Apenas um desabafo...Mônica SampaioDurante toda a minha vida, eu sempre perdi alguém e sempre que os perdia, eu me sentia como se um punhal atravessasse o peito, fazendo o meu coração sangrar. Foi assim com a minha mãe, que nos deixou ainda muito cedo. Eu tinha apenas quinze anos e mesmo sendo ainda tão jovem, tive que assumir as responsabilidades de um adulto dentro de casa. Foi assim com a minha irmã mais velha, que em um dia estava do meu lado, me dando o apoio de que eu precisava e no outro, me deixou sozinha, com um pai doente e uma bebê recém-nascida. Mas nenhuma dessas dores se comparava à dor de ver minha melhor amiga entre à vida e à morte. Quando conheci a Ana, tinha apenas seis anos de idade. Ela era novata no bairro e sua mãe trabalhava muito. Lembro-me que a minha mãe ficava com ela em minha casa, enquanto a Rose ia para o trabalho. Então, fomos criadas como irmãs. Nós estudamos na mesma escola, paqueramos os mesmos garotos na adolescência, comemos muitos chocolates dur
Ana JúliaAbrir os olhos pela manhã nunca foi tão doloroso como agora. Eu forço as pálpebras pesadas e aos poucos vou me acostumando com a luz que invade o quarto. Encontro a minha amiga sentada em um pequeno sofá ao lado da cama. Ela está mexendo em seu notebook em seu colo e tem alguns papéis espalhados em cima de uma mesinha. Assim que percebe que estou acordada, ela sorri para mim e larga o que está fazendo, para se aproximar ainda mais.— Oi, como está se sentindo? — pergunta enquanto ajeita alguns fios dos meus cabelos atrás da minha orelha.— Parece que fui passada em um moinho. Estou toda quebrada — resmungo e tento me ajeitar na cama, soltando um gemido de dor no processo.— Me deixe ajudá-la. — Mônica ajeita o travesseiro em minhas costas e mexe no controle para erguer um pouco a cama. Solto o ar com força.— Por que isso dói tanto? — resmungo mal-humorada. A porta do banheiro se abre e Luís sai de lá exasperado e vem até mim.— Deixa que eu te ajudo, meu amor! — diz todo at
— Está bem, mas se soubesse de alguma coisa, me contaria, certo? — indago, buscando os seus olhos. Mônica não consegue esconder bem as coisas de mim. Ela sempre foi assim. Para os outros ela tem toda uma fachada dura, onde bloqueia qualquer sentimento que não queira demostrar, mas comigo sempre fica uma brecha de demonstração. Seus olhos refletem tudo o que eu quero saber e que ela faz questão de esconder.— Sim, eu contaria. Agora, por favor, vamos mudar de assunto! — diz, irritada. Ela está sendo sincera. Eu tinha um fio de esperança de saber se havia o dedo de uma certa pessoa nisso tudo.— Tenho uma cisma — digo de repente, encarando os seus olhos escuros. Mônica me olha intrigada.— Ah, é? Qual?— Acho que a Camilly tem algo a ver com isso. — Ela arqueia as sobrancelhas.— Por que acha isso?— Por causa do nosso último encontro...— Qual último encontro, Ana? — Assusto-me ao ver Luís abrir a porta do quarto de uma vez e entrar no quarto em um rompante — Quer me falar sobre isso?
— Coma a Ana está? — Gi pergunta assim que nos acomodamos nas cadeiras acolchoadas.— Bem melhor! Está conversando e está mais animada também — respondo com satisfação na voz.— E como ela reagiu quando soube dos bebês? — indaga, abrindo um sorriso. Eu bufo.— Não reagiu. Eu ainda não contei para ela — digo e os encaro.— Como não? Ela tem o direito de saber, Luís! —rebate exasperada. Eu dou de ombros.— Eu sei e ela vai saber! Só não tive a oportunidade ainda. Como estão as investigações? — mudo o foco da conversa, a final ainda não estou preparado para falar com a Ana sobre os nossos filhos.— Já descobrimos o carro, a placa e através dela também rastreamos o motorista. Infelizmente ele está foragido, mas não se preocupe, nós vamos encontrá-lo — garante. Eu apenas concordo com um aceno de cabeça.— Tenho duas coisas para contar pra vocês. A primeira coisa, a Karol me procurou por esses dias. Ela me disse que encontrou a Camilly e que ela confidenciou que estava disposta a tirar Ana
Ana JúliaPassar trinta dias confinada dentro de um hospital não foi a coisa mais agradável do mundo, mas Luís fez questão de que eu ficasse cada minuto determinado pelo médico repousando, sem fazer exatamente nada, além de dormir. Minha perna já estava bem melhor e mesmo assim, o meu noivo exigia que eu andasse de cadeira de rodas para onde quer que eu fosse. Preferi não o contrariá-lo, pois não queria tirar dele a felicidade e o prazer de cuidar de mim pessoalmente. Meu noivo deixa a pequena mala ao lado da poltrona e se acomoda ao meu lado na cada, abraçando-me e beijando-me carinhosamente. Estamos aguardando o papel da minha alta médica. Na verdade, estou contando os minutos para chegar em casa. Minutos depois, o médico entra no quarto deixando as devidas recomendações, algumas receitas e uma indicação para um obstetra, para acompanhar minha gravidez. Não demora muito e eu finalmente estou fora do hospital. Caramba, nunca fiquei tão feliz em sentir o vento bater em meu rosto. Sent
— Não quero acusar ninguém sem ter provas, meu amor, mas sim. Eu acho que isso tem muito a ver com ela e quero você e os meus pontinhos em segurança. Tudo bem pra você? — Abro um meio sorriso e beijo o cantinho dos seus lábios.— Tudo bem! Também prefiro que seja assim — falo. Ele sorri, mas é um sorriso fraco.— Vou para o meu escritório aqui de casa mesmo, tenho uma videoconferência com o pessoal do Japão, que já foi adiada por muito mais tempo do que deveria. Esses dias vou trabalhar em casa, até que esteja recuperada de verdade. Já combinei tudo com o Marcos. Ele vai ficar me passando as coisas que tenho que resolver daqui e ele cuida do resto por lá — diz e respira fundo. — Agora eu quero que você descanse um pouco, tá bom? — pede, deixando um beijo casto em meus lábios.— Tudo bem! — Luís sai do quarto e eu me deito melhor na cama, mas não tenho um pingo de sono, então resolvo ligar para Clarissa. O celular chama e ela me atende no segundo toque.— Oi, amiga, como você está?— B
— Fala, Gisele! — digo assim que a atendo.— Luís, recebeu o meu e-mail? — indagou, no mesmo instante em que o sinal soou na tela do meu computador. Eu cliquei para abrir a mensagem.— Acabei de abri-lo. — respondi enquanto lia a pauta da pesquisa. — Tem certeza de que esse tal de Augusto é o cara que provocou o acidente?— Absoluta, meu amigo! As imagens não mentem. Puxei a fixa do desgraçado, como você pode ver. Só nos resta saber onde o filho da puta está agora, para confessar o porquê ou quem o mandou fazer isso. — Bufei audivelmente.— É, está tudo meio confuso mesmo. Essa merda toda parece um quebra-cabeças difícil de montar! — rosnei impaciente.— Difícil, meu caro, mas não impossível. Nós vamos conseguir. Vou colocar um detetive no pé de Carlos também, quem sabe ele não nos leva a esse homem?— Faça o que for preciso, Gisele. Você sabe que dinheiro não é um problema.— Pode deixar, “chefinho” — disse o apelido e riu do outro lado da linha.— Maldita Mônica! — rosnei, encerrand
Dois meses depois...Ana JúliaDe volta à faculdade, que delícia! Ainda tenho um pouco de dificuldades para andar, ando com a ajuda de uma bengala. Emerson, meu novo segurança, dirige o carro enquanto eu repasso o assunto da prova que farei na primeira aula. Quando chego na faculdade, vou direto para a minha sala, e sou recebida por meus amigos com uma salva de palmas e um “seja bem-vinda!” em alto e bom tom. Sorrio, emocionada. É muito bom se sentir querida. O clima de sala de aula, o companheirismo dos colegas... amo muito tudo isso! E como eu senti muita falta de tudo isso! Depois das congratulações e dos abraços, vamos para as aulas... É fácil ter concentração quando você gosta do assunto, do curso em si. Durante o primeiro horário, tivemos uma aula muito proveitosa e bem produtiva. O segundo horário foi dedicado à apresentação das maquetes. Uma sala ampla com mesas enormes para os alunos, professores e membros da secretaria. Devo ressaltar que há maquetes dignas de uma premiação