Ri sombriamente, atravessando sua barriga com as mãos e rasgando suas entranhas. O maldito seguia guiado pelo ódio até a criatura ferida ao chão, onde agarrou seus ombros, culpando-a por toda sua maldição. Um verdadeiro covarde!
Parei às suas costas, predatório, olhando diretamente para a loba, que notei ser cega. Os rumores eram verdadeiros; este lobo era desprezível e repulsivo. Tirei minhas garras de sua barriga, atravessando a carne de seu peito e arrancando o coração pulsante, apertando cada vez mais até suas batidas diminuírem e o órgão estourar em minhas mãos. Hunter sucumbiu, deslizando o corpo sobre a loba frágil até ceder em seus pés!
A imagem, mesmo que borrada, se desenhava em meio à escuridão. Senti minha mente retornar ao ambiente onde estávamos e encarei surpreso a loba que havia amparado em meus braços lupinos.
— O que foi isso? — Sussurrei surpreso, avaliando que aquela criatura tinha algo a mais além de sua fraqueza e deficiência. — Deusa, o que espera com tudo isso? Esta loba é inútil.
Rosnei irritado, cerrando os punhos, com meu lobo agitado em meu interior, impulsionado a protegê-la. Redemoinhos de folhas rodopiavam em torno de nossos corpos. Ergui o focinho em direção à cidade, onde o cheiro de carne queimada era intenso. Com uma garra livre, puxei o corpo do rei Lycan, decapitando sua cabeça quando notei o movimento da loba recuando-se para trás em pavor, trêmula e com dificuldades.
Entretanto, apesar da pressão de meu poder, mesmo diante de seus ferimentos, a loba não cedia, colocando-se em posição defensiva. Era, de fato, a filha do alfa Hunter. Avaliei cuidadosamente todo o seu corpo magro, com os ossos das costelas evidentes, as patas traseiras quebradas. O odor de urina do lobo macho era repulsivo. Farejei mais em sua direção, notando que havia hemorragias internas e algumas costelas quebradas, provavelmente as responsáveis por seu pulmão perfurado.
Aproximei-me mais alguns passos, agarrado à cabeça do Alfa que levaria como troféu, deixando-o exposto na entrada da cidade em uma estaca. Várias perguntas surgiam em minha mente. A vingança era iminente, mas por que a Deusa havia me guiado a essa loba deficiente? Como a cena de minha batalha com Hunter foi desenrolada em nossas mentes? Aquela conexão... Seus medos, suas dores, sua escuridão me engolindo. O que era tudo isso?
Rugi irritado, acanhando ainda mais a loba delicada.
POV: CALLIE
Espantada com as cenas e suas palavras, me arrastei para trás, ficando na defensiva e rosnando.
— Como ousa ameaçar nosso alfa? — Rosnou o Beta, pisando firme em minha direção vindo de alguma direção que não consegui identificar.
— Suma da minha frente, Jaxon. — Trovejou o Alfa em repreensiva, notas de odor de medo se intensificaram, este lobo era poderoso ao ponto de todos de sua matilha o temer.
Eu me encolhi mais no chão, ciente de que se ele me atacasse, não teria forças para me defender.
— Se for me matar, que seja breve... Já sofri demais! — Rosnei para o lobo à frente que não podia enxergar.
Suas mãos viraram em minha direção, apurei mais a audição e rolei para o lado colocando força nas patas frontais, desviando de seu toque. O chão vibrava a cada passo do rei Lycan, percebi que ele vinha em minha direção, tentando me encurralar ainda mais no canto. Rolei mais uma vez para o outro lado, uma onda de choque percorreu minhas patas traseiras assim que rasparam ao chão, tremi bruscamente grunhindo de dor, estavam quebradas e o menor movimento causava uma dor excruciante.
— Seus instintos são apurados, interessante, loba cega... Se sobreviver a esta noite, lhe darei uma chance de se integrar à nossa alcateia! — Rugiu ameaçador, o lobo me ergueu do chão sem dificuldade, jogando-me ao que parecia, sobre seus ombros. Eu o mordi, tentando me libertar. — Pare de se mexer, você está muito ferida e é fraca demais para conseguir lutar ou fugir.
— Por que está fazendo isso? Não sou nada. — Rosnei frustrada. — Acabe logo com a minha vida!
— E perder a chance de descobrir por que a Deusa me guiou até você? Nem pensar. — Brando em ironia o Alfa.
— A Deusa? — Balbuciei intrigada, mexendo a cabeça em volta para tentar captar com os ouvidos e nariz onde estávamos. Tudo cheirava a álcool muito forte. — Estamos no hospital? Tão rápido?
Fui pousada no que parecia ser uma maca.
— Tratem a loba como uma de nós é a prioridade... Se ela sobreviver esta noite, me chamem! — Ordenou impaciente.
Apesar das palavras do novo alfa, minhas patas foram puxadas com força para baixo, causando um grande estralo. Queria gritar, mas meu maxilar ainda estava deslocado. Notei a aproximação de alguém; pelo cheiro, parecia ser um médico humano, normalmente contratado por alcateias mais fortes em troca de proteção contra outras criaturas.
— Este é o redil, vamos sedá-la para tratá-la, — comentou a voz masculina.
— Esta loba é cega e inútil para a nossa alcateia. Não é nossa prioridade gastar recursos com este peso morto, — brandou uma voz fina feminina, da qual não reconhecia o cheiro, aparentemente uma loba nova.
— Kemilly, foram ordens diretas do nosso alfa. Ele disse que os cuidados desta loba são prioridade. Eu sirvo a Aaron e seguirei o que foi ordenado! — gritou rude o homem à loba.
— Que seja, pelo estado dela, não passará desta noite, — riu, e senti que a tal Kemilly havia se afastado.
— Sinto muito por isso. O que fizeram com você? — suspirou o médico, sua mão se aproximando. Gemi, encolhendo-me ainda mais, soltando um rosnado hostil. — Eu sei que dói. Sinto muito, mas não estou aqui para machucá-la. Você ficará bem. É uma loba forte.
— Quem é você? — sussurrei com dificuldade, sentindo uma picada sobre minha carne, a moleza tomando conta, levando minha mente para longe, ainda em tempo de ouvi-lo dizer:
— Sou Ryan, pequena loba. — O timbre de sua voz era suave e genuíno, algo raro nos cheiros. Apenas em minha mãe e Orion havia sentido esses aromas.Apaguei por completo, encontrando-me diante de um riacho de águas cristalinas onde carpas saltavam tentando subir a cachoeira violenta.— Veja só, apesar de a força da água ser muito maior do que a dos peixes, e a correnteza determinar o fluxo de seus caminhos, as carpas insistem em lutar contra em busca de seus próprios destinos, — uma voz angelical ecoou atrás de mim.Virei, surpresa ao constatar que não havia ninguém ali. Voltei a fitar a água, surpreendendo-me com o reflexo. Cenas se desenrolavam, revelando a imagem de um homem com uma aura de poder e beleza, possuindo uma fisionomia marcante e um porte físico impressionante. Seus traços eram esculpidos, com um maxilar forte e olhos expressivos que transmitiam determinação e intensidade. Seu cabelo, talvez escuro e espesso, caía com uma selvageria controlada sobre sua testa, adicionand
POV: AARONUm sussurro ao longe chamou minha atenção para um ponto da sala durante a reunião com meus lacaios, onde elaborávamos um plano de ataque às outras alcateias. Sentia os olhos pousados sobre mim, o medo palpável, as incertezas e a necessidade de proteção. Meu lobo rugia em meu peito, rasgando-me por dentro com um instinto impulsivo de correr em direção à loba cega e ficar ao seu lado.— Rei Lycan? — Chamou o Beta, olhando para o ponto onde eu fixei meu olhar. — Está tudo bem?Rosnei, fazendo a mesa estremecer e todos os lobos se encolherem, abaixando suas cabeças.— Tracem um bom plano, apresentem-me seus motivos para atacar a alcateia; não estou certo sobre este. — Apontei no mapa, sentindo um alarde do meu lobo.— Para onde o senhor vai? — Indagou Jaxon.Rugir, fazendo-o ceder alguns passos, agachando-se em sua forma humana em reverência.— Perdoe-me, meu rei... — Ele sussurrou entre as presas.Saí do local a passos largos, Kemilly vinha em minha direção com um largo sorris
— Venha, loba, daremos um passeio! — Inclinei a cabeça para o doutor, que tirou seus acessos. Peguei-a no colo, ela se remexia nervosa. Notei que suas orelhas se moviam em vários sentidos, junto com o focinho que farejava sem parar. Talvez esse fosse o seu jeito singelo de enxergar através de outros sentidos.— Você vai me matar? — Ela sussurrou, tremula.— Se eu fosse, o que faria? — Respondi seco, avaliando suas reações.— Sorrirei diante do meu destino, mas não antes de lhe implorar para que seja algo rápido, quase indolor... — Pegando-me de surpresa, seu focinho pousou em meu pescoço, descarregando ondas de choque por todo meu corpo.— Qual é o seu nome, loba?— Meu nome? — Erguendo a cabeça, seus pelos fizeram meu nariz coçar. Mexi-me, e ela pareceu notar, abaixando a cabeça novamente. — Perdão, eu não quis incomodá-lo...— Você tem um nome, não tem? Ou devo chamá-la de cega? Tola? Loba? — Rosnei impaciente. — Pare de pedir perdão, é irritante!— Perdão... — Limpando a garganta,
POV: CALLIECogitei em fugir, conhecia aos arredores e tinha isto como vantagem... Anos sendo caçada como uma presa ajudaram a treinar meus instintos de sobrevivência, meu olfato era meus olhos e cada árvore daquela floresta eu recordava bem o cheiro.Minha mãe era uma loba sábia, Hunter havia capturado de outra cidade, não sei com precisão de qual alcateia que ela pertencia... Em um momento de fúria do meu pai, ao rasgar minha carne em uma de suas caçadas e arremessar-me contra uma rocha, o ouvir rugir:— Eu achei que com o sangue raro da Lyra teria filhotes como descentes fortes, mas não, a Deusa resolveu nos punir e derramar sobre nós uma maldição graças a você... Desgraça da alcateia! — Brandou ele arrancando com as presas um pedaço do meu coro da barriga.— Eu não sei se você está divagando ou bolando um plano de fuga. — A voz de Aaron me trouxe de volta ao momento.— Eu.... — Murmurei, engolindo o nó na garganta incerta sobre o quanto deveria falar. — Não sei te explicar como fi
— Se quiser sobreviver, loba cega, terá que aprender a se transformar, senão irei machucá-la até que aprenda! — Explodiu maliciosamente Kemilly. — Será um prazer eliminar o peso morto que você representa nesta terra.Meu coração acelerava, pulsando intensamente, enquanto tremia compulsivamente ciente de que aquelas ameaças não eram vazias. Senti uma forte pressão em meu estômago, como se tivesse sido chutada e lançada com força contra a parede, grunhindo desesperadamente, arfei tentando me levantar.— Levante-se, Loba, transforme-se! — Rugiu a loba enfurecida. — Posso passar o dia todo nesta brincadeira.— Eu não sei como... — Sussurrei, sentindo minha cabeça sendo erguida pela pelagem puxada. — Por favor... isto dói!— Estamos só começando, criatura nojenta. — Gargalhou Kemilly. — Por que o Alfa faria, eu, sua futura Luna, perder tempo com uma coisa insignificante como você?Foi estranho, a menção de futura Luna causou mais dor em meu peito do que as próprias feridas físicas. Rosnei
A loba parecia ter notado minha presença reverenciando em minha direção, rosnei em repreensão a Kemilly, agarrando sua garganta, aquela loba me irritava profundamente, mas sabia que não podia elimina-la sem um motivo palpável, não neste momento. Ficando a sós com Callie, meu lobo explodiu em meu peito vindo átona na mutação, algo do qual nunca havia acontecido!O conflito interno entre meu lado humano e lobo desde a primeira vez que senti seu cheiro estava constante. A encurralei perto da parede com uma necessidade crescente de sentir seus pelos nos meus, notei que ela se surpreendia quando esfreguei nela, sendo surpreendido juntamente com minhas reações.— Vamos logo! — Rosnei irritado em sua direção, avaliando que apesar da falta de visão ela caminhava sem tropeçar ou bater em algo, seu focinho trabalhava sem parar guiando-a.Jaxon vinha em minha direção olhando para loba cega e depois voltando para mim, soltando um leve rosnado em descontentamento.— Já obtivemos as informações sob
POV: CALLIESenti Aaron seguir diretamente para seu destino final, um frio na espinha percorreu em alarde. Como na visão, eu sabia o desfecho daquele ataque... Minha loba se agitava, algo dentro de mim implorava para que o parasse e o tirasse dali para que não sucumbisse.— Guie o alfa supremo... — A voz divina me alcançou em uma ordem.Arriscando tudo, me joguei à sua frente, fazendo-o recuar. Os sinais da Deusa estavam se tornando mais evidentes em minha mente. Farejando o ar, uma brisa tocava meus pelos, desenhando aromas em um caminho que nos guiava para poças de lama, para fugirmos das garras envenenadas dos alfas.— Um lago... — Sussurrei dentro da gruta, após rolar pela lama, e corri para o fundo.Em passos cautelosos, o chão vibrava, indicando que os lobos me seguiam e paravam próximos às águas correntes.— Para onde será que este canal nos levará? — Indagou o beta.— Sigam o caminho... — A voz angelical divina da Lua sussurrou novamente, nos guiando.— Devemos seguir o curso
POV: AARONAs percepções da loba cega eram curiosas. Quando mencionou que a Deusa havia a instruído, meu lobo se acalmou, em concordância com sua resposta. Eram poucos os lobos que tinham resposta da Deidade; somente seus escolhidos possuíam tamanho privilégio, e eu já fui um deles!A lua havia poupado minha vida na noite do ataque, quando Hunter assassinou cruelmente minha família, arrastando seus corpos em meio à cidade para que todos vissem seu poder. Meus pequenos irmãos, Zaí e Zeni, tinham 10 anos e foram mortos cruelmente por tentarem proteger Davina, que possuía 6 anos. Os três brincavam próximos à clareira.Naquela noite em especial, tive o primeiro chamado da Deusa, que me guiou para longe da alcateia. Seus sussurros me levaram a uma cachoeira onde vi sua forma lupina resplandecente, sentada majestosamente sobre uma enorme rocha em meio às correntezas intensas do rio impiedoso.— Seu destino mudará dolorosamente esta noite, minha criança — ressoou a divindade. — Sua dor é sen