[Ester]As cortinas abriram, e meu coração deu um salto. O teatro estava lotado, os olhares atentos, ansiosos para cada movimento que aconteceria no palco. O burburinho da plateia, as luzes suaves iluminando o cenário, tudo parecia pulsar junto com meu peito. Esse era o momento pelo qual trabalhamos tanto.— Boa noite a todos! — anunciei com um sorriso, ao lado de Patrícia.Juntas, fizemos uma breve apresentação sobre o estúdio, nossa missão e o quão especial aquela noite era para nós. Assim que encerramos, demos início ao primeiro ato.A turma das pequenas borboletas tomou o palco, arrancando risadas e suspiros encantados da plateia. Com seus tutus cor-de-rosa e asas delicadas, as crianças de quatro a seis anos eram a personificação da inocência e da alegria. Seus passinhos descompassados e olhares brilhantes traziam um calor indescritível ao meu peito."É por isso que faço isso." A paixão pela dança e o prazer de ensinar se misturavam, criando uma certeza inabalável dentro de mim.As
[Patricia] — Como você entrou aqui, Marcus? Como passou pela segurança? — Minha voz saiu firme, mas por dentro eu estava tremendo. A ousadia dele me deixava incrédula.Ele sorriu de lado, aquele sorriso que sempre me causava arrepios.— Ah, Paty… você ainda não aprendeu? Quando se trata de você, nada me impede. — Sua voz era baixa, quase sedutora, mas eu sabia o que realmente estava por trás dela.Meu coração disparou, minha respiração ficou pesada, e eu lutei para manter a compostura. Não podia deixar que ele percebesse o pânico que se espalhava pelo meu corpo.— O que você quer? — perguntei, tentando manter a voz firme. — Me deixe em paz, não temos mais nada a dizer um ao outro.Os olhos dele brilharam, e um sorriso amargo surgiu em seus lábios.— Eu quero você, Patrícia. Sempre quis. Eu te amo, sinto sua falta… — Marcus deu um passo à frente, seu perfume invadindo o camarim, me sufocando.Engoli em seco, meu olhar desesperado percorrendo a sala à procura de uma saída, algo que pu
A apresentação superou até mesmo os sonhos mais ambiciosos que já tive. As bailarinas estavam impecáveis, cada passo delicado era executado com a graça de quem nasceu para dançar. Mas, acima de toda a técnica, o que realmente brilhava era o encantamento em seus olhos – um brilho puro, radiante, que parecia iluminar cada canto do teatro.Observar minhas pequenas alunas no palco era como assistir a estrelas descobrindo seu próprio esplendor. Cada movimento, por mais simples que fosse, carregava o peso de horas de dedicação, de superação, de pequenos tropeços transformados em conquistas. Ver seus rostinhos iluminados pela satisfação de acertar uma sequência ou sustentar uma pose me preenchia de uma alegria indescritível. Era como reviver a magia que um dia me fez apaixonar pelo balé.A sensação de vê-las ali, deslizando pelo palco, é quase comparável à emoção de estar sob os holofotes em minhas próprias apresentações. Mas, de certa forma, é ainda maior. Porque agora, ao invés de ser apen
[ Patricia]O final do espetáculo foi emocionante. Receber as flores como homenagem ao fim da apresentação encheu meu coração de alegria e orgulho. Mas o que mais me tocou foi compartilhar esse momento com Ester. Mesmo com a distância que nos separa agora, ainda me conforta saber que, de alguma forma, ela esteve ao meu lado nessa jornada. No entanto, sei que para ela as coisas não são mais as mesmas—ela não quer contato, e isso dói mais do que estou disposta a admitir.Depois do discurso final e das despedidas, liberei as alunas para as tão merecidas férias. Aproveitei o momento de distração geral para sair discretamente. Evitar uma conversa com Ester parecia a melhor decisão naquele instante. Caminhei apressada até onde meus pais e Nathan estava
[ Patricia]Durante os primeiros minutos da viagem, se ouvia apenas o som do motor do carro preenchia o espaço, mas dentro de mim uma tempestade se formava. Olhava pela janela, perdida em pensamentos, quando senti o olhar de Nathan sobre mim.— No que você está pensando? — perguntou com a voz suave, desviando os olhos da estrada por um instante para me encarar.Sorri timidamente, mas logo desviei o olhar, focando na estrada à frente. Respirei fundo antes de responder.— Por que você disse aquilo… sobre nós sermos namorados? — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.Nathan sorriu de forma calorosa, e, por um momento, me vi hipnotizada por aquele sorr
[Lucas]A noite estava sendo incrível. Ver Patrícia, mesmo que de longe, foi indescritível. Ela estava linda no palco, tão à vontade, tão ela. Aquele mundo parecia abraçá-la de um jeito que eu nunca consegui. Era como se, sob as luzes suaves e os aplausos da plateia, ela pudesse ser quem realmente era, sem medo, sem reservas.— No que está pensando, amor? Você está tão calado desde que saímos do teatro. — A voz de Lara me trouxe de volta à realidade.Desviei o olhar da estrada e sorri de leve, tentando afastar os pensamentos que me atormentavam.— Estava lembrando da apresentação. Foi encantadora. Nunca tinha assistido a um espetáculo de balé antes… Hoje vi várias crianças de roupas cor-de-rosa e coloridas. Foi… diferente, mas muito legal. — respondi, mantendo um tom casual.Lara sorriu de lado, concordando.— Sim, a Ester tem um dom. Ensinar crianças não deve ser nada fácil. — comentou, olhando pela janela do carro.Notei como ela evitou mencionar o nome de Patrícia. Talvez soubesse
[ Patricia]Enquanto fazia meu pedido, Nathan inclinou-se discretamente em minha direção, sua voz soando baixa e divertida apenas para que eu ouvisse:— Tem certeza de que não quer ser minha namorada? Porque, pelo que vejo, algumas pessoas nesta mesa não estão gostando da nossa amizade.Seu comentário me fez sorrir, e tentei disfarçar, mexendo distraidamente na borda do copo.— Nathan, para com isso, você está sendo infantil. — Respondi em um tom brincalhão, mas não pude evitar o leve rubor em minhas bochechas.O jantar foi servido, e entre o tilintar dos talheres contra os pratos e o burburinho animado dos outros clientes, a conversa na nossa mesa seguia leve até Miguel, com sua curiosidade habitual, me pegou de surpresa:— Você e a Patrícia se conhecem de onde?Levei o copo de água à boca, mas a pergunta repentina quase me fez engasgar. Disfarcei rapidamente e notei Lucas pousando os talheres no prato, atento à resposta.— Eu sou dono do Night Club, e Patrícia começou a frequentar.
[ Patricia] Voltei minha atenção para a comida, tentando ignorar a presença sufocante de Lara e seus olhares silenciosos e carregados de algo que eu não conseguia decifrar. Não era só ciúme de Lucas, havia algo mais ali, algo que me escapava, mas me corroía por dentro.Sentindo a pressão crescer, pedi licença e me retirei. No banheiro, respirei fundo, deixando a água fria escorrer pelas mãos antes de pressioná-las contra minha nuca tensa. O reflexo no espelho me fez encarar as marcas escuras dos dedos de Marcus ainda visíveis em minha pele pálida. Uma lembrança que eu desejava esquecer, mas que teimava em permanecer.De repente, gritos abafados ecoaram no restaurante. Meu coração disparou. Sai apressada do banheiro e fui te encontro na mesa onde meus pais e Nathan estavam, poucos passos antes de chegar na mesa senti uma algo que não consegui identificar.Algo atingiu minha pele como se o próprio ar tivesse ganhado forma e decidido me atravessar. Não houve aviso, não houve tempo para