Narrado por Dante Eu olhei para ela, a dor de saber que eu a estava forçando a algo tão sombrio e sem sentido para ela me consumindo. Mas eu sabia que não havia outra escolha. E eu precisava que ela soubesse.— Sobre isso, não tem nada que eu possa fazer para que esse casamento não aconteça… — Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas, sabendo que nada seria suficiente para amenizar a dor dela. — Eu não sabia até pouco tempo, mas meu pai, quando ainda era Don, e o seu, antes de tudo, estavam arranjando esse casamento para selar a paz entre nossas máfias. A máfia tem regras, Mallory. Mesmo com a morte de uma família inteira, os sobreviventes, aqueles que foram destinados pelo contrato, têm que casar.Ela me olhou com uma mistura de raiva e cansaço, como se aquilo tudo fosse um fardo que ela não aguentava mais carregar.— E o que você quer que eu faça com isso, Dante? Que aceite? Que aceite que tudo isso seja decidido por contratos e regras feitas por homens que nunca se im
Narrado por Mallory Naquela noite, Dante entrou no quarto sem bater, como sempre fazia. O cheiro forte de álcool chegou até mim antes mesmo de sua voz. Ele parecia irritado, exalando uma aura de impaciência que tornava o ambiente ainda mais pesado. Decidi me manter calada, sabendo que qualquer palavra minha poderia ser o estopim para uma discussão inútil.— Mallory, amanhã partimos para Roma. O jatinho particular estará nos esperando cedo. Não tente fugir — disse ele, em um tom seco, carregado de autoridade. — E, para sua segurança, estou levando um médico. Você ainda não está completamente curada.Continuei em silêncio, tentando ignorá-lo. Talvez fosse o álcool ou apenas sua natureza controladora, mas ele parecia mais insuportável do que nunca.— Você está me ouvindo? — ele repetiu, visivelmente irritado com a minha falta de resposta.Respirei fundo, finalmente me virando para ele. — O que você quer de mim, Dante? Que eu diga “tudo bem, meu amor, estou pronta e radiante para conhece
Narrado por Dante Acordei antes do sol nascer, o peso da responsabilidade me pressionando antes mesmo de abrir os olhos. Roma ainda dormia, mas minha mente já estava em alerta, calculando os próximos passos. Mallory estava na casa agora, e isso mudava tudo.Passei as mãos pelo rosto, tentando afastar o cansaço que parecia constante. Levantei da cama e caminhei até a janela. A vista era exatamente como eu lembrava: a cidade eterna, imponente e imutável, com suas cúpulas e ruas antigas, como se o tempo tivesse medo de tocá-la. Mas o meu mundo estava longe de ser intocado. Ele estava em chamas, e Mallory era o combustível.Ela era imprevisível, uma força da natureza que eu sabia que precisava controlar. Mas havia algo nela que me deixava inquieto, uma energia que eu não conseguia decifrar completamente. Ela me odiava, isso era claro, mas havia algo mais. Algo que ela escondia tão bem quanto sua dor.Decidi ir até o quarto dela. Precisava verificar se estava tudo sob controle. Enquanto c
Narrado por Teresa Eu observava tudo ao meu redor com a paciência de quem já viveu uma vida inteira nas sombras do poder. Sou casada com o antigo Don da Itália, Enrico, e mãe do atual, Dante. A posição que ocupo me ensinou a ser estratégica, a ler as pessoas antes mesmo que abram a boca. E agora, enquanto olho para o caos silencioso que Mallory trouxe para esta casa, não posso evitar as memórias do passado.Vi de perto como tudo mudou depois da morte de Stefano, meu filho mais velho. Ele era o herdeiro natural, um líder nato, equilibrado e astuto. Mas sua perda foi como uma bomba, destruindo tudo o que tocava, principalmente Dante. O ódio e a sede de vingança o consumiram, transformando-o no homem que ele é hoje – um homem perigoso, imprevisível e, acima de tudo, cego pela raiva.Quando Stefano morreu, Dante fez o impensável: declarou guerra contra os Scott, uma das famílias mais poderosas da Itália. Ele não só matou o patriarca, mas exterminou todos que carregavam aquele sobrenome.
Narrado por Mallory Eu podia sentir os olhos de Teresa sobre mim enquanto comia, cada olhar dela carregado de algo que eu não podia ignorar — medo. Tentava disfarçar, mas era óbvio. O modo como me observava, como se eu fosse capaz de pegar a faca em minhas mãos a qualquer momento e acabar com ela, me fez quase sorrir. Mas a verdade era que ela não era minha inimiga. Não era ela quem havia tirado tudo de mim. Eu sentia um ódio profundo por essa família, mas o responsável por tudo, o verdadeiro inimigo, estava bem ali, bem na minha frente: Dante. Ele era o único que deveria pagar. Ele era o único que deveria sofrer.Terminei de comer, ainda sentindo o peso da presença de Teresa, mas resolvi me levantar e sair dali. Antes que eu pudesse me mover, a porta da casa se abriu e um homem grisalho entrou. Seus olhos se encontraram com os meus, e pude ver algo ali que não consegui identificar de imediato — um leve tremor, uma reação sutil, como se me visse como algo mais, algo que ele temia. Eu
Narrado por Mallory Enquanto eu continuava a andar pelo jardim, aproveitando o ar livre para reorganizar meus pensamentos, senti um braço forte agarrar meu pulso. O aperto era firme, quase doloroso, mas não o suficiente para me deter. Mesmo ferida, minha força não havia sido totalmente comprometida.Virei-me bruscamente, e meu olhar caiu sobre o soldado que me acompanhava. Sua expressão era de puro desdém, e sua voz cortou o ambiente como uma lâmina afiada:— Você se acha demais, não acha? Não passa de uma puta que o Don não conseguiu matar.As palavras dele foram como combustível em uma chama que já queimava dentro de mim. Ele escolheu o pior dia para me provocar, e, antes que pudesse reagir, eu agi.Com um movimento rápido, desferi um golpe certeiro no lado de seu rosto, jogando-o no chão. Ele ficou imóvel, surpreso com a força que eu ainda possuía. Em um único gesto ágil, alcancei a arma que estava presa nas suas costas e a segurei firme. Antes que ele pudesse implorar ou sequer e
Narrado por Dante Eu não a puni e deixei passar. Meus soldados me lançaram olhares confusos, mas eu não dei explicações. A verdade era que, se algum deles tivesse feito algo a ela—tocado-a, insultado-a—eu mesmo teria lidado com ele. E teria sido dez vezes pior.Saí dali com a cabeça fervendo. Tudo em mim gritava para ir até ela, mas eu lutava contra o impulso. Mallory era como um ímã, e quanto mais eu tentava manter distância, mais forte era a atração. Ela me desafiava, me provocava, me desarmava de maneiras que nenhuma outra pessoa jamais havia feito.Sem perceber, meus pés me levaram até ela. Quando entrei na sala, encontrei minha mãe sentada em uma poltrona, a postura rígida e o olhar fixo em Mallory, que estava no sofá, olhando pela janela.Minha mãe observava Mallory com a intensidade de quem tentava decifrar um enigma impossível. Havia um misto de curiosidade e cautela em seu olhar, como se Mallory fosse uma fera indomável que ela precisasse entender antes de decidir como lidar
Narrado por Mallory Eu estava cansada. Cansada de ser forte o tempo todo, cansada de fingir que tudo estava bem, como se eu fosse uma pedra, inabalável e fria. Mas, por dentro, eu estava quebrada. As palavras de Enrico ainda ecoavam em mim como uma sombra, algo que não poderia escapar, algo que me prendia, me consumia.Era como se eu soubesse apenas uma parte da história. A minha história. Só sabia sobre a dor, a perda, o vazio. E, agora, ao contrário de tudo o que tentei esconder, comecei a me sentir vulnerável. Aquele desejo de vingança, de destruição, já não fazia mais tanto sentido. Eu só queria entender o que estava acontecendo, entender o que me fez ser quem eu sou, entender o que me tornava tão obcecada por respostas.Eu não deveria me importar. Dante era um homem que eu queria ver de joelhos, que eu desejava destruir, mas, por alguma razão que eu não conseguia controlar, ele ainda me intriga. A morte de seu irmão, a forma como ele se fechou sobre isso, e a ideia de que ningué