MayaSexta-feira e eu ainda me encontrava pensativa sobre o baile. Eu queria ir ao mesmo tempo que desejava me esconder sob os cobertores durante toda a noite. A porta de trás do carro foi aberta, e Louise e Mary entraram, discutindo. Ultimamente estavam brigando mais do que o normal. Às vezes, é preciso intervir. Outra hora, apenas deixo que se entendam sozinhas. Começava a sentir falta de quando elas andavam de mãos dadas e sempre arrumavam o cabelo uma da outra.— Mãe! Diz para ela parar! — pediu Louise aos berros.— Eu não peguei a porcaria do seu lápis de cor! — Mary berrou de volta.— Okay, meninas! Já chega! — falei alto, virando-me para trás.Elas se calaram e olharam-me assustadas. Raramente levanto o tom de voz.— Primeiramente, porcaria é uma palavra feia. Sem sorvete por uma semana!— Mas, mamãe...— Estou falando, Mary. Você precisa se calar quando eu estiver falando.Ela se encolheu no banco.— Segundamente, por que estão brigando?— Mary pegou o meu lápis de cor vermelh
MayaNa entrada, um homem e uma mulher nos recepcionavam. Entreguei para ele meu convite e entrei. Logo no hall, encarei a quantidade absurda de pessoas naquele lugar que se cumprimentavam. Minhas mãos apertaram a pequena bolsa que eu segurava e meus pés deram um passo para trás, fazendo com que meu corpo colidisse contra o de outra pessoa.— Me desculpe — pedi, sem olhá-la, virando-me depressa para sair dali.Mas antes que eu pudesse alcançar a porta, uma mão agarrou meu braço firmemente, fazendo-me assustar.— Você veio! — disse Aurora, com entusiasmo.— Feliz aniversário. — Forcei um sorriso e abracei-a rapidamente.Ela agradeceu.— Estava tentando escapar? — Um pequeno sorriso marcava o cantinho dos seus lábios pintados de rosa.— Não?! — disse incerta, fazendo-a rir.— Confesso que tive um pouco de medo de que você nem viesse. Vem. Ferdinando está logo ali. Não vou deixá-la ir embora.Ela enlaçou o braço no meu e nós caminhamos em direção ao seu marido, que conversava com outras
GusSeis meses antes...Camile e eu tínhamos uma boa vida juntos. Há muito tempo nossos caminhos haviam se encontrado. Antes disso, por um tempo, fui submisso de alguém. Mas eu queria mesmo era estar do outro lado. Então, quando finalmente parti em busca de alguém que eu pudesse dominar, ela logo apareceu. No começo, foram meses de encontros casuais, apenas para pura satisfação carnal. Depois, começamos a passar os fins de semana juntos. Então, um belo dia, ela pediu para me servir 24/7.Eu podia fazer isso. Queria isso! Aceitei sem hesitação. Gostava de tê-la em casa, me servindo o tempo todo, todos os dias. Sendo submissa a mim vinte e quatro horas do meu dia. Era imensamente prazeroso. Quatro anos se passaram, e demorou um pouco para eu perceber que a amava de verdade. Queria que ela fosse minha para sempre. Quando a pedi em casamento, ela aceitou. Chorando, disse que também me desejava para eternidade.Com a data do casamento se aproximando, decidi que precisávamos de uma casa mai
GusDiante do espelho, encarava o meu reflexo. Um amigo havia me falado da Surrender, uma casa de BDSM onde boa parte das pessoas que frequentavam o lugar eram milionárias e submissas em busca de algo mais do que apenas submissão; ajuda financeira. Eu não sabia se estava indo para o lugar certo para mim, mas iria mesmo assim.Respirando fundo, apanhei o capacete na saída de casa e desci para o estacionamento do prédio. Ansioso, pilotei para a mansão. Ao chegar lá, ajeitando a roupa, sentindo-me levemente nervoso. Eu não estava me sentindo confiante como deveria. A minha intenção naquele lugar era algo que meus amigos praticantes chamam de impossível. Para eles, encontrar uma submissa disposta a se casar e constituir uma família, não passa de ilusão e fantasia. Ou você tem uma mulher para cada função ou escolhe apenas um dos dois mundos. Mas eu estou muito a fim de provar que eles estão errados. Posso ter o melhor dos dois com uma única pessoa na minha vida.De nariz em pé e boa postur
GusEu havia acordado antes do amanhecer do dia. Simplesmente havia sonhado com ela. Sonhado que havia a beijado. Meu plantão de dezoito horas só começaria às seis, mas às cinco eu já estava no hospital. Na verdade, no estacionamento, com a minha “motinha” parada na vaga dela. Escorado a Harley, esperei por Maya. Quando me viu, ela freou, e pelo para-brisas vi a sua cara zangada. Era linda até com raiva de mim. Não consegui conter um sorriso.Encaramo-nos por alguns segundos. Ela esperava que eu desse o fora dali, e eu esperava que ela descesse do carro. Maya não parecia que cederia fácil, mas eu também não. Cruzei os braços à frente do corpo, sem tirar meus olhos dela. Acho que uns cinco minutos se passaram até que, resmungando, ela desligou o motor e abriu a porta. Quando desceu, caminhei na sua direção.— Qual a porra do seu problema? — perguntou alto, brava. Sexy!Minhas mãos foram rápidas em segurar seus cabelos e a nuca, e puxá-la para mim. Minha boca foi mais rápida ainda em be
GusQuando as portas se abriram no andar da pediatria, uma médica a avistou e veio até ela, com cara de pesar.— Eu sinto muito — disse, abraçando Maya, que me olhou confusa.— O quê? — perguntou.A médica obstetra a soltou e encarou-a com olhos cheios de lágrimas.— As suas filhas tiveram sorte. A polícia já confirmou o óbito de oito criancinhas.Cale a boca!, minha mente gritou.O pavor preencheu totalmente a face e todo o resto do corpo da Maya. Ela olhou-me e depois para a mulher à sua frente.— Onde elas estão?— Cento e doze.Maya seguiu para o quarto e, assim que entrou, Mary saltou da poltrona onde estava, correndo para os braços da mãe, que a apanhou no colo.— Você está bem?Ela assentiu.— Eu me escondi no banheiro.Lágrimas começaram a rolar pela face da Maya.— Onde está a sua irmã?— Ela foi levada para um raio-x e deve ir para a sala do gesso em seguida. Foi apenas uma luxação — garanti.Maya se sentou na poltrona com Mary ainda agarrada a ela.— Mas o que foi que acont
MayaCheia de sono, cheguei no hospital para mais um plantão de dezoito horas. Há sete dias eu não sabia o que era dormir direito. Louise tinha pesadelos boa parte da noite. Acordava gritando, implorando por socorro em meio ao choro. Eu sempre levava horas para acalmá-la. Agora é ela quem não gosta mais do escuro. Mary já havia começado na nova escola, um lugar que prometia ser mais seguro. Porém, Louise mal conseguia olhar pela janela. Ainda não sabia o que ela tinha visto e vivido. Nem mesmo com a psicóloga ela falava. Meu pai e Clear estavam basicamente morando na minha casa para me ajudar com ela.— Você está péssima — disse Anne, ao se sentar ao meu lado no banco do vestiário.— Eu sei. Só essa noite foram quatro pesadelos.— Ela ainda não fala?— Só quando grita por ajuda enquanto dorme.— E como você está?— Como você mesma disse: péssima! Estou cansada, precisando de uma noite de sono e uma garrafa de vinho. Minhas costas doem e os ombros também.Apertei-os, empertigando a col
MayaOs dias que se seguiram estavam sendo estressantes. Não sabia se era porque eu e Augustus estávamos irritando muito um ao outro, ou porque cada dia mais eu me sentia atraída e cheia de vontade pelo cara desprezível. Não conseguir me livrar desses sentimentos também estava me deixando irritada.— Ele não é o seu paciente! — Fui rude com Augustus.— Jacob é o meu amigo e me quer aqui.Ela olhou para ele, que estava sentado na cama hospitalar.— É verdade — disse Jacob.Respirando fundo, busquei uma calma inexistente para não soar grosseira com o paciente.— Não precisamos do seu amigo aqui. Ele é apenas o cirurgião plástico — falei com desdém, fazendo Jacob rir. — Eu sou a cardiologista!— Essas mãos aqui salvam mais que corações, elas salvam a autoestima das pessoas! — Augustus disse completamente ofendido.Gargalhei.— Se eu não salvar um coração primeiro, você não tem autoestima para salvar — disse, virando de frente para ele, encarando-o firmemente.— Eu já estou muito estressa