— Ele sofreu? — Respondi rapidamente e com firmeza, almejando que aquele maldito tivesse sentido a pior dor imaginável.
— Sou conhecido por minha impiedade, loba... Não ouviu os gritos de desespero de seu pai? — Notei um leve tom divertido na voz do lobo misterioso.
— O que ouvi foi pouco perto do que aquele monstro já me fez, ele não era meu pai! — Rosnei irritada, sentindo a fraqueza se instalar e cedendo o corpo ao chão, mas não antes de desejar saber. — Ele sofreu?
— Magnificamente muito! — A vibração mudou, farejei, notando que ele se agachou à minha frente. — Agora, o que farei com você?
— Mate-a, meu rei, uma loba cega não tem serventia para nossa alcateia. Não precisamos de um peso morto! — O odor repulsivo de um lobo chamou minha atenção em sua direção.
— Cale-se, Beta! — A voz empoderada do lobisomem era temível, até minha loba queria curvar-se a ele em respeito e temor. — Onde estávamos?
— Lobo negro, seu beta tem razão... Ceife minha vida e livre o mundo de minha presença amaldiçoada, serei uma boca a menos para sustentar, porém antes... — Engoli em seco, sentindo meus pelos queimarem, arrepiando com as nuances que sentia, como se seus olhos estivessem cravados sobre mim.
— Antes? — Ele indagou, reforçando. — Você é cega, como sabe o tom de minha pelagem?
— Eu... — Fiquei inquieta sem saber explicar. Não queria ser atacada de novo como uma loba maluca, e exclamei meu alívio pela morte do maldito genitor. — Obrigada!
— Interessante... Ao que exatamente está me agradecendo, loba? — Um leve sorriso parecia ter escapado de suas presas, ao menos era o som que eu identificava.
— Por livrar nossa alcateia de um rei tirano. — Engoli em seco.
— E quem disse que eu serei mais bondoso? — O tom do lobisomem se tornou sombrio.
Estremeci, quando algo ecoou em minha mente:
— Destino... — A voz divina se fez presente.
— Intuição apenas, Alfa. — Sussurrei, erguendo um pouco o corpo e curvando com dificuldade, tombando para frente.
Sendo amparada pelo lobo misterioso, uma corrente elétrica percorreu nossos corpos, levando-nos para sua mente. Parecia que eu enxergava através de seus olhos, pois vi uma jovem loba com tons marrons e dourados à minha frente, caída ao chão, toda machucada em estado crítico, porém com uma áurea orgulhosa. Só então percebi que aquela criatura era eu!
POV: AARON
Uivei para meus seguidores adentrarem a floresta, guiado pelo cheiro que me era familiar. O vento soprava com intensidade em minha pelagem, carregado de sussurros místicos.
— Siga seu caminho, lobo do destino... — Dizia a brisa suave.
— Meu alfa, não deveríamos ir direto para a pequena cidade da alcateia Lâminas da Lua? Este desvio não estava previsto. — Questionou o Beta Jaxon, preocupado.
— Nossa Deusa guia nossos caminhos. Atenderemos aos seus pedidos! — Rosnei ameaçador, com os caninos para fora. — Dividiremos o bando. Vocês sigam com o beta para a cidade adentro e destruam a todos que se opuserem a nós.
— E aos que se renderem? — Jaxon olhou de canto.
— Prendam-nos até subjugar sua lealdade a nós e avaliarmos sua competência para a evolução da alcateia! — Rugi, parando e fechando os olhos. Imagens sutis pairavam em minha mente, como se eu pudesse enxergar através da escuridão... O medo era palpável junto com sua dor, uma intensidade que eu nunca havia sentido. — Por aqui, o tempo está acabando.
— O tempo de quem? — Indagou um dos lobos que me seguiam.
Rosnei ferozmente em sua direção, silenciando-o de imediato. Adentramos a floresta, onde o odor de ferrugem impregnava o ar. A passos singelos, lá estava meu maior inimigo, o maldito lobo que havia tirado todos aqueles que eu amava e me deixara à beira da morte. Notei uma criatura pequena, magra e frágil ao chão, completamente machucada e à beira da vida. Farejei o ar quando uma forte corrente de ventania soprou sobre o Alfa inimigo, afastando-o da loba ferida. Um tom divino ressoou em uma ordem:
— Novo destino... — Sussurrou o vento.
Instintivamente, meu lobo se jogou à frente em proteção, brandindo ameaçador. Caminhei agachado à sua frente, inalando seu cheiro adocicado, o mesmo que me trouxera até sua presença, o mesmo que instigava e clamava por nós sem ao menos proferir uma palavra. Minhas orelhas captaram a hostilidade do inimigo. Sussurrei para que apenas a loba desconhecida ouvisse minhas palavras:
— Aguente firme!
Preguiçosamente, avaliei o monstro do meu pesadelo quando filhote, o maldito que matou sem piedade meus irmãos pequenos e meus pais.
— Chegou o dia do seu julgamento.
Me vejo diante de Hunter, o Alfa sádico que destruiu minha vida quando eu era apenas um filhote. Seus olhos brilham com crueldade enquanto avança, confiante em sua força e poder. Mas eu não sou mais o fraco e assustado filhote que ele encontrou naquela noite fatídica.
Transformado em um Lobisomem Alfa supremo, sinto a raiva pulsando em minhas veias, os olhos em chamas mergulhados no poder divino passado pela linhagem pura dos antigos lobos, impulsionando-me a lutar com todas as minhas forças. Nossos rosnados ecoam pela clareira, anunciando o início de uma batalha brutal.
Com um rugido feroz, Hunter investe contra mim, suas garras afiadas buscando minha carne. Eu me esquivo com agilidade, retalhando sua pele com meus próprios golpes, divertindo-me. Cada troca de golpes é intensa e implacável, ambos determinados a sair vitoriosos.
Sinto o odor do sangue escorrendo por seu corpo, misturando-se com a terra sob seus pés. Lambi as garras, deleitando-me com o sangue inimigo. Sua dor só alimentava minha determinação e prazer. Abocanhando seu pescoço, girei seu corpo e o lancei ao chão. O lobo arfou em dor, uivando em desespero. Cravei as garras nas laterais de suas costelas, aprofundando os cortes, palpando o pulmão e o perfurando.
Com um rugido ensurdecedor, Hunter ruge:
— Maldito, não... eu não posso perder para uma criatura tão insignificante como você...
Olhei nos olhos dele, vendo o medo pela primeira vez.
— Você é fraco, a escória de nossa espécie... Por isso sempre atacou os mais fracos. Não sabe o que é força e poder. — Brandei, acompanhando suas passadas pesadas em direção à loba ferida. — Como se sente sendo uma presa tão insignificante?
Ri sombriamente, atravessando sua barriga com as mãos e rasgando suas entranhas. O maldito seguia guiado pelo ódio até a criatura ferida ao chão, onde agarrou seus ombros, culpando-a por toda sua maldição. Um verdadeiro covarde!Parei às suas costas, predatório, olhando diretamente para a loba, que notei ser cega. Os rumores eram verdadeiros; este lobo era desprezível e repulsivo. Tirei minhas garras de sua barriga, atravessando a carne de seu peito e arrancando o coração pulsante, apertando cada vez mais até suas batidas diminuírem e o órgão estourar em minhas mãos. Hunter sucumbiu, deslizando o corpo sobre a loba frágil até ceder em seus pés!A imagem, mesmo que borrada, se desenhava em meio à escuridão. Senti minha mente retornar ao ambiente onde estávamos e encarei surpreso a loba que havia amparado em meus braços lupinos.— O que foi isso? — Sussurrei surpreso, avaliando que aquela criatura tinha algo a mais além de sua fraqueza e deficiência. — Deusa, o que espera com tudo isso?
— Sou Ryan, pequena loba. — O timbre de sua voz era suave e genuíno, algo raro nos cheiros. Apenas em minha mãe e Orion havia sentido esses aromas.Apaguei por completo, encontrando-me diante de um riacho de águas cristalinas onde carpas saltavam tentando subir a cachoeira violenta.— Veja só, apesar de a força da água ser muito maior do que a dos peixes, e a correnteza determinar o fluxo de seus caminhos, as carpas insistem em lutar contra em busca de seus próprios destinos, — uma voz angelical ecoou atrás de mim.Virei, surpresa ao constatar que não havia ninguém ali. Voltei a fitar a água, surpreendendo-me com o reflexo. Cenas se desenrolavam, revelando a imagem de um homem com uma aura de poder e beleza, possuindo uma fisionomia marcante e um porte físico impressionante. Seus traços eram esculpidos, com um maxilar forte e olhos expressivos que transmitiam determinação e intensidade. Seu cabelo, talvez escuro e espesso, caía com uma selvageria controlada sobre sua testa, adicionand
POV: AARONUm sussurro ao longe chamou minha atenção para um ponto da sala durante a reunião com meus lacaios, onde elaborávamos um plano de ataque às outras alcateias. Sentia os olhos pousados sobre mim, o medo palpável, as incertezas e a necessidade de proteção. Meu lobo rugia em meu peito, rasgando-me por dentro com um instinto impulsivo de correr em direção à loba cega e ficar ao seu lado.— Rei Lycan? — Chamou o Beta, olhando para o ponto onde eu fixei meu olhar. — Está tudo bem?Rosnei, fazendo a mesa estremecer e todos os lobos se encolherem, abaixando suas cabeças.— Tracem um bom plano, apresentem-me seus motivos para atacar a alcateia; não estou certo sobre este. — Apontei no mapa, sentindo um alarde do meu lobo.— Para onde o senhor vai? — Indagou Jaxon.Rugir, fazendo-o ceder alguns passos, agachando-se em sua forma humana em reverência.— Perdoe-me, meu rei... — Ele sussurrou entre as presas.Saí do local a passos largos, Kemilly vinha em minha direção com um largo sorris
— Venha, loba, daremos um passeio! — Inclinei a cabeça para o doutor, que tirou seus acessos. Peguei-a no colo, ela se remexia nervosa. Notei que suas orelhas se moviam em vários sentidos, junto com o focinho que farejava sem parar. Talvez esse fosse o seu jeito singelo de enxergar através de outros sentidos.— Você vai me matar? — Ela sussurrou, tremula.— Se eu fosse, o que faria? — Respondi seco, avaliando suas reações.— Sorrirei diante do meu destino, mas não antes de lhe implorar para que seja algo rápido, quase indolor... — Pegando-me de surpresa, seu focinho pousou em meu pescoço, descarregando ondas de choque por todo meu corpo.— Qual é o seu nome, loba?— Meu nome? — Erguendo a cabeça, seus pelos fizeram meu nariz coçar. Mexi-me, e ela pareceu notar, abaixando a cabeça novamente. — Perdão, eu não quis incomodá-lo...— Você tem um nome, não tem? Ou devo chamá-la de cega? Tola? Loba? — Rosnei impaciente. — Pare de pedir perdão, é irritante!— Perdão... — Limpando a garganta,
POV: CALLIECogitei em fugir, conhecia aos arredores e tinha isto como vantagem... Anos sendo caçada como uma presa ajudaram a treinar meus instintos de sobrevivência, meu olfato era meus olhos e cada árvore daquela floresta eu recordava bem o cheiro.Minha mãe era uma loba sábia, Hunter havia capturado de outra cidade, não sei com precisão de qual alcateia que ela pertencia... Em um momento de fúria do meu pai, ao rasgar minha carne em uma de suas caçadas e arremessar-me contra uma rocha, o ouvir rugir:— Eu achei que com o sangue raro da Lyra teria filhotes como descentes fortes, mas não, a Deusa resolveu nos punir e derramar sobre nós uma maldição graças a você... Desgraça da alcateia! — Brandou ele arrancando com as presas um pedaço do meu coro da barriga.— Eu não sei se você está divagando ou bolando um plano de fuga. — A voz de Aaron me trouxe de volta ao momento.— Eu.... — Murmurei, engolindo o nó na garganta incerta sobre o quanto deveria falar. — Não sei te explicar como fi
— Se quiser sobreviver, loba cega, terá que aprender a se transformar, senão irei machucá-la até que aprenda! — Explodiu maliciosamente Kemilly. — Será um prazer eliminar o peso morto que você representa nesta terra.Meu coração acelerava, pulsando intensamente, enquanto tremia compulsivamente ciente de que aquelas ameaças não eram vazias. Senti uma forte pressão em meu estômago, como se tivesse sido chutada e lançada com força contra a parede, grunhindo desesperadamente, arfei tentando me levantar.— Levante-se, Loba, transforme-se! — Rugiu a loba enfurecida. — Posso passar o dia todo nesta brincadeira.— Eu não sei como... — Sussurrei, sentindo minha cabeça sendo erguida pela pelagem puxada. — Por favor... isto dói!— Estamos só começando, criatura nojenta. — Gargalhou Kemilly. — Por que o Alfa faria, eu, sua futura Luna, perder tempo com uma coisa insignificante como você?Foi estranho, a menção de futura Luna causou mais dor em meu peito do que as próprias feridas físicas. Rosnei
A loba parecia ter notado minha presença reverenciando em minha direção, rosnei em repreensão a Kemilly, agarrando sua garganta, aquela loba me irritava profundamente, mas sabia que não podia elimina-la sem um motivo palpável, não neste momento. Ficando a sós com Callie, meu lobo explodiu em meu peito vindo átona na mutação, algo do qual nunca havia acontecido!O conflito interno entre meu lado humano e lobo desde a primeira vez que senti seu cheiro estava constante. A encurralei perto da parede com uma necessidade crescente de sentir seus pelos nos meus, notei que ela se surpreendia quando esfreguei nela, sendo surpreendido juntamente com minhas reações.— Vamos logo! — Rosnei irritado em sua direção, avaliando que apesar da falta de visão ela caminhava sem tropeçar ou bater em algo, seu focinho trabalhava sem parar guiando-a.Jaxon vinha em minha direção olhando para loba cega e depois voltando para mim, soltando um leve rosnado em descontentamento.— Já obtivemos as informações sob
POV: CALLIESenti Aaron seguir diretamente para seu destino final, um frio na espinha percorreu em alarde. Como na visão, eu sabia o desfecho daquele ataque... Minha loba se agitava, algo dentro de mim implorava para que o parasse e o tirasse dali para que não sucumbisse.— Guie o alfa supremo... — A voz divina me alcançou em uma ordem.Arriscando tudo, me joguei à sua frente, fazendo-o recuar. Os sinais da Deusa estavam se tornando mais evidentes em minha mente. Farejando o ar, uma brisa tocava meus pelos, desenhando aromas em um caminho que nos guiava para poças de lama, para fugirmos das garras envenenadas dos alfas.— Um lago... — Sussurrei dentro da gruta, após rolar pela lama, e corri para o fundo.Em passos cautelosos, o chão vibrava, indicando que os lobos me seguiam e paravam próximos às águas correntes.— Para onde será que este canal nos levará? — Indagou o beta.— Sigam o caminho... — A voz angelical divina da Lua sussurrou novamente, nos guiando.— Devemos seguir o curso