— Levante-se e corra... — Outra corrente de vento se fez presente, ecoando a voz da Deidade em minha mente.
— Eu não consigo, não suporto mais... — Respondi mentalmente.
— LEVANTE-SE! — A ventania se tornou mais intensa como um redemoinho, e a rajada empurrou Hunter, tirando-o de cima de mim.
Comecei a me arrastar floresta adentro em uma tentativa desesperada de agradar à Deusa Lua antes de morrer e ter minha alma perdoada por qualquer coisa que tenha feito.
— Você não vai fugir, presa! — O Alfa brandou, fincando as garras em minhas patas traseiras.
Gemi, grunhindo e ainda tentando me arrastar, deixando um rastro de sangue e lágrimas, até que bati a cabeça em algo. Farejando, o aroma que guiava meu caminho estava à minha frente, seu cheiro mesclava-se ao predatório e assassino. Tremi ainda mais, seria mais um predador que brincaria com a minha vida?
O chão vibrava diante de seu poder, e até as nuances de pressão de poder alteraram, emanando uma áurea que, mesmo sem poder enxergar, era notavelmente maior que o poder de meu pai. Algo se agachou à minha frente, o calor de seu corpo cobrindo o meu como em uma proteção:
— Não ouse morrer agora, loba, seria uma pena ter vindo de tão longe à toa... — Aquela áurea à minha frente era a mesma de minha visão. — Alfa Hunter, hoje é o dia do seu julgamento!
Uma explosão ressoou ao longe, acompanhada de rosnados, enquanto o alarme ecoava, despertando uma sensação de urgência.
— O que está acontecendo? — Hunter rugiu, com outros lobos se aproximando pela floresta adentro. — O que está havendo?
— Estamos sendo atacados! — Um dos lobos que seguia nosso Alfa avisou.
— Quem é você, verme? Como ousa tomar minha presa? — Hunter se dirigiu ao lobo que observava tranquilamente perto do meu corpo.
O lobo misterioso suspirou tranquilamente antes de soltar um rugido ameaçador de seus lábios.
— Então os boatos sobre sua crueldade eram verdadeiros. Um alfa considerado um péssimo rei, tão indigno a ponto de atacar um ser indefeso... Você é uma vergonha para nossa raça, desprezível! — Brandou o lobo misterioso. — Não se lembra de mim?
Um silêncio tenso se estabeleceu, como se a ficha de Hunter finalmente tivesse caído, talvez reconhecendo o adversário à sua frente.
— Não pode ser, eu eliminei todos da alcateia Lâminas da Lua, matei com minhas próprias garras o Alfa supremo, junto à sua família e seus filhotes! — Brandou o rei Lycan.
— Quase todos... — Rugiu ameaçador o lobo misterioso. — Você pagará por toda a desgraça que fez à minha alcateia e pelo desequilíbrio de outras!
— Fedelho, vou terminar o que comecei, você se juntará aos fracos de sua família! — Provocou Hunter, sádico. — Vamos ver se você vai gritar tanto quanto o seu irmãozinho e mãe fizeram!
Em um sussurro, ouvi o lobo dizer algo que só eu podia escutar:
— Aguente firme!
Os sons da floresta noturna eram um eco para a batalha iminente. Um uivo profundo ecoou através das árvores, cortando o ar noturno como uma lâmina afiada. Em resposta, um rosnado baixo e ameaçador ressoou, seguido pelo som de galhos quebrando sob patas pesadas.
O primeiro ataque veio em um ruído de raiva e fúria, um som de garras afiadas rasgando o ar. O outro lobisomem em minha percepção sensorial com pressão de movimentos, esquivou habilmente, respondendo com um grunhido gutural. Suas próprias garras eram como trovões, cortando o ar em um arco mortal.
Os sons de impacto ecoaram pela floresta, misturando-se com o som de dentes cerrados e o ruído de peles grossas se chocando. Um rugido de dor e frustração se misturou com o som de um corpo sendo lançado ao chão, seguido pelo som de um ganido de vitória.
O silêncio se instalou, seguido por uma respiração pesada. Algo agarrou meus ombros com força, sua voz carregada de ódio e desprezo enviou um arrepio da espinha até o alto da minha cabeça.
— M*****a loba cega, isto tudo é culpa sua. Eu a amaldiçoo para que definhe nas garras deste alfa desgraçado e traga o inferno a todas as alcateias! — Hunter rosnou ameaçadoramente em minha face, seu hálito carregando o odor de ferrugem, o som de algo atravessando a carne era quase palpável.
As batidas do coração de Hunter estavam mais altas, como se seu coração estivesse exposto à nossa frente... Só então lembrei-me da visão e pude imaginar o que estava acontecendo. Lentamente, as batidas foram diminuindo seu ritmo, o barulho de algo estourando como uma bolha ecoou alto por toda a floresta. As garras de meu pai foram afrouxando sobre meus ombros, deslizando por meu corpo frágil e machucado, até algo gosmento umedecer minhas patas.
— O Rei Lycan caiu! — Rugiram os lobos em vitória, fazendo-me crer que minha alcateia havia se rendido.
Sentei-me nas patas traseiras, aguardando a aproximação do Lobisomem da minha visão. Em passos pesados, sua aura fazia até mesmo as árvores tremerem diante de sua presença, seu cheiro, apesar de carregado do odor de sangue, mesclava-se com outro aroma que eu não conseguia identificar.
O tilintar de garras causava um barulho agudo que irritava minha audição sensível, rosnei antes de sentir sua forte pressão próximo demais de mim. Apesar da força de seu poder de presença, eu não sentia medo. Algo naquele ser me tranquilizava.
— Então, os boatos eram verdadeiros... Hunter não só mantinha a filha como prisioneira, como também a caçava. — O timbre da voz daquele lobo fazia deliciosas cócegas em minhas orelhas. — Diga-me, loba cega, acabei de assassinar o seu pai, você me odeia por isso?
— Ele sofreu? — Respondi rapidamente e com firmeza, almejando que aquele maldito tivesse sentido a pior dor imaginável.— Sou conhecido por minha impiedade, loba... Não ouviu os gritos de desespero de seu pai? — Notei um leve tom divertido na voz do lobo misterioso.— O que ouvi foi pouco perto do que aquele monstro já me fez, ele não era meu pai! — Rosnei irritada, sentindo a fraqueza se instalar e cedendo o corpo ao chão, mas não antes de desejar saber. — Ele sofreu?— Magnificamente muito! — A vibração mudou, farejei, notando que ele se agachou à minha frente. — Agora, o que farei com você?— Mate-a, meu rei, uma loba cega não tem serventia para nossa alcateia. Não precisamos de um peso morto! — O odor repulsivo de um lobo chamou minha atenção em sua direção.— Cale-se, Beta! — A voz empoderada do lobisomem era temível, até minha loba queria curvar-se a ele em respeito e temor. — Onde estávamos?— Lobo negro, seu beta tem razão... Ceife minha vida e livre o mundo de minha presença
Ri sombriamente, atravessando sua barriga com as mãos e rasgando suas entranhas. O maldito seguia guiado pelo ódio até a criatura ferida ao chão, onde agarrou seus ombros, culpando-a por toda sua maldição. Um verdadeiro covarde!Parei às suas costas, predatório, olhando diretamente para a loba, que notei ser cega. Os rumores eram verdadeiros; este lobo era desprezível e repulsivo. Tirei minhas garras de sua barriga, atravessando a carne de seu peito e arrancando o coração pulsante, apertando cada vez mais até suas batidas diminuírem e o órgão estourar em minhas mãos. Hunter sucumbiu, deslizando o corpo sobre a loba frágil até ceder em seus pés!A imagem, mesmo que borrada, se desenhava em meio à escuridão. Senti minha mente retornar ao ambiente onde estávamos e encarei surpreso a loba que havia amparado em meus braços lupinos.— O que foi isso? — Sussurrei surpreso, avaliando que aquela criatura tinha algo a mais além de sua fraqueza e deficiência. — Deusa, o que espera com tudo isso?
— Sou Ryan, pequena loba. — O timbre de sua voz era suave e genuíno, algo raro nos cheiros. Apenas em minha mãe e Orion havia sentido esses aromas.Apaguei por completo, encontrando-me diante de um riacho de águas cristalinas onde carpas saltavam tentando subir a cachoeira violenta.— Veja só, apesar de a força da água ser muito maior do que a dos peixes, e a correnteza determinar o fluxo de seus caminhos, as carpas insistem em lutar contra em busca de seus próprios destinos, — uma voz angelical ecoou atrás de mim.Virei, surpresa ao constatar que não havia ninguém ali. Voltei a fitar a água, surpreendendo-me com o reflexo. Cenas se desenrolavam, revelando a imagem de um homem com uma aura de poder e beleza, possuindo uma fisionomia marcante e um porte físico impressionante. Seus traços eram esculpidos, com um maxilar forte e olhos expressivos que transmitiam determinação e intensidade. Seu cabelo, talvez escuro e espesso, caía com uma selvageria controlada sobre sua testa, adicionand
POV: AARONUm sussurro ao longe chamou minha atenção para um ponto da sala durante a reunião com meus lacaios, onde elaborávamos um plano de ataque às outras alcateias. Sentia os olhos pousados sobre mim, o medo palpável, as incertezas e a necessidade de proteção. Meu lobo rugia em meu peito, rasgando-me por dentro com um instinto impulsivo de correr em direção à loba cega e ficar ao seu lado.— Rei Lycan? — Chamou o Beta, olhando para o ponto onde eu fixei meu olhar. — Está tudo bem?Rosnei, fazendo a mesa estremecer e todos os lobos se encolherem, abaixando suas cabeças.— Tracem um bom plano, apresentem-me seus motivos para atacar a alcateia; não estou certo sobre este. — Apontei no mapa, sentindo um alarde do meu lobo.— Para onde o senhor vai? — Indagou Jaxon.Rugir, fazendo-o ceder alguns passos, agachando-se em sua forma humana em reverência.— Perdoe-me, meu rei... — Ele sussurrou entre as presas.Saí do local a passos largos, Kemilly vinha em minha direção com um largo sorris
— Venha, loba, daremos um passeio! — Inclinei a cabeça para o doutor, que tirou seus acessos. Peguei-a no colo, ela se remexia nervosa. Notei que suas orelhas se moviam em vários sentidos, junto com o focinho que farejava sem parar. Talvez esse fosse o seu jeito singelo de enxergar através de outros sentidos.— Você vai me matar? — Ela sussurrou, tremula.— Se eu fosse, o que faria? — Respondi seco, avaliando suas reações.— Sorrirei diante do meu destino, mas não antes de lhe implorar para que seja algo rápido, quase indolor... — Pegando-me de surpresa, seu focinho pousou em meu pescoço, descarregando ondas de choque por todo meu corpo.— Qual é o seu nome, loba?— Meu nome? — Erguendo a cabeça, seus pelos fizeram meu nariz coçar. Mexi-me, e ela pareceu notar, abaixando a cabeça novamente. — Perdão, eu não quis incomodá-lo...— Você tem um nome, não tem? Ou devo chamá-la de cega? Tola? Loba? — Rosnei impaciente. — Pare de pedir perdão, é irritante!— Perdão... — Limpando a garganta,
POV: CALLIECogitei em fugir, conhecia aos arredores e tinha isto como vantagem... Anos sendo caçada como uma presa ajudaram a treinar meus instintos de sobrevivência, meu olfato era meus olhos e cada árvore daquela floresta eu recordava bem o cheiro.Minha mãe era uma loba sábia, Hunter havia capturado de outra cidade, não sei com precisão de qual alcateia que ela pertencia... Em um momento de fúria do meu pai, ao rasgar minha carne em uma de suas caçadas e arremessar-me contra uma rocha, o ouvir rugir:— Eu achei que com o sangue raro da Lyra teria filhotes como descentes fortes, mas não, a Deusa resolveu nos punir e derramar sobre nós uma maldição graças a você... Desgraça da alcateia! — Brandou ele arrancando com as presas um pedaço do meu coro da barriga.— Eu não sei se você está divagando ou bolando um plano de fuga. — A voz de Aaron me trouxe de volta ao momento.— Eu.... — Murmurei, engolindo o nó na garganta incerta sobre o quanto deveria falar. — Não sei te explicar como fi
— Se quiser sobreviver, loba cega, terá que aprender a se transformar, senão irei machucá-la até que aprenda! — Explodiu maliciosamente Kemilly. — Será um prazer eliminar o peso morto que você representa nesta terra.Meu coração acelerava, pulsando intensamente, enquanto tremia compulsivamente ciente de que aquelas ameaças não eram vazias. Senti uma forte pressão em meu estômago, como se tivesse sido chutada e lançada com força contra a parede, grunhindo desesperadamente, arfei tentando me levantar.— Levante-se, Loba, transforme-se! — Rugiu a loba enfurecida. — Posso passar o dia todo nesta brincadeira.— Eu não sei como... — Sussurrei, sentindo minha cabeça sendo erguida pela pelagem puxada. — Por favor... isto dói!— Estamos só começando, criatura nojenta. — Gargalhou Kemilly. — Por que o Alfa faria, eu, sua futura Luna, perder tempo com uma coisa insignificante como você?Foi estranho, a menção de futura Luna causou mais dor em meu peito do que as próprias feridas físicas. Rosnei
A loba parecia ter notado minha presença reverenciando em minha direção, rosnei em repreensão a Kemilly, agarrando sua garganta, aquela loba me irritava profundamente, mas sabia que não podia elimina-la sem um motivo palpável, não neste momento. Ficando a sós com Callie, meu lobo explodiu em meu peito vindo átona na mutação, algo do qual nunca havia acontecido!O conflito interno entre meu lado humano e lobo desde a primeira vez que senti seu cheiro estava constante. A encurralei perto da parede com uma necessidade crescente de sentir seus pelos nos meus, notei que ela se surpreendia quando esfreguei nela, sendo surpreendido juntamente com minhas reações.— Vamos logo! — Rosnei irritado em sua direção, avaliando que apesar da falta de visão ela caminhava sem tropeçar ou bater em algo, seu focinho trabalhava sem parar guiando-a.Jaxon vinha em minha direção olhando para loba cega e depois voltando para mim, soltando um leve rosnado em descontentamento.— Já obtivemos as informações sob