Narrado por Dante — Eu te procurei por todos esses quatro anos, te cacei em cada canto desse mundo, mas não te encontrei. Então, meu pai e os conselheiros começaram a me pressionar, me obrigando a me casar. Viemos aqui, conhecer a família e a mulher em questão. Depois que o acordo foi fechado, eu precisei sair daquela sala. Eu iria me casar, mas não por amor.Fiz uma pausa, tentando juntar as palavras certas, mas a verdade estava me sufocando. Olhei para ela, mas o que vi não era a mulher com quem eu iria me casar. Era o rosto de Mallory, como sempre foi, em cada mulher que se aproximava, e agora isso parecia uma ironia cruel.— Eu olhei para ela, mas tudo o que via era o seu rosto nela. Eu te amei, Mallory, e ainda te amo. Durante todos esses anos, não consegui te esquecer, e não consigo parar de pensar em você, nem por um segundo. Sei que tudo entre nós sempre foi complicado, sempre houve mais sombras do que luz, mas saber que temos um filho… Eu quero isso, Mallory. Eu quero ser pa
Narrado por Mallory Eu observei Pietro correr de volta para dentro da loja, seu pequeno corpo desaparecendo entre as prateleiras coloridas. Ele estava animado, alheio ao turbilhão de emoções que Dante e eu estávamos enfrentando ali, do lado de fora.Respirei fundo antes de erguer os olhos para Dante. O peso daquele momento parecia esmagador, mas eu precisava manter a clareza, precisava ser firme.— Acho que tudo o que eu poderia dizer, Pietro já disse por mim — minha voz saiu controlada, mas havia um cansaço evidente nela. Um cansaço que vinha de anos de mágoas, de lutas, de tentativas frustradas de seguir em frente. — Sei dos meus erros, mas não sou a única culpada disso tudo. Nós dois fizemos nossas escolhas. Algumas erradas, outras necessárias.Dante me encarava, os olhos escuros carregando algo que eu não sabia se era arrependimento ou apenas o peso de tudo o que havia perdido.Respirei fundo novamente antes de continuar:— Se você quiser uma chance no futuro, eu estou disposta a
Narrado por Mallory Meu nome é Mallory Scott. Nasci e cresci sob as luzes mais brilhantes da América, na cidade que nunca dorme: Nova York. Minha vida sempre pareceu perfeita, ou pelo menos, era isso que eu acreditava. Minha mãe morreu ao me dar à luz, mas isso nunca diminuiu o amor que meu pai tinha por mim e por meus irmãos, frutos de outro casamento. Ele era o tipo de homem que carregava o peso do mundo nos ombros, mas em casa, com a gente, era puro afeto. Lembro-me do som de sua risada ecoando pela sala e do aroma de bolinhos e bolachas frescas que sempre preenchia o ar. Eu sabia que havia sombras em Nova York. Sussurros sobre a máfia, olhares furtivos e nomes que ninguém ousava pronunciar em voz alta. Meu pai era o Don dos Corvos Negros, mas, para mim, ele era apenas meu herói. Mesmo assim, naquela época, esses segredos pareciam tão distantes quanto as estrelas. Até que ele apareceu. Até que Dante Caruso cruzou o nosso caminho. Eu tinha apenas 8 anos quando tudo mudou.
Narrado por Dante Meu nome é Dante Caruso, Don da ’Ndrangheta italiana. Hoje, aos 30 anos, carrego o peso de decisões que marcaram minha alma para sempre. O fardo de erros que me moldaram e, ao mesmo tempo, me arruinaram. Mas quando tudo começou, eu era apenas um jovem de 20 anos. Jovem demais, impulsivo demais, cego demais pela dor de uma perda que eu sequer sabia como enfrentar. Meu irmão era meu espelho. Nele, eu enxergava o reflexo do homem que aspirava ser. Dividíamos sonhos, lealdades e a insígnia do nome Caruso. Ele não era apenas meu irmão; era meu porto seguro, meu equilíbrio. E foi exatamente esse amor incondicional que me cegou. Sua morte foi como um punhal cravado no peito, mas não o tipo de ferida que mata. Era o tipo que sangra lentamente, consumindo cada pedaço de quem você é. Quando ele foi assassinado, não houve racionalidade. Não houve pausa. Jurei vingança no mesmo instante. Eu destruiria quem quer que tivesse ousado tirar meu irmão de mim. Todas as pistas apon
Narrado por Mallory As paredes do pequeno apartamento em que me escondo são frias e vazias, refletindo exatamente como me sinto. Dez anos. Uma década que parece uma eternidade e, ao mesmo tempo, um instante. Tempo suficiente para me moldar, para apagar traços da menina que fui, mas jamais o bastante para silenciar o peso do meu sobrenome ou as cicatrizes que carrego. Cicatrizes invisíveis ao mundo, mas gravadas profundamente em mim. Sou Mallory Scott, a última sobrevivente de uma linhagem que foi massacrada sem piedade. O nome Caruso tem sido um sussurro constante em meus pesadelos, o eco persistente de uma noite que destruiu tudo. Eu tinha apenas 10 anos. Era uma criança, e talvez por isso nunca tenha entendido por que alguém faria o que fizeram. Lembro-me do som dos tiros que reverberavam pelos corredores da mansão, dos gritos desesperados da minha mãe, da expressão de pânico do meu pai enquanto tentava nos proteger. Mas, acima de tudo, lembro-me dele. Dante Caruso. Seus olhos
Narrado por Dante As luzes do salão em Milão eram ofuscantes, refletidas nos lustres de cristal que pendiam do teto, como estrelas aprisionadas. A cada passo, eu sentia os olhares. Alguns eram de reverência, outros de curiosidade, mas todos sabiam quem eu era, mesmo que o anonimato fosse parte do jogo daquela noite. A máscara que cobria metade do meu rosto era um símbolo, não uma proteção. Não há esconderijo para um homem como eu.O Baile à Fantasia era mais do que uma simples exibição de poder e status. Para mim, era um terreno de oportunidades, alianças e, acima de tudo, controle. A presença de um Caruso em eventos como esse era uma mensagem clara: a ’Ndrangheta não apenas existia, mas prosperava.Caminhei pelo salão com passos firmes, observando cada rosto, cada gesto. Reconhecia alguns pelos olhos, outros pela postura. O mundo do crime tem seus próprios códigos, e, mascarados ou não, ninguém é verdadeiramente anônimo aqui.As taças de champanhe circulavam, e o som de risadas e co
Narrado por Dante Fiquei parado no meio do salão, tentando processar o que acabara de acontecer. A música continuava, os convidados riam e brindavam como se nada tivesse acontecido. Mas dentro de mim, um alerta soava como um sino ensurdecedor.Passei a mão pelo corte em meu pescoço novamente, sentindo o calor do sangue que começava a escorrer. Um corte superficial, mas suficiente para enviar uma mensagem clara: ela poderia ter me matado, mas escolheu não fazê-lo.Meus homens se aproximaram rapidamente, percebendo minha expressão sombria.— Don, o que houve? — perguntou Marco, um de meus guardas mais confiáveis.— Fechem as portas. Quero que todos os convidados sejam interrogados. Ninguém sai daqui sem a minha autorização.Marco assentiu e começou a dar ordens. O salão rapidamente mergulhou em um caos controlado enquanto meus homens bloqueavam todas as saídas.Ela estava aqui, em algum lugar. Não poderia ter desaparecido tão rápido.Me aproximei de Enzo, meu braço direito, que mantinh
Narrado por Mallory As ruas de Milão brilhavam sob a luz amarelada dos postes enquanto eu caminhava de volta ao meu esconderijo. Ainda podia sentir o calor da mão de Dante em minha cintura, o toque firme que contrastava com a lâmina fria que segurei contra seu pescoço momentos antes. O Don. O homem que destruiu minha família. Ele não mudou nada. Ainda exalava poder, arrogância e uma confiança que me enojava.Mas havia algo mais. Algo que me fez hesitar.Não era medo. Não era arrependimento. Era dúvida.Por anos, imaginei esse momento. Como seria encará-lo, fazê-lo pagar pelo sangue que derramou, pela vida que destruiu. E, no entanto, quando as luzes se apagaram e tive a chance de acabar com ele, hesitei. Não por piedade, mas porque algo não parecia certo.Por que ele hesitou? Ele poderia ter me parado, mas escolheu ouvir, quase como se reconhecesse meu ódio, como se soubesse que eu tinha o direito de estar ali.Enquanto subia as escadas do pequeno apartamento onde me escondia, revivi