[ Patrícia]Cheguei em casa sentindo a dor latejar na minha mão, pulsando no mesmo ritmo do meu coração cansado. A dor de cabeça, que havia dado uma trégua durante o dia, voltou com força total, me fazendo fechar os olhos por alguns segundos. Suspirei, derrotada, e tomei mais um analgésico, na esperança de encontrar algum alívio. Os anteriores não tinham surtido efeito algum.O silêncio da casa parecia gritar a ausência de Ester. Cada canto me lembrava das nossas brigas constantes, do peso que pairava sobre nós.Sem fome, sem ânimo, fui direto para o quarto. Deitei na cama sem me preocupar em trocar de roupa, o corpo pesado demais para qualquer esforço. O sono veio rápido, como um refúgio temporário para a dor que não era apenas física.Horas depois, acordei com a tela do celular acesa, exibindo inúmeras mensagens da minha mãe.[Filha, aconteceu algo? Estamos preocupados. Você não atende minhas ligações.][Filha, você está bem? Liga pra mim…]Outras mensagens seguiam no mesmo tom. Sus
[ Patricia]Acordei com a cabeça latejando, uma sensação pesada e incômoda. Meus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro, e, ao abrir os olhos, percebi imediatamente que não estava em casa. A cama era diferente, os lençóis tinham um cheiro desconhecido, e meu coração acelerou em pânico.Levantei de sobressalto, olhando para meu corpo com receio. Eu vestia uma camisa masculina larga, que cobria quase todo meu corpo e um shorts. O frio percorreu minha espinha. O que eu fiz agora?Respirei fundo, tentando afastar os pensamentos caóticos. Com alguma dificuldade, me levantei e examinei o quarto com pressa. Era um ambiente simples, mas aconchegante. Atravessei o cômodo e entrei no banheiro, ligando a torneira para lavar o rosto. A água fria me trouxe um pouco de lucidez. Passei as mãos pelos cabelos, tentando alinhá-los de alguma forma, e me encarei no espelho.Saí do quarto cautelosamente, seguindo o aroma delicioso que vinha da cozinha. O cheiro de café fresco e panquecas quentes pare
[ Esterl]Cheguei cedo ao estúdio e, como de costume, organizei a recepção, conferi os cronogramas das aulas e revisei a agenda da semana. Tudo precisava estar em ordem, afinal, estávamos na reta final para a apresentação de fim de ano, e qualquer detalhe fora do lugar poderia comprometer semanas de trabalho.Eu ainda estava sentada na recepção, os olhos fixos na tela do computador, quando Patrícia chegou. De óculos escuros novamente. Suspirei discretamente. Eu a conhecia bem o suficiente para saber que isso só significava uma coisa: ressaca. Patrícia sempre aparecia assim depois de uma noite de bebedeira. Ela me cumprimentou com um aceno de cabeça, e eu retribuí no mesmo tom, sem trocar palavras. Como de costume, ela foi direto para o vestiário e demorou alguns minutos antes de seguir para a sala de aula. Desde então, não nos falamos mais.A manhã transcorreu bem, com minhas alunas dedicadas e concentradas nos ensaios. A apresentação se aproximava, e o nervosismo pairava no ar, mas e
[ Patricia]O dia de trabalho foi exaustivo. As trocas de palavras com Ester eram mínimas e estritamente profissionais, exatamente como ela pediu. No entanto, todas as vezes que ela se aproximava, meu coração batia mais forte, tomado pela saudade da minha amiga. Era um esforço imenso tratá-la com tanta formalidade, quando tudo que eu queria era poder conversar como antes.Suspirei, olhando ao redor da sala vazia. Levantei-me com cuidado, evitando apoiar a mão machucada, e fui para o quarto tomar um banho. As roupas de Nathan estavam dobradas na cama, prontas para serem devolvidas. Era uma desculpa perfeita para ir até o bar, beber um pouco e, principalmente, evitar estar em casa quando Ester fosse buscar suas coisas.Escolhi um vestido vermelho justo, que moldava meu corpo de forma sutil. Não parecia exagerado, ou pelo menos era o que eu queria acreditar. Soltei os cabelos, deixando-os cair em ondas sobre os ombros, e decidi não usar maquiagem. Com a mão ferida, não valia a pena arris
[ Ester]Finalmente, o final de semana chegou, e eu não conseguia controlar o nervosismo. O noivado estava prestes a acontecer, e as borboletas no estômago se agitavam a cada segundo que passava. Levantei cedo, decidida a organizar o apartamento. Sabia que em breve teria que ir ao salão encontrar Lara, então queria ter tudo pronto.Enquanto descia para a garagem, meus pensamentos me levaram a Patrícia. Era para nós duas estarmos indo para o salão juntas, como havíamos planejado tantas vezes em conversas despreocupadas sobre o futuro, quando alguma de nós iria casar. A saudade apertou meu peito, mas tentei afastar esses pensamentos. Entrei no carro, liguei o motor e, logo depois, estava no salão. Lara já me esperava.As horas passaram rápido entre cabelos, unhas e maquiagem. Quando nos despedimos, combinamos de nos encontrar mais tarde na festa. O evento estava se aproximando, e eu mal podia esperar para celebrar.Na volta para casa, passei em frente ao estúdio de dança, e as persianas
[Lucas]— O noivado foi maravilhoso, Miguel. Nunca te vi tão feliz, meu amigo. — Falei, observando-o do outro lado da mesa.Ele sorriu, um daqueles sorrisos genuínos que poucas vezes vi em seu rosto.— Sim… — Miguel assentiu, pensativo. — Nunca imaginei que encontraria uma mulher como a Ester. Ela me faz tão bem, me desafia e me inspira a ser uma pessoa melhor a cada dia.Enquanto ele falava, eu tentava manter a conversa leve, mas a verdade era que uma pergunta martelava dentro de mim, corroendo minha paciência. Durante o noivado, senti falta de Patrícia. Faltaram seus sorrisos, suas piadas e nossas conversas despretensiosas que sempre tornavam qualquer evento mais leve.— No que você está pensando, Lucas? — Miguel perguntou, interrompendo meus pensamentos.Hesitei por um instante antes de responder, desviando o olhar para a xícara de café - presente de Patrícia - à minha frente.— Em nada… — Suspirei. — Na verdade, estava pensando em como nossas vidas mudaram nesse último ano. Eu per
[ Patricia]O grande dia da apresentação finalmente chegou, e eu estava tomada por uma mistura de nervosismo e excitação. Meu coração batia tão forte que parecia acompanhar o ritmo de um show de rock, e minhas mãos suavam de ansiedade.— Vai dar tudo certo, Paty… — repetia para meu reflexo no espelho, tentando controlar a respiração e me convencer de que estava preparada para aquilo.A voz suave da minha mãe veio do outro lado da porta do banheiro, interrompendo meus pensamentos.— Filha, está tudo bem? Vamos, senão você vai se atrasar.Respirei fundo e ajustei os últimos detalhes do meu cabelo. Havia feito uma pequenas trança delicada na lateral, prendendo-a para o lado e deixando o resto solto, com ondas suaves caindo em cascata sobre os ombros. O vestido mídi, fluido e de um tom salmão suave, realçava minha pele. Escolhi sapatos baixos, já prevendo que passaria a noite correndo de um lado para o outro, auxiliando as crianças e garantindo que tudo saísse conforme o planejado.Quando
[Ester]As cortinas abriram, e meu coração deu um salto. O teatro estava lotado, os olhares atentos, ansiosos para cada movimento que aconteceria no palco. O burburinho da plateia, as luzes suaves iluminando o cenário, tudo parecia pulsar junto com meu peito. Esse era o momento pelo qual trabalhamos tanto.— Boa noite a todos! — anunciei com um sorriso, ao lado de Patrícia.Juntas, fizemos uma breve apresentação sobre o estúdio, nossa missão e o quão especial aquela noite era para nós. Assim que encerramos, demos início ao primeiro ato.A turma das pequenas borboletas tomou o palco, arrancando risadas e suspiros encantados da plateia. Com seus tutus cor-de-rosa e asas delicadas, as crianças de quatro a seis anos eram a personificação da inocência e da alegria. Seus passinhos descompassados e olhares brilhantes traziam um calor indescritível ao meu peito."É por isso que faço isso." A paixão pela dança e o prazer de ensinar se misturavam, criando uma certeza inabalável dentro de mim.As