Depois de eternas 12 horas dentro de um avião, ouvindo pessoas rindo, crianças se divertindo, enfim desembarquei no Heathrow International Airport.
Sem família, sem amigos, mas com uma vontade imensa de viver. Estar aqui é como um renascer e eu vou fazer de tudo para minha vida tomar um rumo brilhante daqui para a frente.
O que vou fazer da minha vida agora? Ainda não sei, mas força de vontade eu tenho.
Depois de reaver a única bagagem que tinha e conseguir trocar meu dinheiro de real para euro, fiquei circulando pelo imenso aeroporto até localizar onde ficava o ponto de táxi. Mesmo que entenda o idioma, é a primeira viagem internacional que faço, então fico momentaneamente perdida, mas no fim tudo dá certo. Na primeira conexão, fiz uma troca de hotel, me dei o luxo de ficar em um mais nobre por dois dias, mas não podia esbanjar muito e procurar emprego urgente. Estava ansiosa para passear por Londres e perceber o novo mundo que me aguardava. Vou procurar com calma um airbnb, dizem que é mais em conta e tem tudo o que a gente precisa, para um começo de vida, vai me ajudar muito.
Meu primeiro arrependimento apareceu assim que localizei o ponto de taxi. Sério que os londrinos são tão mal-educados assim? Ou perceberam que sou turista? Todos os taxistas que localizei parados — repito, parados — no aeroporto, se recusaram a me levar. Será que o hotel era muito longe ou a região que era ruim? Na vigésima tentativa, consegui um abençoado motorista que concordou em me levar.
Enquanto circulava pela cidade a caminho do hotel, comecei observar pela janela um mundo completamente diferente e a insegurança bateu com força. Era apenas uma recepcionista de uma clínica quando decidi largar tudo e me mudar, era formada em Direito — pasmem, formada aos 19 anos — tudo por que aos 15 fiz uma prova dificílima e após gabaritá-la me formei antes do tempo, automaticamente entrei na universidade mais cedo. Só eu sei como foi terrível fazer na reta final dois anos em um só. Mas no fim valeu a pena, meu esforço foi recompensado quando passei na OAB, mas nunca exerci essa profissão. Até por que, quem iria contratar uma advogada de 19 anos? Portanto, zero experiencia no ramo. Como vou me sustentar aqui? Mas vai dar certo.
Calma Pand, não se desespera ainda, faz poucas horas que chegou.
Respira e não pira.
Chegando no hotel, fiquei momentaneamente estática, era um hotel típico da realeza — impossível ser o que eu queria e reservei – com certeza o taxista errou, mesmo mostrando o endereço correto no telefone. A fachada dele era incrível e estava acessa devido o horário, tudo brilhava, logo ao lado tinha uma roda gigante enorme, também acessa.
Era deslumbrante.
Por um momento, me vi sonhando com uma realidade que não era minha, onde eu entraria nesse hotel maravilhoso depois de aproveitar a roda gigante, acompanhada de um britânico lindo que me amaria acima de tudo, me respeitaria e me faria esquecer a realidade horrível em que eu vivia. Será que meu príncipe é britânico? Dei risada sozinha, precisava parar de ser sonhadora, onde eu estava com a cabeça pensando em romance, sendo que minha experiência era traumática o suficiente e me forçava a fazer voto de celibato eterno. Me assustei com o taxista gritando comigo, completamente alterado.
— Chegamos, pegue sua bagagem no porta-malas.
Fiquei perdida entre as realidades por um curto tempo, até esqueci o idioma novo e não compreendi o porquê ele estava alterado, até vir um novo grito.
— Agora!
Britânico temperamental.
Desci apressada, peguei minha única mala e ele arrancou com o carro ainda gritando coisas que não compreendi. Que cara louco, primeiro me leva ao local errado e depois ainda tem o disparate de ficar nervoso.
London Marriott Hotel County Hall
Não era esse hotel que solicitei, nem sei a distância daqui até o hotel correto. Esse taxista abusado fez de propósito, deve ter percebido que ninguém aceitava me levar e me trouxe para qualquer lugar.
Decidida a não desistir no primeiro empecilho, juntei minhas coisas e comecei a andar distraída no celular tentando me localizar no GPS. Deus abençoe o plano internacional, se não ainda estaria no Aeroporto sem saber o que fazer, embora seria melhor do que aqui na rua. Mas levantei a cabeça, não vai ser eu perdida em Londres no primeiro dia que vai me apavorar, minha vida no Brasil me apavora, aqui é somente um mero detalhe.
Como se não bastasse tamanha humilhação — sair do Brasil fugindo e me perder no primeiro dia em Londres — começou chover muito, e a temperatura aqui caiu muito rápido. Não que estivesse calor, já que logo ia começar o inverno, mas não estava preparada para ficar ao tempo desse jeito, meu suéter era bem meia boca, mas com a chuva e sem ter onde me abrigar, vou congelar.
— Se isso é um teste Deus, já estou pronta para acordar em uma cama quentinha a qualquer momento viu? — Resmunguei olhando para cima.
Como se a resposta dos céus viesse em forma de piada, localizei um abrigo do outro lado da avenida e não parei para pensar direito, meu corpo estava tendo pequenos espasmos de frio. Sem olhar se era seguro, comecei atravessar a rua e fui atingida por um veículo que não vi chegando.
Por um milésimo de segundo, enquanto eu voava depois da colisão me perguntei se era dessa forma que minha vida terminaria. Fugindo de um ex-namorado tóxico, perdida em Londres, molhada igual um patinho em uma chuva torrencial e atropelada por um estranho.
Eu não posso morrer depois de tanto, não depois de ter suportado tudo e conseguido me libertar. Preciso de mais tempo, preciso conquistar o mundo. Preciso ser feliz. Foi a última coisa que pensei, antes de colidir com o chão e apagar.
Acordei ouvindo diversas vozes ao mesmo tempo e um bip infernal que me causava um latejar absurdo na cabeça. Doía muito. Com certeza não morri, já que sinto dor. O barulho me deixou ciente que estava em um hospital, mas onde exatamente? Minha mente estava muito confusa e cheguei a pensar que era mais um dos episódios das surras do Matheus que me levava até a emergência.Quanto ele me surrou dessa vez? Sonhei que tinha me libertado, mas era tudo uma fuga da minha mente?Após alguns instantes de pânico, consegui identificar a voz de alguém ao meu redor e nunca imaginei que compreender outro idioma me faria tão bem assim. Não foi ilusão, dessa vez não foi o Matheus que me direcionou até a emergência. Como uma tormenta, meu desastroso primeiro dia em Londres voltou a minha mente. Gemi de desgosto. Como pude atravessar uma avenida sem olhar, nem no Brasil eu fazia tamanha tolice, fui cometer esse erro absurdo logo aqui. Sou a única culpada, ninguém mais.Meu corpo todo doía e estava me sen
Em seguida me deparei com outro par de olhos, esses eram azuis, mas um tom de azul que não impactava quando observado de perto e me julgavam, demonstrando tamanha irritação que fiquei impactada por um momento. Quem são essas pessoas? Essa mulher me encarava como se eu fosse a culpada pela fome no mundo. Provavelmente era esposa do Deus grego e estava se sentindo incomodada por ficar me observando nesse leito.— Senhorita? — O médico, que até então não tinha notado na sala falou calmamente, tirando minha atenção da mulher odiosa ao lado. — Sou o Dr. Alexander, responsável pelo seu caso e vou acompanhá-la até a sua alta, que deve ocorrer em no mínimo duas semanas.— O que? — Praticamente gritei e percebi meu descuido gritando em português, imediatamente procurei me acalmar.— Desculpa, o que? Não posso ficar aqui duas semanas.— Seus ferimentos foram muito graves. Quando deu entrada no hospital, estava com um sangramento interno gravíssimo, traumatismo craniano, fratura de uma costela,
Retomei meu foco e olhei atentamente para ele, absorvendo tudo o que me foi dito antes e o que ele vai me revelar agora que estou desperta novamente. — Só queria compreender o que aconteceu. Preciso... ir embora... Recomeçar minha vida... — Comecei falar já soluçando novamente e disparando novamente aquela porcaria de bip.— Se acalma pequena, ficar nervosa só vai piorar seu quadro e vão precisar sedá-la novamente. Não precisa se preocupar com nada, estou cuidando de tudo. Você está aqui por um descuido meu e vai ter tudo o que precisar para sua melhora. Vou cuidar de você.— Como?— Estava em meio a uma discussão com a Emilly, você a viu mais cedo, enquanto estávamos a caminho da casa dela. Ela não aceitou o término muito bem. Devido isso, me distraí na direção por um momento e ... bom, o resto nem preciso explicar, já que você está nessa cama de hospital.— Você não tem culpa de eu ter entrado na frente do seu carro.— Tenho culpa por estar distraído e não ter desviado de você.— N
Sem nenhuma razão e não entendia o porquê, meu corpo todo relaxou depois da declaração dele, como se tudo estivesse certo no mundo. Como se ali tivesse a resposta para tudo o que eu precisava para viver. Isso era uma completa insanidade. Mas me vi retribuindo seu sorriso cativante.Não precisava confiar minha vida a ele, até porque, não nos conhecíamos. Mas como ele mesmo falou, podia me auxiliar nesse início de vida em Londres, não ia recusar ajuda. Mesmo desconhecido, foi o primeiro a ser gentil comigo, mesmo em cima da atual circunstância.Mas preciso me proteger de Oliver Parker.Preciso aceitar a ajuda no tempo que estiver internada e depois se ele tiver alguma sugestão de lugar onde possa arrumar um emprego que pague minimamente bem. Depois, preciso seguir meu rumo sem olhar para trás, sem me apegar a ninguém.Não sei quanto tempo o médico ia me prender aqui, mas, já estava fazendo planos de juntar um dinheiro bom e retornar ao meu país. Essa experiência de quase morte, passado
Dia do AcidenteO dia foi terrivelmente exaustivo, os processos estavam se multiplicando e quanto mais resolvia, outros apareciam, como se fossem uma hidra. Aproximadamente às 18hrs, a Srta. Sullivan telefonou, avisando da presença da Emilly.Porra, que inferno.Nem tive tempo de inventar qualquer desculpa e Emilly irrompeu pela porta, parecendo que estava a caminho de uma guerra. Muito provavelmente, não teve acesso ao Archie — meu melhor amigo — e veio atormentar a minha vida no escritório novamente.Se arrependimento matasse.Eu e Archie aviamos falado com ela há exatas duas semanas, depois de um relacionamento de 02 meses. O que começou consensualmente e com ambos interessados, terminou conosco não suportando ouvir o nome de Emilly. Ela já estava barrada na portaria do prédio, não sei como passou pelos seguranças.Emilly nos enganou direitinho, no início da nossa relação, fomos claros que não queríamos nada sério e que ela estava liberada a encontrar quem quisesse. Enquanto nosso
Em determinado momento, senti sua mão na minha coxa, subindo em direção ao meu pau, que não estava nem um pouco interessado naquela carícia. Antes que ela pudesse tocá-lo, segurei seu punho.— O que pensa que está fazendo? — Praticamente rosnei.— Só te lembrando o quanto pode ser bom. — Ela ronronou— Emilly, se dê o respeito— Pode ser bom, garanto. Me deixe te provar.— Chega! — Gritei. — Será que não percebe o quanto está sendo inconveniente? Essa é a última vez que tenta me tocar sem ser solicitada.— Meu benzinho, me deixa te relaxar, é nítido o quanto está estressado com o trabalho.Não tive tempo de respondê-la.Como uma assombração, percebi pelo canto do olho uma mulher loira atravessar a rua sem olhar para onde ia. Notei tarde demais que tinha me distraído com a maluca do meu lado e não tinha como parar o veículo a tempo. Meu coração parou quando colidimos com a mulher desconhecida, que voou alguns metros longes, caindo no chão em um estrondo.Deus, permita que ela não tenha
Percebi que de pouco em pouco tempo, a recepcionista vinha até a saleta e tentava me oferecer algo, mas eu sempre negava. Minha mãe demorou mais tempo do que eu esperava ser saudável para minha sanidade mental.Quando ela retornou, eu estava desesperado.— Então mãe, como ela está? — praticamente implorei por notícias.— A situação é bem delicada meu filho, seu pai disse que a garota fraturou o punho esquerdo e quebrou uma perna, que foi imobilizada pelo ortopedista, porém isso não foi o mais grave. Além de um traumatismo craniano severo, que ele precisou drenar parte do sangue que conseguiu, ela está com uma hemorragia interna, que até o momento, eles não localizaram seu foco. Devido isso, ela já teve duas paradas cardíacas.Enquanto ela ia falando, meu mundo foi desabando aos poucos.A cada nova informação, o meu desespero aumentava mais.Tudo culpa da Emilly, que me distraiu com sua loucura, eu nunca iria perdoá-la se essa moça morresse. Eu nunca iria me perdoar.— Mas você conhece
Parecia uma princesa, seus traços eram quase angelicais, uma pele muito clara envolta de uma massa de cabelos loiros cheios, que destacavam sua beleza. Uma beleza fantasmagórica agora, já que sua pele estava sem viso, meio acinzentada nesse quarto de hospital.— Você precisa ficar boa princesa. Não pode pagar por erros de julgamento que eu cometi no passado, preciso que fique boa — sussurrei. Fiquei mais alguns minutos observando sua face, depois me retirei.Novamente na saleta com meus pais, solicitei que assim que ela saísse do CTI fosse encaminhada a um dos quartos familiares. Como o hospital era dos meus pais, tinha o andar da família, com leitos preparados em caso de qualquer urgência com um de nós, sem afetar o público do hospital. Se eles estranharam minha solicitação, nada disseram.Foram longas 24 horas, até que meu pai comprovasse que houve melhoras significativas e decidir retirar a sedação aos poucos. Seu cérebro, contrariando tudo o que acreditávamos, desinchou rapidament