Em seguida me deparei com outro par de olhos, esses eram azuis, mas um tom de azul que não impactava quando observado de perto e me julgavam, demonstrando tamanha irritação que fiquei impactada por um momento. Quem são essas pessoas? Essa mulher me encarava como se eu fosse a culpada pela fome no mundo. Provavelmente era esposa do Deus grego e estava se sentindo incomodada por ficar me observando nesse leito.
— Senhorita? — O médico, que até então não tinha notado na sala falou calmamente, tirando minha atenção da mulher odiosa ao lado. — Sou o Dr. Alexander, responsável pelo seu caso e vou acompanhá-la até a sua alta, que deve ocorrer em no mínimo duas semanas.
— O que? — Praticamente gritei e percebi meu descuido gritando em português, imediatamente procurei me acalmar.
— Desculpa, o que? Não posso ficar aqui duas semanas.
— Seus ferimentos foram muito graves. Quando deu entrada no hospital, estava com um sangramento interno gravíssimo, traumatismo craniano, fratura de uma costela, da perna direita, sem contar a que teve no punho esquerdo. Foi submetida a uma cirurgia de emergência para localização do foco de sangramento e colocada em coma induzido para melhora do quadro. Depois de 24 horas com melhoras consideráveis, fomos tirando os sedativos gradativamente. Foram longas 72 horas após a retirada do sedativo até que enfim despertasse, o que aconteceu a aproximadamente 20 minutos, para ser exato. Precisamos refazer os exames para minimizar quaisquer sequelas e posteriormente...
— Espera Dr. — Interrompi, procurando me acalmar para não entrar novamente em pânico. — Como vim parar aqui? Só me recordo de avistar uma cobertura do outro lado da avenida e tentar chegar lá porque estava congelando na chuva. Depois disso, não me lembro de mais nada, até acordar aqui.
A mulher, que até então não tinha falado nada, bufa e com visível descontentamento praticamente grita comigo.
— Você entrou na frente do carro do meu homem, sua desqualificada. Por isso está aqui. Agora é muito fácil se fingir de esquecida, quando obviamente se jogou para chamar atenção — Ela despeja em cima de mim.
Quando dei por mim, estava chorando compulsivamente, não pelo que a mulher me acusou, mas por mim. Meu desespero era palpável, não conhecia nenhuma daquelas pessoas, estava vulnerável e nem sabia como ia resolver toda essa situação. Essa mulher nem me conhecia e já me julgava sem me dar oportunidade de tentar explicar o que me recordava daquele dia, sem falar que o olhar do Deus Grego me deixava nervosa. Em um movimento rápido, o médico fez um sinal para a enfermeira, que aplicou um novo medicamento no meu soro, que me causou uma leveza praticamente instantânea e mergulhei no aconchegante breu.
Não sei quantas horas se passou até que despertei novamente. Agora o quarto estava na penumbra, somente com um fio de luz vindo por debaixo da porta. Não sabia dizer ser era dia ou noite já que as janelas estavam cobertas por grossas cortinas que cortavam qualquer luz. Olhei ao redor do quarto acreditando que estava completamente sozinha, e me assustei ao me deparar com uma sombra no canto do quarto, encostado na parede e me encarando. Meu primeiro impulso foi gritar, até reconhecer aquelas írises fantásticas do Deus grego que vi mais cedo.
O que ele fazia aqui? Quem ele era? Cadê a mulher? São tantos questionamentos, que estava me deixando tonta.
— Olá — A voz de barítono ressoou pelo quarto e trouxe arrepios ao meu corpo, que com certeza não estava preparada para sentir. Agora que estava mais calma, consegui perceber seu tom de voz com clareza. Combinava muito com ele. Forte. Grave. Marcante.
Como pode um ser humano ser tão privilegiado assim, se não bastasse a beleza dele, a voz é maravilhosa e me deixou cativa. Tanto que esqueci de responder.
— Me perdoe não ter me apresentado mais cedo, não tive oportunidade. Sou Oliver Parker. O médico achou melhor aplicar um calmante leve, somente para evitar que seu nervosismo fosse prejudicial a sua saúde, devido a cirurgia delicada que passou recentemente, não queria que sofresse um ataque cardíaco ou piorasse as dores que provavelmente sente na cabeça. Consegue conversar comigo calmamente agora? — Ele explicou calmamente, como se tivesse medo da minha reação.
Meu senhor, por um momento lembrei do filme Crepúsculo. Edward falando com a Bella pela primeira vez.
Retomei meu foco e olhei atentamente para ele, absorvendo tudo o que me foi dito antes e o que ele vai me revelar agora que estou desperta novamente. — Só queria compreender o que aconteceu. Preciso... ir embora... Recomeçar minha vida... — Comecei falar já soluçando novamente e disparando novamente aquela porcaria de bip.— Se acalma pequena, ficar nervosa só vai piorar seu quadro e vão precisar sedá-la novamente. Não precisa se preocupar com nada, estou cuidando de tudo. Você está aqui por um descuido meu e vai ter tudo o que precisar para sua melhora. Vou cuidar de você.— Como?— Estava em meio a uma discussão com a Emilly, você a viu mais cedo, enquanto estávamos a caminho da casa dela. Ela não aceitou o término muito bem. Devido isso, me distraí na direção por um momento e ... bom, o resto nem preciso explicar, já que você está nessa cama de hospital.— Você não tem culpa de eu ter entrado na frente do seu carro.— Tenho culpa por estar distraído e não ter desviado de você.— N
Sem nenhuma razão e não entendia o porquê, meu corpo todo relaxou depois da declaração dele, como se tudo estivesse certo no mundo. Como se ali tivesse a resposta para tudo o que eu precisava para viver. Isso era uma completa insanidade. Mas me vi retribuindo seu sorriso cativante.Não precisava confiar minha vida a ele, até porque, não nos conhecíamos. Mas como ele mesmo falou, podia me auxiliar nesse início de vida em Londres, não ia recusar ajuda. Mesmo desconhecido, foi o primeiro a ser gentil comigo, mesmo em cima da atual circunstância.Mas preciso me proteger de Oliver Parker.Preciso aceitar a ajuda no tempo que estiver internada e depois se ele tiver alguma sugestão de lugar onde possa arrumar um emprego que pague minimamente bem. Depois, preciso seguir meu rumo sem olhar para trás, sem me apegar a ninguém.Não sei quanto tempo o médico ia me prender aqui, mas, já estava fazendo planos de juntar um dinheiro bom e retornar ao meu país. Essa experiência de quase morte, passado
Dia do AcidenteO dia foi terrivelmente exaustivo, os processos estavam se multiplicando e quanto mais resolvia, outros apareciam, como se fossem uma hidra. Aproximadamente às 18hrs, a Srta. Sullivan telefonou, avisando da presença da Emilly.Porra, que inferno.Nem tive tempo de inventar qualquer desculpa e Emilly irrompeu pela porta, parecendo que estava a caminho de uma guerra. Muito provavelmente, não teve acesso ao Archie — meu melhor amigo — e veio atormentar a minha vida no escritório novamente.Se arrependimento matasse.Eu e Archie aviamos falado com ela há exatas duas semanas, depois de um relacionamento de 02 meses. O que começou consensualmente e com ambos interessados, terminou conosco não suportando ouvir o nome de Emilly. Ela já estava barrada na portaria do prédio, não sei como passou pelos seguranças.Emilly nos enganou direitinho, no início da nossa relação, fomos claros que não queríamos nada sério e que ela estava liberada a encontrar quem quisesse. Enquanto nosso
Em determinado momento, senti sua mão na minha coxa, subindo em direção ao meu pau, que não estava nem um pouco interessado naquela carícia. Antes que ela pudesse tocá-lo, segurei seu punho.— O que pensa que está fazendo? — Praticamente rosnei.— Só te lembrando o quanto pode ser bom. — Ela ronronou— Emilly, se dê o respeito— Pode ser bom, garanto. Me deixe te provar.— Chega! — Gritei. — Será que não percebe o quanto está sendo inconveniente? Essa é a última vez que tenta me tocar sem ser solicitada.— Meu benzinho, me deixa te relaxar, é nítido o quanto está estressado com o trabalho.Não tive tempo de respondê-la.Como uma assombração, percebi pelo canto do olho uma mulher loira atravessar a rua sem olhar para onde ia. Notei tarde demais que tinha me distraído com a maluca do meu lado e não tinha como parar o veículo a tempo. Meu coração parou quando colidimos com a mulher desconhecida, que voou alguns metros longes, caindo no chão em um estrondo.Deus, permita que ela não tenha
Percebi que de pouco em pouco tempo, a recepcionista vinha até a saleta e tentava me oferecer algo, mas eu sempre negava. Minha mãe demorou mais tempo do que eu esperava ser saudável para minha sanidade mental.Quando ela retornou, eu estava desesperado.— Então mãe, como ela está? — praticamente implorei por notícias.— A situação é bem delicada meu filho, seu pai disse que a garota fraturou o punho esquerdo e quebrou uma perna, que foi imobilizada pelo ortopedista, porém isso não foi o mais grave. Além de um traumatismo craniano severo, que ele precisou drenar parte do sangue que conseguiu, ela está com uma hemorragia interna, que até o momento, eles não localizaram seu foco. Devido isso, ela já teve duas paradas cardíacas.Enquanto ela ia falando, meu mundo foi desabando aos poucos.A cada nova informação, o meu desespero aumentava mais.Tudo culpa da Emilly, que me distraiu com sua loucura, eu nunca iria perdoá-la se essa moça morresse. Eu nunca iria me perdoar.— Mas você conhece
Parecia uma princesa, seus traços eram quase angelicais, uma pele muito clara envolta de uma massa de cabelos loiros cheios, que destacavam sua beleza. Uma beleza fantasmagórica agora, já que sua pele estava sem viso, meio acinzentada nesse quarto de hospital.— Você precisa ficar boa princesa. Não pode pagar por erros de julgamento que eu cometi no passado, preciso que fique boa — sussurrei. Fiquei mais alguns minutos observando sua face, depois me retirei.Novamente na saleta com meus pais, solicitei que assim que ela saísse do CTI fosse encaminhada a um dos quartos familiares. Como o hospital era dos meus pais, tinha o andar da família, com leitos preparados em caso de qualquer urgência com um de nós, sem afetar o público do hospital. Se eles estranharam minha solicitação, nada disseram.Foram longas 24 horas, até que meu pai comprovasse que houve melhoras significativas e decidir retirar a sedação aos poucos. Seu cérebro, contrariando tudo o que acreditávamos, desinchou rapidament
Bloqueei todas as vozes quando a garota finalmente abriu os olhos. Os olhos dela eram simplesmente deslumbrantes, sua íris tinha um toque amendoado envolto por pontos acinzentados, tornando-a única. Ela olhava ao redor do quarto com um enorme vinco na testa, deixando-a ainda mais fofa — fofa Oliver? — aos poucos, seus batimentos cardíacos começaram a disparar pela máquina.— O que? — Questionei— Acho que ela está tendo uma crise de ansiedade. — Uma das enfermeiras informou, se aproximando mais da cama.Sem pensar direito no que fazia, segurei sua mão. Imediatamente seus olhos se concentraram em mim, roubando meu fôlego.— Vamos lá mocinha, me siga ok? Respira comigo — praticamente sussurrei.Enquanto ela me encarava, forcei minha respiração até que meu peito subia e descia na mesma velocidade nauseante que o dela. Aos poucos, comecei a diminuir, respirando devagar. Foi com muita satisfação que percebi que ela se esforçava para me seguir e depois de algumas tentativas, começou a norma
Já estava a caminho do hospital quando liguei para Oliver, fiquei muito preocupado quando ele contou do acidente, sua voz estava diferente, ele estava abatido. Oliver sempre foi o mais certinho entre nós, sempre se policiando, sempre se preocupando com suas ações, eu era mais aventureiro nessa questão.E falar com ele hoje, só reafirmou o que eu já tinha sabia, ele está extremamente assustado com tudo o que aconteceu. A preocupação dele é palpável, mesmo pelo telefone. Se algo acontecer com essa garota, temo que meu amigo nunca mais será o mesmo.Ele vai se culpar eternamente.Mesmo que agora, eu saiba exatamente como se deu o acidente e que ele esteja isento de culpa, nada vai adiantar se essa garota nunca acordar.Se for necessário culpar alguém, tem que ser eu.É ilógico pensar assim? Claro, mas quem trouxe a maldita da Emilly para nossas vidas foi eu. Sempre que nós conhecemos alguém, somos muito sinceros, em alguns casos, até taxados como grosseiros. Mas ninguém pode nos julgar.