Havia dias que não via Ethan nem Sarah. Os dois me haviam abandonado, sumido do mapa. Talvez Ethan tivesse escutado meu conselho, aquele conselho precipitado, e agora, finalmente, ele e Sarah estivessem juntos. A ideia me atingiu como um soco no estômago, mas um soco lento, que ia se espalhando aos poucos por todo o meu corpo.Caminhei até a geladeira, um espaço vazio e gélido que espelhava a solidão que me consumia. Meu vinho, meu único companheiro nas noites solitárias, tinha acabado. Um vazio que ecoava o vazio dentro de mim.Vesti a primeira roupa que encontrei, passei uma camada generosa de maquiagem para disfarçar a tristeza que me deixava com os olhos inchados e a pele pálida. Era uma máscara, uma armadura frágil contra o mundo. Fui até o mercado, a necessidade de preencher o vazio físico se sobrepondo à dor emocional. Enchi o carrinho de garrafas, um gesto desesperado, uma tentativa de aplacar a sede que me consumia.No caixa, enquanto esperava para pagar, o destino, cruel
A solidão era uma constante, um vazio que tentava preencher com o álcool, dia após dia. Não havia trégua, cada gole uma tentativa desesperada de silenciar a dor que me consumia. Mas naquela noite, decidi romper com a inércia. Me arrumei e fui para uma festa, buscando um escape, mesmo que efêmero. Dancei até a exaustão, bebi o suficiente para embotar a realidade, flertei, mas meus olhos se prenderam a um moreno alto, com um olhar intenso e perigoso que, paradoxalmente, me atraía. Ele se ofereceu para me levar para casa, e, apesar do pressentimento ruim, aceitei. Não me importava mais com as consequências.Ele me conduzia para fora, quando uma voz cortou o ar: __"Deixe-a em paz, Dean."Ethan. Ao seu lado, Sarah. A raiva explodiu dentro de mim, um vulcão prestes a entrar em erupção."Me deixe, Ethan. Vou com Dean." A declaração foi firme, desafiadora. Abracei a cintura do moreno, que sorriu, um sorriso que carregava uma promessa sombria.__"Como ouviu, Ethan. Ela prefere ir comigo
A manhã me recebeu com a boca amarga e os olhos inchados, reflexo de uma noite passada em prantos. O caos reinava em meu pequeno apartamento, espelhado nas garrafas de vinho espalhadas pelo chão, vazias e acusadoras. Ethan, em sua suposta preocupação, esvaziara minha reserva, acreditando que me impediria de beber. Engano seu. Eu precisava daquela bebida, precisava do entorpecimento.Vesti uma roupa qualquer e saí, rumo ao mercado. A tarefa de reabastecer meu estoque, tão simples em outras ocasiões, tornou-se um desafio. Ao chegar ao caixa, a atendente me olhou com uma expressão de pena contida.— Sinto muito, mas não posso vender mais bebidas para a senhora.— Como assim? — perguntei, mostrando as notas em minha mão. — Estou com o dinheiro para pagar.— Me pediram para não vender mais para a senhora, porque está tendo problemas com álcool.— Quem disse isso? — minha voz tremeu, a raiva começando a ferver.— Não importa, senhorita.— Que seja — rosnei, a frustração me sufocando. —
A dor e a raiva que eu sentia em relação a mim mesma se transformaram em um impulso de afastá-la. Ela se despediu, e eu assisti, aliviada, enquanto se afastava. A verdade é que eu não suportava mais vê-la, vibrando com a vida, com as oportunidades que eu não conseguia alcançar. A inveja corroía minha alma, um veneno que me deixava ainda mais apática. Com a porta fechada, a solidão tomou conta novamente, e eu me vi cercada por pensamentos sombrios. O desejo de fugir, de escapar para longe daquele lugar, ainda pulsava dentro de mim, mas, mesmo assim, eu ainda não conseguia me mover. A cama, com seus lençóis amarrotados, parecia a única coisa que me oferecia consolo em meio ao caos da minha mente. Arrastar-me até o quarto foi um ato quase mecânico, o corpo pesado como chumbo. Afundei na cama, a escuridão me envolvendo como um abraço sufocante. Olhei para o teto, as horas se esvaindo em um turbilhão de pensamentos confusos. Então, veio a visão, intensa e nítida como um golpe. Não for
A ansiedade roía-me por dentro na manhã seguinte. Cada olhar no relógio amplificava a expectativa, o tempo se esticando até o nosso horário combinado. Finalmente, faltando uma hora, Ethan chegou. Eu mal havia tomado um banho."__Combinamos um pouco mais tarde, ainda não estou pronta", murmurei, a voz um pouco trémula._"Sei disso. Vim mais cedo porque preciso te dar algumas instruções e cuidados importantes", respondeu ele, a seriedade em seus olhos me deixando um pouco apreensiva._"Certo, entre."Ao entrar, notei imediatamente que ele vestia apenas uma calça folgada._"E suas roupas?", perguntei, a curiosidade misturada à inquietação._"Não vou precisar delas."_"Ah...", respondi, sem entender. A resposta dele soou enigmática.Ele enfiou a mão no bolso, retirando um pequeno vidrinho transparente contendo um líquido viscoso._"O que é isso?", perguntei, apontando para o frasco.__"Óleo de ervas. Você precisa usar para disfarçar seu cheiro.""__Por quê?", questionei, o medo começand
Artemio, o curandeiro, tinha um olhar gentil, seus olhos castanhos brilhando com uma sabedoria ancestral. Tibério, o mestre, emanava uma aura de poder contido, sua presença imponente, mesmo sem dizer uma palavra. Os outros lobisomens, uma mistura de idades e temperamentos, observavam-me com uma mistura de curiosidade e cautela. Eram seres poderosos, capazes de se transformar em feras imponentes, e eu me sentia minúscula, frágil, exposta sob seus olhares.Ethan, percebendo minha crescente apreensão, me puxou levemente para perto, seu braço protegendo-me discretamente.___ venha Clara quero te mostrar outro canto. A frase de Ethan ecoou em meus ouvidos enquanto seguíamos pelas vielas daquela pequena comunidade. O ar fresco da manhã trazia o aroma da terra úmida e das flores silvestres. Homens trabalhavam nos campos, suas ferramentas brilhando sob o sol nascente, enquanto mulheres lavavam roupas num riacho próximo, saudando Ethan com sorrisos calorosos. Era uma cena bucólica, quase
_“Mas você está com alguém agora, não amaldiçoado. Sarah, pelo que sei, não vai morrer tão cedo.”__“Não é ela quem eu amo...”Meu coração disparou. A boca secou._“Eu...”__“Sua tola! Por acaso não sabe que é você quem amo?”Ele segurou meu rosto, me beijando com paixão. Agarrei-me a ele com força, com medo de que evaporasse. Era tanta saudade reprimida que quase nos devorávamos. Caindo em si, afastei-me, os olhos cheios de lágrimas. Dei-lhe um tapa.__“Você está namorando Sarah! Não tem vergonha?”Sua gargalhada, a primeira naquele dia, preencheu a noite. Acariciando meu rosto, ele disse:“Isso era algo que prometi a mim mesmo que te diria ao ver o estado em que você se encontrava. Várias garrafas de álcool... Eu não voltei com Sarah, nem poderia, pois amo você. Combinamos que fingiríamos ter voltado para que você me odiasse, me esquecesse. Talvez assim você se livrasse desse destino cruel. A maldição é alimentada pelo nosso amor. Se você deixasse de gostar de mim, tudo resolveri
O vento uivava como um lobo faminto, chicoteando as folhas secas contra as janelas da casa antiga. Apertei o cobertor ao redor do corpo, tentando ignorar o frio que se infiltrava pelas frestas da madeira. Era a primeira noite em Willow Creek, e a solidão da casa vazia pesava sobre mim como uma névoa densa. A morte do meu pai, repentina e inesperada, havia me arrancado de minha vida movimentada em Nova York e me jogado nesse vilarejo isolado,longe de tudo. A casa, herdada do meu avô, era um relicário de memórias, com móveis de madeira escura e um cheiro de poeira e pinho. Me sentia um fantasma nesse lugar, uma sombra perdida em meio a lembranças alheias. Mudei para Willow Creek buscando paz, um refúgio da frenética Nova York. A morte recente do meu pai me deixara fragilizada, e a pequena cidade, com seu ritmo lento e moradores acolhedores, parecia o lugar ideal para recomeçar. Mas a tranquilidade era enganosa. Um véu de mistério pairava sobre Willow Creek, um segredo sussurrado ao v