Retomei meu foco e olhei atentamente para ele, absorvendo tudo o que me foi dito antes e o que ele vai me revelar agora que estou desperta novamente.
— Só queria compreender o que aconteceu. Preciso... ir embora... Recomeçar minha vida... — Comecei falar já soluçando novamente e disparando novamente aquela porcaria de bip.
— Se acalma pequena, ficar nervosa só vai piorar seu quadro e vão precisar sedá-la novamente. Não precisa se preocupar com nada, estou cuidando de tudo. Você está aqui por um descuido meu e vai ter tudo o que precisar para sua melhora. Vou cuidar de você.
— Como?
— Estava em meio a uma discussão com a Emilly, você a viu mais cedo, enquanto estávamos a caminho da casa dela. Ela não aceitou o término muito bem. Devido isso, me distraí na direção por um momento e ... bom, o resto nem preciso explicar, já que você está nessa cama de hospital.
— Você não tem culpa de eu ter entrado na frente do seu carro.
— Tenho culpa por estar distraído e não ter desviado de você.
— Nem por isso precisa bancar meu tratamento.
— Preciso sim, para minha sanidade mental
— Não vejo necessidade. Não sei como vou pagar tudo, já que tenho poucos euros após a conversão, mas darei um jeito.
Suspiro frustrada.
Encarei novamente aqueles olhos que me diziam tantas coisas, me imploravam para aceitar o que ele me dizia, não me julgava por ter entrado na frente do carro, pelo contrário demonstravam uma preocupação que nem cabia a ele, já que nem me conhece. Mas também mostravam um interesse genuíno em mim. Era isso que eu não conseguia compreender, o que de tão interessante havia em mim, para impressionar esse homem? Reparei nele com mais afinco e diferente da primeira vez, agora ele usava jeans escuro, tênis de marca preto, uma blusa polo azul marinho e seu cabelo estava levemente bagunçado, como se tivesse passado a mão muitas vezes. Estava mais lindo ainda.
— A propósito, não sei o seu nome. — Ele me despertou do transe com aquela voz de barítono que me causava arrepios em lugares que não deviam arrepiar e pude sentir meu rosto esquentar.
Que isso Pandora, você nunca corou na presença de nenhum homem antes. Antes de responder considero mentir. O medo causa isso nas pessoas, não conheço esse homem, por mais que esteja me ajudando, mas depois do Matheus, não sou uma pessoa que vai confiar no primeiro sorriso que aparecer. No fim, decido ser honesta.
— Pandora Benedict.
— Pandora? Nunca tinha ouvido antes. Aliás, seu sotaque é bem carregado, de onde é? — Ele me interrogou.
Fiquei receosa e ele percebeu.
— Pode confiar em mim.
— Não sou de Londres.
— Ok, não vou forçar, mas aos poucos você vai me contar a sua história, vai aprender confiar em mim. Posso te perguntar quando chegou a Londres?
— Vergonhoso dizer, mas quando o acidente ocorreu, tinha recém-chegado a Londres. — Expliquei.
— Me desculpe Oliver, estou meio nervosa e confusa. Deu tudo errado aquele dia, desde conseguir um taxi, até o taxista que enfim aceitou me levar para um hotel que não foi o solicitado. A chuva foi um bônus no caos, devido isso e ao frio congelante que estava sentindo, não parei para pensar nas minhas ações, somente queria chegar embaixo de alguma cobertura, para conseguir identificar onde estava e ir até o hotel correto. Lógico que não deu certo de novo, porque não vi aonde ia e entrei na frente do seu carro. — Bufei. Era impressionante o problema que causei sem nem perceber, pelo menos agora não estava na chuva, soltei um risinho sem humor. — Acho que... se não fosse o acidente, teria parado no hospital de qualquer forma, só que com hipotermia.
Estava cansada, completamente desmotivada e com dores no corpo. Minha cabeça estava explodindo com uma dor insuportável, a ponto de me deixar inquieta na cama.
— Ficaria desesperado também no seu lugar, mas, como minha mãe vive dizendo, Deus escreve certo por linhas estranhas. — Oliver riu. — Vamos acreditar que estava no destino nos encontrar, posso te ajudar a se adequar em Londres.
Sem nenhuma razão e não entendia o porquê, meu corpo todo relaxou depois da declaração dele, como se tudo estivesse certo no mundo. Como se ali tivesse a resposta para tudo o que eu precisava para viver. Isso era uma completa insanidade. Mas me vi retribuindo seu sorriso cativante.Não precisava confiar minha vida a ele, até porque, não nos conhecíamos. Mas como ele mesmo falou, podia me auxiliar nesse início de vida em Londres, não ia recusar ajuda. Mesmo desconhecido, foi o primeiro a ser gentil comigo, mesmo em cima da atual circunstância.Mas preciso me proteger de Oliver Parker.Preciso aceitar a ajuda no tempo que estiver internada e depois se ele tiver alguma sugestão de lugar onde possa arrumar um emprego que pague minimamente bem. Depois, preciso seguir meu rumo sem olhar para trás, sem me apegar a ninguém.Não sei quanto tempo o médico ia me prender aqui, mas, já estava fazendo planos de juntar um dinheiro bom e retornar ao meu país. Essa experiência de quase morte, passado
Dia do AcidenteO dia foi terrivelmente exaustivo, os processos estavam se multiplicando e quanto mais resolvia, outros apareciam, como se fossem uma hidra. Aproximadamente às 18hrs, a Srta. Sullivan telefonou, avisando da presença da Emilly.Porra, que inferno.Nem tive tempo de inventar qualquer desculpa e Emilly irrompeu pela porta, parecendo que estava a caminho de uma guerra. Muito provavelmente, não teve acesso ao Archie — meu melhor amigo — e veio atormentar a minha vida no escritório novamente.Se arrependimento matasse.Eu e Archie aviamos falado com ela há exatas duas semanas, depois de um relacionamento de 02 meses. O que começou consensualmente e com ambos interessados, terminou conosco não suportando ouvir o nome de Emilly. Ela já estava barrada na portaria do prédio, não sei como passou pelos seguranças.Emilly nos enganou direitinho, no início da nossa relação, fomos claros que não queríamos nada sério e que ela estava liberada a encontrar quem quisesse. Enquanto nosso
Em determinado momento, senti sua mão na minha coxa, subindo em direção ao meu pau, que não estava nem um pouco interessado naquela carícia. Antes que ela pudesse tocá-lo, segurei seu punho.— O que pensa que está fazendo? — Praticamente rosnei.— Só te lembrando o quanto pode ser bom. — Ela ronronou— Emilly, se dê o respeito— Pode ser bom, garanto. Me deixe te provar.— Chega! — Gritei. — Será que não percebe o quanto está sendo inconveniente? Essa é a última vez que tenta me tocar sem ser solicitada.— Meu benzinho, me deixa te relaxar, é nítido o quanto está estressado com o trabalho.Não tive tempo de respondê-la.Como uma assombração, percebi pelo canto do olho uma mulher loira atravessar a rua sem olhar para onde ia. Notei tarde demais que tinha me distraído com a maluca do meu lado e não tinha como parar o veículo a tempo. Meu coração parou quando colidimos com a mulher desconhecida, que voou alguns metros longes, caindo no chão em um estrondo.Deus, permita que ela não tenha
Percebi que de pouco em pouco tempo, a recepcionista vinha até a saleta e tentava me oferecer algo, mas eu sempre negava. Minha mãe demorou mais tempo do que eu esperava ser saudável para minha sanidade mental.Quando ela retornou, eu estava desesperado.— Então mãe, como ela está? — praticamente implorei por notícias.— A situação é bem delicada meu filho, seu pai disse que a garota fraturou o punho esquerdo e quebrou uma perna, que foi imobilizada pelo ortopedista, porém isso não foi o mais grave. Além de um traumatismo craniano severo, que ele precisou drenar parte do sangue que conseguiu, ela está com uma hemorragia interna, que até o momento, eles não localizaram seu foco. Devido isso, ela já teve duas paradas cardíacas.Enquanto ela ia falando, meu mundo foi desabando aos poucos.A cada nova informação, o meu desespero aumentava mais.Tudo culpa da Emilly, que me distraiu com sua loucura, eu nunca iria perdoá-la se essa moça morresse. Eu nunca iria me perdoar.— Mas você conhece
Parecia uma princesa, seus traços eram quase angelicais, uma pele muito clara envolta de uma massa de cabelos loiros cheios, que destacavam sua beleza. Uma beleza fantasmagórica agora, já que sua pele estava sem viso, meio acinzentada nesse quarto de hospital.— Você precisa ficar boa princesa. Não pode pagar por erros de julgamento que eu cometi no passado, preciso que fique boa — sussurrei. Fiquei mais alguns minutos observando sua face, depois me retirei.Novamente na saleta com meus pais, solicitei que assim que ela saísse do CTI fosse encaminhada a um dos quartos familiares. Como o hospital era dos meus pais, tinha o andar da família, com leitos preparados em caso de qualquer urgência com um de nós, sem afetar o público do hospital. Se eles estranharam minha solicitação, nada disseram.Foram longas 24 horas, até que meu pai comprovasse que houve melhoras significativas e decidir retirar a sedação aos poucos. Seu cérebro, contrariando tudo o que acreditávamos, desinchou rapidament
Bloqueei todas as vozes quando a garota finalmente abriu os olhos. Os olhos dela eram simplesmente deslumbrantes, sua íris tinha um toque amendoado envolto por pontos acinzentados, tornando-a única. Ela olhava ao redor do quarto com um enorme vinco na testa, deixando-a ainda mais fofa — fofa Oliver? — aos poucos, seus batimentos cardíacos começaram a disparar pela máquina.— O que? — Questionei— Acho que ela está tendo uma crise de ansiedade. — Uma das enfermeiras informou, se aproximando mais da cama.Sem pensar direito no que fazia, segurei sua mão. Imediatamente seus olhos se concentraram em mim, roubando meu fôlego.— Vamos lá mocinha, me siga ok? Respira comigo — praticamente sussurrei.Enquanto ela me encarava, forcei minha respiração até que meu peito subia e descia na mesma velocidade nauseante que o dela. Aos poucos, comecei a diminuir, respirando devagar. Foi com muita satisfação que percebi que ela se esforçava para me seguir e depois de algumas tentativas, começou a norma
Já estava a caminho do hospital quando liguei para Oliver, fiquei muito preocupado quando ele contou do acidente, sua voz estava diferente, ele estava abatido. Oliver sempre foi o mais certinho entre nós, sempre se policiando, sempre se preocupando com suas ações, eu era mais aventureiro nessa questão.E falar com ele hoje, só reafirmou o que eu já tinha sabia, ele está extremamente assustado com tudo o que aconteceu. A preocupação dele é palpável, mesmo pelo telefone. Se algo acontecer com essa garota, temo que meu amigo nunca mais será o mesmo.Ele vai se culpar eternamente.Mesmo que agora, eu saiba exatamente como se deu o acidente e que ele esteja isento de culpa, nada vai adiantar se essa garota nunca acordar.Se for necessário culpar alguém, tem que ser eu.É ilógico pensar assim? Claro, mas quem trouxe a maldita da Emilly para nossas vidas foi eu. Sempre que nós conhecemos alguém, somos muito sinceros, em alguns casos, até taxados como grosseiros. Mas ninguém pode nos julgar.
Já tinha lido sobre BDSM e os clubes de fetiches, e admito que era um universo que me atraía, mas nunca pesquisei a fundo e quis me envolver mais. Tinha em mente uma ideia muito antiquada do que se tratava, na minha ignorância era somente sobre dominação e submissão, sendo o público jovens que queriam brincar de cinquenta tons de cinza. Isso não me atraía, não gostava de ideia de ensinar uma mulher fazer o que eu queria ou ter que ficar dando ordens, gostava de mulher ativa que fosse desafiadora tanto na cama quanto fora dela.Por isso, estava dirigindo até o clube Tentacion já com um pré-conceito geral sobre o lugar.Só ia até lá, porque o bendito do Ramon decidiu passar mais tempo lá do que em qualquer outro lugar e eu precisava observá-lo melhor, pegar alguma falha na sua postura sempre tão impecável. Era quase certo que matou aquela jovem, agora sabendo o local que ele frequenta, minhas suspeitas ficam ainda maiores, já que ela foi localizada amarrada a cama. Fetiches, eles disser