O trabalho na loja de antiguidades da Sarah tinha sido um bálsamo. A nostalgia, antes um peso, agora era um conforto familiar, e a sensação de utilidade, um alívio. ___"Clara, pode ir para casa, seu expediente terminou já faz horas", a voz suave de Sarah me interrompeu. "__Está bem, até mais, Sarah."Saí da loja e lá estava ele. Ethan, imponente em sua Kawasaki, a luz do entardecer banhando-o em uma aura quase sobrenatural. A surpresa me deixou sem palavras por um instante.__ "Olá, Clara." __ "Ei, Ethan, o que está fazendo aqui?", perguntei, meu coração acelerando. __"Vim te ver. Não posso?", ele respondeu, o sorriso um desafio silencioso.__ "Você pode tudo...", sussurrei, e ele me puxou para um abraço, um beijo que me roubou o fôlego, a posse dele marcada pela firmeza de suas mãos em minha cintura.Subi na moto, o calor de seu corpo irradiando através do couro. A velocidade foi uma explosão de adrenalina, o vento nos cabelos, uma sensação de liberdade e perigo que me em
Ethan começou a se afastar, a expressão dele era uma mistura de dor e determinação.__ "Pense bem no que você quer, Clara. Você não tem obrigação nenhuma de se sacrificar por nós, lobisomens. Se quiser, pode simplesmente sumir desse lugar amaldiçoado e recomeçar." A proposta dele era tentadora, mas a ideia de deixá-lo para trás me cortava o coração.__ "Você viria comigo?" perguntei, a esperança tremulando em minha voz, como uma vela lutando contra o vento.__ "Eu pertenço a este lugar e à maldição." A resposta dele foi como uma lâmina afiada, cortando qualquer esperança que eu pudesse ter alimentado. A realidade de que ele estava preso a esse destino, e que eu poderia ser arrastada junto com ele, era uma verdade devastadora.Então, sem mais palavras, ele virou as costas e saiu correndo, o som do motor da moto rugindo, poderoso e distante, ecoando a dor que eu sentia. O barulho se afastava, e eu fiquei ali, sozinha, imersa em um mar de incertezas e medos.O que eu deveria fazer a
O vento uivava como um lobo faminto, chicoteando as folhas secas contra as janelas da casa antiga. Apertei o cobertor ao redor do corpo, tentando ignorar o frio que se infiltrava pelas frestas da madeira. Era a primeira noite em Willow Creek, e a solidão da casa vazia pesava sobre mim como uma névoa densa. A morte do meu pai, repentina e inesperada, havia me arrancado de minha vida movimentada em Nova York e me jogado nesse vilarejo isolado,longe de tudo. A casa, herdada do meu avô, era um relicário de memórias, com móveis de madeira escura e um cheiro de poeira e pinho. Me sentia um fantasma nesse lugar, uma sombra perdida em meio a lembranças alheias. Mudei para Willow Creek buscando paz, um refúgio da frenética Nova York. A morte recente do meu pai me deixara fragilizada, e a pequena cidade, com seu ritmo lento e moradores acolhedores, parecia o lugar ideal para recomeçar. Mas a tranquilidade era enganosa. Um véu de mistério pairava sobre Willow Creek, um segredo sussurrado ao v
Ele levantou o olhar e nossos olhos se encontraram. Senti um arrepio, mas não desviei o olhar.Com passos firmes, me aproximei e sentei-me à mesa dele. Ethan me observou em silêncio, um sorriso enigmático brincando em seus lábios. - Precisamos conversar - disse, tentando manter a voz firme. Ethan inclinou a cabeça, curioso. - Sobre o quê? - Sobre você. Sobre por que está sempre por perto, mas nunca se aproxima. Quem é você de verdade, Ethan? Ele suspirou, olhando para o copo em suas mãos antes de responder. - Sou alguém que carrega muitos segredos, Clara. Segredos que podem ser perigosos para quem se aproxima demais. Senti um misto de medo e determinação. Eu não podia recuar agora, porque talvez essa fosse minha última oportunidade de confrontar-lo. - Eu não tenho medo de segredos. Quero saber a verdade. Ele sorriu de modo ameaçador , jogou várias notas de dinheiro sobre a mesa que daria para pagar o que bebeu e ainda sobrar uma generosa gorjeta para o garçom, e saiu, nã
Eu, com uma pulga enorme atrás da orelha, sabia que precisava descobrir o que era. Aquele mistério, aquele segredo obscuro, me chamava com uma força irresistível. Eu tinha que desvendá-lo.Eu preciso saber o que está acontecendo", repetia para mim mesma, enquanto Sarah tentava, em vão, me convencer a desistir. Minhas noites se tornaram uma caçada furtiva. Seguia Ethan pelas ruas de Willow Creek, observando-o de longe. Bares escuros, conversas enigmáticas com pessoas estranhas, o desaparecimento nas sombras da floresta... tudo era intrigante, assustador e irresistível.Então, numa noite que seguia ele que caminhava por uma rua escura e silenciosa, ele se virou. Seus olhos, frios e penetrantes, me encontraram.___"Você", ele disse, a voz baixa e rouca, "Você está me seguindo? O medo me paralisou. Ele se aproximou, imponente, ameaçador.___"Você não deveria estar aqui", a voz dele era um sussurro ameaçador. Tentei me afastar, mas sem sucesso, senti seu aperto firme em meu braço, e
Era como se eu pudesse sentir o passado, a energia de cada peça, e isso me ajudava a esquecer o medo que Ethan me causava. Mas, por mais que tentasse, a imagem dele, o toque dele, o olhar dele, me perseguiam. Era como se ele tivesse me marcado, e eu não conseguia me livrar da sensação de que ele estava sempre presente, mesmo quando não estava. Sarah, por sua vez, se sentia aliviada por ter minha companhia. A presença dela me tranquilizava, e me ajudava a lidar com o medo que ainda sentia por Ethan. ___"Você está fazendo um ótimo trabalho, Clara," Sarah disse, com um sorriso. "A loja está parecendo nova." Sorri de volta. ___"Estou feliz em ajudar," eu disse. "É bom ter algo para fazer." No fim de semana, Sarah decidiu aceitar o convite de um amigo, um rapaz chamado Daniel, que trabalhava com ela na loja de antiguidades. Ele convidou Sarah para levá-la para um barzinho, e ele, gentilmente, sugeriu levar seu amigo, um rapaz chamado Lucas, para fazer companhia a mim. __"Lucas é um ca
Ethan era uma presença opressora em minha vida, e eu não sabia como lidar com isso. Desviei novamente, buscando abrigo em um beco mais escuro, esperando que ele não me visse. Meus pulmões queimavam e meu corpo tremia, mas eu precisava encontrar uma saída. O beco era estreito e pouco iluminado, e eu me encostei na parede fria, tentando fazer o menor ruído possível. __"Clara!" Ele chamou novamente, a frustração agora evidente em sua voz. "Só quero conversar!" Não respondi. Eu apenas permaneci ali, paralisada, ouvindo o som da sua busca. A adrenalina corria em minhas veias como um veneno e, ao mesmo tempo, havia uma parte de mim que queria acreditar que ele se preocupava de verdade. O silêncio se instalou por um momento, e eu me perguntei se ele tinha desistido. Mas então ouvi passos se aproximando. Meu coração disparou novamente, e eu me preparei para correr. __"Clara, não se esconda," ele disse, sua voz mais suave agora, quase como um sussurro. "Eu não vou te machucar." A dúvida
E, enquanto o sol subia no céu, decidi que não iria me deixar levar apenas pela desconfiança. Era hora de descobrir a verdadeira essência de Ethan, mesmo que isso significasse enfrentar meus próprios medos.A conversa fluiu entre nós, mas a atmosfera estava carregada de uma tensão sutil. Eu tentava me concentrar nas palavras de Ethan, mas minha mente não conseguia ignorar os sinais de que havia algo mais por trás daquela fachada amigável. - Você mencionou que a arte é uma forma de libertação - eu disse, buscando um caminho para aprofundar a conversa. - Você tem alguma obra favorita? Algo que realmente te impactou? Ethan hesitou, seus olhos desviando por um instante, como se estivesse revivendo uma memória dolorosa. - Na verdade, eu... - ele começou, mas a voz falhou. - Eu gosto de um pintor chamado Edvard Munch. A forma como ele captura a angústia humana é algo que me fascina e, ao mesmo tempo, me assusta. Senti um aperto no coração. O nome de Munch ressoava com a própria luta que