Lyana
Por mais estranho que seja não consigo desgrudar os olhos do homem deitado na cama a minha frente, seus batimentos ritmados deveriam ser algo positivo mas a realidade é que ver a forma como o corpo de porte forte se perde no meio dos lençóis brancos do leito causa uma pontada de dor dentro do meu peito. Suspiro mais uma vez criando coragem para dizer-lhe algumas palavras de alguma forma preciso saber que está bem, saber que irá sobreviver. Cassandra bipa uma mensagem de emergência no meu celular, saio apressada para a emergência do hospital encontrando a dupla de emergencistas que trazem um senhor idoso sob a maca apressadamente, coloco o estetoscopio prontamente, fazendo uma rápida ausculta identificando a batida fora do ritmo por algum sopro ventricular. Aceno para a enfermeira.
—Bipe o Doutor Michaels para o centro cirurgico. — Passo a ordem.
Deixando os internos para trás correndo apressada para o centro cirurgico, paciente de idade avançada desacordado, batimento cardiaco baixo, ausculta com sopro ventricular, pressão baixa. Todos os indicios de um infarto necessitando de um intervenção cirurgica, como médica traumatologista muitos costumam diminuir as minhas capacidades em outras areas da medicina, as mesmas piadas de sempre.
‘Se o osso não quebrou então não tem nada errado’
‘Passa um relaxante muscular e não verifica a pressão’
Na verdade não é minha culpa se muitos colegas não estão nenhum pouco preocupados com seus pacientes ou se desrespeitam nossa especialização sendo idiotas, o que posso fazer é dar o meu melhor por aqueles que chegam as minhas mãos.
Por isso não me preparo para entrar em cirurgia, entro dentro do centro cirurgico indo direto para o equipamento de ecocardiografia ajudando o técnico a conectar todos os pontos para agilizar a entubação do paciente e prepara-lo. Como imaginava o ecocardiograma mostra o inicio de um infarto, vejo Michaels entrando.
—Me bipou para uma cirurgia? — Ergue a sobrancelha e posso ver em seu olhar a descrença
— Infarto com sopro intraventricular, ecocardiograma com ritmo fora do padrão curva com padrão restritivo.
Informo rapidamente sem me importar que isso faça alguém olhar para mim como se fosse uma interna e não uma médica especialista em cirurgias traumatológicas. Posso ver a maneira como o olhar do homem se transforma enquanto dá ordens para as mudanças dentro do centro cirurgico solicitando o equipamento de video para iniciar uma abordagem menos invasiva. Quando tudo está pronto e a mão dele começa a movimentar o fio pelo ramo aortico inferior questiono:
— Ainda precisa de alguma coisa?
Posso jurar ter visto um sorriso no canto dos seus lábios enquanto manuseia a camera de video junto com o stent padrão.
— Gostaria da sua companhia se possivel.
O som dos cochichos na sala cessam, as técnicas que estão babando no homem a alguns meses completamente curiosas, solto um suspiro por baixo da mascara não é como se tivesse outra chamada no momento, Adria costuma me chamar por saber que tenho o costume de identificar prontamente a necessidade cirúrgica de algum paciente, mas é algo do qual pretendo conversar com ela, não posso continuar fazendo o impossivel por todos principalmente porque não sou nenhuma chefe de cirurgia e não pretendo receber uma chamada de atenção por isso.
— Pelo que posso ver tem tudo sobre controle Doutor. — Respondo confiante.
— Casos assim costumam ser erroneamente interpretados, alguns pacientes não chegam na mesa cirúrgica e qual só a minha surpresa ao já ter meu paciente diagnosticado.
— Antes de ser seu paciente, ele é paciente do hospital dando entrada na emergência, atendi ao chamado e fiz o diagnóstico.
Não abaixo a cabeça muito menos tenho porque pedir desculpas por fazer o meu trabalho bem feito.
— Não é uma critica doutora, na verdade é um elogio me admira ser traumatologista. — ele abre o sorriso estupido.
Se em algum momento durante essa semana tirei algum momento para achar esse homem bonito retiro totalmente a minha admiração, costumo amar os homens como eles amam a nós mulheres: Na cama.
Entretanto, tenho certos pré requisitos e por isso muitos que trabalham comigo costumam ser desclassificados pela extrema arrogancia o que parece ser um padrão da profissão.
— A traumatologia lida com constantes casos de colapsos e ao contrario do que muitos pensam, nós não lidamos só com ossos. — Deixo claro a minha reprovação pelo seu comentário estupido.
Antes que possa dizer mais alguma coisa, escutamos o som do celular tocando o que quebra completamente o silêncio da sala, os olhares recaem sobre a mesa, especificamente sobre o meu celular, Jane uma das assistentes cirurgicas pega o mesmo e atende.
— Doutora, o paciente da explosão acordou. — Sua voz suave atrai nossa atenção.
Ninguém consegue esconder as feições de espanto, os boatos sobre o homem correram feito uma peste dentro do hospital, preciso inspirar e respirar três vezes antes de me afastar da mesa de cirurgia em direção a saída da sala. Mas principalmente em busca de esconder a ansiedade em conferir o demônio russo como escutei alguns o chamando baixinho.
YurichIgnoro os olhares cínicos enquanto Dobriev tenta apaziguar a minha demanda em saber quem é a pessoa que estava aqui dentro desse quarto comigo, como a sua voz suave foi capaz de clamar pelo demônio que carrego comigo. A dor dos machucados começa a embaralhar os meus pensamentos, mas não o suficiente para ignorar a entrada que causa um completo silêncio dentro do quarto. Observo a enfermeira ao meu lado finalizando o que disse ser uma medicação saindo de perto, os médicos sussurram entre si, vejo uma mulher de baixa estatura usando um uniforme azul de mangas curtas, a blusa grande demais para ela e as calças frouxas dando a aparência de que suas pernas são ainda menores. As bochechas grandes e os traços diferentes entregando sua nacionalidade, ela definitivamente não é russa, os olhos escuros analisando cada uma das máquinas monitorando as batidas do meu coração até nossos olhares se prenderem. A mistura de inocência com fogo nas írises escuras é surpreendente, como se não soub
LyanaBato a porta da sala de descanso encostando as costas com firmeza, buscando respirar fundo, aquele olhar de um azul acinzentado mexendo com cada uma das minhas estruturas e obrigando a manter a fachada profissional. De alguma maneira entorpecente desde o momento em que esse homem entrou aqui dentro sangrando como um animal, pude sentir as mudanças que ocorreriam. Talvez seja apenas bobagem da neta de uma brasileira cheia de superstições ou algum ser divino tentando alertar para ficar longe dele. Suas palavras ácidas tentando penetrar cada camada da minha pele, nem ao menos consegui prestar atenção ao que os colegas estavam discutindo apesar de ter a noção, para alguém que sofreu graves lesões não esperávamos que acordasse tão cedo muito menos com tal animo e força. Os múrmuros das enfermeiras ao redor do hospital não disfarçaram as suas desconfianças em relação a ele, pelo que entendi Yurich Romanov é um homem de muito poder e acima de tudo: perigoso. Solto o ar e inspiro nova
YurichUma criança sem amor, um homem sem moral e uma vida baseada na carnificina é nisso amigo diabólico no qual estou sempre sendo moldado, quando algo de bom ou bonito aparece tenho um gosto perverso em tocar. Ao contrário de Midas não se torna reluzente como ouro mas se distorce em cinzas amontoadas aos meus pés, destruir qualquer bondade é fácil, quebrar a beleza é tão natural quanto o amanhecer. Seus olhos tão inocentes clamam pela perversidade que carrego comigo, então, por qual motivo negaria? Analiso cada traço do belo rosto os fios escuros caindo de maneira tão perfeita, uma princesa sendo envenenada pela crença da proteção aos bondosos de coração. Minha pequena ninfa suspira entre os lençóis vermelhos. Inspiro o perfume delicado completamente obcecado a visão de um paraíso inalcançável para um demônio mas ao alcance das minhas mãos, não deixaria que escapasse. Depois de ter saído daquele quarto fui rápido em organizar tudo para sair o mais rápido possível do hospital, um
LyanaSinto o toque quente contra a pele como uma caricia lenta, fazendo o meu corpo corresponder a voz firme e possessiva é tão tentadora quanto a escuridão na qual estou aproveitando para descansar. Suspiro lutando contra as pálpebras pesadas quando o calor se esvai deixando apenas o lugar vazio, a maciez do que reconheço ser um tecido. Mas são as dores espalhadas pelo corpo que atraem toda a minha atenção, aos poucos vou recobrando a consciência da noite infeliz sentindo o pânico voltando com tudo. Ergo o corpo de uma vez sendo tomada por uma tontura, vou buscando estabilizar a respiração é quando finalmente percebo estar em um quarto altamente luxuoso. A cama enorme coberta por tecidos sedosos sendo iluminado por um feixe de luz entre pesadas cortinas, confiro minhas roupas no lugar antes de levantar, fechando os olhos e agradecendo mentalmente por ter algum sinal de que não fui abusada. Quero muito acreditar que nada daquilo foi real e estou apenas em algum pesadelo distorcido,
LyanaFechei os olhos com força desejando que de alguma forma tudo se transformasse em apenas mais um pesadelo estranho, mesmo lutando contra essas sensações diferentes causadas por estar nos braços de um monstro.—Abra os olhos Lyana. — A voz grave ordena. Incapaz de desobedecer vejo o seu olhar analisando cada detalhe meu, sinto a agitação de antes voltar com mais força ainda, desvio os olhos observando o mesmo quarto no qual acordei. Ele parece esperar por alguma palavra minha, mas não tenho nada a dizer, finalmente deixa que fique de pé e o mais estranho é sentir falta do calor dele. — Não ouse fazer isso novamente, posso não ser tão compassivo. Rapidamente viro a cabeça para olha-lo sinto as bochechas queimando com raiva segurando as lágrimas pela dor em meus pés queimados pelo gelo, as lágrimas pela frustração de estar machucada, frágil e aprisionada por culpa dele. —Não pode me obrigar a ficar aqui!Em um piscar de olhos perco a rapidez do seu movimento a mão firme segura a
YurichObservo o mapa da cidade exposto na enorme parede do escritório, todos os principais pontos marcados sob o nosso controle, a irritação crescente é um perigo para homens como eu, principalmente em situações como essa. Não é momento para perder a consciência diante dessa invasão, um ataque dentro do meu território. Estalo os dedos buscando juntar as peças que faltam para pegar os traidores, mas nada além de ter um traidor dentro da organização passa pela minha mente, alguém próximo o suficiente para causar estragos. Ignoro os gritos dela reverberando pela casa mesmo sendo picado por esse mosquito da indecisão , por qual motivo a trouxe para cá? “Com uma garganta potente como essa posso apostar que é capaz de engolir meu pau.” A voz de Nureyev só serve para irritar-me, não respondo a sua merda não tenho vontade em lhe dar mais motivos para questionamentos que não consigo responder. Caminho pelo comodo e sirvo uma dose generosa de bebida antes de sentar no sofá de couro. Meu irm
Yurich Bato os dedos contra a mesa de vidro completamente impaciente, já faz um mês que deixei aquela mulher ir embora, sou atormentado por sua voz enquanto durmo durante o dia mantenho os olhos atentos as câmeras de vigilância daquele hospital. Sinto raiva de mim mesmo por ter deixado que fosse embora.“Avisei para ficar com ela.” “Você parece a merda de um papagaio.” Respondo completamente irritado. Sentados esperando por um dos meu maiores inimigos na porra da Rússia, meu irmão caçula ainda consegue ser insuportável. O esquema de segurança dentro dessa porcaria de restaurante é mais forte do que da casa branca. De alguma forma estupida italianos estão se infiltrando nas nossas terras como uma peste. Precisei averiguar se em outras regiões o mesmo estava acontecendo, descobri que Nabokov enfrenta os mesmos problemas no sul do país talvez seja a hora de unir os lados e engrandecer a Bratva como soberana. Pelo menos é o que espero, ficar pensando na médica apenas atrapalhara os pl
LyanaCaminho de volta para o hospital após comprar um lanche completo, tenho a mesma sensação de dias na qual estou sendo obeservada, reconheço estar com algum tipo de trauma porém, não sinto vontade em falar com alguém ou pedir ajuda. Do momento em que desci do carro sendo deixada no centro da cidade próximo a praça vermelha, a pertubação em meu estado psicologico tem sido crescente as lágrimas passaram a cair sempre fico sozinha como uma lembrança do dia em que perdi minha mãe. Entro no hospital por uma das portas de acesso indo na direção do consultório, sinto medo das pessoas ao redor mas principalmente medo de ir para a emergência e dar de cara com aquele homem outra vez. Fingi estar adoentada como um motivo plausivel para não receber questionamentos e devido aos meus bons atendimentos o chefe da ala cirurgica foi compreensivel.Quando finalmente entro dentro da minha sala, rodo a chave três vezes conferindo que está realmente trancado, coloco a comida por sobre a mesa pesand