Penitências no Altar
Penitências no Altar
Por: Anne Vaz
01 - Benjamin Scott

Benjamin Scott

O dia amanheceu com a temperatura fresca, o que me deixou radiante para a cerimônia que estava para realizar. A primavera chegou trazendo suas flores e o aroma refrescante que vinha do Central Park e com elas um casamento para ser celebrado em nossa igreja. Sou o bispo mais novo de nosso país, fui ordenado há três anos e agora com meus trinta e nove anos começo a ver o quanto venho sendo abençoado pela graça divina.

Levanto de minha cama simples e ergo o olhar para a cruz de madeira que estava no meio da parede de frente minha cama. Uma decoração simples compõe o meu quarto na casa paroquial, sorrio agradecido por mais um dia na vocação que há muito custo consegui concluir. Olhando diretamente para a cruz de madeira me ajoelho e início as minhas preces matinais, pedindo misericórdia pelos pecados da minha comunidade e sem deixar de pedir que todos eles continuem complacente.

Termino a minha oração e começo a me arrumar para realizar o casamento mai esperado e cheio de cuidado para o filho de Henrique Carter e Laís Carter, um casamento cheio de chefes de estados e algumas pessoas da realeza também estarão presentes, deixando evidente que o casal que logo mais estará aqui é extremamente importante.

Já arrumado olho mais uma vez para o espelho agradecido por não estar com o olho roxo depois do treino de ontem de boxe. Posso ser um sacerdote, mas não deixo de cuidar da minha saúde e uma forma que encontrei e transformei isso como um hobby foi praticar boxe em uma academia que temos no bairro.

— Bispo? — Ouço m nome ser chamando pela porta entreaberta.

— Pode entrar! — Digo ao Josh.

Um dos seminarista que tem um grande potencial, mas que todos estamos vendo que terá dificuldade em questão ao desejo da carne. Infelizmente o seu chamado veio em um momento de obrigação por sua família, seu pai o obrigou estar aqui e ele teve que colocar fim em um relacionamento com uma garota por quem é apaixonado e vemos o quanto ele está amargurado e sofrendo pelos cantos.

— Bom dia, Bispo, vim avisar que os pais do noivo acabaram de chegar e pediram para conversar com o senhor! — Sorrio e meneio a cabeça agradecido.

— Obrigado Josh, pode por favor levá-lo até o gabinete ao lado do confessionário, vou usá-lo hoje e conversarei com eles lá. — Digo e vejo o seminarista sair.

Diferente de todos os que vivem aqui na Catedral de São Patrício, não tenho medo de quem realmente são a família Carter. Não compactuo com o que eles fazem para viver ou como comandam a cidade por baixo dos panos, mas sou extremamente grato por todas as obras de caridade que a senhora Carter é envolvida.

Uma delas é para as meninas de ruas, ela criou um centro para que elas possam aprender algo, também instalou um tipo de abrigo permitindo que as mais jovens tenham um lugar seguro para dormir e se alimentar.

Respiro fundo para ir conversar com a família mais importante da minha comunidade e antes de sair do meu quarto beijo o crucifico de ouro que carrego pendurado em meu pescoço, um Lembrete que minha fidelidade e lealdade é com o ser superior que a muito tempo se revelou a mim e me vem entregando grandes coisas durantes os anos que estou a frente dessa Catedral.

Saio do meu quarto cumprimento cada um dos seminaristas que cruzam o meu caminho, digo “oi” há uma das poucas freiras que há em nossa catedral e sigo caminho. Com um pensamento intrusivo sobre a presença de mulheres aqui, algo que acho arriscado para tanto os homens como para a freira em questão.

Mesmo entendendo haver necessidade de que haja algumas para algumas tarefas específicas, como os cuidados com os anciões que vivem em clausura nos andares superiores da catedral, na ala oposta ao sino, como também na administração da nossa Catedral.

Sorrio ao ver a nave totalmente decorada com flores da estação, deixando o aroma tão agradável, deixo um sorriso brotar ao me sentir como se estivesse entrando em um pequeno bosque pela quantidade de flores que há na igreja. O que me lembra e muito o Central Park.

Antes de entrar no gabinete encontro o meu reflexo e fico satisfeito por não haver nada fora do lugar, minha roupa estava impecável, meu cabelo bem cortado e a barba cheia e bem cuidada. Não é porque sou um sacerdote que não goste de cuidar da minha aparência.

Assim que entro no meu gabinete encontro um par de olhos azuis e um verde, o olhar deles é de pura felicidade e podia sentir o quanto eles estavam ansiosos com a cerimônia que estava para acontecer.

— Bom dia! — Digo e me aproximo do casal.

— Bom dia, Bispo! — Senhor Carter se ergue e estende a sua mão para cumprimentar.

— Bom dia! — Sua esposa diz com suas mãos segurando a sua pequena bolsa.

— Pediram para me chamar? — Perguntei dando a volta pela minha mesa.

— Sim, viemos para justificar um pequeno detalhe que acredito que ainda não notou! — O homem que deve ter seus quase dois metros diz.

Algo que não me intimida, já que aparentemente temos a mesma altura.

— Estou ouvindo… — Digo com certa curiosidade.

— Coloquei alguns homens para cuidar da nossa segurança dentro da Catedral… — Senhor Carter diz. — Acredito que saiba com o que trabalho?

Sua pergunta é feita e vejo o modo relaxado que ambos estavam, mas como não saberia que o sobrenome Carter é mais temido que o do próprio demônio. Que a lealdade com esse nome é motivo de matar qualquer um que olhe feio para um membro de sua família.

— Já ouvi alguns boatos, como sabe preciso cuidar das ovelhas do meu rebanho! — Digo rindo ao casal.

— O mesmo acontece comigo! — Ele diz e vejo em seu sorriso o quanto esse homem deve ser perverso e cruel. — Todos os que estão aqui dentro estão sobre a minha proteção, então para que isso acontecesse, coloquei muitos homens espalhados pelos cantos, então não se assuste caso veja algum dos meus homens armados por aí!

Confirmo com a cabeça, não posso negar nada a essa família. Sou grato a eles a tudo o que eles fazem.

— Não há problema algum, senhor Carter! — Digo ficando de pé.

A esposa do homem que exalava crueldade já estava em pé e caminha para sair da sala, ela estava feliz e imagino que seja por estar casando o seu filho e pelo que as colunas sociais dizem a noiva é uma herdeira bilionária.

— Senhor Bispo? — a senhora Carter me chama antes de atravessar a porta.

— Senhora…

— Existe uma menina que vi no abrigo ontem, Lessie se não me engano esse é o nome dela. — ela começa a dizer, vejo a dúvida e uma certa confusão passar pelos seus olhos.

— Não fui essa semana até o abrigado, mas se quiser alguma informação posso pedir as freiras… — Começo a dizer e ela nega com a cabeça.

— A menina deve ter seus vinte anos e estou interessada em saber como ela chegou a Nova York, espero que não esteja fazendo nada de errado Bispo, não estou preparada para ter que cortar as mãos de um servo de Criador! — Engulo seco com a sutil nada discreta ameaça da senhora Carter.

— Como disse, não é de meu conhecimento a chegada de nossas pessoas no abrigo, mas assim que a cerimônia terminar irei me informa sobre isso, tem a minha palavra! — Digo a ela.

— Assim espero, o último que deu a sua palavra a mim e não a cumpriu, deve estar parecendo um picolé no Rio Hudson! — Ela diz com um lindo sorriso. — O vemos no altar, licença vamos querido.

Solto uma respiração pesada que mal fazia ideia que estava segurando. Sento com tudo sobre a cadeira e deixo a minha mente trabalhar para tentar descobrir quem é a tal mulher, já que a senhora Carter disse que ela tem vinte anos. A última coisa que realmente preciso é ter problema com essa família e tão pouco quero virar um peixe.

Viro de frente para o telefone e começo a fazer algumas ligações até que se aproxime a hora para a cerimônia e realize o casamento de Leon Carter e Ella Walker-Miller.

Para o meu desespero, ninguém tinha nenhuma informação que me fosse útil para passar aquela mulher que parecia interessada demais em uma desconhecida qualquer o que me deixou ainda mais intrigado. Faltando meia hora para o casamento decido ir para fora do meu gabinete.

Ver como estava tudo lá fora e que Deus nos permita uma cerimônia tranquila sem nenhum incidente.

Saio do meu gabinete e posso sentir vários olhos sobre mim, dou alguns sorrisos e caminhando para o todo do altar, vejo alguns coroinhas e um jovem padre que estavam ali para me ajudar com a liturgia.

Enquanto conversava com o padre, sinto olhos fixos em mim, como se estivesse me vigiando a distância.

— Talvez precise de um pouco mais… — Digo olhando para o mar de convidados importante que estavam ali.

Com o olhar passo rápido por várias pessoas que conversavam entre si, podia ver o quanto cada um deles estavam felizes e ansiosos.

— Camilla, Camilla, está outra vez no mundo da lua… — Meu olhar vai em direção à conversa que acontecia na primeira fileira de bancos.

Havia uma mulher de olhos azuis sensuais, que me fitavam em admiração e podia ver que a sua respiração parecia alterada de certa forma. Seus cabelos loiros em um coque alto e deixando algumas mechas adornavam o seu rosto a deixando linda…

Linda?

Que pensamento é esse?

O susto me faz titubear e dou um passo para trás como se o meu corpo estivesse se afastando do pecado que poderia acontecer. Mesmo com os meus olhos fixos nela começo sentir uma ereção que não deveria existir.

Sou um homem que renunciou os prazeres da carne e nos meus mais de quinze anos de sacerdócio nunca havia sentido nada perto do que acabei de sentir.

— Preciso ir ao gabinete… — Digo ao padre ao meu lado.

— Está tudo bem Bispo? — Ele pergunta preocupado.

A minha ereção começa ficar pior, preciso sair daqui antes que alguém perceba o volume por baixo da minha batina. Péssima ideia de sair do quarto sem usar cuecas apenas a calça do sacerdócio. Decido mentir para o padre ao meu lado.

— Sim, vou apenas tomar algo gelado, sentiu que esquentou? — Pergunto ironicamente.

Porque, na verdade, acabo de me sentir mais perto do inferno do que de Deus.

— Tudo bem, se alguém perguntar digo que foi beber água!

Ele disse e sai dali em direção ao meu gabinete na esperança que haja uma muda de roupas minhas ali e assim controle o desejo por aquela desconhecida.

Entro no meu gabinete me martirizando pelo pecado que acabo de cometer, me sentindo sujo e impuro para realizar o casamento mais importante da minha Catedral. Vou até o armário e respiro aliviado quando vejo um conjunto de roupas minhas ali. 

Retiro os sapatos e a calça em um rompante não posso demorar ou vão sentir a minha falta. Toco na minha ereção inchada e pulsante apenas com o pensamento que invadiu a minha cabeça nesse momento.

— Posso resolver esse problema! — A voz do demônio se faz presente no lugar onde imaginei que estaria seguro dela.

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