O capitão revirou os olhos mais insatisfeitos ainda. Não conseguia ver o garoto com as chamas altas que ardiam no convés. Aquilo parecia um inferno. Ele pouco se lembrava daquele garoto durante as reuniões da Armada. Faith ainda passava parte do ano em terra firme no castelo de Escarlate, mas aquele garoto... Ah, ele havia praticamente crescido a bordo do navio. Havia os comentários, era claro. O menino tinha pavio curto, encrenqueiro e era um excelente espadachim. Nunca desistia de uma luta.
Um novo estrondo ensurdecedor ecoou. O cheiro ácido de pólvora e enxofre enchia o ar. Outra vez a figura esmirrada amparava golpes da mesma forma que ataca e aquilo era com certeza uma rapineira. Rick estava pasmo. Ele próprio era conhecido por sua perícia com espadas, mas aquele garoto... Seus reflexos e agilidade... Poderia até mesmo ser um lobo, pois não pareciam humanos. Ele poderia se igualar com desen
-Não abandonei o moleque imprestável. Quando puser minhas ...As mãos de Rick Morgan agarraram Cornor pelo colarinho da camisa, mandando pelos ares o restante de sua prudência. O primeiro imediato respirava entre golfadas suspenso no ar vários centímetros, os pés balançando.- Costumo avisar apenas uma vez. - O capitão sibilava. Seus olhos não exibiam mais o profundo azul do céu. Ele era um lobo, estava furioso e seu olhar era dardejante e negro como a noite ao resplandecer ameaçador. – Não vai chegar perto desse garoto. Kassuim está sob minha proteção. O garoto é protegido dos lobos, eu fui bastante claro?O baque surdo do escaler chegou a seus ouvidos ao ser novamente lançado ao mar. E Rick poderia desferir um rosário de infinitas pragas. Ah, Zagorra era homem de confiança de Will. Estaria com certeza morta para expli
Altura baixa, corpo franzino e ombros terrivelmente pequenos. As roupas largas e molhadas apenas acentuavam a aparência frágil. O rosto sujo de fuligem exibia traços tensos apesar do olhar que reluzia com um ódio ferino.Kassuim nada enxergava. Nada via além de Cornor. Ele matara Zagorra. Ignorava toda a dor, mordendo os lábios com força. A dor era dilacerante cada vez que respirava. O curativo improvisado não estava ajudando muito, ainda assim apenas a ira a orientava. Cornor ia pagar. A pedra em seu pescoço começou a se esquentar. Era sempre um problema magia acidental. Coisas simplesmente aconteciam.Ah, iam descobrir que ela era uma mulher. E muito pior. Iam saber que ela era uma feiticeira. Não ia fazer diferença. Ia acabar sangrando até morrer.- Cornor... Eu... Eu vou...Richard Morgan interceptou lhe o caminho e franziu o nariz com o cheiro adocicado que cheg
Ele era odioso! Detestável. Ah, ela odiava aquele homem. Ou então poderia com facilidade fazê-lo triturar aquela palavra odiosa. Queria só se sentar e chorar na sua miséria. Aquele corte doía... E seu temperamento explosivo aflorou com naturalidade diante daquele homem. Ah, com toda a certeza ela odiava mesmo ele.Só que aparência dele parecia terrivelmente masculina e primitiva. Perigosa. Sentia o sangue latejas nas têmporas ao apoiar-se na manopla da corrente da âncora. Não reparava mais em Cornor. Que Cornor fosse para o inferno.Ele não a tinha reconhecido. Estava satisfeita, muito satisfeita aquilo. Não a incomodava nem um pouquinho. Desde quando um maldito lobo não podia farejar?&
Ninguém falava, nem mesmo Cornor.Ninguém esperava por aquilo. Rick deteve-se boquiaberto. Não era somente ruim. Era péssimo! Por que ele se lembrava de Faith? A maior parte dali concordava com ela mais sabia ter prudência o suficiente para não fazer comentários. Raios! O menino de fato tinha pavio curto. E a lista infindável de acusações prosseguia de forma implacável. O garoto pretendia liderar um motim, senhor Deus? Ou liderar uma batalha?Passado o choque, Cornor gritou e urrou como um animal teria feito diante dos insultos. Ele exibia uma cor magenta no rosto e podia arrancar os bigodes com os dedos tamanha a fúria. Rick teve o cuidado de colocar-se a frente de Kassuim quando o rosto alterava de cor, enquanto Michael ajudava a impor distância. O garoto era imprudente Irresponsável.
O corpo dele reagiu num espasmo involuntário que o fez abafar um gemido. Ele precisava com urgência passar algumas horas com Mayra. Sexo, puramente sexo para extravasar a energia. Mayra era excelente para levar um homem ao paraíso e ele podia se liberar.-Estou avisando, moleque. Nem Thalagar dessa vez vai salvar seu pescoço. E não vão ser apenas algumas chibatadas.“Não vai encostar as malditas garras nela!”Era definitivamente uma mulher. Rick suspirou miserável.Cornor forçav
Podia jurar que o corpo pequeno se contraia num espasmo de dor junto ao seu. Ele, ou ela, ou o que o maldito fosse estava ferido. Não era impressão sua. O sangue tinha um atrativo natural para ele depois de tanto tempo sem caçar.-Não... – a resposta era um sussurro baixo.Ela mentia. Desviou a cabeça rompendo o contato. Seria sua ruína total se caísse em prantos no meio do convés e faltava muito pouco para aquilo. Estava também se sentindo cansada e zonza. O ferimento deveria ter voltado a sangrar. Precisava se afastar daquele homem. Ou então se aninhar nos braços dele. A dor não passava. Fisgava e latejava. Sentia
Michael respirou fundo ao emergir das águas geladas do mar de Ravlen, ignorando o frio latejante. Impaciente e gelado com a temperatura baixa procurou Morgan.- Essa água está gelada. – Ele reclamava. – Que malditas peças são essas? O garoto estava se referindo aquelas Peças de quatro?As ondas faziam espumas, indicando rochedos nas proximidades e a correnteza era forte ao impulsionar as pernas. Já tinha sido um milagre não terem se ferido naqueles rochedos. Mas não havia qualquer sinal do garoto.-Consegue ver alguma coisa? - Richard gritava para ser ouvido acima do barulho das ondas.&
Dizia aquilo com uma litania ao forçar o corpo para fora do mar. Apoiando-se no bote ansioso para que o ar frio aplacasse a febre infernal.Era alucinação. Era claro que era. Não podia haver outra explicação.Era com toda certeza o pior dia de sua vida. Olhou com desânimo para Kassuim. Era... Ah, era...Era ela. As lembranças tinham nítidas como os raios que rasgavam o céu escuro.Era bem, era uma maldição. O menino não respirava. A tonalidade azulada dos lábios... Estava morto?