Luís Renato— Calma, Luís, estou indo aí agora, cara! — Marcos fala assim que lhe falo sobre o sumiço da Ana. Já liguei mais de dez vezes e a ligação só cai na caixa postal. Alguma coisa aconteceu, eu sei que tem alguma coisa errada. Encerro a ligação e largo o celular de qualquer jeito em cima do sofá. Marta entra na sala com uma xícara de chá, mas eu recuso. Ela tem os olhos vermelhos. Esteve chorando. Penso angustiado. Deve estar tão preocupada quanto eu, pois sabe que Ana jamais sumiria assim, tampouco deixaria de me ligar por tanto tempo. Meu celular começa a tocar e eu o pego, olhando a tela com curiosidade. O fato de o número ser desconhecido me apavora. Atendo à ligação e o levo ao ouvido. De alguma forma essa ligação me deixou com o coração apertado. Um medo sufocante fechou a minha garganta.— Alô! — sibilei receoso.— Boa noite, gostaria de falar com o senhor Alcântara! — uma voz feminina disse do outro lado. Puxei a respiração.— É ele.— Senhor Alcântara, aqui é do Hospit
— Também te amo, minha pequena! — sussurro, encostando minha testa no vidro. — Volta logo para mim, por favor! — peço em tom de súplica. Uma mão aperta levemente o meu ombro, me fazendo olhar de lado e vejo o meu amigo em pé ao meu lado. Marcos tem um olhar cansado e preocupado.— Vai dar tudo certo, meu amigo! — sibila com voz firme e baixa. Eu apenas assinto com a cabeça. Do outro lado do corredor, Mônica parece desolada. Ela está falando ao telefone com algumas pessoas. Penso na amizade delas. É incrível como são fiéis uma a outra! Uma amizade linda e forte. Elas já passaram por tantas coisas juntas.Guilherme e Gisele entram no meu campo de visão, assim que entram no corredor e Gui vem ao meu encontro, me puxando para um abraço firme e forte, que eu recebo, como um bote salva-vidas. Gisele faz o mesmo com Mônica, para depois vir para mim.— Como ela está? — indaga assim que se afasta.— Ainda não recebemos nenhuma notícia — falo com um suspiro audível.— Há quanto tempo estão espe
Marcos Albuquerque— Já se passaram três dias, Gui. Luís está com ar de louco e eu estou muito preocupado com ele, cara! E se Ana não acordar? — questiono olhando nos olhos do meu irmão. Estamos na casa do Guilherme, aguardando Gisele chegar com alguma novidade sobre o acidente de Ana. Ela passou a semana inteira empenhada em descobrir o que realmente aconteceu e hoje cedo nos ligou dizendo que descobriu algo.— Ela vai acordar, Marcos. Temos que pensar positivo.— Tá, mas e se...— Não tem e se, Marcos, pelo amor de Deus! — diz, impaciente. — Só temos que acreditar, ok? — Seu tom de voz agora é confiante. — Ana é uma garota muito forte, ela ama o Luís e eu sei que ela vai conseguir sair dessa. Assinto, pois preciso acreditar nisso. —— Espero que você esteja certo, mano. Não sei se aguento ver meu amigo desabar de novo e viver isolado naquele mundo doloroso outra vez — digo e esvazio o meu copo.— Oi, meninos, demorei? — Gisele pergunta animada e adentrando a sala. Ela dá um beijo cá
Luís RenatoNão existe pior coisa na vida do que esperar! Esperar por notícias, esperar que tudo esteja bem, esperar que o amor da sua vida acorde de um sono profundo... Olhá-la em cima dessa cama e não poder fazer nada é o meu inferno. Me sinto inútil, fraco e isso me machuca cada vez que a olho adormecida em uma cama de hospital— Hoje faz três dias, minha pequena. Preciso que você aqui comigo. Acorde, meu amor, por favor! — sussurro ao seu lado, enquanto seguro a sua mão, deixando alguns beijos na sua palma — Meu amor, abre esses olhos lindos pra mim — peço baixinho para a minha Ana. Para a minha felicidade, ela já não está mais com todos aqueles os fios em seu corpo e não precisa mais da ajuda de aparelhos para respirar e nem das máquinas para monitorá-la. Apenas o soro ainda estar em sua mão. Acaricio o seu rosto com suavidade e beijo a sua boca com cuidado. Deus, sinto tantas saudades de ouvir o som da sua voz, de ouvir o som do seu riso. Sinto sua falta, Ana! Alguém bate na por
Apenas um desabafo...Mônica SampaioDurante toda a minha vida, eu sempre perdi alguém e sempre que os perdia, eu me sentia como se um punhal atravessasse o peito, fazendo o meu coração sangrar. Foi assim com a minha mãe, que nos deixou ainda muito cedo. Eu tinha apenas quinze anos e mesmo sendo ainda tão jovem, tive que assumir as responsabilidades de um adulto dentro de casa. Foi assim com a minha irmã mais velha, que em um dia estava do meu lado, me dando o apoio de que eu precisava e no outro, me deixou sozinha, com um pai doente e uma bebê recém-nascida. Mas nenhuma dessas dores se comparava à dor de ver minha melhor amiga entre à vida e à morte. Quando conheci a Ana, tinha apenas seis anos de idade. Ela era novata no bairro e sua mãe trabalhava muito. Lembro-me que a minha mãe ficava com ela em minha casa, enquanto a Rose ia para o trabalho. Então, fomos criadas como irmãs. Nós estudamos na mesma escola, paqueramos os mesmos garotos na adolescência, comemos muitos chocolates dur
Ana JúliaAbrir os olhos pela manhã nunca foi tão doloroso como agora. Eu forço as pálpebras pesadas e aos poucos vou me acostumando com a luz que invade o quarto. Encontro a minha amiga sentada em um pequeno sofá ao lado da cama. Ela está mexendo em seu notebook em seu colo e tem alguns papéis espalhados em cima de uma mesinha. Assim que percebe que estou acordada, ela sorri para mim e larga o que está fazendo, para se aproximar ainda mais.— Oi, como está se sentindo? — pergunta enquanto ajeita alguns fios dos meus cabelos atrás da minha orelha.— Parece que fui passada em um moinho. Estou toda quebrada — resmungo e tento me ajeitar na cama, soltando um gemido de dor no processo.— Me deixe ajudá-la. — Mônica ajeita o travesseiro em minhas costas e mexe no controle para erguer um pouco a cama. Solto o ar com força.— Por que isso dói tanto? — resmungo mal-humorada. A porta do banheiro se abre e Luís sai de lá exasperado e vem até mim.— Deixa que eu te ajudo, meu amor! — diz todo at
— Está bem, mas se soubesse de alguma coisa, me contaria, certo? — indago, buscando os seus olhos. Mônica não consegue esconder bem as coisas de mim. Ela sempre foi assim. Para os outros ela tem toda uma fachada dura, onde bloqueia qualquer sentimento que não queira demostrar, mas comigo sempre fica uma brecha de demonstração. Seus olhos refletem tudo o que eu quero saber e que ela faz questão de esconder.— Sim, eu contaria. Agora, por favor, vamos mudar de assunto! — diz, irritada. Ela está sendo sincera. Eu tinha um fio de esperança de saber se havia o dedo de uma certa pessoa nisso tudo.— Tenho uma cisma — digo de repente, encarando os seus olhos escuros. Mônica me olha intrigada.— Ah, é? Qual?— Acho que a Camilly tem algo a ver com isso. — Ela arqueia as sobrancelhas.— Por que acha isso?— Por causa do nosso último encontro...— Qual último encontro, Ana? — Assusto-me ao ver Luís abrir a porta do quarto de uma vez e entrar no quarto em um rompante — Quer me falar sobre isso?
— Coma a Ana está? — Gi pergunta assim que nos acomodamos nas cadeiras acolchoadas.— Bem melhor! Está conversando e está mais animada também — respondo com satisfação na voz.— E como ela reagiu quando soube dos bebês? — indaga, abrindo um sorriso. Eu bufo.— Não reagiu. Eu ainda não contei para ela — digo e os encaro.— Como não? Ela tem o direito de saber, Luís! —rebate exasperada. Eu dou de ombros.— Eu sei e ela vai saber! Só não tive a oportunidade ainda. Como estão as investigações? — mudo o foco da conversa, a final ainda não estou preparado para falar com a Ana sobre os nossos filhos.— Já descobrimos o carro, a placa e através dela também rastreamos o motorista. Infelizmente ele está foragido, mas não se preocupe, nós vamos encontrá-lo — garante. Eu apenas concordo com um aceno de cabeça.— Tenho duas coisas para contar pra vocês. A primeira coisa, a Karol me procurou por esses dias. Ela me disse que encontrou a Camilly e que ela confidenciou que estava disposta a tirar Ana