Narrado por Dante A noite estava exatamente como planejada, com os Aliados e compradores chegando pontualmente, trazendo consigo os olhares de cobiça que sempre acompanhavam eventos como este. O leilão de Sicília era conhecido por sua grandiosidade, mas também pela sua precisão. Nada era deixado ao acaso. Cada detalhe havia sido ajustado para garantir que ninguém — muito menos Mallory — fosse capaz de arruinar a noite.Primeiro, as drogas. O ar no salão parecia mais pesado enquanto os produtos eram apresentados. Eu sabia que a qualidade falava por si, e os compradores não hesitariam em abrir suas carteiras. A competição era acirrada, e os valores subiam em um ritmo frenético, exatamente como planejado.Depois, as armas. Peças raras, de altíssimo calibre, projetadas para eliminar inimigos com eficácia e estilo. O brilho metálico reluzia sob as luzes do salão, e os sussurros dos interessados mostravam que essa parte também seria um sucesso.Porém, o grand finale era o que todos aguarda
Narrado por Dante Os tiros começaram e, para minha surpresa, muitos dos soldados que eu tinha considerado aliados estavam atirando em meus homens. Ao olhar de perto, notei a tatuagem de um corvo, e a percepção me atingiu com a força de um soco no estômago. Ela havia conseguido infiltrar mais pessoas do que eu imaginava em meu próprio meio. Homens que eu achava que eram apenas compradores estavam agora disparando contra os meus.O radinho apitou, interrompendo o caos.— Chefe, eles já tiraram metade das mulheres dos contêineres.O sangue ferveu em minhas veias. Corri o mais rápido que pude em direção ao ponto de extração, sentindo o peso de cada segundo perdido, cada movimento em falso. Quando finalmente saí para fora, ali estava ela, a tormenta da minha mente, a razão por trás de tantas noites sem sono e tantas decisões erradas.Ela estava com uma roupa justa preta, que se ajustava ao seu corpo como se fosse feita sob medida, um contraste imenso com sua postura firme e controlada. Se
Narrado por Mallory Eu queria me manter forte, como sempre fui, equilibrada, imune à dor, mas o sangue que escorria da minha barriga fazia minhas forças vacilarem. Cada respiração era mais difícil que a anterior, e meus olhos, pesados, pareciam querer se fechar. No entanto, o ódio dentro de mim era maior, mais forte, me mantendo consciente, me mantendo focada na única coisa que importava agora: minha vingança.Dante estava ali, como uma sombra do passado, tentando entender o porquê de tudo o que fiz. Ele queria saber o que me movia, como se pudesse racionalizar a dor que ele causou. Mas ele nunca poderia entender. Ele não poderia sentir o que eu senti.— Você tirou tudo de mim, Dante. — Minha voz soou rouca, mas firme. Cada palavra carregava um peso imenso, uma história de dor e perda. — Matou minha família diante de meus olhos. Eu vi tudo. Vi quando minha madrasta implorou por seus filhos, vi ela gritar por misericórdia enquanto você a ignorava, vi meu pai lutar sozinho, sem esperan
Narrado por Dante O sangue em minhas mãos, em minha mente, tudo o que ela me fizera sentir, era mais do que eu poderia suportar. Eu a tinha machucado, mas o que mais doía era saber que, em algum lugar no fundo, ela ainda carregava a dor que eu causara. Mesmo com toda a raiva, todo o ódio que ela me dirigia, algo nela ainda me pertencia.Eu não sabia o que me tinha feito correr até ela, com a arma em mãos, tentando desarmá-la e protegê-la ao mesmo tempo. Ela estava me desafiando, sua fúria queimando em seus olhos. Ela queria que eu pagasse, que eu sentisse a dor que ela sentia, mas, naquele momento, eu também sentia. Estava claro que, no fim das contas, éramos ambos prisioneiros de nossas próprias escolhas, de nossas próprias crueldades.Quando eu a vi cair, a dor no meu peito foi insuportável. Meu corpo se moveu instintivamente, me aproximando dela, pegando-a antes que ela tocasse o chão. A sensação de sua fragilidade nos meus braços foi o golpe final. Eu tinha tirado tudo dela, e ag
Narrado por Dante Eu ouvi passos atrás de mim e me virei, vendo Luca parado, me observando com um olhar fixo.— Don, Enzo me informou que tudo no leilão se ajeitou. As únicas mulheres que sumiram com os corvos foram as mais novas, as virgens. Ele as interrogou, e elas disseram que a mulher com tatuagem de corvo perguntou a elas quem estava ali por vontade própria e quem havia sido sequestrada de suas famílias, quem queria continuar no leilão e quem queria segurança para poder ir embora.Aquelas palavras reverberaram na minha mente, e eu senti a tensão crescer. Mallory estava jogando suas peças com maestria. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Mas o que mais me incomodava era como ela conseguia manipular até as pessoas ao meu redor. Enzo não deveria ter falhado em proteger as mulheres, mas Mallory era habilidosa e, ainda mais, tinha conseguido cavar informações vitais sem que eu percebesse.— Obrigado por me informar. E algo sobre Lorenzo e Giovani? — Perguntei, tentando não mo
Narrado por Mallory Eu não sabia ao certo quanto tempo havia permanecido inconsciente. Minha mente vagava entre memórias fragmentadas e um vazio inquietante. Quando a consciência começou a retornar, foi acompanhada por uma sensação de desconforto crescente. Forcei meus olhos a se abrirem, mas a claridade suave do quarto fez com que ardessem, obrigando-me a fechá-los novamente.Quando finalmente consegui mantê-los abertos, encarei o ambiente ao meu redor. O quarto era estranho, impessoal e carregava uma frieza que me deixava desconfiada. A roupa que vestia tampouco me era familiar, e essa constatação fez meu coração disparar. Tentei me levantar, mas uma dor lacerante no abdômen me jogou de volta ao colchão, roubando todo o ar dos meus pulmões.Eu não podia ficar ali. Não importava o quanto meu corpo protestasse ou o quão frágil eu me sentisse; algo dentro de mim gritava que precisava sair. Respirei fundo e reuni toda a força que tinha, forçando meu corpo a obedecer. Com dificuldade, c
Narrado por Mallory Eu o observei enquanto ele permanecia imóvel, seus olhos fixos em mim, como se tentasse decifrar meus pensamentos. Era irritante, aquela calma mascarada por sua postura autoritária, como se tivesse tudo sob controle. Mas não tinha. Não quando eu ainda respirava, ainda lutava.Ele deu um passo para trás, quebrando o momento.— Você deve descansar, Mallory. Não há nada que possa fazer agora. — A voz dele era fria, mas havia algo ali. Culpa? Preocupação? Não importava.— Não preciso do seu conselho, Caruso. Muito menos da sua preocupação. — Rebati, mesmo que minha voz não tivesse a força que eu desejava.Ele suspirou, como se estivesse cansado, mas se recusava a demonstrar fraqueza.— Você está fraca. Precisa de tempo para se recuperar. O resto, discutimos depois.— Discutimos? — Soltei uma risada amarga, minha mão pressionando o ferimento em meu abdômen.O chão frio pressionava minhas pernas enquanto eu tentava controlar a respiração, mas cada movimento fazia o feri
Narrado por Dante Eu via a raiva nos olhos dela, mas também via uma parte de mim, um reflexo da dor que ela carregava. Eu não esperava perdão. Não esperava nada. O que eu fiz foi irreparável. Mas, por um momento, eu queria que ela soubesse a verdade. Que ela soubesse o quanto eu estava perdido naquele caos.Eu a olhei, esperando que ela me odiasse ainda mais, esperando que ela me destruísse com suas palavras. Mas ela apenas me encarou, em silêncio. E isso foi o suficiente para me fazer desejar, mais do que qualquer coisa, que eu tivesse feito as coisas de outra forma.Eu sabia que as palavras que eu disse não poderiam apagar o que havia acontecido, mas era a única verdade que eu podia oferecer a ela. Mesmo que o arrependimento pesasse sobre mim como uma carga impossível de suportar, eu não podia mudar o que já estava feito.Mallory ficou em silêncio por um longo momento, seus olhos fixos nos meus. Não sabia o que ela estava pensando, mas aquele silêncio era mais doloroso do que qualq