O cheiro de cupim era a primeira coisa que sentia ao adentrar meu apartamento alugado. Dois mil e cem era o valor do meu salário na clínica, quando atendia a domicílio aos sábados e domingos conseguia um extra. Apesar do meu apartamento ter uma péssima aparência era aconchegante. Liguei o som e nas pontas dos pés comecei a dar um jeitinho na minha bagunça. Cansaço depois do trabalho? Às vezes sim e outras não! Mirei o relógio de parede e eram exatamente seis da noite. Continuei cantarolando até terminar todo o serviço.
Após uma ducha refrescante, coloquei minha camisola de ursinhos, uma das minhas favoritas de algodão e alças finas. Ninguém precisava saber das minhas mil e uma manias no privado. Não aparentava ter meus vinte e oito anos, devo confessar que amava um estilo mais alegre e menininha. Costumava ficar descalça no apartamento, pois a sensação do piso frio debaixo dos meus pés era uma delícia. Caminhei até a pequena cozinha e puxei o banquinho para alcançar o armário aéreo.
— Eu deveria pagar alguém pra consertar isso. — resmunguei, puxando uma das portas do armário.
O erro da altura do armário aéreo tinha sido de quem veio instalá-lo, infelizmente foi um erro e tanto para o meu tamanho. Peguei o milho de pipoca e desci do banquinho. Direcionei-me até a panela e joguei óleo, colocando no fogão em seguida. Aguardei que esquentasse um pouco e abri o pacote do milho de pipoca, colocando um pouco nela e tampando-a. Como cozinheira eu era um fracasso, portanto, não saí de perto do fogão até a pipoca estar pronta. Certa vez quase incendiei o apartamento por não saber usar uma panela de pressão.
Depois de colocar a pipoca em um recipiente de plástico, fui até a geladeira buscar o acompanhamento, um suquinho de maracujá que tinha feito mais cedo. Ouvi da cozinha o toque do meu celular, conseguia até imaginar quem era, com certeza, meus pais. Deixei tudo para trás e corri até o quarto para atender. Com o celular em mãos atendi a chamada de vídeo.
— Boa noite, pai! Como o senhor está? — perguntei, sorrindo. Meu pai Sebastião começou a tremer o celular. Ele não levava jeito pra aparelhos modernos.
— Filha, está me vendo? Arlete, vem aqui, não sei se nossa filha está me vendo! — berrou, ignorando a pergunta que havia lhe feito. Caí na gargalhada com o jeito atrapalhado do meu velho. Ele sempre chamava a mamãe para praticamente tudo.
Mamãe surgiu ajeitando seu cabelo curto. Ela era bem vaidosa, esperava chegar na sua idade e ser também assim.
— Pamel, está tudo bem, meu amor? — questionou, dando um leve empurrão no meu pai. Pamel, era o apelido que ela me chamava desde que era um bebê.
— Estou bem, mãe. E vocês estão? Cadê meu irmão? No banheiro batendo uma? — brinquei. Mamãe comentou uma vez que flagrou Gabriel no banheiro descabelando o palhaço.
— Estamos todos bem. Seu irmão não está em casa. Ele vive me dando cabelos brancos! O garoto é um rebelde... — não me surpreendi com a resposta dela, ele raramente parava em casa.
— Deixa eu ver direito a Pamela, Arlete! — papai resmungou, quase enfiando o olho na lente da câmera do celular. — Filha, quando vem pra casa? Seu pai está morrendo de saudades da garotinha dele viu!
Um dos maiores desejos do meu pai era me ter debaixo de suas asas para sempre. Gostava do seu cheiro de graxa por conta do trabalho na oficina. Ele trabalhava tanto que algumas vezes precisou tomar calmante por causa de estresse.
— Nas férias vou ver todos vocês! Não faça esse bico, papai! Não tem porque ficar chateado! Sabe que onde estou tenho mais oportunidades de crescer na carreira que escolhi.
— Eu te entendo filha, não ligue pro bico do seu pai. Conseguiu dar um jeito nos cupins do seu apartamento? — mordisquei os lábios com a pergunta dela. Deveria mentir? Não, porque ela saberia!
— Por enquanto não. A senhora sabe que trabalho muito e mal sobra tempo pra qualquer outra coisa... — justifiquei, querendo fugir o mais breve do assunto.
— É perigoso, Pamel. Cupins fazem mal à saúde! — disse ela, pronta para falar um monte se necessário.
Com medo de levar uma bronca da minha mãe inventei uma desculpa qualquer e encerrei a chamada de vídeo. Retornei para a cozinha e comecei a devorar a pipoca ali mesmo, tomando também todo o suco. Perdi o clima de assistir um bom filme naquela noite. Lavei a louça e fui para o quarto.
Arrumei as cobertas da minha cama e em seguida, sentei de frente pra escrivaninha. Usava aquela escrivaninha para desenhar. Eu não tinha um computador sobre ela e sim uma pilha de livros e cadernos de desenhos. Desenhar era um hobby e ajudava também a me acalmar. Quando era criança sonhava em ser estilista de moda, imaginava mulheres maravilhosas usando meus looks em todos os lugares. Nunca parei de desenhar roupas incríveis que nunca sairiam do papel. Por que nunca ousei tornar ao menos um dos desenhos em uma roupa real? Porque era mais fácil aceitar que elas eram apenas sonhos enquanto estivessem na folha de um caderno. Ter meus modelitos, por exemplo, no meu closet, partiriam meu coração em saber que somente eu poderia usá-los e mais ninguém.
Abri um dos cadernos de desenho antigo e fiquei um bom tempo admirando minha coleção de vestidos de verão. Chorei quando cheguei na página de vestidos de noiva, eram todos vestidos que possivelmente usaria no meu casamento um deles. Eu era muito solitária e por isso entreguei-me sempre a quem demonstrava um pouco de carinho. Mas tudo tinha mudado, drasticamente, entendi que para algumas mulheres o melhor era viver sozinha.
— Não seja boba. — murmurei, fechando o caderno.
Sexo sem compromisso era gostoso por um momento até os dois estarem satisfeitos e cada um seguir seu caminho. Durante um ano vinha tentando me adaptar à modernidade. Acontece que depois do prazer sempre veio a culpa, infelizmente eu não era aquele jeito, por mais que tentasse ser. No entanto, estava magoada e desconfiada demais pra tentar um relacionamento outra vez. Transar sem paixão não era tão empolgante. Ter desejos e saciá-los não costumava me fazer feliz.
Levantei da cadeira, indo até a cama. Joguei-me nela de bruços e ali fiquei. Não ter uma vida amorosa era algo que mexia muito com minha cabeça. Me sentia uma fracassada por não ter conseguido nunca manter um relacionamento. Por que tudo tinha que acabar? Não conseguia entender porque nunca fui valorizada de verdade. Adormeci molhando as cobertas com minhas lágrimas.
Depois da noite anterior terminar em lágrimas, no dia seguinte antes das seis da manhã entrei em contato com o segurança Henrique da clínica. Eu queria muito relaxar meu corpo e libertar meus pensamentos, mesmo que por um momento. Mesmo sabendo que apos o ato de brincar com ele as escondidas fosse me deixar culpada, era a melhor maneira de relaxar ainda assim, uma foda com aquele musculoso segurança.Ele sempre quis uma chance comigo, mas nunca levei em consideração até aquele momento que fiquei sem muitas opções. Por mensagem deixei claro minhas intenções. Como imaginava ele era um sem vergonha, topou na hora. Quando o táxi estacionou em frente a clínica lhe enviei uma mensagem avisando da minha chegada. Combinamos de ter nosso encontro íntimo em um dos banheiros. Adentrei o banheiro
Conversei por telefone com a senhora Albuquerque que marcou uma reunião em sua mansão para resolvermos a questão de pagamento e do que seria exigido de mim. Eram quatro da tarde quando cheguei na mansão. Ela pediu pra que um dos seus motoristas fossem me buscar no meu apartamento, talvez ela estivesse com medo que eu mudasse de ideia, não posso julgá-la porque falei tantas vezes que não aceitaria sua proposta e lá estava eu, prestes a entrar na zona perigosa. Quando passamos pelo grande portão, meu coração começou a palpitar, o trajeto foi um pouco demorado pra alguém tão ansiosa como eu estava. Nunca tinha estado antes em uma mansão como aquela tão luxuosa. Fiquei deslumbrada com tanta beleza, eles tinham até mesmo um chafariz!— Senhorita. — o motorista dis
Mal consegui dormir na noite interior com várias paranoias na cabeça. No dia seguinte, durante a manhã, me preparei para a guerra na mansão Albuquerque. Comprei um colete aprova de balas e também um spray de pimenta, esperava não ter que usá-lo no meu paciente, justo no primeiro dia. Sem meu uniforme, optei por roupas mais confortáveis, portanto, escolhi uma blusinha branca de alças e um short jeans curto com meia calça. Coloquei também um tênis branco com cadarços cinzas.Como eu queria mais informações sobre o acidente de Theo, pesquisei na Internet. Por que incomodar a senhora Albuquerque lembrando ela do acidente? Sendo que eu mesma poderia fazer minha pesquisa? Foi isso que pensei quando resolvi buscar no navegador do celular. O amigo dele precisou amputar parte do braço di
Theo AlbuquerqueEu não queria nenhum tratamento com fisioterapia, estava frustrado e não tinha porque continuar tratando a maldita lesão no meu joelho. Todos sabiam que eu não passava de um invalido manco! Um aleijado como a última fisioterapeuta havia falado. Me senti ofendido, claro, por isso acabei cometendo uma loucura ao pegar a pistola que guardava como segurança na gaveta do criado-mudo. Apenas queria calá-la das barbaridades que falava de mim, não era minha intenção realmente lhe dar um tiro.A única coisa que constantemente deixava-me ligado a vida era minha família, não queria fazê-los sofrer. Muitas vezes pensei em tirar minha vida, acabar com todo meu sofrimento, porém, era injusto com aqueles que m
Pamela CamposNo caso de estresse rotineiro um porre e uma transa com um homem gostoso resolve, com esse pensamento saí sábado à noite. Quem não fica feliz depois de alguns goles da melhor bebida alcoólica? Às vezes nem precisa ser a mais cara e sim, a intenção de perder os sentidos! Após cinco dias seguidos de muita exaustão e discussões, resolvi sair pra curtir e esquecer do meu paciente problemático. A senhora Albuquerque foi compreensiva ao entender que não conseguiria estar com seu filho todos os dias. Folgas aos sábados e domingos para descansar, foi tudo que lhe pedi.Mandei meu currículo pra algumas clínicas e não tinha recebido sequer uma ligação. A grana que os Albuquerque
Sabe quando você tem que agir naturalmente e não consegue? Exatamente, estou falando de mim! Na segunda-feira me transformei em outra mulher, usava um boné e óculos escuros. Coloquei uma jardineira preta com uma camiseta rosa de mangas longas. Optei por um par de chinelos. Com minha cabeça distante do corpo acabei esquecendo de pôr o colete aprova de balas. Entrei no carro do motorista da senhora Albuquerque com um frio na espinha. Toquei algumas vezes na alça do meu sutiã incomodada, mas não era com ele, acontece que ainda estava com meus pensamentos a mil por causa do incidente com meu paciente.Recorri a internet pra tentar descobrir se ele era ou não homossexual. Nos sites de fofocas encontrei fotos dele com mulheres diferentes em festas badaladas. Aparentemente ele não era gay. No entanto, tinha esperan&ccedi
Theo AlbuquerquePor um momento pensei que fosse capaz de sair novamente com alguma mulher, mas especificamente uma certa fisioterapeuta. Mas como chegar junto de uma mulher como ela? Não sabia, portanto, enchi o saco da minha irmãzinha até que ela me passasse o telefone de Pamela. O plano era falar por chamada de vídeo que queria conhecê-la melhor, apesar dos seus defeitos irritantes, como por exemplo, ser mandona demais! Claro que passou pela minha cabeça ela dizendo vários não de maneiras diferentes, mesmo assim quis arriscar.Ela atendeu a chamada de vídeo de um jeito que nem nos meus sonhos sonharia em tão pouco tempo. A visão que tive pareceu surreal, não consegui nem ao menos piscar os olhos. Eram um par de seios bem di
Pamela CamposApós chegar da mansão Albuquerque, convidei a Dra. Bruna para meu apartamento. Não era porque não trabalhávamos mais juntas que tínhamos que cortar laços. Preparei uma refeição simples e aguardei sua chegada. O cheiro de Theo ficou impregnado nas minhas roupas, o que me fez ter raiva por saber da sua diversão com a prostituta. Raiva por quê? Porque ele era um fingido a doente, claro! Saí dos meus devaneios quando ouvi a porta anunciando a chegada da minha convidada. Levantei a bunda do sofá e fui atender a porta.— Bruna, entra. — disse abrindo passagem para ela. — Obrigada por ter aceito meu convite em cima da hora.Ela era uma mulher incrível e nunca olhou com asco meu humilde lar. Geralmente nossos encontros eram em sua casa luxuosa, mas sempre havia exceções como aquela.— Nã