Minutos antes do sequestro.... Ana JúliaFui despertada pelo toque do meu celular, que estava na mesinha de cabeceira. Apertei os olhos sonolentos para ver o relógio sobre o criado-mudo. Ainda eram dezoito e trinta. Atendi sem olhar quem era.— Alô?— Ana? — A voz feminina tirou qualquer resquício do meu sono, me despertando de uma vez. Meu coração disparou forte dentro do peito. Eu pensei em encerrar a chamada, quando ela falou algo que me chamou a atenção. — Se eu fosse você, não faria isso, querida. Me diga, o que você seria capaz de fazer para salvar a vida do seu noivinho — Sua voz tinha um tom debochado e ameaçador. Engoli em seco. Não sabia o que pensar, tampouco o que fazer. Decidi então levar a conversa adiante e saber o que ela queria realmente.— Do que você está falando?— Que você tem cinco minutos para sair da sua toca, sua vadia e me encontrar aqui embaixo, na lateral do seu prédio. — Sentia a raiva contida em sua voz. Eu puxei a respiração.— Como vou saber se
Já faz muito tempo que estou amordaçada, amarrada a uma cadeira e trancada aqui neste quarto. Estou com sede, com fome e os bebês estão bem agitados. Desde que todos saíram do cômodo, ninguém veio me ver. Em algum momento cheguei a dar alguns cochilos perturbados e foi exatamente em um desses cochilos, que o barulho da porta me despertou, e um homem de aparentemente trinta anos entrou. É o mesmo que me abordou na calçada com uma arma. Pensei o olhando diretamente. Ele caminhou lentamente até mim e eu respirei fundo calmamente. Preciso me manter calma, por causa dos bebês, mas confesso que não está sendo fácil. Eu definitivamente não sei o que se passa na mente deles, não sei o que pode acontecer aqui e isso me causa um medo irrefreável. Ele aponta o celular para o meu rosto e tira uma foto, depois sai, sem dizer uma palavra. Penso em Luís, no quão ele irá enlouquecer com tudo isso. Calma, Ana, só mantenha a calma e tudo vai dar certo! Tento me convencer. Para a minha surpresa, a port
Abro os meus olhos, sentindo o meu corpo reclamar do chão duro e só então percebo que adormeci em um amontoado de papelão no chão. Através das brechas das madeiras que prendem a única janela, vejo que a luz do dia já está perdendo a sua força. Escuto os sons das vozes no outro cômodo e me forço a levantar dos papelões e caminho até a porta, para ver se entendo sobre o que estão falando. Pelos sons alterados, penso que estão discutindo por alguma coisa. Será que algo deu errado? Alguém mexe na porta e eu me afasto apressadamente, me encostando na parede, no fundo do quarto. A porta se aberta e Camilly entra me lançando um olhar tão surpreso, quanto furioso. Ela para bem na entrada do quarto e fixa os seus olhos em cima de mim. — Por que diabos ela está solta? — Praticamente grita, apontando em minha direção. Eu olho para todos, que invadem o quarto imediatamente e observo ansiosa a porta aberta atrás deles. Não... não dá para fugir grávida e com todos reunidos aqui. É loucura!— Não v
Algum tem antes...Luís Renato— Luís? — Gisele me chamou, entrando em minha casa, e me abraçou apertado. — Eu sinto muito! — Vi Guilherme entrar com minha afilhada adormecida em seus braços. Droga! Não gosto disso, de ter que tirar os meus amigos do seu conforto, mas eu realmente precisava deles aqui comigo. Já eram dez da noite e o único contato após o sequestro da Ana, foi uma mensagem com a foto dela amarrada a uma cadeira e amordaçada. Eu me sentia inútil, estava arrasado, despedaçado e em frangalhos. Não conseguia pensar direito, e gelava só de pensar o que estariam fazendo com ela.— Os detetives não arredaram os pés da porta daquele apartamento, eles não saíram pela porta da frente — Ela disse. — Então resolvemos verificar se havia outra saída no prédio. Foi quando demos conta da saída de incêndio. Provavelmente sabiam que estavam sendo vigiados — explicou. Uma falha grave na segurança. Pensei. Como não pensamos nas saídas adjacentes?— Penso que fizeram o mesmo aqui, Gisele.
— Querido, tente comer alguma coisa ou tome pelo menos um copo de suco, qualquer coisa. Você precisa estar forte para resolver esse problema — Minha mãe pediu com insistência. Derrotado, eu concordei e tomei apenas o suco de laranja que ela estendeu a mim. Mais tarde, mesmo relutante, eu tomei o chá, que Marta insistiu que tomasse. O líquido morno e adocicado fez o meu corpo relaxar imediatamente. Já passava das cinco e meia da tarde quando o telefone voltou a tocar e todos ficaram em alerta, tomando a sua posição diante de suas funções. Segurei o aparelho com firmeza e esperei o sinal do agente da polícia. Ele levantou um dedo, fazendo um gesto sutil de cabeça, eu atendi.— Alô? — Aguardei o som da voz áspera me dizer qual seria o próximo passo, mas o que eu escutei encheu o meu coração de desespero e o chão foi tirado de mim.— Luís? — Ouvi a voz da minha mulher e fui tomado por uma angústia, aumentando o meu desespero. Meu corpo tremia e meu coração chegou a falhar uma batida.— An
— É o Augusto! —Constatou. — Ele está morto.— Acho que encontrei a senhora Alcântara. — O detetive disse e foi para fora da casa. Todos o seguimos para os fundos do sítio, entrando em um mato alto e seco. As lanternas clareavam a trilha estreita de terra e eu forçava a visão para olhar pertos das árvores e arbustos. Escutamos sons vozes alteradas próximo a uma espécie de poço e seguimos a direção dos sons.— É a voz da Camilly e do Carlos? — Marcos indagou ao meu lado.— Eles estão discutindo sobre a fuga da Ana — Assenti para o meu amigo e falei em um tom baixo e irritado.— Você e aquele idiota não fazem nada direito! Eu disse para não a deixar solta. Vem, vamos voltar, não vamos encontrá-la nessa escuridão! — reclamou. E quando se viraram para voltar à casa, nos encontram com as armas apontadas para eles.— Camilly e Carlos, vocês estão presos. — O delegado deu voz de prisão e na sequência começou a ler os seus direitos. Camilly faz uma cara assustada, erguendo suas mãos para o al
Ana JúliaÀs vezes eu penso que tudo isso não passou de um grande sonho e que a qualquer momento eu vou acordar e ver que nada disso realmente aconteceu. Estou na casa da dona Joana, minha futura sogra, mais precisamente no quarto de Lilian, minha futura cunhada. E como havíamos combinado durante a nossa adolescência, minha melhor amiga fez a minha maquiagem, mas foi Lilian quem cuidou dos meus cabelos. Ela fez lindos cachos d'água e os adornou com uma linda e delicada coroa, cravejada com minúsculas pedrinhas de brilhantes e um véu fino e rendado, caía em cascatas por minhas costas, até se espalhar pelo chão. Confesso que estou muito nervosa e ansiosa também, mas acho que não sou a única agitada por aqui, pois em minha barriga está acontecendo um reboliço animado. É como se os bebês soubessem o que está acontecendo, em sua festa particular, eles param um só minuto.— Pronto. — Lilian diz se afastando um pouco e tanto ela, quanto a Mônica sorriem para o resultado final. Ponho-me de pé
— Estava pensando em sua mãe, certo? — Balanço a cabeça em afirmação. — Ana, você sabe que de onde ela estiver, ela estará muito feliz por você, não é? — Eu respiro fundo e assinto mais uma vez.— Eu sei. Eu só... eu queria tanto que ela estivesse aqui comigo! — digo com a voz embargada. Ele vem para mais perto de mim e me abraça.— E ela está, minha querida. Acredite, que ela está! — sussurra e depois beija o topo da minha cabeça. Sorrio.— Obrigada! — Ele arqueia as sobrancelhas para mim.— Vamos? Meu filho está quase tendo um ataque cardíaco naquele altar. — Ri do seu comentário. — Acredita que ele já me ligou umas dez vezes? — Logo o clima triste se foi, e eu abri um sorriso mais largo.— Sério? Isso é bem a cara do meu meninão — sibilei segurando o meu buquê em minhas mãos e o meu sogro me ofereceu o seu braço. — Vamos — concordei entrelaçando o meu braço ao seu.— A propósito, você está linda, Ana! — disse assim que entramos no corredor. — Meu filho é um homem de muita sorte e e