Narrado por Dante O sangue em minhas mãos, em minha mente, tudo o que ela me fizera sentir, era mais do que eu poderia suportar. Eu a tinha machucado, mas o que mais doía era saber que, em algum lugar no fundo, ela ainda carregava a dor que eu causara. Mesmo com toda a raiva, todo o ódio que ela me dirigia, algo nela ainda me pertencia.Eu não sabia o que me tinha feito correr até ela, com a arma em mãos, tentando desarmá-la e protegê-la ao mesmo tempo. Ela estava me desafiando, sua fúria queimando em seus olhos. Ela queria que eu pagasse, que eu sentisse a dor que ela sentia, mas, naquele momento, eu também sentia. Estava claro que, no fim das contas, éramos ambos prisioneiros de nossas próprias escolhas, de nossas próprias crueldades.Quando eu a vi cair, a dor no meu peito foi insuportável. Meu corpo se moveu instintivamente, me aproximando dela, pegando-a antes que ela tocasse o chão. A sensação de sua fragilidade nos meus braços foi o golpe final. Eu tinha tirado tudo dela, e ag
Narrado por Dante Eu ouvi passos atrás de mim e me virei, vendo Luca parado, me observando com um olhar fixo.— Don, Enzo me informou que tudo no leilão se ajeitou. As únicas mulheres que sumiram com os corvos foram as mais novas, as virgens. Ele as interrogou, e elas disseram que a mulher com tatuagem de corvo perguntou a elas quem estava ali por vontade própria e quem havia sido sequestrada de suas famílias, quem queria continuar no leilão e quem queria segurança para poder ir embora.Aquelas palavras reverberaram na minha mente, e eu senti a tensão crescer. Mallory estava jogando suas peças com maestria. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Mas o que mais me incomodava era como ela conseguia manipular até as pessoas ao meu redor. Enzo não deveria ter falhado em proteger as mulheres, mas Mallory era habilidosa e, ainda mais, tinha conseguido cavar informações vitais sem que eu percebesse.— Obrigado por me informar. E algo sobre Lorenzo e Giovani? — Perguntei, tentando não mo
Narrado por Mallory Eu não sabia ao certo quanto tempo havia permanecido inconsciente. Minha mente vagava entre memórias fragmentadas e um vazio inquietante. Quando a consciência começou a retornar, foi acompanhada por uma sensação de desconforto crescente. Forcei meus olhos a se abrirem, mas a claridade suave do quarto fez com que ardessem, obrigando-me a fechá-los novamente.Quando finalmente consegui mantê-los abertos, encarei o ambiente ao meu redor. O quarto era estranho, impessoal e carregava uma frieza que me deixava desconfiada. A roupa que vestia tampouco me era familiar, e essa constatação fez meu coração disparar. Tentei me levantar, mas uma dor lacerante no abdômen me jogou de volta ao colchão, roubando todo o ar dos meus pulmões.Eu não podia ficar ali. Não importava o quanto meu corpo protestasse ou o quão frágil eu me sentisse; algo dentro de mim gritava que precisava sair. Respirei fundo e reuni toda a força que tinha, forçando meu corpo a obedecer. Com dificuldade, c
Narrado por Mallory Eu o observei enquanto ele permanecia imóvel, seus olhos fixos em mim, como se tentasse decifrar meus pensamentos. Era irritante, aquela calma mascarada por sua postura autoritária, como se tivesse tudo sob controle. Mas não tinha. Não quando eu ainda respirava, ainda lutava.Ele deu um passo para trás, quebrando o momento.— Você deve descansar, Mallory. Não há nada que possa fazer agora. — A voz dele era fria, mas havia algo ali. Culpa? Preocupação? Não importava.— Não preciso do seu conselho, Caruso. Muito menos da sua preocupação. — Rebati, mesmo que minha voz não tivesse a força que eu desejava.Ele suspirou, como se estivesse cansado, mas se recusava a demonstrar fraqueza.— Você está fraca. Precisa de tempo para se recuperar. O resto, discutimos depois.— Discutimos? — Soltei uma risada amarga, minha mão pressionando o ferimento em meu abdômen.O chão frio pressionava minhas pernas enquanto eu tentava controlar a respiração, mas cada movimento fazia o feri
Narrado por Dante Eu via a raiva nos olhos dela, mas também via uma parte de mim, um reflexo da dor que ela carregava. Eu não esperava perdão. Não esperava nada. O que eu fiz foi irreparável. Mas, por um momento, eu queria que ela soubesse a verdade. Que ela soubesse o quanto eu estava perdido naquele caos.Eu a olhei, esperando que ela me odiasse ainda mais, esperando que ela me destruísse com suas palavras. Mas ela apenas me encarou, em silêncio. E isso foi o suficiente para me fazer desejar, mais do que qualquer coisa, que eu tivesse feito as coisas de outra forma.Eu sabia que as palavras que eu disse não poderiam apagar o que havia acontecido, mas era a única verdade que eu podia oferecer a ela. Mesmo que o arrependimento pesasse sobre mim como uma carga impossível de suportar, eu não podia mudar o que já estava feito.Mallory ficou em silêncio por um longo momento, seus olhos fixos nos meus. Não sabia o que ela estava pensando, mas aquele silêncio era mais doloroso do que qualq
Narrado por Dante Eu olhei para ela, a dor de saber que eu a estava forçando a algo tão sombrio e sem sentido para ela me consumindo. Mas eu sabia que não havia outra escolha. E eu precisava que ela soubesse.— Sobre isso, não tem nada que eu possa fazer para que esse casamento não aconteça… — Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas, sabendo que nada seria suficiente para amenizar a dor dela. — Eu não sabia até pouco tempo, mas meu pai, quando ainda era Don, e o seu, antes de tudo, estavam arranjando esse casamento para selar a paz entre nossas máfias. A máfia tem regras, Mallory. Mesmo com a morte de uma família inteira, os sobreviventes, aqueles que foram destinados pelo contrato, têm que casar.Ela me olhou com uma mistura de raiva e cansaço, como se aquilo tudo fosse um fardo que ela não aguentava mais carregar.— E o que você quer que eu faça com isso, Dante? Que aceite? Que aceite que tudo isso seja decidido por contratos e regras feitas por homens que nunca se im
Narrado por Mallory Naquela noite, Dante entrou no quarto sem bater, como sempre fazia. O cheiro forte de álcool chegou até mim antes mesmo de sua voz. Ele parecia irritado, exalando uma aura de impaciência que tornava o ambiente ainda mais pesado. Decidi me manter calada, sabendo que qualquer palavra minha poderia ser o estopim para uma discussão inútil.— Mallory, amanhã partimos para Roma. O jatinho particular estará nos esperando cedo. Não tente fugir — disse ele, em um tom seco, carregado de autoridade. — E, para sua segurança, estou levando um médico. Você ainda não está completamente curada.Continuei em silêncio, tentando ignorá-lo. Talvez fosse o álcool ou apenas sua natureza controladora, mas ele parecia mais insuportável do que nunca.— Você está me ouvindo? — ele repetiu, visivelmente irritado com a minha falta de resposta.Respirei fundo, finalmente me virando para ele. — O que você quer de mim, Dante? Que eu diga “tudo bem, meu amor, estou pronta e radiante para conhece
Narrado por Dante Acordei antes do sol nascer, o peso da responsabilidade me pressionando antes mesmo de abrir os olhos. Roma ainda dormia, mas minha mente já estava em alerta, calculando os próximos passos. Mallory estava na casa agora, e isso mudava tudo.Passei as mãos pelo rosto, tentando afastar o cansaço que parecia constante. Levantei da cama e caminhei até a janela. A vista era exatamente como eu lembrava: a cidade eterna, imponente e imutável, com suas cúpulas e ruas antigas, como se o tempo tivesse medo de tocá-la. Mas o meu mundo estava longe de ser intocado. Ele estava em chamas, e Mallory era o combustível.Ela era imprevisível, uma força da natureza que eu sabia que precisava controlar. Mas havia algo nela que me deixava inquieto, uma energia que eu não conseguia decifrar completamente. Ela me odiava, isso era claro, mas havia algo mais. Algo que ela escondia tão bem quanto sua dor.Decidi ir até o quarto dela. Precisava verificar se estava tudo sob controle. Enquanto c