Predestinada ao chefe da máfia
Predestinada ao chefe da máfia
Por: Julie LIon
Quase morte

Como começar algo do qual nem ao menos sei como falar, o pior tomando conta e a abstração de uma felicidade se afastando cada vez mais em busca de um local seguro para se esconder de tudo, de tanta sujeira.

Foi assim, que vim parar aqui sentada olhando para o mar e a infinitude na qual se encontra o horizonte quando o meu coração se parte cada vez mais ao sentir os grãos de areia ao invés de sentir sua mão contra a minha. 

Cansada da forma como todos sempre esperam que participe de tudo e esteja de alguma forma tentando falar ou participar de algum grupo quando a dor é muito maior. Os meus amigos esperam a superação devido a tantas conquistas, mas nenhuma delas garantiu que você ficasse, nenhuma das minhas palavras te convenceu a estar aqui. 

Ergo o corpo da areia sentindo os grãos se desfazendo e por puro egoísmo desejo que você esteja se sentindo assim, não quero ser a única a sentir falta de algo tão perfeito.

Esse é o nosso defeito sermos perfeitos demais para o outro, incapazes de lidar com defeitos gritantes segurando cada uma das dores dentro da garganta apenas para manter a desconfiança no lugar de construir algo sólido entre nós.

Agora de costas para o mar que tanto me lembra as suas íris sinto as lágrimas caindo, a garganta fechada pois até o seu olhar e como um fantasma a cada passo. Estou com fome, desejo, sede, mas aquele capaz de alimentar cada um dos desejos da minha alma está longe demais em suas fantasias incapaz de proporcionar a visão da realidade a si mesmo. 

Como alguém se perde dentro das suas convicções até ficar cego para a realidade? 

É assim que a verdade morre? 

Ele retirou de mim mesma a vontade e o desejo de correr pela vida em uma maneira não tão frágil de perceber o quanto desejava estar ali entre seus braços. No meio de um infortúnio nossos destinos se cruzaram para enfim estarmos nesta cama no meio do outono sob um teto de vidro admirando as estrelas após fazermos amor como dois desesperados. A cabana feita toda em madeira nobre deixando tudo um pouco mais singelo, sendo ofuscado apenas pela lareira com tantas texturas diversas das rochas que a cercam formando uma proteção para as cinzas que tentam fugir de seu caminho natural.

Foi assim que viemos parar aqui? Fugindo do nosso destino natural das intempéries pelo caminho mais longo.

Frustrada acabo puxando um pouco mais o cobertor de modo a ficar mais protegida mesmo que a única proteção necessária seja em meu coração 

Iniciei desejando ter forças para superar tudo mas esse homem de barba cheia que agora me encara com olhos famintos prestes a devorar me mais uma vez é o único capaz de destruir tudo pelo qual lutei. Desde a mínima sanidade com a qual iniciei este relato até o futuro do qual não tenho nenhuma ganância para que chegue tão rápido.

— Pensando demais garota. — A voz grave e rouca misturada ao cheiro forte do álcool me embriaga 

Seus dedos traçam as linhas que mais detesto na minha própria face, essas marcas de expressão que indicam que o tempo não falha nem retarda as consequências. Fecho os olhos cruelmente afetada, se sairmos daqui para voltar a um estado doloroso por si só ainda manterei a cabeça erguida diante de tudo, principalmente dele…

— É um mal comum. — Respondo abrindo os olhos e encontrando o castanho se misturando a um verde que se esconde.

Ele é uma floresta escondida entre as estações do metrô, entre cada avenida, o azul forte se tornando claro em momentos tão quentes como esse.

— Deixe para pensar nas consequências depois.— Seus dedos passam a enrolar os cachos que caem pelas minhas costas.

Logo o afago passa por sobre os ombros indo na direção dos meus seios cobertos pela manta quente.

— Não estava pensando nelas. — Digo de modo sincero. 

— E no que pensava? — Sussurrou se aproximando mais — Meu doce anjo .

A boca quente e macia bem delineado caiu em cima da minha clavícula em um movimento sútil porém avido queimando cada uma das minhas células.

— Na praia… em como a areia entre os meus dedos e capaz de acalmar o maremoto das minhas crenças e dúvidas. — Suspiro deixando as palavras preencherem o silêncio enquanto agarro seus fios pela nuca buscando uma âncora na realidade — E na frustração causada por nossos erros.

Termino de falar entregando pela primeira vez depois de meses a verdade crua, sobre tudo o que se passa pela minha mente. Nossos olhares se encontram travando uma disputa, sou vencida ao ser virada de costas para a cama abrindo as pernas para acolhê-lo entre elas sem conseguir fechar os tornozelos ao redor dos quadris largos, o peso roubando a capacidade da minha respiração enquanto excita-me. Suspiro entregue, sentindo a mão firme de calos marcados aberta contra a minha bochecha descendo para apertar meu pescoço, fecho os olhos entregue enquanto nossas respirações se encontram. 

— Somos tão hipocritas, tão doentes e estranhos. — sua declaração me pega de surpresa— E ainda assim, estamos aqui, presos entre o choro doloroso dessa constatação e o prazer doloroso causado pelos nossos sentimentos.

Abro os olhos precisando encontrá-lo.

— Nosso amor é tão falho assim? —questiono

— Nós somos falhos anjo, porque espera que um sentimento possa ser perfeito?

Porque a realidade é que desde o momento em que encontrei os seus olhos naquela cama de hospital sinto como se o mundo fosse apenas dele, comandado por ele em meio ao caos que transformou a minha vida. A simplicidade que tinha durante qualquer momento do dia agora é uma guerra fria entre os sentimentos dos quais luto para ficar livre, pois ele é destrutivo como a maresia é contra o ferro. Uma droga infiltrada dentro da minha corrente sanguínea causando uma abstinência. Seus dedos fortes vêm contra o meu maxilar apertando com força atraindo toda a atenção para si, seu corpo forte se impõe rapidamente por cima das minhas pernas esticadas na areia, o frio do mar de Okhotsk não congela os meus ossos pois seu olhar intenso queima por dentro cada uma das minhas entranhas. 

— Yurich.. — Murmuro sem forças.

— Por mais que imagine ser capaz, Lyana, não existe a possibilidade de você se livrar de mim do mesmo jeito que caí nesse precipício que é te amar você está acorrentada ao inferno de ser minha.

Suspiro enfeitiçada pelo homem que prende até mesmo meus sonhos, somos doentes, somos amantes, somos apaixonados, mas somos loucos o suficiente para viver um amor no meio da máfia. 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo