[Patricia]Cheguei em casa e encontrei Ester sentada na sala, impecavelmente maquiada e vestida com uma roupa elegante.— Vai sair hoje? — perguntei, trancando a porta ainda de costas para minha amiga.— Sim. Miguel, Lucas, Lara e eu. Programa de casal. — disse Ester, sua voz carregada de uma leve hesitação.Virei-me para ela e me sentei ao seu lado no sofá. Notei a incerteza em seu olhar e tentei soar encorajadora, embora uma pontada de ciúmes insistisse em se fazer presente.— Ei, Ester, não precisa ficar com receio de me contar. Estou bem. Isso é legal, né? Sair em casal... — sorri, fingindo leveza.Ester suspirou, parecendo buscar as palavras certas.— Tem certeza, Paty? Há pouco tempo atrás, era a gente que fazia esse tipo de programa...Respirei fundo, ignorando a saudade que as palavras dela despertaram.— Tenho certeza, amiga. — Segurei sua mão. — Só espero não perder você para a Lara.Ela riu baixinho e me abraçou com carinho.— Isso nunca. Você é minha irmã de alma, Paty.So
[ Patricia]Cheguei na cafeteria primeiro que Leandro, estava nervosa sobre o que ele queria conversar comigo. Desde o beijo que ele roubou na cozinha naquele dia, não conversei com ele e também procurei não pensar muito no assunto, já havia deixado claro pra ele que gostaria apenas de manter a amizade. Enquanto tomava meu capuccino, meus pensamentos vagavam pela visita inesperada de Marcus nos meus pensamentos, desde a última aparição dele no meu apartamento ele não surgiu novamente, mas meu coração estava inquieto. Marcus era como água de um oceano, quando menos espera ele aparece como uma onda em meio às águas calmas. Sem perceber, minha mente vagou para aquele fatídico dia.Eu havia chegado em casa de uma entrevista de emprego para professora de balé, já que não estava mais na companhia de dança, talvez poderia continuar trabalhando com a dança de alguma forma. Ao chegar em casa Marcus estava em casa com um copo de uísque na mão, havia saído mais cedo do escritório.— Oi, amor, já
[ Patricia]Sequei uma lágrima solitária que deslizava pela minha bochecha, enquanto meus olhos perdidos acompanhavam o movimento das crianças no parque do outro lado da rua. Suas risadas soavam distantes, como ecos de uma felicidade que já não me pertencia. O fim de tarde tingia o céu de tons alaranjados, mas dentro de mim tudo parecia permanecer em um eterno crepúsculo.Eu me sentia suspensa entre o passado e o presente, presa em lembranças que insistiam em me assombrar. O aroma doce do cappuccino à minha frente deveria ser reconfortante, mas apenas servia para acentuar a sensação de vazio.Foi quando ouvi o ruído da cadeira se arrastando que voltei à realidade. Leandro sentou-se à minha frente, e seu olhar carregava aquela mesma preocupação de sempre. Suspirei, tentando disfarçar a tristeza que, mesmo sem querer, transparecia em cada gesto meu.— Desculpe, Paty. A academia estava lotada e o trânsito... — Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos úmidos de suor antes de se acomodar
[Patricia]Ester combinou um churrasco aqui em casa. Antes, eu ficaria animada em receber os amigos e aproveitar a churrasqueira da varanda, mas, ultimamente, tenho me sentido mais distante, quase antissocial. Especialmente depois da crescente amizade dela com a Lara. Estou tentando não deixar o ciúme me consumir, mas é difícil. Antes, fazíamos tudo juntas, agora parece que ela prefere a companhia de Lara. Talvez isso seja uma espécie de punição por eu tê-la deixado de lado quando estava com Marcus. Na época, eu não percebia que ele havia me afastado de tudo e todos, nos trancando em uma bolha romântica que, no fim, só me fez mal.Fiquei chateada quando Ester mencionou que Lara também ajudaria nos preparativos da festa de noivado. Meus pais viriam me visitar este fim de semana, mas pedi para adiarem e virem apenas no dia da festa. Confesso que, por pouco, não liguei pedindo para virem agora mesmo, só para ter uma desculpa para evitar estar no mesmo ambiente que Lara.Talvez minha anti
[Lucas]Estou namorando Lara há algumas semanas. Ela é legal, divertida e tem um jeito leve de ver a vida. Nos damos bem no trabalho e, honestamente, também na cama. Mas, toda vez que vejo Patrícia, meu coração acelera, e agora, ao descobrir que ela e Leandro não estão juntos de forma romântica, senti uma pontada de felicidade que me pegou de surpresa. Sei que isso soa cruel da minha parte, mas estou feliz.Leandro é um cara incrível—meu melhor amigo, esteve ao meu lado em momentos sombrios. Mas quando se trata de mulheres, ele age como um verdadeiro Dom Juan. Ver Patricia envolvida com ele, mesmo que de forma superficial, me incomodava mais do que eu gostaria de admitir. Sempre tive medo de que ela fosse apenas mais uma para ele, e o ciúme me corroía por dentro.Assim que Patrícia saiu da cozinha para atender o telefone, senti um impulso estranho de puxar conversa e prolongar o momento. Estar perto dela me fazia bem, sorrir com facilidade. E, droga, mais do que nunca, ela estava lind
[Ester] — Paty, onde você vai? O churrasco era para nós nos divertirmos. Estamos trabalhando tanto... Não temos tido tempo para conversar e relaxar. — Falei, tentando segurar seu braço suavemente, na esperança de fazê-la mudar de ideia.Patrícia suspirou, os olhos cansados encontrando os meus.— Eu sei, Ester, mas... você pode se divertir com seus novos amigos. — Ela forçou um sorriso. — Tente compreender, vocês estão em casal, e eu... eu não estou confortável aqui. Sinto que não pertenço mais a esse grupo, estou deslocada... uma intrusa.Aquelas palavras me atingiram em cheio.— Como assim, Paty? Você faz parte do grupo! Os meninos te adoram, e a Lívia é super legal. A Lara também tem sido simpática com você.— Não me sinto assim, Ester. — Sua voz saiu mais baixa, como se confessasse um segredo doloroso. — A Lara me atura porque sou sua amiga... e porque sou amiga do namorado dela. Eu entendo isso, mas não quero ser a pessoa que estraga o clima. Você mesma viu, Lara nem sequer me de
[ Patricia]As palavras de Ester ainda ecoavam na minha mente, e por mais que me magoassem, eu sabia que havia uma verdade dolorosa nelas. Eu estava me afastando, de novo. Mesmo sem perceber, mesmo sem querer. Mas como evitar isso quando a sombra de Marcus pairava sobre mim, sufocando cada tentativa de seguir em frente? Sua presença recente bagunçou tudo dentro de mim, e a última coisa que eu queria era arrastar minha amiga ou os outros para esse turbilhão.Peguei o carro e dirigi sem rumo, tentando dissipar os pensamentos que insistiam em me atormentar. A estrada parecia um refúgio temporário até que, sem perceber, acabei estacionando em frente ao estúdio. Assim que entrei, um suspiro escapou dos meus lábios. O silêncio familiar do lugar trouxe um conforto que há tempos eu não sentia.Fechei as persianas, não queria correr o risco de alguém – ou pior, Marcus – aparecer de surpresa. Conferi a porta duas vezes antes de caminhar até o vestiário. Lá, tirei minhas roupas casuais e vesti o
[Patricia]Foi então que Marcus desferiu o primeiro tapa no meu rosto. A dor estalou na minha pele, mas foi o choque que me paralisou. Fiquei atordoada, com a mente turva, sem entender como aquilo havia acontecido. Ele, no entanto, parecia firme, como se o que fizera fosse apenas uma reação natural.— Você é minha, Paty. Eu te amo. Fico furioso só de pensar que outro homem possa estar colocando as mãos em você, ou sequer pensar em você.As palavras dele ecoaram em minha mente, mas eu não consegui encontrá-las dentro de mim. A dor no rosto era apenas uma extensão da dor que já havia se instalado no meu peito. Não consegui responder, nem mesmo focar o olhar no rosto dele. Meu corpo parecia desconectado da realidade, como se estivesse em um lugar distante, onde a verdade fosse apenas uma sombra.Marcus, então, afrouxou a gravata e, com um movimento lento, retirou-a do seu pescoço. Seus dedos habilidosos deslizaram pelo tecido, e por um momento, vi sua atenção se fixar naquele simples ges