Mal consegui dormir na noite interior com várias paranoias na cabeça. No dia seguinte, durante a manhã, me preparei para a guerra na mansão Albuquerque. Comprei um colete aprova de balas e também um spray de pimenta, esperava não ter que usá-lo no meu paciente, justo no primeiro dia. Sem meu uniforme, optei por roupas mais confortáveis, portanto, escolhi uma blusinha branca de alças e um short jeans curto com meia calça. Coloquei também um tênis branco com cadarços cinzas.
Como eu queria mais informações sobre o acidente de Theo, pesquisei na Internet. Por que incomodar a senhora Albuquerque lembrando ela do acidente? Sendo que eu mesma poderia fazer minha pesquisa? Foi isso que pensei quando resolvi buscar no navegador do celular. O amigo dele precisou amputar parte do braço direito. O acidente tinha quase dois anos que tinha ocorrido. Por que ele continuava com dificuldade para caminhar? Sua lesão não era tão grave assim!
Deixei de lado meus questionamentos e peguei o colete preto, colocando-o.
— Na loja me senti menos ridícula do que agora... — resmunguei, rindo da minha infelicidade de ter que usá-lo pra ficar protegida. — Deveria ter comprado também uma arma de choque. Mas, dar um choque no meu paciente seria uma péssima ideia!
Revirei os olhos. Caminhei pela sala de estar falando sozinha.
— Cuidado, Theo Albuquerque, sou uma mulher perigosa! — brinquei, fitando a televisão, como se estivesse segurando uma arma de fogo em mãos. — Qualquer gracinha te enfio uma bala no meio da testa! Não duvide da minha capacidade de destruí-lo!
Caí na gargalhada outra vez, vendo meu reflexo pela tela da televisão desligada. Não colocaria respeito nenhum se agisse feito uma adolescente maluca! Olhei para o relógio de parede e percebi estar atrasada, com certeza, o motorista já me aguardava lá embaixo. Coloquei meu telefone dentro da bolsa e respirei fundo antes de sair pela porta. Esperava não estar com mau hálito, tinha almoçado fora e comi muito alho, além de escovar bem os dentes também usei enxaguante bucal.
Enquanto descia pela escada meu pé deu uma leve torcida, cheguei até o carro mancando. Era um sinal do destino pra mim desistir? Se fosse ele tinha falhado porque não desistiria.
— Senhorita, está bem? — o motorista perguntou, pronto para me amparar se fosse necessário. Aceitar qualquer ajuda naquele momento daria as más-línguas a oportunidade de fofocar que me viram embriagada, entrando em um carro de luxo com um senhorzinho que tinha idade de ser meu avô.
— Não se preocupe comigo! Vamos? — disse já abrindo a porta do carro. Não que eu quisesse ser grosseira ou algo assim, apenas estávamos sendo observados! Entrei no carro apressada, na hora de fechar a porta, a alça da minha bolsa prendeu nela, mas consegui tirá-la puxando-a um pouco.
Durante o trajeto até a mansão, minhas mãos não paravam de suar frio. Não preciso mencionar que saí do veículo mancando e sentindo dor, certo? A governanta como sempre me recebeu. Do lado de dentro da mansão a mãe do meu paciente esperava por mim, ao seu lado estava a moça que tinha visto no dia anterior perto das rosas brancas. As duas me encararam como se estivessem vendo uma atração de circo. Era por que mancava ou por causa do colete? Não sabia!
— Ela parece ter a minha idade, mamãe... — a jovem murmurou, alto o suficiente para que eu conseguisse ouvir.
Aquela não era a primeira vez que era comparada a uma adolescente por causa da minha aparência jovial. Eu era uma profissional formada de vinte e oito anos, senti-me um pouco incomodada com a situação.
— Boa tarde! — disse um pouco ríspida, estalando a língua. — Onde está meu paciente?
Não queria ficar de conversinha com as duas, estava ali para trabalhar, não pra ficar de papinho.
— Anabel, melhor acompanhá-la até o quarto do seu irmão. — falou, dando um sorriso sem graça, fitando-me. — Desculpe, mas não posso entrar naquele quarto hoje...
O quê? Surpresa, coloquei o peso do meu corpo pra outra perna. Como assim a senhora Albuquerque não entraria comigo no quarto do seu filho criminoso? Revirei os olhos. Cogitei desistir ali mesmo de tudo.
— Theo, discutiu com a mamãe mais cedo. — disse a filha tomando posicionamento no assunto. — Você é sempre tão séria assim? Pode ficar à vontade! Estou vendo que você é inteligente viu? Também usaria um colete aprova de balas perto do meu irmão!
Logo ela saiu me puxando pelo braço como se fossemos grandes amigas pelo corredor da mansão. Meu descontentamento era tanto, que não consegui aliviar a tensão que sentia. Paramos em frente uma das portas do andar debaixo. Suspirei com a cabeça quente. Não sabia o que me esperava do outro lado da porta.
— Esse é o quarto do meu irmão. — comentou, abrindo a porta. — Sua fisioterapeuta nova chegou, mendigo!
Mendigo? Não tinha entendido aquele comentário maldoso até adentrar o quarto e ver seu irmão em estado lamentável. Ele era mesmo o grande Theo Albuquerque? A barba grande e cabelos desgrenhados me assustaram! Nas fotos ele era outra pessoa totalmente diferente!
— Essa daí não é uma das suas amigas chatas? Ana, não chegue no meu quarto assim! Pare de brincadeiras! Sua amiga até mesmo roubou um dos coletes dos seguranças! — falou todo mal-humorado, afundado para dentro das cobertas.
— Acabei de conhecê-la! Estou falando sério, ela é sua fisioterapeuta! Vou deixá-los a sós! Por favor, evite espantá-la com seu fedor de cachorro de rua!
Ela não brincou quando disse que nos deixaria a sós. Coloquei minha bolsa na poltrona de couro marrom e me aproximei da cama. Puxei as cobertas sem paciência. O que foi? Não tinha motivo algum deu tratá-lo com carinho ou algo assim! Ele tinha que me obedecer, porque eu não era paga pra ficar de gracinhas com o filho mimado dos Albuquerque!
— Me chamo, Pamela, e você vai colaborar com tudo que eu disser, entendeu? — falei sem muita enrolação. — Pra começar, saia dessa cama, agora! Quero avaliar sua lesão no joelho! Tenho medo de cara feia não! Anda logo! Quer que eu te ajude sair te puxando pela orelha?
Ameacei apoiando um dos joelhos em cima da cama. Theo cravou seus olhos cor de mel nos meus.
— De onde você saiu, sua doida? Confessa que é uma das pirralhas amigas da minha irmã! — gritou, agarrando meu pulso bruscamente. — Anabel! Venha buscar sua amiga, antes que eu faça uma besteira!
Com a minha mão livre lhe dei um tapão no meio da testa.
— Fala comigo de novo assim, que esmago suas bolas! Sou uma profissional e não uma das amigas da sua irmã! Me respeite! Tenho vinte e oito anos! Posso esfregar na sua cara, meus documentos!
Era um escândalo que ele queria? Tinha conseguido, pois ali comecei a perder a pouca consciência que tinha. A senhora Albuquerque adentrou o quarto com dois seguranças a reboque.
— O que houve? Theo, você bateu na senhorita Campos? Menino, o que você tem nessa cabeça? Desde quando bate em mulheres?
Até parece que eu apanharia do cachorro louco! Olhei para senhora e empurrei o infeliz do seu filho que caiu deitado na cama.
— Senhora, ele disse que eu era uma pirralha e me ameaçou com seus punhos fortes! — comecei a falar exagerando um pouco. — Não mereço isso, apenas vim fazer meu trabalho, não estou aqui para apanhar de um ogro desses! Ele recusa-se a sair da cama pra que eu possa avaliar sua lesão!
— Que mentirosa! Mãe, não acredite nela e sim em mim! Ela é louca! Chegou aqui com grosserias e querendo me obrigar a fazer todas suas vontades! Não viu que ela estava praticamente se jogando em cima de mim? Caso eu não tivesse gritado, vai saber o que ela poderia fazer comigo...
— Theo! Te conheço muito bem pra saber que é capaz de tudo! Não quero que a trate assim, ela foi a única que aceitou tratar sua lesão! Todos sabem o filho que tenho! Não seja minha ruína, garoto! Não me faça te dar umas palmadas na frente da senhorita Campos! Obedeça-a em tudo! Ou vou te internar em um hospital psiquiátrico! Estou cansada!
Uma bronca e tanto ela deu no filho dela, ele sequer se mexeu na cama. Tentei segurar o riso.
— Desculpe, querida. Eu sei que não é fácil tratar alguém como ele, mas espero que não desista. — disse ela tocando minhas mãos. — Por favor, fique.
— Vou ficar, apenas pela senhora. — respondi, lançando um olhar terrível pra ele. — Espero que seu filho aprenda a respeitar uma mulher...
O cachorro louco tinha despertado a ira da pessoa certa porque eu não era de deixar passar. Pra alguém depressivo ele era muito agressivo! Ele nunca mais esqueceria de mim e dos cuidados que lhe daria, com muita emoção!
Theo AlbuquerqueEu não queria nenhum tratamento com fisioterapia, estava frustrado e não tinha porque continuar tratando a maldita lesão no meu joelho. Todos sabiam que eu não passava de um invalido manco! Um aleijado como a última fisioterapeuta havia falado. Me senti ofendido, claro, por isso acabei cometendo uma loucura ao pegar a pistola que guardava como segurança na gaveta do criado-mudo. Apenas queria calá-la das barbaridades que falava de mim, não era minha intenção realmente lhe dar um tiro.A única coisa que constantemente deixava-me ligado a vida era minha família, não queria fazê-los sofrer. Muitas vezes pensei em tirar minha vida, acabar com todo meu sofrimento, porém, era injusto com aqueles que m
Pamela CamposNo caso de estresse rotineiro um porre e uma transa com um homem gostoso resolve, com esse pensamento saí sábado à noite. Quem não fica feliz depois de alguns goles da melhor bebida alcoólica? Às vezes nem precisa ser a mais cara e sim, a intenção de perder os sentidos! Após cinco dias seguidos de muita exaustão e discussões, resolvi sair pra curtir e esquecer do meu paciente problemático. A senhora Albuquerque foi compreensiva ao entender que não conseguiria estar com seu filho todos os dias. Folgas aos sábados e domingos para descansar, foi tudo que lhe pedi.Mandei meu currículo pra algumas clínicas e não tinha recebido sequer uma ligação. A grana que os Albuquerque
Sabe quando você tem que agir naturalmente e não consegue? Exatamente, estou falando de mim! Na segunda-feira me transformei em outra mulher, usava um boné e óculos escuros. Coloquei uma jardineira preta com uma camiseta rosa de mangas longas. Optei por um par de chinelos. Com minha cabeça distante do corpo acabei esquecendo de pôr o colete aprova de balas. Entrei no carro do motorista da senhora Albuquerque com um frio na espinha. Toquei algumas vezes na alça do meu sutiã incomodada, mas não era com ele, acontece que ainda estava com meus pensamentos a mil por causa do incidente com meu paciente.Recorri a internet pra tentar descobrir se ele era ou não homossexual. Nos sites de fofocas encontrei fotos dele com mulheres diferentes em festas badaladas. Aparentemente ele não era gay. No entanto, tinha esperan&ccedi
Theo AlbuquerquePor um momento pensei que fosse capaz de sair novamente com alguma mulher, mas especificamente uma certa fisioterapeuta. Mas como chegar junto de uma mulher como ela? Não sabia, portanto, enchi o saco da minha irmãzinha até que ela me passasse o telefone de Pamela. O plano era falar por chamada de vídeo que queria conhecê-la melhor, apesar dos seus defeitos irritantes, como por exemplo, ser mandona demais! Claro que passou pela minha cabeça ela dizendo vários não de maneiras diferentes, mesmo assim quis arriscar.Ela atendeu a chamada de vídeo de um jeito que nem nos meus sonhos sonharia em tão pouco tempo. A visão que tive pareceu surreal, não consegui nem ao menos piscar os olhos. Eram um par de seios bem di
Pamela CamposApós chegar da mansão Albuquerque, convidei a Dra. Bruna para meu apartamento. Não era porque não trabalhávamos mais juntas que tínhamos que cortar laços. Preparei uma refeição simples e aguardei sua chegada. O cheiro de Theo ficou impregnado nas minhas roupas, o que me fez ter raiva por saber da sua diversão com a prostituta. Raiva por quê? Porque ele era um fingido a doente, claro! Saí dos meus devaneios quando ouvi a porta anunciando a chegada da minha convidada. Levantei a bunda do sofá e fui atender a porta.— Bruna, entra. — disse abrindo passagem para ela. — Obrigada por ter aceito meu convite em cima da hora.Ela era uma mulher incrível e nunca olhou com asco meu humilde lar. Geralmente nossos encontros eram em sua casa luxuosa, mas sempre havia exceções como aquela.— Nã
A noite anterior não foi nada mal considerando o fato de que passei a noite quase toda sendo zoada pela Dra. Bruna. No dia seguinte logo cedo fui lavar minhas calcinhas ao som de sofrência. Eu queria ter uma manhã tranquila e também me sentia inspirada para fazer alguns desenhos. Após estender minhas calcinhas para secar, abaixei o volume do som e corri na ponta dos pés até o quarto. Empolgada, sentei na cadeira de frente para a escrivaninha. Abri o caderno de desenhos, pegando o lápis.— O que vai ser hoje? — perguntei-me, pressionando o lápis nos lábios.Comecei com alguns rabiscos do que seria um vestido de inverno até ser interrompida pelo toque do meu celular. Levantei da cadeira revirando os olhos. Quando peguei meu telefone era uma ligaç
Após hospedar meu irmãozinho da maneira certa, digo ditando minhas regras claro, almoçamos em um restaurante próximo do meu apartamento, não deixei que ele passasse fome com miojo. Não queria ter que deixá-lo sozinho, mas foi preciso, não tinha porque levá-lo junto comigo para a mansão Albuquerque. A primeira coisa que queria fazer depois de chegar na mansão era procurar Anabel e pedir desculpas. Eu errei jogando minha fúria toda em cima dela, esperava que ela pudesse me desculpar. Pro look daquele dia optei por uma calça jeans e um moletom de capuz rosa. Talvez se perguntem, e o seu colete? Não coloquei até porque cão que late não morde.Durante o trajeto fiquei em silêncio. Quando desci do carro, encontrei Anabel sentada próxima ao jardim em uma cadeira de balanço. Envergonhada caminhei em sua direção.— Ol&aac
Theo AlbuquerqueEla merecia algo melhor, alguém que pudesse lhe trazer alegrias e ser mais do que um peso. Eu não era para ela e não forçaria nada, por mais que quisesse tê-la nos meus braços e sentir o sabor dos seus lábios, afastei-me. Sua reação com minha ação repentina não foi das melhores. E se nos beijássemos? O talvez deveria ficar nos meus pensamentos, não de fato deixar acontecer. Levantei do chão, estendi minha mão em sua direção para ajudá-la levantar do chão.— Desculpe as provocações, senhorita Pamela. — falei, torcendo que ela aceitasse minha ajuda.Com um sorriso lindo ela segurou firme minha mão. De alguma maneira aquele gesto fez meu coração acelerar e eu gostei muito disso.— Estou me acostumando às suas esquisit