A dor e a raiva que eu sentia em relação a mim mesma se transformaram em um impulso de afastá-la. Ela se despediu, e eu assisti, aliviada, enquanto se afastava. A verdade é que eu não suportava mais vê-la, vibrando com a vida, com as oportunidades que eu não conseguia alcançar. A inveja corroía minha alma, um veneno que me deixava ainda mais apática. Com a porta fechada, a solidão tomou conta novamente, e eu me vi cercada por pensamentos sombrios. O desejo de fugir, de escapar para longe daquele lugar, ainda pulsava dentro de mim, mas, mesmo assim, eu ainda não conseguia me mover. A cama, com seus lençóis amarrotados, parecia a única coisa que me oferecia consolo em meio ao caos da minha mente. Arrastar-me até o quarto foi um ato quase mecânico, o corpo pesado como chumbo. Afundei na cama, a escuridão me envolvendo como um abraço sufocante. Olhei para o teto, as horas se esvaindo em um turbilhão de pensamentos confusos. Então, veio a visão, intensa e nítida como um golpe. Não for
A ansiedade roía-me por dentro na manhã seguinte. Cada olhar no relógio amplificava a expectativa, o tempo se esticando até o nosso horário combinado. Finalmente, faltando uma hora, Ethan chegou. Eu mal havia tomado um banho."__Combinamos um pouco mais tarde, ainda não estou pronta", murmurei, a voz um pouco trémula._"Sei disso. Vim mais cedo porque preciso te dar algumas instruções e cuidados importantes", respondeu ele, a seriedade em seus olhos me deixando um pouco apreensiva._"Certo, entre."Ao entrar, notei imediatamente que ele vestia apenas uma calça folgada._"E suas roupas?", perguntei, a curiosidade misturada à inquietação._"Não vou precisar delas."_"Ah...", respondi, sem entender. A resposta dele soou enigmática.Ele enfiou a mão no bolso, retirando um pequeno vidrinho transparente contendo um líquido viscoso._"O que é isso?", perguntei, apontando para o frasco.__"Óleo de ervas. Você precisa usar para disfarçar seu cheiro.""__Por quê?", questionei, o medo começand
Artemio, o curandeiro, tinha um olhar gentil, seus olhos castanhos brilhando com uma sabedoria ancestral. Tibério, o mestre, emanava uma aura de poder contido, sua presença imponente, mesmo sem dizer uma palavra. Os outros lobisomens, uma mistura de idades e temperamentos, observavam-me com uma mistura de curiosidade e cautela. Eram seres poderosos, capazes de se transformar em feras imponentes, e eu me sentia minúscula, frágil, exposta sob seus olhares.Ethan, percebendo minha crescente apreensão, me puxou levemente para perto, seu braço protegendo-me discretamente.___ venha Clara quero te mostrar outro canto. A frase de Ethan ecoou em meus ouvidos enquanto seguíamos pelas vielas daquela pequena comunidade. O ar fresco da manhã trazia o aroma da terra úmida e das flores silvestres. Homens trabalhavam nos campos, suas ferramentas brilhando sob o sol nascente, enquanto mulheres lavavam roupas num riacho próximo, saudando Ethan com sorrisos calorosos. Era uma cena bucólica, quase
_“Mas você está com alguém agora, não amaldiçoado. Sarah, pelo que sei, não vai morrer tão cedo.”__“Não é ela quem eu amo...”Meu coração disparou. A boca secou._“Eu...”__“Sua tola! Por acaso não sabe que é você quem amo?”Ele segurou meu rosto, me beijando com paixão. Agarrei-me a ele com força, com medo de que evaporasse. Era tanta saudade reprimida que quase nos devorávamos. Caindo em si, afastei-me, os olhos cheios de lágrimas. Dei-lhe um tapa.__“Você está namorando Sarah! Não tem vergonha?”Sua gargalhada, a primeira naquele dia, preencheu a noite. Acariciando meu rosto, ele disse:“Isso era algo que prometi a mim mesmo que te diria ao ver o estado em que você se encontrava. Várias garrafas de álcool... Eu não voltei com Sarah, nem poderia, pois amo você. Combinamos que fingiríamos ter voltado para que você me odiasse, me esquecesse. Talvez assim você se livrasse desse destino cruel. A maldição é alimentada pelo nosso amor. Se você deixasse de gostar de mim, tudo resolveri
O vento uivava como um lobo faminto, chicoteando as folhas secas contra as janelas da casa antiga. Apertei o cobertor ao redor do corpo, tentando ignorar o frio que se infiltrava pelas frestas da madeira. Era a primeira noite em Willow Creek, e a solidão da casa vazia pesava sobre mim como uma névoa densa. A morte do meu pai, repentina e inesperada, havia me arrancado de minha vida movimentada em Nova York e me jogado nesse vilarejo isolado,longe de tudo. A casa, herdada do meu avô, era um relicário de memórias, com móveis de madeira escura e um cheiro de poeira e pinho. Me sentia um fantasma nesse lugar, uma sombra perdida em meio a lembranças alheias. Mudei para Willow Creek buscando paz, um refúgio da frenética Nova York. A morte recente do meu pai me deixara fragilizada, e a pequena cidade, com seu ritmo lento e moradores acolhedores, parecia o lugar ideal para recomeçar. Mas a tranquilidade era enganosa. Um véu de mistério pairava sobre Willow Creek, um segredo sussurrado ao v
Ele levantou o olhar e nossos olhos se encontraram. Senti um arrepio, mas não desviei o olhar.Com passos firmes, me aproximei e sentei-me à mesa dele. Ethan me observou em silêncio, um sorriso enigmático brincando em seus lábios. - Precisamos conversar - disse, tentando manter a voz firme. Ethan inclinou a cabeça, curioso. - Sobre o quê? - Sobre você. Sobre por que está sempre por perto, mas nunca se aproxima. Quem é você de verdade, Ethan? Ele suspirou, olhando para o copo em suas mãos antes de responder. - Sou alguém que carrega muitos segredos, Clara. Segredos que podem ser perigosos para quem se aproxima demais. Senti um misto de medo e determinação. Eu não podia recuar agora, porque talvez essa fosse minha última oportunidade de confrontar-lo. - Eu não tenho medo de segredos. Quero saber a verdade. Ele sorriu de modo ameaçador , jogou várias notas de dinheiro sobre a mesa que daria para pagar o que bebeu e ainda sobrar uma generosa gorjeta para o garçom, e saiu, nã
Eu, com uma pulga enorme atrás da orelha, sabia que precisava descobrir o que era. Aquele mistério, aquele segredo obscuro, me chamava com uma força irresistível. Eu tinha que desvendá-lo.Eu preciso saber o que está acontecendo", repetia para mim mesma, enquanto Sarah tentava, em vão, me convencer a desistir. Minhas noites se tornaram uma caçada furtiva. Seguia Ethan pelas ruas de Willow Creek, observando-o de longe. Bares escuros, conversas enigmáticas com pessoas estranhas, o desaparecimento nas sombras da floresta... tudo era intrigante, assustador e irresistível.Então, numa noite que seguia ele que caminhava por uma rua escura e silenciosa, ele se virou. Seus olhos, frios e penetrantes, me encontraram.___"Você", ele disse, a voz baixa e rouca, "Você está me seguindo? O medo me paralisou. Ele se aproximou, imponente, ameaçador.___"Você não deveria estar aqui", a voz dele era um sussurro ameaçador. Tentei me afastar, mas sem sucesso, senti seu aperto firme em meu braço, e
Era como se eu pudesse sentir o passado, a energia de cada peça, e isso me ajudava a esquecer o medo que Ethan me causava. Mas, por mais que tentasse, a imagem dele, o toque dele, o olhar dele, me perseguiam. Era como se ele tivesse me marcado, e eu não conseguia me livrar da sensação de que ele estava sempre presente, mesmo quando não estava. Sarah, por sua vez, se sentia aliviada por ter minha companhia. A presença dela me tranquilizava, e me ajudava a lidar com o medo que ainda sentia por Ethan. ___"Você está fazendo um ótimo trabalho, Clara," Sarah disse, com um sorriso. "A loja está parecendo nova." Sorri de volta. ___"Estou feliz em ajudar," eu disse. "É bom ter algo para fazer." No fim de semana, Sarah decidiu aceitar o convite de um amigo, um rapaz chamado Daniel, que trabalhava com ela na loja de antiguidades. Ele convidou Sarah para levá-la para um barzinho, e ele, gentilmente, sugeriu levar seu amigo, um rapaz chamado Lucas, para fazer companhia a mim. __"Lucas é um ca