Daise Vitalli, a mãe do meu chefe, é uma mulher de meia idade poderosa e elegante. O tipo que não passa despercebido em lugar algum. Bonita mesmo com a idade avançada. Claro, as aplicações de Botox ajudam a manter tudo no lugar, mas ela possui uma beleza natural que ainda é evidente. É nítido que Daise fora uma conquistadora em seu tempo de juventude. Ponha conquistadora nisso, afinal mesmo aos 52 tem uma vida amorosa mais badalada que a minha aos 32 anos. Quem eu quero enganar. Nunca tive uma vida amorosa mínima e perderia em comparação com qualquer um. Eventualmente saio em algum encontro quando Kimberly ou Charlize me carregam para encontros triplos. Onde seus maridos, tentam me apresentar algum amigo ou colega de trabalho. No fim, acabamos em conversa fiada, enquanto afundo minha amargura em uma lata de Coca-Cola. Penso em porque não me dediquei a encontrar um namorado a dez anos atrás quando não tinha nenhuma ruga e os bons partidos ainda estavam no mercado. Qualquer homem interessante já foi fisgado dos 32 anos em diante.
~ Querida?! — A voz de Daise me traz de volta ao presente.
~ Sim, claro. Estou levando o celular para ele — disparo enquanto levanto-me desajeitada da minha mesa e dou passos rápidos para o escritório dele.
Bato na porta e escuto um murmuro irritado.
— Não tenho nada marcado para agora na minha agenda — Vitalli diz. Era o jeito dele de dizer para entrar e contar-lhe o que me levou a importuná-lo.
— Sua mãe quer falar com você — aponto o iphone da empresa na minha mão.
— Não tenho nada para falar com ela — ele disse voltando a atenção aos documentos em sua mesa.
~ Deixe-me falar com este ingrato, ponha no viva-voz — escutei a voz da Sra. Vitalli dizer, mesmo com o telefone longe do ouvido. Faço o que ela pediu sem pestanejar.
— Não ouse! — meu chefe diz, mas é tarde demais.
~Aspen! Te liguei um milhão de vezes. Seu pai quer saber se vai ao casamento. Nem pense em dizer que não vai. Ou eu mesma invado seu escritório e te coloco naquele avião a força. Será que é muito difícil estar presente no casamento do seu meio-irmão? É um jatinho particular, sai na hora que você desejar. Des que esteja lá na semana do casamento, ninguém liga. Não é como se você fosse estar incomunicável. É Nassau! Não uma ilha deserta. Então não faça drama e confirme a presença — Ela dispara em um tom de advertência e irritação. A mulher gentil sumiu. Agora escuto apenas a mãe e todas elas têm esse mesmo tom.
— Podemos falar sobre isso outra hora? Assuntos pessoais não deve ser discutido durante o expediente — Vitalli diz, nitidamente incomodado com minha participação em tudo isso. Ele odeia que saiba qualquer coisa sobre a sua vida pessoal e sempre odiava quando fazia perguntas sobre ele. Nitidamente quer manter uma distância entre nós, ou acentuar a já existente. Afinal não fazemos parte do mesmo mundo. Eu pertenço a classe média paulista, se quer viajei para fora do país. Já Vitalli, o pai é um estadunidense, metade da família dele é, logo não é difícil concluir, com o dinheiro e tudo mais, que ele já viajou o mundo todo.
~ Poderíamos ter feito assim se você atende-se a sua própria mãe. Tem dois celulares para que? Se não atende nenhum. Acho bom que confirme logo sua presença por que se o seu pai me ligar mais uma vez. Terá algo pior que sua ex-noiva para enfrentar — Daise dispara e não consigo evitar arregalar os olhos.
Vitalli já foi noivo? Espera ele teve um relacionamento sério? Alguém aceitou namorar com ele para começo de conversa. Não querendo dizer que o loiro é feio, definitivamente sua aparência física não é um problema. Ele tem um físico legal também, fica ótimo em smoking, e quando j**a o cabelo para o lado pode facilmente acabar com o folego de qualquer uma, seus olhos azuis são penetrantes, mas não é sobre isso que estamos falando. Ele não tem um pingo de carisma, bom humor. Vive no escritório, e trata todos como indignos de sua presença. Como alguém conseguiu lidar com tal ego? Bem, deve ser por isso que terminaram.
Ao perceber minha surpresa ele parece ainda mais incomodado, passando os dedos pelos cabelos nervosamente e coloca a palma no rosto que inclina para baixo envergonhado.
— Está bem mãe. Chega! Pode desligar, Srta. Machado — orienta e assim o faço escutando uma reclamação do outro lado da linha, mas Daise sabia que quando Vitalli usava aquele tom eu nunca o questionava. Fazer o que, até aquele playboy sabe ser assustador quando quer. Ninguém na empresa ousa questionar sua autoridade ou decisão.
Cruzo os braços em frente ao corpo analisando a maneira que ele tira as abotoaduras com suas iniciais. Jamais o vi tão incomodado. Não tinha certeza se o problema era ter uma micro parte de sua vida pessoal exposta a rale, ou se o evento em si que lhe tirava a paz. Era um pouco hipnotizante vê-lo demostrar emoções como um ser humano normal.
—Pensei que tinha muito trabalho a fazer. Por que ainda está aí parada? — Sua voz grave me acorda. Estou devaneando muito hoje. Sinto-me envergonhada. Desajeitada tateio a porta atrás de mim.
— Sim, claro, estou indo...— Digo abrindo a porta e quando estava com metade do corpo fora da sala, o escuto me chamar, o que me faz voltar.
— Não se esqueça de mandar uma mensagem para o meu pai confirmando minha presença no casamento. Lembre-se também de preparar uma mala para sete dias. Ficarei unicamente durante os eventos do casamento. Acho que um mês para uma comemoração do tipo é desnecessário — ele diz.
— Pode deixar, Senhor — digo confirmando com um pequeno aceno mecânico de cabeça. Contudo, quando me viro para realmente deixar a sala desta vez, a mente parece pegar no tranco e uma informação na sua frase que passou despercebida me chamou atenção. — Espera! Quer que eu prepare a sua mala? — questiono chocada. Hoje é o dia que minha postura profissional deu adeus. Ele não pode estar falando sério. Isso está muito longe das minhas atividades contratuais.
— Não seja patética! Eu jamais deixaria que encosta-se no meu guarda roupa. Deve prepara a sua própria mala— ele disse, a postura fria e distante intacta. O meu choque duplica. Como?
Rio sem humor, Vitalli não é o tipo de pessoa que faz piadas. É natural que elas sejam tão ruins. Afinal ele não pode estar querendo dizer o que eu acho que ele disse. Como você pode imaginar, o CEO do grupo Vitalli, teve múltiplas viagens internacionais de negócios nesse último um ano que estive trabalhando para ele. Porém, nunca fui levada em nenhuma delas. Na verdade, quem ocupava a função de secretária em suas viagens era Rachel, secretaria de relações internacionais.Continuei parada encarando-o estática. Esperando o momento em que ele dira o quão tola eu era por cair em sua brincadeira.— Ainda aqui? — pergunta olhando-me de soslaio.—Desculpe, mas está dizendo que eu tenho que ir com você? Não é uma viagem pessoal? — questiono.— Se fosse uma viagem pessoal não estaria solicitando a sua presença — ele disse encarando-me friamente.— Mas e a Rachel? Ela comparece em eventos internacionais— rebato.— Até onde sei seu contrato abrange fins de semana e viagens ao exterior — lembrou
— Algum problema? — ele pergunta completamente ciente que tinha me atingido. Cruzando os braços sob o peito e me analisando, como se desafiasse-me a proferir uma queixa. Dando-me vontade de soca-lo. Vontade que se perde ao analisar sua postura com mais atenção. Os músculos do braço dele parece ainda maiores. Sua aura esnobe, porém, máscula me atinge com força. Causando meu modo de defesa e ela, que é, me encolher e concordar. Assim ele vai embora.—Certo, senhor! — digo pegando a pasta. Percebo a mesma reação padrão dele, de quando atinge seu objetivo, seus olhos perdem o foco e ele os desvia de mim, antes de deixar o cômodo voltando para sua sala.Atrasada invado o pub, como de costume correndo, seguindo diretamente para nossa mesa favorita, próxima a janela lateral. É um lugar bacana, geralmente tem a quantidade perfeita de movimento, algo entre barulhento o suficiente para precisar elevar o volume da voz para ser ouvido, mas não cheio ao ponto de ser necessário cuidado para não esb
Quando digo isso, quero dizer, uma longa lista de afazeres bobos e banais, que deixavam nítida a sua real intensão, me punir por me meter em sua vida pessoal. Afinal se antes Vitalli me dava esporadicamente essas missões, agora ele tinha ido além de sua cota pessoal. Tive que pegar seu café favorito a semana toda, também fiquei responsável pelo seu almoço e jantar. Jantar? Sim. Fiz as reservas de cada um deles. Vitalli jantou em restaurantes chiques todas as noites, mesas para dois. Não era difícil concluir que estava fazendo jus ao estereótipo de bilionário galinha. Eu tive o desprazer de conhecer algumas de suas parceiras de uma noite, garotas diferentes em cada dia da semana. Questionei, se estivéssemos permanecido na cidade veria alguma novamente, suspeitava que não. Pelo que vi, havia apenas um padrão, nenhuma delas era loira. Tudo bem, tinha vários padrões: todas eram mulheres jovens, bonitas, ricas, bem-sucedidas, contudo, notar que nenhuma delas era loira me deixou confusa.Pe
Sinto o impacto da água no corpo. A visão esta turva graças a luz intensa do sol que queima a retina. Demoro segundos para perceber que estou de bruços sob os restos do estofado de uma poltrona. Flashes do acidente invadem a minha mente. Lembro de ver fumaça, das pessoas gritando, do meu corpo sendo carregado. Olho para os lados vendo muitos destroços espalhados pelo mar. Sinto um aperto no peito. Não é possível! O medo me invade e começo a hiper-ventilar. O meu coração b**e tão alto que praticamente posso ouvi-lo. Onde estou? O que está acontecendo? E os outros? O avião caiu! Pensa, pensa. Pelo menos estou inteira. Tento mover os braços e pernas me certificando que tudo está no lugar. Apesar de alguns arranhões, estou bem. Uma chapa de metal flutuando não muito longe chama a minha atenção parece ter alguém deitado sob ela. Reconheço a cabeleira de Vitalli. Sou imediatamente inundada pela alegria de vê-lo bem, de saber que não estou sozinha. A forma que ele está torna difícil saber
O meu grito chama a atenção de Vitalli que logo surge ao meu lado. Ao verificar o motivo do meu escândalo, sua feição muda para desinteresse.— É pequeno demais para ser humano, deve ser de algum animal silvestre — ele informa e passa a novamente tentar usar seu telefone.— Claro! Eu sabia — digo.Começando a analisar o ambiente. A ilha tem uma vegetação densa. Não consigo identificar nenhum fruto nas palmeiras dispostas pela praia. Nada de cocos ou bananas. A vegetação rasteira também é muito simples. Algo como ervas daninhas. O que é uma pena pois estou morrendo de fome.— Deve ter algo para comer por aqui — digo.— Esta com fome? — ele pergunta e então tira do bolso um saco de amendoins que estavam disponíveis no voo — Peguei isso da agua.— E só me diz agora — puxo o saquinho e o abro sentindo o meu estomago roncando. Estava com tanta fome que minhas mãos tremiam. Tornando difícil abrir a embalagem então uso os dentes.O amendoim salgadinho nunca foi tão saboroso. Vitalli mantem
Vejo a minha vida passar pelos meus olhos perante a eminente queda. Prevendo o impacto aperto as pálpebras, como se ao não ver a queda pudesse assim me livrar dos danos dela. Contudo, o impacto nunca chega. Pelo contrário, sinto meu corpo ser agarrado por um par musculoso de braços. Sinto uma imensa gratidão ao abrir ao me deparar com exemplar masculino impecável de Vitalli. Podia odiá-lo mais que tudo no mundo, mas não podia dizer que ele não era uma obra de Michelangelo de tão perfeito. Entretanto, todo o encanto de sua estrutura física desaparece assim que ele abra a boca.— Estava claro que ia arrumar alguma confusão. A situação já não é problemática o suficiente para se colocar a tomar atitudes impensadas? — ele começa seu sermão como se fosse o meu pai.— Para sua informação a minha integridade física não vale de nada se morrer de fome — aponto o fruto no topo da árvore. Que não parece tão alta ao lado dele. Ainda assim, ele nitidamente não alcaçaria o fruto também. Uma ideia s
Assim que escuto sua frase levo a mão a garganta tentando freneticamente regurgitar, tossindo copiosamente. Como se minha vida se depende disso. Vejo sua expressão mudar. O choque atinge seu rosto. Enquanto com a mão em punho bato em meu peito. Nesse momento Vittali corre ao meu encontro levantando os meus braços.Enquanto ele tenta desesperadamente fazer uma manobra para me ajudar a desengasgar começo a gargalhar. Vittali se afasta irritado.— Para quem não se importa, você pareceu bem assustado — comento, chegando a lacrimejar de tanto rir.— Irritante. Quando se engasgar de verdade, não moverei um musculo — ele diz.— Vira essa boca para lá. Não me venha com suas pragas — disse limpando as lagrimas que caíram e dando uma grande mordida na maçã.Ele não diz nada apenas retorna ao que fazia antes. Sento-me na areia e o observo arrastar folhas de palmeira seca. Repetindo o processo várias vezes. Juntando folhas e pedras em três pilhas.— O que está fazendo? — finalmente questiono.— O
Começo a ajudá-lo com a fogueira, reunindo os troncos e folhas secas no monte que ele fazia. Porém, sem me esquecer do assunto anterior, apenas deixando de lado pelo bem maior.— Como exatamente pretende acender o fogo? — questiono quando finalmente juntamos o suficiente.Ele não diz nada apenas retira do bolço um canivete suíço, contendo uma tesoura, uma faca e um isqueiro, pelo menos aquela parte que faz faíscas do isqueiro. Viitalli pega uma das folhas secas e passa o objeto sobre ela, não funciona, a folha se rasga, mas nada de fogo. O sol já se pós pois demoramos um pouco para montar a fogueira. Sinto uma brisa fria. É impressionante como a temperatura caiu em tão pouco tempo. Ele permanece tentando acender o fogo. Já perdia a conta de quantas folhas foram rasgadas. Prefiro não intervir. Apenas torço mentalmente para que funcione. Felizmente, uma das folhas pega fogo e cuidadosamente ele a junta as demais, que fazem o fogo se espalhar rapidamente.Sento-me ao redor da fogueira