— O que? Por que eu faria isso? — Orion perguntou inquieto. — Teve outra visão? Algo ruim está para acontecer, não está?
— Não sei com clareza, mas preciso que você esteja seguro... Por favor, eu insisto que saia da alcateia hoje! — Supliquei, mesmo sem poder enxergar, senti que ele ponderava. — Orion?
— Está bem..., Mas e você? — Suspirando, senti que ele se erguia.
— Ficarei bem, apenas se mantenha seguro, você é como um irmão para mim. — Esforcei um sorriso.
— Irmão... — Rosnou o ômega contra o gosto. — Acho bom estar viva quando eu retornar à alcateia!
— Farei o meu melhor!
Senti que ele havia saído. Em uma prece, clamei à Deusa:
— Por favor, proteja o meu amigo e irmão de coração.
Cedi novamente à exaustão dos ferimentos e despertei em minha escuridão com um forte chute em minha barriga. Gemi desesperada, sentindo as lágrimas se acumularem, e farejando a nuance dos cheiros, percebi de alguém conhecido que estava presente e furioso.
— M*****a, me deixou mal na frente do Alfa hoje! — Ele sussurrou agarrando meus pelos puxando-me para cima antes de deferir mais um chute em meu corpo.
— Eu? — Choraminguei. — Me perdoe, Dante.
Agarrando minha cabeça, Dante aproximou seu hálito do meu focinho, acabei me mijando de medo.
— Criatura nojenta. — Ele me soltou rosnando. — Quando nos unirmos, será questão de tempo até sua vida ser ceifada de uma vez por todas. Aí poderei ter uma companheira de verdade.
— Como a Esmeralda? — Falei entre as presas com ódio.
— Com ciúmes? — Gargalhando frio, ele me agarrou novamente. Meu corpo estava mole e fraco, não suportando mais tamanha tortura. — Você nunca será capaz de me dar o que quero ou de suprir minhas necessidades. Olha só para você... Nem mesmo a Deusa teve pena de uma loba como você!
— Se passarem desta noite vivos, quem sabe Esmeralda não lhe dê o que deseja. — Sorri ironicamente, sentindo as vibrações do chão mudarem. O ar estava mais carregado, o aroma que vinha de fora estava tomado por poder, ódio e sangue.
— O que você quer dizer com isso? — Rosnou Dante enfurecido.
— Dante? Já preparou a presa? — Brandou o Alfa a passos firmes.
— Sim, meu rei... — Jogando-me no chão, Dante respondeu ao rei com veemência. Estremeci compreendendo suas palavras; meu pai não me deixaria em paz, não aguardaria minha recuperação antes de me machucar novamente.
— Meu Alfa... — Sussurrei com medo de ser repreendida. — Não estou em condições aceitáveis para ser uma presa digna para sua caça... Eu te imploro, me dê esta noite para me recuperar.
Algo agarrou firme minha carne, dilacerando-a como se rasgasse um pano ao meio. Gritei de dor, tremendo descompassada.
— Se quiser se alimentar hoje, loba inútil, terá que contribuir com a alcateia de alguma forma! — O hálito podre e sanguinário de meu pai fazia minhas entranhas se contorcerem em repúdio. — Não me decepcione dessa vez, sabe como fico diante de presas fáceis.
Suas palavras me causaram calafrios. Assenti em silêncio, permitindo que as lágrimas escorressem.
— Sim, meu rei... — Sussurrei, entregue ao meu destino.
Sendo arrastada, ouvia muitos lobos cochicharem e rirem da minha situação. Ao longe, pude escutar:
— Até que enfim o Alfa vai se livrar da amaldiçoada... — Rosnou um lobo.
— Talvez assim a Deusa volte a nos abençoar... — Comentou uma loba.
Ali compreendi tudo. A razão pela qual a caça retomaria sendo o rei Lycan a me caçar... Não era mais um treino de caça; estava diante de uma execução iminente, onde meu próprio pai brincaria com meu medo e desespero, acabando com minha carne antes de ceifar minha vida, destruindo até mesmo meu espírito.
Eu tremia compulsivamente, fraca, com as dores latentes do meu corpo. Me soltaram, rindo sombriamente. Ouvi Hunter dizer:
— Corra, presa, que seja uma última e prazerosa caçada. — Ele rugiu em minha orelha lupina. — Te darei a vantagem da distância, vá, corra rápido.
Mesmo trêmula, comecei a correr, tropeçando e caindo diversas vezes. Parei ao que parecia ser uma árvore oca, onde encolhi meu pequeno corpo lupino em lágrimas, com o coração batendo descompassado e freneticamente. Ergui o focinho ao céu, inalando ao redor e clamando em voz alta à Deusa:
— Por favor, minha Lua, eu te suplico, me dê uma morte rápida sem muita dor... Já não suporto mais!
— Corra para o destino, minha criança... — A brisa sussurrou, soprando em minha face, trazendo um aroma amadeirado com toques de orvalho. — Siga...
— Destino? — Murmurei quando ouvi seu rosnado.
— Eu sinto seu cheiro repugnante, m*****a prole do inferno... — Brandou Hunter, vibrando o chão com suas patadas fortes. — Hoje você se juntará a sua mãe, aquela loba decepcionante que não prestou nem para me gerar uma cria digna de um alfa!
— Maldito! — Rosnei com raiva, voltando a correr.
A brisa em minha face se tornou mais intensa, a cada caminho que pensava em seguir a intensidade dos ventos me arrastava em outra direção. Porém, seus passos ecoavam cada vez mais perto, até que senti sua forte presença sobre meu corpo e peso sobre minhas costas.
Hunter havia me localizado, saltando sobre meu corpo, mordendo com força. Grunhi aflita diante da dor, caindo bruscamente de cara no chão. Divertido, o Alfa esfregou meu focinho na terra fria da mata, se deliciando com a minha dor.
— Seu lixo, eu a odeio tanto, deveria tê-la matado assim que nasceu! — Ele rugiu enfurecido. — Desde o dia em que você nasceu só trouxe desgraças à alcateia, vou corrigir este erro nos livrando de você lentamente.
Agarrando minhas patas, o rei Lycan as quebrou ao meio, e eu me contorcia em desespero, gemendo.
— Pai, por favor.... — Implorava e clamava. — Apenas me mate!
— Cala a boca, criatura inferior. — Recebi um soco potente no rosto, sentindo que meu maxilar havia deslocado, me impedindo de falar ou até mesmo rosnar.
Suas garras se aprofundaram em minha carne, rasgando as laterais, e minhas forças foram se esvaindo junto ao líquido viscoso vermelho que se mesclava ao meu pelo. Suas agressões já não surtiam mais efeito, eu estava anestesiada pela dor e sentia meu fim chegar.
— Presa inútil, se quer consegue resistir por tanto tempo... — Senti algo quente sendo derramado em meu corpo... O odor de urina era intenso, ardendo nas feridas abertas. — Agora morra! Arfei quando fortes patadas foram deferidas sobre meu crânio, pressionando-o contra o chão da floresta. Em minha escuridão, privada de enxergar, agradeci à Deusa por não ver minha vida sendo ceifada por aquele que deveria me proteger como loba e como pai.
— Levante-se e corra... — Outra corrente de vento se fez presente, ecoando a voz da Deidade em minha mente.— Eu não consigo, não suporto mais... — Respondi mentalmente.— LEVANTE-SE! — A ventania se tornou mais intensa como um redemoinho, e a rajada empurrou Hunter, tirando-o de cima de mim.Comecei a me arrastar floresta adentro em uma tentativa desesperada de agradar à Deusa Lua antes de morrer e ter minha alma perdoada por qualquer coisa que tenha feito.— Você não vai fugir, presa! — O Alfa brandou, fincando as garras em minhas patas traseiras.Gemi, grunhindo e ainda tentando me arrastar, deixando um rastro de sangue e lágrimas, até que bati a cabeça em algo. Farejando, o aroma que guiava meu caminho estava à minha frente, seu cheiro mesclava-se ao predatório e assassino. Tremi ainda mais, seria mais um predador que brincaria com a minha vida?O chão vibrava diante de seu poder, e até as nuances de pressão de poder alteraram, emanando uma áurea que, mesmo sem poder enxergar, era
— Ele sofreu? — Respondi rapidamente e com firmeza, almejando que aquele maldito tivesse sentido a pior dor imaginável.— Sou conhecido por minha impiedade, loba... Não ouviu os gritos de desespero de seu pai? — Notei um leve tom divertido na voz do lobo misterioso.— O que ouvi foi pouco perto do que aquele monstro já me fez, ele não era meu pai! — Rosnei irritada, sentindo a fraqueza se instalar e cedendo o corpo ao chão, mas não antes de desejar saber. — Ele sofreu?— Magnificamente muito! — A vibração mudou, farejei, notando que ele se agachou à minha frente. — Agora, o que farei com você?— Mate-a, meu rei, uma loba cega não tem serventia para nossa alcateia. Não precisamos de um peso morto! — O odor repulsivo de um lobo chamou minha atenção em sua direção.— Cale-se, Beta! — A voz empoderada do lobisomem era temível, até minha loba queria curvar-se a ele em respeito e temor. — Onde estávamos?— Lobo negro, seu beta tem razão... Ceife minha vida e livre o mundo de minha presença
Ri sombriamente, atravessando sua barriga com as mãos e rasgando suas entranhas. O maldito seguia guiado pelo ódio até a criatura ferida ao chão, onde agarrou seus ombros, culpando-a por toda sua maldição. Um verdadeiro covarde!Parei às suas costas, predatório, olhando diretamente para a loba, que notei ser cega. Os rumores eram verdadeiros; este lobo era desprezível e repulsivo. Tirei minhas garras de sua barriga, atravessando a carne de seu peito e arrancando o coração pulsante, apertando cada vez mais até suas batidas diminuírem e o órgão estourar em minhas mãos. Hunter sucumbiu, deslizando o corpo sobre a loba frágil até ceder em seus pés!A imagem, mesmo que borrada, se desenhava em meio à escuridão. Senti minha mente retornar ao ambiente onde estávamos e encarei surpreso a loba que havia amparado em meus braços lupinos.— O que foi isso? — Sussurrei surpreso, avaliando que aquela criatura tinha algo a mais além de sua fraqueza e deficiência. — Deusa, o que espera com tudo isso?
— Sou Ryan, pequena loba. — O timbre de sua voz era suave e genuíno, algo raro nos cheiros. Apenas em minha mãe e Orion havia sentido esses aromas.Apaguei por completo, encontrando-me diante de um riacho de águas cristalinas onde carpas saltavam tentando subir a cachoeira violenta.— Veja só, apesar de a força da água ser muito maior do que a dos peixes, e a correnteza determinar o fluxo de seus caminhos, as carpas insistem em lutar contra em busca de seus próprios destinos, — uma voz angelical ecoou atrás de mim.Virei, surpresa ao constatar que não havia ninguém ali. Voltei a fitar a água, surpreendendo-me com o reflexo. Cenas se desenrolavam, revelando a imagem de um homem com uma aura de poder e beleza, possuindo uma fisionomia marcante e um porte físico impressionante. Seus traços eram esculpidos, com um maxilar forte e olhos expressivos que transmitiam determinação e intensidade. Seu cabelo, talvez escuro e espesso, caía com uma selvageria controlada sobre sua testa, adicionand
POV: AARONUm sussurro ao longe chamou minha atenção para um ponto da sala durante a reunião com meus lacaios, onde elaborávamos um plano de ataque às outras alcateias. Sentia os olhos pousados sobre mim, o medo palpável, as incertezas e a necessidade de proteção. Meu lobo rugia em meu peito, rasgando-me por dentro com um instinto impulsivo de correr em direção à loba cega e ficar ao seu lado.— Rei Lycan? — Chamou o Beta, olhando para o ponto onde eu fixei meu olhar. — Está tudo bem?Rosnei, fazendo a mesa estremecer e todos os lobos se encolherem, abaixando suas cabeças.— Tracem um bom plano, apresentem-me seus motivos para atacar a alcateia; não estou certo sobre este. — Apontei no mapa, sentindo um alarde do meu lobo.— Para onde o senhor vai? — Indagou Jaxon.Rugir, fazendo-o ceder alguns passos, agachando-se em sua forma humana em reverência.— Perdoe-me, meu rei... — Ele sussurrou entre as presas.Saí do local a passos largos, Kemilly vinha em minha direção com um largo sorris
— Venha, loba, daremos um passeio! — Inclinei a cabeça para o doutor, que tirou seus acessos. Peguei-a no colo, ela se remexia nervosa. Notei que suas orelhas se moviam em vários sentidos, junto com o focinho que farejava sem parar. Talvez esse fosse o seu jeito singelo de enxergar através de outros sentidos.— Você vai me matar? — Ela sussurrou, tremula.— Se eu fosse, o que faria? — Respondi seco, avaliando suas reações.— Sorrirei diante do meu destino, mas não antes de lhe implorar para que seja algo rápido, quase indolor... — Pegando-me de surpresa, seu focinho pousou em meu pescoço, descarregando ondas de choque por todo meu corpo.— Qual é o seu nome, loba?— Meu nome? — Erguendo a cabeça, seus pelos fizeram meu nariz coçar. Mexi-me, e ela pareceu notar, abaixando a cabeça novamente. — Perdão, eu não quis incomodá-lo...— Você tem um nome, não tem? Ou devo chamá-la de cega? Tola? Loba? — Rosnei impaciente. — Pare de pedir perdão, é irritante!— Perdão... — Limpando a garganta,
POV: CALLIECogitei em fugir, conhecia aos arredores e tinha isto como vantagem... Anos sendo caçada como uma presa ajudaram a treinar meus instintos de sobrevivência, meu olfato era meus olhos e cada árvore daquela floresta eu recordava bem o cheiro.Minha mãe era uma loba sábia, Hunter havia capturado de outra cidade, não sei com precisão de qual alcateia que ela pertencia... Em um momento de fúria do meu pai, ao rasgar minha carne em uma de suas caçadas e arremessar-me contra uma rocha, o ouvir rugir:— Eu achei que com o sangue raro da Lyra teria filhotes como descentes fortes, mas não, a Deusa resolveu nos punir e derramar sobre nós uma maldição graças a você... Desgraça da alcateia! — Brandou ele arrancando com as presas um pedaço do meu coro da barriga.— Eu não sei se você está divagando ou bolando um plano de fuga. — A voz de Aaron me trouxe de volta ao momento.— Eu.... — Murmurei, engolindo o nó na garganta incerta sobre o quanto deveria falar. — Não sei te explicar como fi
— Se quiser sobreviver, loba cega, terá que aprender a se transformar, senão irei machucá-la até que aprenda! — Explodiu maliciosamente Kemilly. — Será um prazer eliminar o peso morto que você representa nesta terra.Meu coração acelerava, pulsando intensamente, enquanto tremia compulsivamente ciente de que aquelas ameaças não eram vazias. Senti uma forte pressão em meu estômago, como se tivesse sido chutada e lançada com força contra a parede, grunhindo desesperadamente, arfei tentando me levantar.— Levante-se, Loba, transforme-se! — Rugiu a loba enfurecida. — Posso passar o dia todo nesta brincadeira.— Eu não sei como... — Sussurrei, sentindo minha cabeça sendo erguida pela pelagem puxada. — Por favor... isto dói!— Estamos só começando, criatura nojenta. — Gargalhou Kemilly. — Por que o Alfa faria, eu, sua futura Luna, perder tempo com uma coisa insignificante como você?Foi estranho, a menção de futura Luna causou mais dor em meu peito do que as próprias feridas físicas. Rosnei