Abro os meus olhos, sentindo o meu corpo reclamar do chão duro e só então percebo que adormeci em um amontoado de papelão no chão. Através das brechas das madeiras que prendem a única janela, vejo que a luz do dia já está perdendo a sua força. Escuto os sons das vozes no outro cômodo e me forço a levantar dos papelões e caminho até a porta, para ver se entendo sobre o que estão falando. Pelos sons alterados, penso que estão discutindo por alguma coisa. Será que algo deu errado? Alguém mexe na porta e eu me afasto apressadamente, me encostando na parede, no fundo do quarto. A porta se aberta e Camilly entra me lançando um olhar tão surpreso, quanto furioso. Ela para bem na entrada do quarto e fixa os seus olhos em cima de mim. — Por que diabos ela está solta? — Praticamente grita, apontando em minha direção. Eu olho para todos, que invadem o quarto imediatamente e observo ansiosa a porta aberta atrás deles. Não... não dá para fugir grávida e com todos reunidos aqui. É loucura!— Não v
Algum tem antes...Luís Renato— Luís? — Gisele me chamou, entrando em minha casa, e me abraçou apertado. — Eu sinto muito! — Vi Guilherme entrar com minha afilhada adormecida em seus braços. Droga! Não gosto disso, de ter que tirar os meus amigos do seu conforto, mas eu realmente precisava deles aqui comigo. Já eram dez da noite e o único contato após o sequestro da Ana, foi uma mensagem com a foto dela amarrada a uma cadeira e amordaçada. Eu me sentia inútil, estava arrasado, despedaçado e em frangalhos. Não conseguia pensar direito, e gelava só de pensar o que estariam fazendo com ela.— Os detetives não arredaram os pés da porta daquele apartamento, eles não saíram pela porta da frente — Ela disse. — Então resolvemos verificar se havia outra saída no prédio. Foi quando demos conta da saída de incêndio. Provavelmente sabiam que estavam sendo vigiados — explicou. Uma falha grave na segurança. Pensei. Como não pensamos nas saídas adjacentes?— Penso que fizeram o mesmo aqui, Gisele.
— Querido, tente comer alguma coisa ou tome pelo menos um copo de suco, qualquer coisa. Você precisa estar forte para resolver esse problema — Minha mãe pediu com insistência. Derrotado, eu concordei e tomei apenas o suco de laranja que ela estendeu a mim. Mais tarde, mesmo relutante, eu tomei o chá, que Marta insistiu que tomasse. O líquido morno e adocicado fez o meu corpo relaxar imediatamente. Já passava das cinco e meia da tarde quando o telefone voltou a tocar e todos ficaram em alerta, tomando a sua posição diante de suas funções. Segurei o aparelho com firmeza e esperei o sinal do agente da polícia. Ele levantou um dedo, fazendo um gesto sutil de cabeça, eu atendi.— Alô? — Aguardei o som da voz áspera me dizer qual seria o próximo passo, mas o que eu escutei encheu o meu coração de desespero e o chão foi tirado de mim.— Luís? — Ouvi a voz da minha mulher e fui tomado por uma angústia, aumentando o meu desespero. Meu corpo tremia e meu coração chegou a falhar uma batida.— An
— É o Augusto! —Constatou. — Ele está morto.— Acho que encontrei a senhora Alcântara. — O detetive disse e foi para fora da casa. Todos o seguimos para os fundos do sítio, entrando em um mato alto e seco. As lanternas clareavam a trilha estreita de terra e eu forçava a visão para olhar pertos das árvores e arbustos. Escutamos sons vozes alteradas próximo a uma espécie de poço e seguimos a direção dos sons.— É a voz da Camilly e do Carlos? — Marcos indagou ao meu lado.— Eles estão discutindo sobre a fuga da Ana — Assenti para o meu amigo e falei em um tom baixo e irritado.— Você e aquele idiota não fazem nada direito! Eu disse para não a deixar solta. Vem, vamos voltar, não vamos encontrá-la nessa escuridão! — reclamou. E quando se viraram para voltar à casa, nos encontram com as armas apontadas para eles.— Camilly e Carlos, vocês estão presos. — O delegado deu voz de prisão e na sequência começou a ler os seus direitos. Camilly faz uma cara assustada, erguendo suas mãos para o al
Ana JúliaÀs vezes eu penso que tudo isso não passou de um grande sonho e que a qualquer momento eu vou acordar e ver que nada disso realmente aconteceu. Estou na casa da dona Joana, minha futura sogra, mais precisamente no quarto de Lilian, minha futura cunhada. E como havíamos combinado durante a nossa adolescência, minha melhor amiga fez a minha maquiagem, mas foi Lilian quem cuidou dos meus cabelos. Ela fez lindos cachos d'água e os adornou com uma linda e delicada coroa, cravejada com minúsculas pedrinhas de brilhantes e um véu fino e rendado, caía em cascatas por minhas costas, até se espalhar pelo chão. Confesso que estou muito nervosa e ansiosa também, mas acho que não sou a única agitada por aqui, pois em minha barriga está acontecendo um reboliço animado. É como se os bebês soubessem o que está acontecendo, em sua festa particular, eles param um só minuto.— Pronto. — Lilian diz se afastando um pouco e tanto ela, quanto a Mônica sorriem para o resultado final. Ponho-me de pé
— Estava pensando em sua mãe, certo? — Balanço a cabeça em afirmação. — Ana, você sabe que de onde ela estiver, ela estará muito feliz por você, não é? — Eu respiro fundo e assinto mais uma vez.— Eu sei. Eu só... eu queria tanto que ela estivesse aqui comigo! — digo com a voz embargada. Ele vem para mais perto de mim e me abraça.— E ela está, minha querida. Acredite, que ela está! — sussurra e depois beija o topo da minha cabeça. Sorrio.— Obrigada! — Ele arqueia as sobrancelhas para mim.— Vamos? Meu filho está quase tendo um ataque cardíaco naquele altar. — Ri do seu comentário. — Acredita que ele já me ligou umas dez vezes? — Logo o clima triste se foi, e eu abri um sorriso mais largo.— Sério? Isso é bem a cara do meu meninão — sibilei segurando o meu buquê em minhas mãos e o meu sogro me ofereceu o seu braço. — Vamos — concordei entrelaçando o meu braço ao seu.— A propósito, você está linda, Ana! — disse assim que entramos no corredor. — Meu filho é um homem de muita sorte e e
—Desculpa atrapalhar os seus planos matinais, chefinho! Mas a Ana precisa se preparar para o seu dia. — A morena infernal disse, olhando para um ponto dos lençóis, me deixando sem graça.— Para onde irão levá-la? — Indaguei quando vi a minha gravidinha vestida com um vestido branco e solto e que logo foi arrastada a porta de saído do quarto.— Não se preocupe, filho. Ela ficará bem! — Foi tudo o que dona Joana falou depois de fechar a porta. Saltei para fora da cama, em busca de uma roupa e pus apenas um short, na tentativa de impedir aquelas malucas de levá-la para longe de mim e estanquei no meio da minha sala, encontrando uma comitiva de machos me aguardando.— Que palhaçada é essa? Onde pensam que estão, na casa da sogra? — bradei para o meu pai, Marcos e Guilherme que estavam bem na passagem. Juro que tentei convencê-los a me deixar buscá-la e não importava o que eu dissesse, eles simplesmente não me ouviam. Me senti frustrado, vencido e fui obrigado a voltar para o quarto, para
— Era brincadeira, cara, relaxa! — pede e fica sério em seguida. — Mas agora é sério, cara. Eu estou muito feliz por você. Você, mais do que ninguém, merece tudo isso e como seu melhor amigo e padrinho do noivo, eu te desejo toda a felicidade do mundo, mano! — Ele me puxa para um abraço, me dando alguns tapas nas costas.— Obrigado, meu amigo! Por tudo, mesmo. Sabe que foi mais que um amigo pra mim, você foi o meu irmão. Não tenho e nunca terei como agradecer...— Na verdade, tem sim — interrompe-me. — Você me deixa dançar com a noiva? Tipo, assim, bem coladin... — Nem o deixei que terminasse a frase e dei-lhe outro tapa na nuca. Dessa vez ele não reclamou, apenas riu em alto e em bom tom. Rolei os olhos para ele. Imbecil! Idiota!— Sem noção! — rosnei e peguei o prato montado com alguns salgados e doces e me afastei. Encontrei a Ana rodeada por suas amigas na mesa e quando me aproximei, me vi envolvido pela conversa animada das meninas. E quando a minha pequena família já estava alim