e estou apenas em algum pesadelo distorcido,
LyanaFechei os olhos com força desejando que de alguma forma tudo se transformasse em apenas mais um pesadelo estranho, mesmo lutando contra essas sensações diferentes causadas por estar nos braços de um monstro.—Abra os olhos Lyana. — A voz grave ordena. Incapaz de desobedecer vejo o seu olhar analisando cada detalhe meu, sinto a agitação de antes voltar com mais força ainda, desvio os olhos observando o mesmo quarto no qual acordei. Ele parece esperar por alguma palavra minha, mas não tenho nada a dizer, finalmente deixa que fique de pé e o mais estranho é sentir falta do calor dele. — Não ouse fazer isso novamente, posso não ser tão compassivo. Rapidamente viro a cabeça para olha-lo sinto as bochechas queimando com raiva segurando as lágrimas pela dor em meus pés queimados pelo gelo, as lágrimas pela frustração de estar machucada, frágil e aprisionada por culpa dele. —Não pode me obrigar a ficar aqui!Em um piscar de olhos perco a rapidez do seu movimento a mão firme segura a
YurichObservo o mapa da cidade exposto na enorme parede do escritório, todos os principais pontos marcados sob o nosso controle, a irritação crescente é um perigo para homens como eu, principalmente em situações como essa. Não é momento para perder a consciência diante dessa invasão, um ataque dentro do meu território. Estalo os dedos buscando juntar as peças que faltam para pegar os traidores, mas nada além de ter um traidor dentro da organização passa pela minha mente, alguém próximo o suficiente para causar estragos. Ignoro os gritos dela reverberando pela casa mesmo sendo picado por esse mosquito da indecisão , por qual motivo a trouxe para cá? “Com uma garganta potente como essa posso apostar que é capaz de engolir meu pau.” A voz de Nureyev só serve para irritar-me, não respondo a sua merda não tenho vontade em lhe dar mais motivos para questionamentos que não consigo responder. Caminho pelo comodo e sirvo uma dose generosa de bebida antes de sentar no sofá de couro. Meu irm
Yurich Bato os dedos contra a mesa de vidro completamente impaciente, já faz um mês que deixei aquela mulher ir embora, sou atormentado por sua voz enquanto durmo durante o dia mantenho os olhos atentos as câmeras de vigilância daquele hospital. Sinto raiva de mim mesmo por ter deixado que fosse embora.“Avisei para ficar com ela.” “Você parece a merda de um papagaio.” Respondo completamente irritado. Sentados esperando por um dos meu maiores inimigos na porra da Rússia, meu irmão caçula ainda consegue ser insuportável. O esquema de segurança dentro dessa porcaria de restaurante é mais forte do que da casa branca. De alguma forma estupida italianos estão se infiltrando nas nossas terras como uma peste. Precisei averiguar se em outras regiões o mesmo estava acontecendo, descobri que Nabokov enfrenta os mesmos problemas no sul do país talvez seja a hora de unir os lados e engrandecer a Bratva como soberana. Pelo menos é o que espero, ficar pensando na médica apenas atrapalhara os pl