O escritório do chefe da Casa era cheio de livros, lembrando a uma pequena biblioteca. As cores da Casa Bourbon estavam estampadas em um lado da parede, e a luz do sol de cedo da manhã entrava pelas janelas, refletindo-as sobre a mesa rica de pau-brasil. Hélder estava cuidadosamente analisando alguns papéis quando Charlie bateu na porta, Klaus ao seu lado e segurando-se à alça de sua bolsa. O professor ergueu os olhos e gesticulou para que ambos entrassem.
— Entrem, vocês dois.
Klaus e Charlie entraram no escritório e sentaram-se nas duas cadeiras em frente à mesa dele. Hélder retirou seus óculos de leitura com um suspiro, pousando-os na mesa e gesticulando para Klaus com os papéis que estivera segurando.
— Esses são as suas avaliações. O que você achou delas, Henke?
Com isso, "Alice" mal arqueou as sobrancelhas.
— Elas foram... adequadamente desafiadoras. — Ele olhou para Charlie, que esta observando-o pelo canto dos olhos. O monitor não parecia nem um pouco apreensivo.
Hélder pensou um pouco e assentiu.
— Bom, claramente elas foram "adequadas" para você, considerando que você foi o único dos três novos alunos que realmente atingiu uma média de noventa.
Charlie pareceu surpreso e até que profundamente aliviado, enquanto o queixo de Klaus caiu. Seus olhos iluminaram-se e ele estava prestes a falar algo quando Hélder o interrompeu.
— Espere. Antes que você fique feliz demais...
Os dois o encaram, confusos. Hélder pareceu um pouco desconfortável.
— Olha, Henke, eu tentei falar com o homem, mas ele ficou de pé firme. Você tirou as melhores notas entre os três novos alunos e suas avaliações provaram isso, mas o Professor Mandrak disse que enquanto você teve uma nota... adequada no exame, ele não está muito satisfeito.
— O que você quer dizer? — Klaus franziu a testa.
Hélder entrelaçou os dedos sobre a mesa.
— Você foi excelente, e as questões acadêmicas provavelmente serão mais fáceis para você agora. Mas a avaliação do Professor Mandrak foi a sua nova mais baixa, e ele quer que você tenha aulas extras para a matéria dele.
Klaus o encarou, tentando prever o que seria dito, e quase levantou do seu assento quando Hélder acrescentou:
— … e por isso você deve direcionar-se para a Casa Canossa depois das aulas pelas próximas duas semanas, para aulas extras sobre o assunto com o monitor, Lorenzo Wilgard.
— Eu realmente sinto muito...
— Já falei pra parar de se desculpar — disse Saulo, fingindo olhar firmemente para o garoto que agora estava tentando ajudá-lo a arrumar os curativos. Raul tinha, com um pulo inacreditavelmente não-gracioso, quase derrubado-o no chão depois que seus sentidos superaram o choque de ver Saulo vivo próximo a sua cama. Claro que o outro garoto fora atingido alastradamente, mas parecia que Saulo estava bem disposto a sofrer mais danos se isso significasse que Raul teria tal reação ao vê-lo.
Klaus passara por ali apenas brevemente para trocar-se para a escola, e nem sequer olhou para os dois — Raul estava trocando os curativos de Saulo — até que estava saindo, quando disse para eles não matarem Andorinha enquanto ele estava morando com eles.
Saulo não prometeu nada.
— Para ser honesto, estou feliz que foi em mim que você pulou — disse Saulo, sorrindo abertamente. — Porque meus reflexos estão de matar agora. Qualquer outro teria saído do caminho, e você teria caído no chão e estaríamos pondo curativo em você agora...
Raul ameaçou bater nele com o kit de primeiros-socorros, mas Saulo apenas caiu na risada. Enquanto Raul arrumava os tortos curativos no seu braço, Saulo adicionou distraidamente, claramente sem pensar:
— Uau, se você reage assim quando me vê, só posso imaginar o que você faria se fosse sua namorada.
Com isso, o outro garoto corou até o coro cabeludo. Ele não olhou para ele ou resondeu, e estava tão quieto por um tempo que Saulo franziu a testa um pouco.
— Não? Nada de namorada? Ou não é o termo certo? — Ele piscou quando não recebeu resposta. Ele começou a ficar apreensivo. — Namorado, então? É um namorado que você tem? Ou... eu estou me fazendo de idiota aqui e deveria só calar a boca como Brayan vive dizendo para eu fazer... e eu ainda estou falando! Uau, incrível. Sinto muito... — Ele olhou para Raul e puxou seu braço.
Raul, porém, balançou a cabeça e puxou o braço de volta, continuando o que estava fazendo. Saulo mexeu-se, desconfortável com o silêncio.
— … Raul...
— Não é sua culpa que você não pode descobriu, porque nem eu consigo... — murmurou Raul suavemente. Ele podia dizer que isso confundiu Saulo, então acrescentou: — Ainda estou trabalhando nisso. Eu... não sei como me identifico mas sabe... — E então ele o olhou com um sorrisinho. — Acho que Klaus tem razão. Rótulos são desnecessários e contando que eu tenha todo mundo... Sinto que vou ficar bem e tudo dará certo no final. E não... — Ele ficou vermelho de novo, terminando o curativo no braço. — Nem namorada nem namorado.
Com a vista do sorriso e a mudança no tom, Saulo sentiu-se melhor.
— Bom, pelo menos me diga que alguém como você já foi beijado. Quer dizer, se não, não tem mais esperança para o resto do mundo, sabe.
O rosto vermelho de Raul o surpreendeu. Saulo o encarou e disse:
— Não... Você não está dizendo...
— Não é... algo que eu já tenha pensado — murmurou Raul. — Nunca... quer dizer... eu nunca... na verdade... bom, isso. Nunca. Klaus e eu podemos ter isso em comum. — Ele parou, e revirou os olhos. — Bom, não mais, depois de Brayan e ele...
— Não diga. — Saulo o encarou.
— Por que você acha que eu estava tão preocupado durante o Ano Novo? — Raul riu roucamente, finalmente soltando o curativo ao redor da cabeça de Saulo mesmo que suas mãos estivessem tremendo. Um pouco de betadine tinha embaraçado os cachos negros. Ele teve que sorrir. — Uma festa com as luzes se apagando e todo mundo beijando alguém... Mas no final eu não tive que me preocupar.
Saulo estava a uma respiração de distância. Eles estavam próximos assim.
— … você achou... que eu ia te beijar?
Raul ficou vermelho.
— Ah... bem... O pensamento... Bom, esse tipo de festa... — Saulo estava mais próximo agora, mas ele parecia sério. Raul apenas sorriu fracamente. — O quê?
— Eu nunca teria pensado em te beijar lá, sabe.
Por que os humanos tinham que ter essas emoções que eles não conseguiam nomear? Que era surpresa, desapontamento e alívio, tudo ao mesmo tempo? Palavras eram inúteis para essas coisas. Se as coisas fossem do jeito de Raul, ele nomearia todas elas. Ele vivenciavas todas, afinal.
— Ah... — murmurou ele. — Bom, ok.
Saulo ainda estava próximo.
— Você sabe como eu ago, mas eu nunca te machucaria. Você sabe disso, certo? — Ele gesticulou um pouco. — Não quero que as coisas fiquem estranhas. Estou tentando ser bom, lembra? — Ele sorriu um pouco.
Era tão diferente daquele outro sorriso — o alegre. Raul estava um pouco confuso, mas corou e abaixou os olhos para suas mãos.
— É. Você está sendo bom. E isso significa... muito alívio para o Brayan, tenho certeza.
Saulo finalmente encostou-se. Ele estava um pouco vermelho e agora não conseguia olhar para ele. Raul piscou.
— Que foi?
O outro garoto apenas deu de ombros suavemente, balançando a cabeça.
— O quê? — Raul riu, acotovelando-o. Saulo melodramaticamente fez uma careta como se tivesse sido mortalmente ferido. Raul riu ainda mais. Mas Saulo apenas balançou a cabeça, o rosto ainda vermelho.
— … não faça isso. Com qualquer outra pessoa.
— Fazer o quê?
Saulo não o olhou.
— … quando eu me inclinei tão perto... foi tão perto. E você... você nunca se afastou. Você só... — Ele deu de ombros. — Deixou acontecer. — Ele o olhou brevemente. — Você não deveria deixar ninguém invadir o seu espaço assim. Mesmo com os maníacos aqui. Você não tem medo de que eles fossem fazer alguma coisa, estando tão perto?
Raul piscou serenamente para ele, sua resposta finita — principalmente porque era verdade.
— Nunca tenho medo de você.
Com tais palavras, Saulo encarou Raul, tentando com grande dificuldade não sorrir, e aquele sorriso começou a aumentar até que estava tão grande no seu rosto que Raul ficou vermelho e levantou-se para guardar o kit de primeiros-socorros.
— Ah, cale a boca, Saulo.
— O quê? — Saulo sorriu cegamente, parecendo absolutamente ridículo. — Eu não estava...
— Sim, você estava. E você só devia... — Ele gesticulou fracamente, sabendo que tinha caído no buraco. — … acalmar o que... o que quer que seja... que se passa nessa cabeça cacheada sua...
— Você também tem uma — comentou Saulo com um sorriso torto.
Raul suspirou, mas gentilmente.
— Posso ver porque Brayan tem problemas com você.
Mas ele sorriu para ele e Saulo nunca estivera mais grato que ele fora a primeira pessoa que ele quisera ver. Talvez não fosse a declaração de amor que Saulo gostaria, mas estava claro que Raul, pensasse o que fosse sobre ele, estava disposto a suportar sua presença.
Charlie caminhou pelo corredor com Klaus mesmo que não precisasse. Enquanto os corredores começaram a encher-se com alunos em uniforme, direcionando-se para suas respectivas salas, Charlie olhou ao redor como se garantindo que a área estava limpa antes que pudesse dizer o que estava pensando.
— Certo, Henke — começou ele. — Eu ouvi... sabe, um pouco do que aconteceu. A coisa com você e Brayan?— O fato de nós agora estarmos namorando é uma coisa? — Klaus arqueou uma sobrancelha com um sorriso leve, incerto de como falar com o monitor.Mas Charlie apenas sorriu.— Sim, isso. — Mas ele ainda ficou sério. — Enfim, essas aulas com o Lorenzo. Quero que você saiba que no momento que ele aprontar algo ou qualquer coisa, você me conta, entendeu?Klaus lançou-lhe um olhar engraçado.— … o quê?— Sei que você está com o Brayan agora, e que Lorenzo com vocês dois por um tempinho. Entendi isso do que os gêmeos e Wen e Dimitri me contaram. — Charlie parecia sereno. — Já tivemos problemas com Lorenzo antes, e não vou deixar que as coisas se repitam. Não foi bonito e... e bem, eu não acho que você devesse ser envolvido em algo do tipo. Então no momento que ele passar da linha, você vem direto até mim, entendeu? Não os gêmeos, não Brayan; eu. E eu lid
— Ah, isso é bom, certo? — disse Katherine. — E quanto aos Hall’s Babbler? Já decidiram o que vão cantar nas Regionais?— Hideki e Martini não disseram nada ainda. Acho que eles estão tentando mudar algumas coisas — respondeu Dimitri. — E quanto ao seu grupo? Aquelas garotas vem te contar sobre os treinos?Katherine era parte do grupo de dança da escola. Ela revirou os olhos com um suspiro exasperado.— Sabe com pessoas vivem dizendo que os líderes dos grupos de dança às vezes são estereotipados? Alguém realmente devia avisar a Nadia que ela é a causa do estereótipo.Dimitri soltou um som de zombaria.— Ela nunca dançaria melhor que você.— Bom, enquanto estou aqui, não posso fazer nada — resmungou Katherine. — A srta. Caldwell disse que eu deveria descansar o q
Lorenzo saiu da sala de aula e ficou surpreso ao encontrar Brayan esperando-o.— Olá, Lorenzo — disse ele friamente, parecendo para o resto do mundo como se apenas estivesse caminhando ao lado do monitor de Canossa no corredor.— Você está aqui, então imagino que ouviu a condição de Mandrak para Klaus, estou certo? — perguntou Lorenzo com igual compostura, olhando para seu caderno enquanto os dois seguiam para o período de almoço.— Bom, você é um ser humano razoavelmente inteligente; não imaginei por um segundo que você acharia que haveria outra razão para eu estar aqui?— Sério. Eu também imaginei que nossa emocionante conversa no jardim memorial o tinha compelido, mas essa expressão ardente expressão no seu rosto diz o contrário.Brayan o encarou, mas Lorenzo, sem sequer conceder o outro garoto um olhar, continuou:— Não, isso não foi ideia minha; você muito bem sabe que meu plano original envolvia Klaus mudando-se para Canossa. O tiro saiu pel
Raul o encarou. Saulo era um dançarino como Brayan era um cantor, e se isso era qualquer indicação do seu amor pela sua arte...— Bom... — Raul gagejou. — Pelo menos... seu braço não... está tão ruim.Saulo o olhou, e começou a rir.— Relaxa! Credo... mas você está certo. — Ele suspirou, pegando o violão enquanto Raul sentava-se ao seu lado. — Eu realmente devia ter pensando em Brayan... não tenho ideia do que fiz ele passar.— Você não pediu que acontecesse... — murmurou Raul, mas Saulo parara de olhá-lo. Ele atingira um ponto fraco e sabia disso. — Hum...Saulo apenas levantou a mão para calá-lo.— Não, não... você está certo. Eu devia pensar antes de fazer as coisas... aparentemente é bem útil.Um silêncio estra
— Então... você está planejando competir.— Tente me impedir.— Suponho que você não queria minha ajuda para... digamos... um dueto? — perguntou Brayan sutilmente. Isso chamou a atenção de Klaus. Brayan apenas sorriu. — Só estou dando a ideia... é no dia dos Namorados, afinal... Mas não importa o que aconteça, eu vou lutar por um lugar também. — Seus olhos estavam devastadoramente intensos nos de Klaus. — … eu quero cantar com você no palco. Na frente de todo mundo desta vez.Klaus corou profundamente contra a vontade.— … então melhor nós dois conseguirmos um lugar.De repente o barulho de conversa aumentou na sala, e os outros ergueram os olhos para ver Wen levantando a mão silenciosamente. Hideki o olhou e assentiu.— Sim, Wen?Wen levantou-se lentamente e Dimitri o olhou em surpresa.— Senhor, se o senhor permitisse... eu sei que não é como as coisas normalmente funcionam, mas eu só precisava tirar algo do peito. Eu gostaria de apr
Surpreendentemente, Lorenzo não esperou que Klaus saísse do ensaio dos Hall’s Babbler. Ele nem o seguiu nem o acompanhou até a Casa Canossa. Foram os outros Hall’s Babbler que foram com ele pelo prédio Sul e Principal, e Klaus, enquanto eles se preparavam para partir, encurralou os gêmeos.— Me digam no momento que descobrirem o que diabos está acontecendo com o Dimitri — disse-lhes, assistindo o garoto que parecia estar perdido em pensamentos, caminhando para longe sem nem perceber que suas companhias não estavam fazendo o mesmo. Wen foi atrás dele. — Vocês vão interrogar ele cedo ou tarde.— Vamos sim — disseram os gêmeos alegremente, agraciados por Klaus finalmente estar pensando como eles. — E isso significa que temos permissão para fazer o que quisermos com o Lorenzo? Estávamos pensando em paintball.— Não. — Klaus revirou os olhos e os soltou. — Apenas não.— Você vai ficar bem, Klaus? — perguntou Raul, parecendo estranhamente sem fôlego e selvagemente
— É isso. — Lorenzo deu de ombros. Ele inclinou-se um pouco na direção ele, sorrindo. — Isso é basicamente todo o reforço que você precisa por hoje. Não há de quê.— Essa escola é ridícula — disse Klaus em desgosto. — Como ainda está de pé é um milagre.— Eu sei, mas ainda está de pé pelos menos motivos que é ridícula: doações demais em troca da viagem de poder aqui e ali. Eu sou prova viva disso.— Como você conseguiu voltar...? — perguntou Klaus, olhando-o. — Você foi... expulso, certo?— Bom, teve o meu pai... e então dinheiro... e então o meu pai — respondeu Lorenzo calmamente, bem próximo dele agora. — Isso e Mandrak gosta de pensar que sou um dos melhores alunos dele. Ele gostaria de me manter em Canossa, então me ajudou a conseguir permissão para voltar.A burocracia da escola continuava a maravilhá-lo. Mandrak deveria ter o mesmo poder que Sofy Sartori, mas terrivelmente menos audacioso e esperto se seus próprios alunos conseguiam pisar ele tão
— Você tem que parar com isso. — Brayan caminhou até ele e se sentou ao seu lado. Ele o olhou com preocupação. — Você tem que parar de fazer isso com você mesmo.— Eu só... Não posso... — Dimitri tentou encontrar as palavras. Ele inspirou tremulamente, olhando ao seu redor e em algo em que se encostar. Quando ele esticou a mão em um gesto desamparado, alguém automaticamente a pegou. Ele ergueu os olhos. Wen apenas o encarava intensamente, esperando.Dimitri exalou, encarando seu amigo.— Eu não posso perder ela. Isso não é justo! Eu tentei... eu tentei de tudo. E ela ainda... — Um suspiro profundo, resignado. — É como se estivesse desmoronando a minha volta.Eu sei que vocês ficam me dizendo que não é culpa minhas, mas é.— Nem ela acha isso — disse Wen, sentando-se na mesa, inclinando-se na sua direção.Dimitri apenas balançou a cabeça e evitou os olhos deles.— Você faz tudo que pode por ela — disse Wen pacientemente. — Se você realmente a