Artemio, o curandeiro, tinha um olhar gentil, seus olhos castanhos brilhando com uma sabedoria ancestral. Tibério, o mestre, emanava uma aura de poder contido, sua presença imponente, mesmo sem dizer uma palavra. Os outros lobisomens, uma mistura de idades e temperamentos, observavam-me com uma mistura de curiosidade e cautela. Eram seres poderosos, capazes de se transformar em feras imponentes, e eu me sentia minúscula, frágil, exposta sob seus olhares. Ethan, percebendo minha crescente apreensão, me puxou levemente para perto, seu braço protegendo-me discretamente. ___ venha Clara quero te mostrar outro canto. A frase de Ethan ecoou em meus ouvidos enquanto seguíamos pelas vielas daquela pequena comunidade. O ar fresco da manhã trazia o aroma da terra úmida e das flores silvestres. Homens trabalhavam nos campos, suas ferramentas brilhando sob o sol nascente, enquanto mulheres lavavam roupas num riacho próximo, saudando Ethan com sorrisos calorosos. Era uma cena bucólica, quase
_“Mas você está com alguém agora, não amaldiçoado. Sarah, pelo que sei, não vai morrer tão cedo.” __“Não é ela quem eu amo...” Meu coração disparou. A boca secou. _“Eu...” __“Sua tola! Por acaso não sabe que é você quem amo?” Ele segurou meu rosto, me beijando com paixão. Agarrei-me a ele com força, com medo de que evaporasse. Era tanta saudade reprimida que quase nos devorávamos. Caindo em si, afastei-me, os olhos cheios de lágrimas. Dei-lhe um tapa. __“Você está namorando Sarah! Não tem vergonha?” Sua gargalhada, a primeira naquele dia, preencheu a noite. Acariciando meu rosto, ele disse: “Isso era algo que prometi a mim mesmo que te diria ao ver o estado em que você se encontrava. Várias garrafas de álcool... Eu não voltei com Sarah, nem poderia, pois amo você. Combinamos que fingiríamos ter voltado para que você me odiasse, me esquecesse. Talvez assim você se livrasse desse destino cruel. A maldição é alimentada pelo nosso amor. Se você deixasse de gostar de mim, tu
A tarde com Ethan se estendeu até muito tarde. Agarrei-me a ele, com um medo irracional de que ele pudesse desaparecer. __ "Calma," ele sussurrou, "eu não vou a lugar nenhum." Sua voz, suave e reconfortante, me acalmou. Só quando a noite já estava avançada ele partiu, deixando-me envolvida num aconchego residual de seu calor.Na manhã seguinte, o aroma de chocolate fresco invadiu a cozinha. Preparei um bolo, um gesto impulsivo, quase ritualístico, para acalmar a minha alma. Vesti-me e fui até a casa de Sarah. Três toques na campainha. Ela abriu a porta, surpresa. __"Clara...", murmurou, seus olhos arregalados. __"Trouxe um bolo de chocolate," anunciei, sorrindo.Ela pegou o presente, o gesto delicado, e me convidou para entrar.__ "Está ocupada?", perguntei, sentindo a tensão em meu próprio corpo.__ "Estou terminando de arrumar para ir à loja," respondeu ela, mas o tom da sua voz já não era tão apressado. __"Vou ser breve," assegurei. __"Café?", ela ofereceu, um sorriso
O trabalho na loja de antiguidades da Sarah tinha sido um bálsamo. A nostalgia, antes um peso, agora era um conforto familiar, e a sensação de utilidade, um alívio. ___"Clara, pode ir para casa, seu expediente terminou já faz horas", a voz suave de Sarah me interrompeu. " __Está bem, até mais, Sarah." Saí da loja e lá estava ele. Ethan, imponente em sua Kawasaki, a luz do entardecer banhando-o em uma aura quase sobrenatural. A surpresa me deixou sem palavras por um instante. __ "Olá, Clara." __ "Ei, Ethan, o que está fazendo aqui?", perguntei, meu coração acelerando. __"Vim te ver. Não posso?", ele respondeu, o sorriso um desafio silencioso. __ "Você pode tudo...", sussurrei, e ele me puxou para um abraço me beijando em seguida. um beijo que me roubou o fôlego, a posse dele marcada pela firmeza de suas mãos em minha cintura. Subi na moto, o calor de seu corpo irradiando através do couro. A velocidade foi uma explosão de adrenalina, o vento nos cabelos, uma sensação d
Ethan começou a se afastar, a expressão dele era uma mistura de dor e determinação. __ "Pense bem no que você quer, Clara. Você não tem obrigação nenhuma de se sacrificar por nós, lobisomens. Se quiser, pode simplesmente sumir desse lugar amaldiçoado e recomeçar." A proposta dele era tentadora, mas a ideia de deixá-lo para trás me cortava o coração. __ "Você viria comigo?" perguntei, a esperança tremulando em minha voz, como uma vela lutando contra o vento. __ "Eu pertenço a este lugar e à maldição." A resposta dele foi como uma lâmina afiada, cortando qualquer esperança que eu pudesse ter alimentado. A realidade de que ele estava preso a esse destino, e que eu poderia ser arrastada junto com ele, era uma verdade devastadora. Então, sem mais palavras, ele virou as costas e saiu correndo, o som do motor da moto rugindo, poderoso e distante, ecoando a dor que eu sentia. O barulho se afastava, e eu fiquei ali, sozinha, imersa em um mar de incertezas e medos. O que eu dever
A ausência dele era um vazio que me dilacerava. Desde aquele dia na praia, Ethan não me procurara, e a dor era tão intensa que eu pensava que meu coração se partiria em mil pedaços. Tudo o que eu queria era o calor de seus braços, o conforto de sua presença. Na loja, debruçada na janela, observava o horizonte cinzento e sem vida, meu reflexo no vidro uma estranha máscara de tristeza. Sarah, percebendo minha aflição, se aproximou e me envolveu em um abraço reconfortante.__“Clara, o que foi, amiga? Você está tão abatida… passou o dia todo distraída, perdida em seus próprios pensamentos.”Contei a ela sobre o silêncio de Ethan, sobre a sua ausência inexplicável. A preocupação em sua voz era um bálsamo suave, mas não aliviava a pontada aguda da saudade.___“Ethan é muito cabeça dura, Clara,” disse Sarah, com um suspiro resignado. __“Tudo o quero é ficar com ele enquanto estiver aqui. Por que será que ele não entende isso?”__“Já pensou em dizer isso a ele?” A sugestão de Sarah era
A xícara de chá fumegante na minha frente parecia zombar de mim. A vontade de arremessá-la contra a parede era imensa, mas o tremor incontrolável nas minhas mãos me impedia. Eu precisava daquele calor, daquela bebida quente para combater a friagem que me invadia, tanto física quanto emocionalmente. Levei a xícara aos lábios, o líquido quente escorrendo pela minha garganta, um pequeno conforto em meio à tempestade interior. Deixei a xícara no criado-mudo e me encolhi na cama, ouvindo a chuva castigar o telhado da cabana com fúria implacável. A porta se abriu e Ethan entrou, trazendo um cobertor de lã macia e quente. "Deite e descanse, Clara. Estarei no sofá, qualquer coisa me chame." Uma risada sarcástica escapou dos meus lábios. Ele me olhou, confuso. __"Falei alguma piada?" __"Não," respondi, a ironia pingando em minha voz. "Você é a piada, senhor Blackwood." A irritação em seus olhos era visível. __"Clara, não comece..." __"Vai dormir no sofá por quê? Já sei, você tem
Enquanto o calor da marca se espalha, uma onda de segurança e proteção me envolve. Eu compreendo que, com essa marca, Ethan está me oferecendo não apenas seu amor, mas também sua força. Ele está me defendendo de qualquer ameaça que possa surgir, especialmente dos lobisomens que vagam nas sombras. Com esse ato, ele me dá um lugar especial em seu mundo, um espaço protegido onde o amor e o sacrifício coexistem.A marca na minha clavícula é mais do que uma simples cicatriz; é um selo de nossa união, uma promessa de que enfrentaremos juntos qualquer desafio que a vida nos apresente. E, ao olhar nos olhos de Ethan, vejo não apenas um companheiro, mas um verdadeiro parceiro, alguém disposto a lutar por mim e por nós.A luz da manhã filtrava pelas cortinas, pintando o quarto com tons suaves de dourado. Eu fui a primeira a acordar. Ethan dormia tranquilamente ao meu lado, o peito subindo e descendo levemente com a respiração. Com um sorriso tímido, passei os dedos pelos fios negros de se