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Capítulo 05

Mal consegui dormir na noite interior com várias paranoias na cabeça. No dia seguinte, durante a manhã, me preparei para a guerra na mansão Albuquerque. Comprei um colete aprova de balas e também um spray de pimenta, esperava não ter que usá-lo no meu paciente, justo no primeiro dia. Sem meu uniforme, optei por roupas mais confortáveis, portanto, escolhi uma blusinha branca de alças e um short jeans curto com meia calça. Coloquei também um tênis branco com cadarços cinzas.

Como eu queria mais informações sobre o acidente de Theo, pesquisei na Internet. Por que incomodar a senhora Albuquerque lembrando ela do acidente? Sendo que eu mesma poderia fazer minha pesquisa? Foi isso que pensei quando resolvi buscar no navegador do celular. O amigo dele precisou amputar parte do braço direito. O acidente tinha quase dois anos que tinha ocorrido. Por que ele continuava com dificuldade para caminhar? Sua lesão não era tão grave assim!

Deixei de lado meus questionamentos e peguei o colete preto, colocando-o.

— Na loja me senti menos ridícula do que agora... — resmunguei, rindo da minha infelicidade de ter que usá-lo pra ficar protegida. — Deveria ter comprado também uma arma de choque. Mas, dar um choque no meu paciente seria uma péssima ideia!

Revirei os olhos. Caminhei pela sala de estar falando sozinha.

— Cuidado, Theo Albuquerque, sou uma mulher perigosa! — brinquei, fitando a televisão, como se estivesse segurando uma arma de fogo em mãos. — Qualquer gracinha te enfio uma bala no meio da testa! Não duvide da minha capacidade de destruí-lo!

Caí na gargalhada outra vez, vendo meu reflexo pela tela da televisão desligada. Não colocaria respeito nenhum se agisse feito uma adolescente maluca! Olhei para o relógio de parede e percebi estar atrasada, com certeza, o motorista já me aguardava lá embaixo. Coloquei meu telefone dentro da bolsa e respirei fundo antes de sair pela porta. Esperava não estar com mau hálito, tinha almoçado fora e comi muito alho, além de escovar bem os dentes também usei enxaguante bucal.

Enquanto descia pela escada meu pé deu uma leve torcida, cheguei até o carro mancando. Era um sinal do destino pra mim desistir? Se fosse ele tinha falhado porque não desistiria.

— Senhorita, está bem? — o motorista perguntou, pronto para me amparar se fosse necessário. Aceitar qualquer ajuda naquele momento daria as más-línguas a oportunidade de fofocar que me viram embriagada, entrando em um carro de luxo com um senhorzinho que tinha idade de ser meu avô.

— Não se preocupe comigo! Vamos? — disse já abrindo a porta do carro. Não que eu quisesse ser grosseira ou algo assim, apenas estávamos sendo observados! Entrei no carro apressada, na hora de fechar a porta, a alça da minha bolsa prendeu nela, mas consegui tirá-la puxando-a um pouco.

Durante o trajeto até a mansão, minhas mãos não paravam de suar frio. Não preciso mencionar que saí do veículo mancando e sentindo dor, certo? A governanta como sempre me recebeu. Do lado de dentro da mansão a mãe do meu paciente esperava por mim, ao seu lado estava a moça que tinha visto no dia anterior perto das rosas brancas. As duas me encararam como se estivessem vendo uma atração de circo. Era por que mancava ou por causa do colete? Não sabia!

— Ela parece ter a minha idade, mamãe... — a jovem murmurou, alto o suficiente para que eu conseguisse ouvir.

Aquela não era a primeira vez que era comparada a uma adolescente por causa da minha aparência jovial. Eu era uma profissional formada de vinte e oito anos, senti-me um pouco incomodada com a situação.

— Boa tarde! — disse um pouco ríspida, estalando a língua. — Onde está meu paciente?

Não queria ficar de conversinha com as duas, estava ali para trabalhar, não pra ficar de papinho.

— Anabel, melhor acompanhá-la até o quarto do seu irmão. — falou, dando um sorriso sem graça, fitando-me. — Desculpe, mas não posso entrar naquele quarto hoje...

O quê? Surpresa, coloquei o peso do meu corpo pra outra perna. Como assim a senhora Albuquerque não entraria comigo no quarto do seu filho criminoso? Revirei os olhos. Cogitei desistir ali mesmo de tudo.

— Theo, discutiu com a mamãe mais cedo. — disse a filha tomando posicionamento no assunto. — Você é sempre tão séria assim? Pode ficar à vontade! Estou vendo que você é inteligente viu? Também usaria um colete aprova de balas perto do meu irmão!

Logo ela saiu me puxando pelo braço como se fossemos grandes amigas pelo corredor da mansão. Meu descontentamento era tanto, que não consegui aliviar a tensão que sentia. Paramos em frente uma das portas do andar debaixo. Suspirei com a cabeça quente. Não sabia o que me esperava do outro lado da porta.

— Esse é o quarto do meu irmão. — comentou, abrindo a porta. — Sua fisioterapeuta nova chegou, mendigo!

Mendigo? Não tinha entendido aquele comentário maldoso até adentrar o quarto e ver seu irmão em estado lamentável. Ele era mesmo o grande Theo Albuquerque? A barba grande e cabelos desgrenhados me assustaram! Nas fotos ele era outra pessoa totalmente diferente!

— Essa daí não é uma das suas amigas chatas? Ana, não chegue no meu quarto assim! Pare de brincadeiras! Sua amiga até mesmo roubou um dos coletes dos seguranças! — falou todo mal-humorado, afundado para dentro das cobertas.

— Acabei de conhecê-la! Estou falando sério, ela é sua fisioterapeuta! Vou deixá-los a sós! Por favor, evite espantá-la com seu fedor de cachorro de rua!

Ela não brincou quando disse que nos deixaria a sós. Coloquei minha bolsa na poltrona de couro marrom e me aproximei da cama. Puxei as cobertas sem paciência. O que foi? Não tinha motivo algum deu tratá-lo com carinho ou algo assim! Ele tinha que me obedecer, porque eu não era paga pra ficar de gracinhas com o filho mimado dos Albuquerque!

— Me chamo, Pamela, e você vai colaborar com tudo que eu disser, entendeu? — falei sem muita enrolação. — Pra começar, saia dessa cama, agora! Quero avaliar sua lesão no joelho! Tenho medo de cara feia não! Anda logo! Quer que eu te ajude sair te puxando pela orelha?

Ameacei apoiando um dos joelhos em cima da cama. Theo cravou seus olhos cor de mel nos meus.

— De onde você saiu, sua doida? Confessa que é uma das pirralhas amigas da minha irmã! — gritou, agarrando meu pulso bruscamente. — Anabel! Venha buscar sua amiga, antes que eu faça uma besteira!

Com a minha mão livre lhe dei um tapão no meio da testa.

— Fala comigo de novo assim, que esmago suas bolas! Sou uma profissional e não uma das amigas da sua irmã! Me respeite! Tenho vinte e oito anos! Posso esfregar na sua cara, meus documentos!

Era um escândalo que ele queria? Tinha conseguido, pois ali comecei a perder a pouca consciência que tinha. A senhora Albuquerque adentrou o quarto com dois seguranças a reboque.

— O que houve? Theo, você bateu na senhorita Campos? Menino, o que você tem nessa cabeça? Desde quando bate em mulheres?

Até parece que eu apanharia do cachorro louco! Olhei para senhora e empurrei o infeliz do seu filho que caiu deitado na cama.

— Senhora, ele disse que eu era uma pirralha e me ameaçou com seus punhos fortes! — comecei a falar exagerando um pouco. — Não mereço isso, apenas vim fazer meu trabalho, não estou aqui para apanhar de um ogro desses! Ele recusa-se a sair da cama pra que eu possa avaliar sua lesão!

— Que mentirosa! Mãe, não acredite nela e sim em mim! Ela é louca! Chegou aqui com grosserias e querendo me obrigar a fazer todas suas vontades! Não viu que ela estava praticamente se jogando em cima de mim? Caso eu não tivesse gritado, vai saber o que ela poderia fazer comigo...

— Theo! Te conheço muito bem pra saber que é capaz de tudo! Não quero que a trate assim, ela foi a única que aceitou tratar sua lesão! Todos sabem o filho que tenho! Não seja minha ruína, garoto! Não me faça te dar umas palmadas na frente da senhorita Campos! Obedeça-a em tudo! Ou vou te internar em um hospital psiquiátrico! Estou cansada!

Uma bronca e tanto ela deu no filho dela, ele sequer se mexeu na cama. Tentei segurar o riso.

— Desculpe, querida. Eu sei que não é fácil tratar alguém como ele, mas espero que não desista. — disse ela tocando minhas mãos. — Por favor, fique.

— Vou ficar, apenas pela senhora. — respondi, lançando um olhar terrível pra ele. — Espero que seu filho aprenda a respeitar uma mulher...

O cachorro louco tinha despertado a ira da pessoa certa porque eu não era de deixar passar. Pra alguém depressivo ele era muito agressivo! Ele nunca mais esqueceria de mim e dos cuidados que lhe daria, com muita emoção!

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